quarta-feira, 10 de agosto de 2011

CRISES E RADICALISMOS

Quando a Europa do pós-I guerra mundial se percebeu em ruínas, a fome bateu à sua porta. E quando a essas ruínas se adicionaram os efeitos da grande depressão iniciada com a crise da Bolsa de Nova York, à fome se juntou o desespero.

Navegando no vácuo das esperanças o radicalismo cresceu. Situações desesperadas permitem surgir idéias radicais, assim como o afogado que se agarra a qualquer coisa como tábua de salvação.

Quando o Fascismo deu suas caras na Itália e o Nazismo, pouco depois, ascendeu na Alemanha, poucos perceberam a materialidade da ameaça que surgia.

Homens como Mussolini e Adolf Hitler não foram levados a sério por muitos.

O genial Charles Chaplin confessaria anos depois da guerra que, quando um amigo alemão lhe enviou uma foto de Hitler discursando em praça pública, com os olhos esbugalhados, e batendo furiosamente com as mãos no próprio peito, ele simplesmente achou graça, observou apenas o bigodinho estúpido, e guardou a foto numa gaveta qualquer. Tempos depois, revendo a mesma foto, ele não entendia como não havia percebido o que aquele olhar esbugalhado podia significar

A falta de dinheiro trás discussões e incômodos inúteis aos lares assim como a crise financeira trás Hitleres e Mussolines aos governos.

A Europa atual apresenta, novamente, um panorama econômico de gravidade que ameaça sair do controle de seus falascianos sistemas financeiros, impulsionados a todo vapor pela crise na maior economia global, a dos Estados Unidos.

A Grécia literalmente faliu ano passado. A Irlanda e até mesmo Espanha e Itália, ameaçam seguir o mesmo rumo.

O Euro se equilibra na corda bamba enquanto o desemprego crescente bate à porta da comunidade européia.

E “coincidentemente” velhos e conhecidos personagens estão de volta.

A discriminação que já destilou ódio aos judeus, ciganos, eslavos, negros, homossexuais entre outros, já desfila por países como Portugal, Inglaterra, Áustria...

A xenofobia, revigorada, agora se volta aos imigrantes, em especial, aos muçulmanos.

A cabeça raspada substitui a suástica, mas a receita é a mesma...violência.

Bananas são jogadas aos gramados acompanhando sons que imitam macacos, agredindo jogadores de futebol negros e até um brasileiro já foi morto na estação do metro de Londres por ser “parecido” com o tipo árabe.

A história tem, como objetivo maior impedir que se repitam erros do passado.

Por isso, é importante que nós não achemos graça de piadinhas aparentemente inocentes de cunho racista, homofóbico ou xenófobo.

Foi com piadinhas sobre inocentes bigodes que eles, os senhores do ódio, chegaram lá.

Que não cheguem novamente. Que não se permita outra vez que o radicalismo do desespero crie novos pesadelos mundiais.

Prof. Péricles

GUERRILHA DO ARAGUAIA NA VISÃO DO PC DO B

A Guerrilha do Araguaia ocorreu no início da década de 70. Uma batalha entre combatentes revolucionários e as forças do regime reacionário imposto ao país com o golpe de 1964. Mesmo atualmente é difícil conseguir informações sobre o confronto ocorrido no Sul do Pará a partir de um ataque do Exército em 12 de abril de 1972 – "o único movimento rural armado contra o regime militar - cujo combate mobilizou o maior número de tropas brasileiras desde a II Guerra Mundial”.

Dos 69 militantes do Partido Comunista do Brasil que estavam na área, 59 morreram no conflito, além de moradores da região também assassinados e das baixas das Forças Armadas - as estimativas variam entre quatro e 200 (!) militares mortos. Do lado do governo, segundo O Globo, houve "casos de militares mortos no combate à Guerrilha cujos corpos foram entregues às famílias em caixões lacrados, acompanhados da explicação de que a morte ocorrera por acidente durante uma manobra de treinamento".

As Forças Armadas desencadearam três campanhas militares contra a Guerrilha. "Os guerrilheiros não se tornariam prisioneiros de guerra. Simplesmente deixariam de existir. Todos, com a exceção de Ângelo Arroyo, que escapou, foram mortos. Os oficiais do Exército avaliavam que a Guerrilha do Araguaia duraria décadas, caso não fosse combatida da forma criminosa que foi: "Mesmo os oficiais condecorados por bravura na repressão à Guerrilha evitam falar no assunto. Ao contrário dos militares que lutaram na II Guerra Mundial, que exibem com orgulho as medalhas que conquistaram na luta contra o nazifascismo, os heróis das Forças Armadas no Araguaia são discretos. Afinal, como justificar as condecorações numa guerra que, oficialmente, não houve?"

A Guerrilha do Araguaia foi organizada e dirigida na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil. Destinava-se a organizar a resistência armada contra a ditadura. Outras formas de luta não tinham espaço para se concretizar nas cidades. O objetivo político da Guerrilha do Araguaia estava expresso em um documento, largamente distribuído entre a população do Sul do Pará, intitulado Proclamação da União pela Liberdade e Pelos Direitos do Povo. Um movimento intimamente ligado à população camponesa, pobre e sofrida da região. Tentativas de resistências armadas já haviam ocorrido no país, organizadas por outras correntes políticas, no Vale da Ribeira e em Caparaó. Mas duraram pouco tempo. O Araguaia resistiu por três anos.

No Araguaia encontravam-se pessoas de diferentes formações: operários, camponeses, bancários, médicos, engenheiros, geólogos e, principalmente, estudantes universitários. Dentre os que para lá se dirigiram, estava Maurício Grabois, constituinte de 1946. Tomaram conhecimento da região e estabeleceram ampla relação com a população local. Enfrentavam, porém, tremenda desigualdade no que diz respeito ao armamento, em contraste com as armas sofisticadas das Forças Armadas. Essa luta era a luta de cem contra vinte mil, Davi contra Golias.



As Forças Armadas atuaram no Araguaia como bárbaros. Cometeram crimes imperdoáveis. Degolaram guerrilheiros, expuseram corpos mutilados nas vilas e nas cidades para atemorizar a população. Violentaram as próprias leis de guerra (a convenção de Genebra). Mataram prisioneiros indefesos. Torturaram – muitos dos torturados enlouqueceram. As Forças Armadas destruíram tudo que podia lembrar a Guerrilha. Incendiaram os barracos construídos pelos guerrilheiros. Destruíram até os móveis primitivos que eles haviam improvisado. Aplicaram a política de terra arrasada, de não deixar vivo nenhum dos combatentes. Foi assim que acabaram matando Ângelo Arroyo, um dos comandantes da guerrilha, um ano e meio depois de terminada a luta, na Chacina da Lapa, em 1976.


Nas Forças Armadas havia setores que condenavam as barbaridades cometidas – pois elas são instituição paga com o dinheiro do povo, não podem tê-lo como inimigo principal. É necessário que essas Forças repudiem tais crimes, condição para que possam contar com a simpatia do povo, preparando-se para as grandes batalhas que poderão advir em defesa da soberania e da independência da pátria.

domingo, 7 de agosto de 2011

GETÚLIO VARGAS E A CARTA TESTAMENTO

Nesse mês de agosto faz 57 anos que o Brasil passava por um dos mais intensos dramas que uma nação pode passar. O suicídio do presidente da República.
A Carta Testamento é sempre citada como importante componente desse drama humano e histórico.
Abaixo transcrevemos a famosa Carta Testamento, fazendo um breve comentário sobre o seu significado:

24 de agosto de 1954

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. - (Já na abertura da Carta Getúlio volta a unir seu nome ao do povo, como se fossem uma coisa só. Lógico, isso é uma pretensão orquestrada em sua vida, o culto à sua personalidade que foi sempre seu objetivo maior).

Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa.
- (Refere-se ao caso do Atentado à Rua Toneleros em que Carlos Lacerda e um militar sofreram um atentado, no dia 5 daquele mesmo mês. Getúlio era acusado de ser o mentor do ataque).

Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto.
- (Novamente une suas ações como sendo ações do próprio povo e colocando seus adversários como adversários do povo).

Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
- (Getúlio refere-se à Revolução de 1930 que destituiu o Presidente Washington Luis, impediu o eleito Júlio Prestes de assumir e acabou com a República Velha).

Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.
- (Durante a Ditadura varguista (1937-1945) Getúlio instaurou a CLT inspirada na Carta do Trabalho do fascismo italiano, uniu-se aos nascentes sindicatos de trabalhadores (sindicatos pelegos, que sempre o apoiavam) e fez nascer e cresce a idéia de “Getúlio, o defensor dos trabalhadores”. A afirmação de ter instaurado o regime de liberdade social é totalmente falso e na verdade ele não renunciou, mas sim, fora deposto em novembro/1945 pelos militares comandados pelo General Góes Monteiro).

Voltei ao Governo nos braços do povo. (eleito em 1950)
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Getúlio governo com um modelo econômico denominado de “Nacional-desenvolimentista” onde procurou não contrair dívidas externa, o estado atuou intensamente na economia e buscou limitar a influência externa na industrialização do país.

Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
- (Após uma longa polêmica nacional, a Campanha “O Petróleo é Nosso” acaba vencedor com Getúlio criando a Petrobras em 03/10/1953. Novamente liga seu nome aos interesses do povo).

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
-(Eu e o povo X os gringos e seus amigos)

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
- (Todas as afirmações desses parágrafos finais reforçam as afirmativas anteriores, porém num tom messiânico, fortalecendo a imagem de um Getúlio único, quase santo, defensor dos trabalhadores e dos interesses nacionais).

Getúlio Vargas

TERRORISTA LOURO DE OLHOS AZUIS

por Frei Betto

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava.

O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

[Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de "Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A TORTURA NO BANCO DOS RÉUS 02

Testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira na 20ª Vara Cível de São Paulo afirmaram ter presenciado o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra ordenar a tortura do jornalista Luiz Eduardo Merlino. Além disso, uma testemunha disse ter visto Ustra dar a ordem, por telefone, que resultou na morte de Merlino.(entre amputar e "deixar morrer")

O jornalista, então militante do Partido Operário Comunista (POC), morreu em julho de 1971 depois de ser submetido a dois dias de tortura nos porões do Departamento de Operações e Informações (DOI Codi), em São Paulo.

Segundo ex-companheiros de prisão, ele morreu em um hospital em decorrência de gangrena em uma das pernas, causada pela tortura. Os torturadores teriam proibido os médicos de amputarem a perna gangrenada, o que teria levado à morte de Merlino. Já os militares alegam que ele foi atropelado quando tentou fugir durante uma excursão de reconhecimento de aparelhos na avenida Anchieta.

Testemunhas que atestaram ordens de tortura dadas pelo coronel Ustra foram ouvidas na tarde desta quarta-feira, em São Paulo Ustra, na época major do Exército, comandou o DOI Codi entre 1970 e 1974, período em que cerca de 55 pessoas foram assassinadas e outras 700 torturadas no local. A família de Merlino move uma ação indenizatória por danos morais contra o coronel. Ustra, por meio do advogado Paulo Esteves, negou ter participado ou ordenado a tortura de Merlino.

A testemunha Eleonora Oliveira, ex-companheira de militância do jornalista, disse que particiou de uma sessão de tortura comandada por Ustra ao lado de Merlino. “Eu estava na cadeira do dragão e o Merlino no pau-de-arara. O Ustra entrou e saiu umas duas ou três vezes. Era ele que ordenava tudo”, disse ela.

Já Otacílio Cechini, que estava preso no mesmo local, disse que viu Ustra atender ao telefonema do agente que acompanhava Merlino no hospital. “Ouvi quando Ustra disse ao telefone que tomaria a decisão final falando: 'Deixa comigo'”, afirmou.

No total, foram ouvidas seis testemunhas de acusação. Entre elas o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi, hoje assessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Instituto Cidadania.

Vanuchi disse ter visto Merlino sendo carregado no DOI Codi. “Vi um rapaz sendo levado em uma escrivaninha até o corredor. Ele ficou a menos de um metro da grade da minha cela. Perguntei o nome, ele disse Merlino e ainda repetiu porque eu não tinha entendido direito. Eu era estudante de medicina e percebi que a perna dele estava já escurecida, com sinal de gangrena”, disse o ex-ministro.

Vannuchi disse também ter sido torturado pessoalmente por Ustra quando ele e outros 40 presos políticos fizeram uma greve de fome, em 1972, pedindo tratamento digno. “Na ocasião foram levados dois presos, eu e Paulo de Tarso Venceslau (um dos sequestradores do embaixador norte-americano Charles Elbrick) e o Ustra comandou aquela sessão com objetivo não de falarmos sobre nossos companheiros mas de nos obrigar a parar a greve de fome”, afirmou.

Um grupo de aproximadamente 100 pessoas fez um protesto na porta do Fórum João Mendes, onde ocorreu a audiência. A manifestação se transformou em um ato pela criação da Comissão da Verdade e pela punição aos torturadores.

Embora o Supremo Tribunal Federal tenha descartado rever a Lei da Anistia, Vannuchi disse ainda acreditar que a Corte reveja a decisão. “O STF terá que apreciar mais uma vez a questão em vista de uma decisão posterior da Corte Interamericana de Direitos Humanos (que condenou a não punição aos torturadores no Brasil). É comum que a Justiça reveja ou reinterprete a jurisprudência”, disse ele.

Os próximos passos do processo serão as oitivas das testemunhas de defesa de Ustra. Entre elas o senador José Sarney e o ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho, além de três generais da reserva.

Por Ricardo Galhardo

A TORTURA NO BANCO DOS RÉUS - COMEÇOU O JULGAMENTO

Nesta quarta (27), no Fórum da Praça João Mendes, em São Paulo, a juíza Claudia de Lima Menge ouviu testemunhas de acusação arroladas pelos advogados da família do jornalista Luiz Eduardo Merlino, torturado e morto em 1971, aos 23 anos. Ustra não compareceu à audiência.

Entre as testemunhas de defesa arroladas por Ustra estavam o atual presidente do Senado, José Sarney, o ex-ministro Jarbas Passarinho, um coronel e três generais da reserva do Exército brasileiro.

Essa segunda ação se refere a danos morais e foi movida pela irmã de Merlino, Regina Merlino Dias de Almeida, e pela ex-companheira do jornalista, Angela Mendes de Almeida. “É uma luta que estamos travando há muito tempo. Chegar até aqui é uma vitória”, disse Angela.

A imprensa não cobriu a sessão, ninguém, além de advogados e depoentes, foi autorizado a ouvir as declarações, nem a família Merlino. A pequena sala da audiência declarou-me depois uma fonte, mal comportava quatro pessoas.

Longe da sala de audiência, uma multidão tomou a praça e fez um ato contra a ditadura e suas mortes. Maria Amélia de Almeida Teles, uma militante que participou da guerrilha do Araguaia, durante o período da ditadura militar, estava ao lado dos manifestantes e do marido, César, com o filho, Edson.

Com a Lei de Anistia, de 1979, Amelinha, como é mais conhecida, conta que a pergunta de todos os que perderam parentes com a repressão ficou no ar: “Onde estão nossos desaparecidos?”

Deixei a praça e subi até o nono andar, voltei ao prédio e ao corredor da espera. Leane Almeida, testemunha, estava saindo. Calculei rapidamente a idade, 40 anos depois da prisão, aos 21, ela está com 61 anos. Não aparenta: “Eu fui presa no mesmo dia em que o Merlino, o Major comandou pessoalmente as torturas que eu sofri, ele dava ordens aos gritos, todo mundo escutava as sessões de tortura. Ele esteve presente em toda a Operação Bandeirantes, coordenando equipes e acompanhando interrogatórios”.

Pergunto sobre as torturas, ela conta que foi a primeira militante da ALN a ser presa e torturada. O coronel queria os nomes dos membros de seu grupo. Quando o Merlino chegou, Liane foi liberada da tortura e encaminhada para uma cela, onde ficou presa um ano e meio.
Ela diz que Merlino morreu porque não resistiu aos quatro dias de tortura ininterrupta. Viu, do primeiro andar onde estava presa, a retirada de Merlino do Doi-Codi: “O corpo dele estava inerte, acho que ainda não tinha morrido. O Ustra dava as ordens e a sua equipe jogou o corpo no porta-malas de um carro, que partiu”.

Liane para e se emociona, explica: “A memória é do corpo, não passa”.

Continuou: “Uma certeza tenho, no estado em que Merlino saiu da prisão ele não teria condições de correr para nenhum lugar, só para o paraíso”.

Liane se prepara para ir embora, finaliza: “Agora dependemos da Comissão Verdade e Justiça, como na Argentina e em outros países, ela tem mesmo que pactuar com a verdade e fazer justiça. Estamos escrevendo aqui, hoje, a história do Brasil, se haverá justiça ou não, dependerá de outros”.

A partir daqui, um funcionário do Fórum e um policial nos expulsam do andar, pedem que o grupo siga para o elevador. Daí um jovem que se declara "estudante" faz perguntas provocativas para um dos depoentes, o homem, já idoso e claramente sofrido, responde em voz grossa, alta, diz que a ditadura acabou e que não aceitará provocações.

Todos, no elevador, após a porta fechar e o silêncio voltar, afirmam que esses que se dizem "estudantes" são policiais disfarçados, querendo causar tumulto. Torço para que eles só tumultuem e não interfiram na briga pela punição dos torturadores, luta antiga e de todos, mas principalmente dos herdeiros da ditadura, futuros líderes desse país.

Por Christiane Marcondes

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A TORTURA NO BANCO DOS RÉUS

Na noite de 15 de julho de 1971 o jornalista Luiz Eduardo Merlino dormia na casa de sua mãe, em Santos. Houve uma invasão violenta e três agentes do DOI-CODI armados com metralhadoras penetraram naquele lar deixando em pânico a mãe e a irmã enquanto davam voz de prisão ao jornalista. Tentando acalma-las ele beijou a ambas e disse que logo estaria de volta.

Nunca mais voltou.

Luiz Eduardo sabe-se por depoimento do único preso político que assistiu ao suplício, Guido Rocha, foi torturado sem folga, por 24 horas, havendo, inclusive, um revezamento entre os torturados em suas três turmas de 8 horas “de trabalho”.

Ao ser jogado na solitária já não sentia as pernas e teve que ser carregado por Guido até a privada.

Seu estado era tão preocupante que na manhã seguinte, 17 de julho, um enfermeiro foi chamado para examiná-lo. Não havia nenhuma resposta aos estímulos provocados pelo enfermeiro na planta dos pés ou nos joelhos. Além disso, tudo que ele comia, vomitava, com resquícios de sangue.

Quando o enfermeiro preparava-se para sair Merlino teve uma crise, já não sentia também os braços. O enfermeiro exigiu uma transferência urgente para o hospital. As últimas palavras que Guido ouviu foram “estou morrendo”.

No dia 20, pela manhã, o PM Gabriel contou aos presos que Merlino morrera na véspera por “problemas no coração”. Na noite desse mesmo dia D. Iracema Merlino recebeu um telefonema de um Delegado do DOPS que contou que seu filho morrera ao se jogar embaixo de um carro na BR-116 ao escapar da escolta que o levava a Porto Alegre, onde tinha ligações de militância.

Dois anos depois, ainda preso no DOI-CODI, o historiador Joel Rufino dos Santos ouviu de um de seus torturadores, que Merlino chegou muito mal ao Hospital e que de lá um médico telefonou ao DOPS (na verdade para o Coronel Carlos Alberto Ustra, chefe daquela seção) avisando que, ou amputavam suas pernas ou ele morreria. Segundo esse torturador, houve uma votação entre os homens de Ustra e a decisão foi “deixar morrer”.

Hoje, 40 anos e 8 dias depois, às 14h30min hs no Fórum João Mendes do Tribunal de Justiça de São Paulo, no centro da capital paulista teve início o histórico julgamento do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Graças a um esforço sobre-humano da família de Merlino que há anos tenta levar esse militar, responsável direto pela unidade paulista do DOI-CODI da Rua Tutóia, ao banco dos réus.

Estão lá os parentes e suas bagagens de dores. As testemunhas, Guido Rocha e Joel Rufino dos Santos pela acusação, e José Sarney (ele mesmo, o presidente do Senado), entre outros, pela defesa, que irão manter a versão absurda do suicídio.

É um momento histórico que pode ser vital por repercutir novos atos de justiça que tirem os crimes da ditadura militar debaixo do manto do anonimato.

Esperamos que lá também esteja a atenção e o interesse dos jovens brasileiros que não passaram por esses tempos cruéis, mas que necessitam conhecer um pouco mais da história de seu país.

Descanse em paz Luiz Eduardo Merlino. Você não pôde cumprir o que prometeu para sua mãe e irmã de retornar logo pra casa. Mas que seu nome, e o nome dos mortos sob tortura, possam finalmente, ocupar o lugar devido nos livros de história.

domingo, 24 de julho de 2011

AMY WINEHOUSE E AS BENGALAS

Nesse fim de semana recebemos a trágica notícia da morte da cantora e compositora britânica Amy Winehouse, de causas ainda não esclarecidas, mas, provavelmente ligadas ao uso abusivo de drogas.

Chama atenção que nos meios de comunicação, muitos entrevistados alegaram que esse desfecho já era esperado exatamente pelo envolvimento da artista com drogas, como álcool, anfetaminas, cocaína e outros.

E talvez, fosse mesmo de se esperar esse ponto final, lamentado por todos os fãs. Mas, que o lamento não seja inútil. Que a dor traga a reflexão necessária.

A dependência química é uma doença identificada no CID (Código Internacional de Doenças) e classificada como doença incapacitante para o trabalho.
É doença. E doença incurável, como incurável são alguns tipos de cânceres, diabetes e outros males. Porém, diferentemente desses, a dependência química é controlável, embora seu controle só seja possível com a abstinência total da droga incapacitante.

Possuí uma boa dose de características únicas que fazem duvidar seja realmente uma moléstia, algumas vezes sendo confundida com “falta de caráter”, “imoralidade”, “promiscuidade” etc. Quase sempre, o próprio dependente químico não aceita estar com uma doença quando usa sua droga de preferência.

Tem seus mistérios ainda não solucionados: por que alguns desenvolvem a dependência e outros não? Sua ocorrência é hereditária? Existem sinais que nos alertem para a predisposição à dependência?

Mas, também temos muitas certezas.

A dependência química é contagiosa. Mas não pelo contágio viral ou algo assim, mas pelo contágio da dor psíquica, da depressão, do sentimento de impotência que se alastra do dependente aos seus familiares, amigos, esposas, esposos, filhos. Na medicina moderna já é comum a expressão “família co-dependente”.

É essa co-dependência que explica as mentiras dos familiares para esconder cada ressaca, cada mico, para justificara a falta ao trabalho. A não aceitação do problema é comum entre os familiares.

Também é ela, a co-dependência, que explica porque a maioria das ex-esposas de dependentes químicos tornam a casar com outros dependentes químicos.
Importante não acreditar em falsas imunidades, como, por exemplo, do grau de escolaridade, função profissional ou poder aquisitivo.

Existem dependentes químicos em todas as funções conhecidas, do gari ao médico, do ajudante de pedreiro ao padre. Entre homens e mulheres e em todos os estamentos sociais. Ricos e pobres, de igual maneira. A dor não discrimina intelecto nem especialização, muito menos ter mais ou menos dinheiro.

O que varia nesses casos é apenas o tipo de droga mais utilizada.

Não acredite que o alcoolismo ou o tabagismo seja menos deprimente do que, por exemplo, fumar maconha. A legitimidade do uso ou da proibição é meramente fruto da cultura existente.

No Brasil qualquer um pode beber qualquer bebida de álcool, porém o consumo de maconha é reprimido pela Lei. Entretanto, nos países árabes o uso de Haxixe (um tipo de maconha potencializada) é liberado enquanto que consumir álcool é punido com cadeia e, às vezes com chibatadas públicas.

O uso de uma substância estranha ao corpo que provoca sensações de prazer, de alegria, euforia, invencibilidade é, na verdade, uma bengala que o dependente recorre para seguir a vida.

E quem de nós não usa bengalas?

Não será o trabalho excessivo, o sexo compulsivo, a inveja, a busca do poder, o sentimento de vingança, o ódio, entre tantas outras, bengalas?

Claro, que nada justifica o sofrimento e a dor, e no caso de Amy Winehouse e de milhares de dependentes, a morte.

Mas solução pronta não existe. Precisa ser construída.

A solução para esse que é o maior flagelo da humanidade passa, necessariamente, por melhorias na educação, no repensar a família e as relações afetivas.

Passa pela construção de uma sociedade menos injusta, menos egoísta e competitiva.

Uma sociedade mais fraterna onde os prazeres sejam pra todos e que não exija fugas em prazeres artificiais.

Se devemos reciclar o lixo por uma natureza mais limpa e saudável, não podemos esquecer o sonho de reciclar o homem enquanto ser social, por uma sociedade mais justa, mais humana e, só assim, sem drogas.

sábado, 23 de julho de 2011

POLITEÍSMO, A EXPLICAÇÃO PARA O INEXPLICÁVEL

Quando o homem não sabe, ele inventa.

Podemos perceber isso nas crianças que, preenchem o seu mundo cheio de coisas incompreensíveis, com prodigiosa imaginação.

O mesmo ocorreu na infância da humanidade.

Sem saber porque as trevas substituíam o dia. Sem compreender as alterações das estações do ano, ou a energia do raio que caía tão próximo, o homem recorreu ao imaginário para poder ter algum contrôle sobre a ignorância.

Dessa maneira a quase totalidade dos povos antigos criou deuses, poderosos e invisíveis, num quadro que denominamos de politeísmo.

Alguns povos, como o Egito, chegaram a ter 3 mil deuses.

Logicamente, era necessario uma especialização na compreensão das multiplas coisas divinas. Era necessário entender suas vontades e suas iras. Como agradá-los, como conquistar sua confiança para que a colheita fosse farta ou a guerra fosse vencida. E aí, surgiu o clero.

A classe sacerdotal sempre esteve no poder, porque os povos sempre acreditaram que desempenhavam uma função vital para a sobrevivência. Porque justificavam suas mais profundas necessidades de segurança.

Dos grandes povos da antiguidade, apenas dois deles destacaram-se na contra-mão dessa tendência politeísta: os Hebreus após Moisés que adotaram o monoteísmo e os Persas que por Zaratrusta acreditavam em apenas dois deuses, numa espécie de dualidade entre o bem e o mal: Mazda, o Deus do Bem e Arimã, o Deus do mal.

Destaca-se ainda que os Egipcios (eles mesmos, os mais intensos politeístas) tiveram sob o reinado de Amenófis IV ou Akeneton, uma pequena experiência monoteísta.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O ÚLTIMO VÔO DO ATLANTIS

Concebido nos anos 1970 como veículo espacial econômico para alcançar a órbita terrestre, a nave espacial dos Estados Unidos, que combina as características de um ônibus e de um caminhão, enfrentou altos e baixos desde o seu primeiro voo, há três décadas.

O ônibus espacial nasceu em 1972, com a decisão do presidente Richard Nixon de lançar o programa. O primeiro voo orbital, o da Columbia, ocorreu em 12 de abril de 1981, com apenas dois astronautas a bordo.

O voo número 25 foi dramático: em 28 de janeiro de 1986, a nave Challenger explodiu diante das câmeras de televisão 73 segundos depois de decolar.
Os sete membros da tripulação morreram, entre eles Christa McAuliffe, 37 anos, que se tornaria a primeira professora a voar para o espaço.

O programa permaneceu paralisada durante quase três anos e reiniciou suas expedições em setembro de 1988 com o voo do Discovery.

Um dos pontos culminantes da história da nave espacial ocorreu em 1990, quando o Discovery decolou com o primeiro telescópio espacial, o Hubble, que revolucionou a história da astronomia.

O voo do Discovery, em fevereiro de 1995, marcou o início de uma estreita colaboração espacial entre Rússia e Estados Unidos. O orbitador transportou então um cosmonauta russo e chegou a se aproximar bastante da estação russa MIR, que tinha sido voluntariamente desorbitada com o objetivo de realizar sua destruição em 2001.

A construção da Estação Espacial Internacional (ISS) em 1998, cujo primeiro módulo Zarya (russo) foi colocado em órbita por um foguete russo Próton em novembro daquele ano, implicou na missão mais importante da nave americana.
Os lançamentos de naves já eram comuns, mas em 1 de fevereiro de 2003 ocorreu uma nova catástrofe: o Columbia desintegrou-se ao retornar à atmosfera, e seus sete tripulantes morreram.

Não haveria mais voos durante dois anos e meio. Uma comissão de investigação designada para analisar as causas do acidente criticou a Nasa e formulou drásticas recomendações para melhorar as condições de segurança.

Mas em julho de 2005, em seu primeiro voo depois da paralisação do programa, o Discovery perdeu um fragmento de grandes dimensões de espuma isolante no momento do lançamento, sem chegar a danificar o escudo térmico do orbitador. Esse mesmo problema esteve na origem do acidente do Columbia.

As naves permaneceriam novamente nos hangares durante um ano.

Depois de novas medidas para dar segurança máxima à tripulação, em 4 de julho de 2006 os voos foram retomados, com um Discovery reformado.

A decolagem da Atlantis neste, 8 de julho, marca o último passeio espacial desse tipo de aparelho.

No total, 385 pessoas de 16 países, na maioria americanos, terão voado em uma nave espacial.

Foram construídas seis naves, apesar de a primeira, Enterprise, não ter passado do estádio de protótipo. Discovery, Endeavour e Atlantis são as três sobreviventes daquela frota.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

INDEPENDÊNCIA E MORTE NO PARÁ

A declaração de independência, em setembro de 1822, foi o ápice de um processo conduzido pela elite brasileira que pretendia a mudança do status político, mas sem mudanças sociais, inclusive, com a manutenção da escravidão.

Muitos, porém, iludiram-se com os fatos e acreditaram realmente que a emancipação política era também, o seu momento, já que eram brasileiros. Talvez, o momento da desforra contra os pés de chumbo (portugueses).

Um dos mais tragicamente iludidos foi o povo do Pará.

Na noite do dia 16 de outubro de 1823 (o Pará aderiu à independência e união ao Brasil em agosto de 1823), um grupo de brasileiros, pobres e embriagados, atacou com pedras estabelecimentos comerciais portugueses (na época as vidraças eram moda), na cidade de Belém. Era a explosão de um ódio represado pela humilhação nativa de ver os portugueses sempre bem nutridos, donos das melhores casas e senhores do comércio local.

A desordem foi informada ao mercenário John Pascoe Grenfell, mercenário expulso da marinha britânica e contratado a peso de ouro por D.Pedro I para comandar sua força naval e impor a independência, que chegara semanas antes, na cidade.

Grenfell, já pela madrugada, determinou o desembarque de tropas que efetuaram a prisão de todas as pessoas encontradas pelas ruas, acusadas de atacar as vitrines portuguesas.

Foram presas 261 pessoas. Cinco sumariamente fuzilados e 256 recolhidos à cadeia pública até o dia 20, quando foram transferidos para bordo do navio “Palhaço”, ancorado no porto da cidade.

Confinados no porão da embarcação, tendo sido fechadas as escotilhas e mantendo-se aberta apenas uma pequena fresta para a entrada de ar, devido à superlotação e ao calor a bordo, os prisioneiros começaram a gritar reclamando por água e mais ar, alguns chegando mesmo a ameaçar a guarnição, em seu desespero.

O que aconteceu em seguida, até hoje é envolto em dúvidas e mistérios.

Alguns afirmam que um tiro (de advertência) de um dos guardas tenha atingido o depósito de cal virgem que se espalhou pelo lotado recinto. Outros acreditam que o próprio Grenfell tenha ordenado deliberadamente o massacre.

O fato é que, no dia seguinte, às sete horas da manhã do dia 22, aberto o porão do navio contaram-se duzentos e cinquenta e dois corpos (com sinais de longa e penosa agonia) e quatro sobreviventes, dos quais, no dia seguinte, apenas um resistiu. No total pereceram 255 homens.

Embora mais tarde Grenfell tenha negado ordenar o massacre, consta que os corpos foram espalhados pelas proximidades do cais.

Sua exposição era um macabro e silencioso aviso de que nada havia mudado com a proclamação às margens do Ipiranga.

Ah...ninguém foi preso pelo massacre e consta que Grenfell morreu velho, gordo, rico, e aparentemente sem nenhum remorço.

sábado, 16 de julho de 2011

A SILENCIOSA LUTA DOS ESTUDANTES DA PUC-RS

No dia 28 de março de 1968, alegando reclamar da qualidade do Restaurante Universitário, apelidado de Calabouço, estudantes fizeram uma manifestação no centro do Rio de Janeiro, que na verdade, tinha a Ditadura Militar como alvo.

Os órgãos de segurança, incluindo forças do exército, reagiram com a sutileza das bestas, com tiros disparados em várias direções. O estudante potiguar Edson Luiz de Lima Souto, recém chegado para fazer o curso de medicina, foi mortalmente alvejado, tornando-se, um mártir do movimento estudantil.

No dia seguinte, um gigantesco cortejo para o enterro, reunindo cerca de 50.000 pessoas. No dia 1o de abril, os estudantes, com paus e pedras nas mãos, obrigaram cerca de 1.500 policiais, com cassetes e bombas de gás lacrimogêneo, a recuarem, tamanha era a sua disposição. O conflito só terminou quando o Exército ocupou as ruas e matou mais um estudante: Davi de Souza Neiva.

No dia 5 de abril, ao final da missa de sétimo dia, na Igreja da Candelária, a cavalaria da PM espancou os participantes, com golpes de sabre e só não houve um massacre em função dos religiosos, que tendo à frente o vigário-geral do Rio de Janeiro, D. José de Castro Pinto, ficaram entre os estudantes e a cavalaria com seus crucifixos levantados, num ato de extrema coragem.

Inúmeros foram os heróis brasileiros formatados pelo movimento estudantil brasileiro, e muitos são os capítulos que podem ser escritos narrando suas lutas, heroísmo, amarguras e vitórias.

Atualmente, muitos se perguntam por onde andará a mística garra do estudante brasileiro. O que aconteceu com sua coragem e politização. Por onde anda a falecida UNE.

Alguns apontam para um desânimo crônico de seu movimento e uma enorme desesperança entre suas militâncias. Há também, os que afirmam que o movimento estudantil se despolitizou a partir da crescente privatização e mercantilização do ensino.

Não é nossa intenção entrar no mérito ou aprofundar o debate, nesse texto.

Entretanto, cabe valorizar todos os pequenos gestos de rebeldia contra a ordem constituída se essa ordem for entendida como ilegítima. Cada ação que se proponha libertária, democrática e participativa dos estudantes brasileiros deve ser acalantada como o despertar da letargia.

Talvez liberdade seja isso: despertares, assim mesmo, no plural.

Dessa forma, é com muito interesse que o povo gaúcho deve acompanhar a luta de estudantes da PUC-RS contra o que alegam ser autoritarismo, continuísmo de cartas marcadas e prepotência dos arranjos políticos que mantém o DCE daquela entidade viciado pelas mesmas forças dirigentes de sempre.

Não precisamos chorar velhas perdas doloridas como Edson Luiz e Davi Neiva, mas recordá-las como pedras que pavimentam a estrada de lutas que ainda estão muito longe de terminar.

O chamado para esses caminhos que levam à democracia, às vezes nos cobram atalhos estranhos, como a péssima qualidade da comida de um RU, ou a pseudo-arrogância de um DCE.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

VALE À PENA CONFERIR - FINAL

Embora recém tenha exibido pouco mais da metade do total de capítulos, já podemos fazer uma análise, dentro das expectativas criadas, quando de seu lançamento, sobre o trabalho inédito de teledramaturgia "AMOR E REVOLUÇÃO", apresentado de segundas às sextas pelo SBT.

Embora mereça aplausos a iniciativa de, pela primeira vez na história da televisão brasileira, mostrar de forma realista os horrores dos "porões da Ditadura" que inclui, cenas de tortura, e ainda, mereça aplausos a idéia de popularizar temas considerados tabus, a novela, apresentou como resultado mais amplo, ganhos pífios ao que se propunha.

Mal dirigida e interpretada, com diálgos que beiram, muitas vezes, a idiotia, o produto final foi televisivamente tão ruim que chega a comprometer a mensagem que se queria passar.

É necessário reconhecer que, para muitos que assistiram a novela, o drama é tão mal enfocado que chega a ser confuso, passando longe do objetivo do autor.

Alguns pontos, porém, foram positivos, como o impacto proocado pelos depoimentos daqueles que sofreram com a repressão, bem como, os que a defenderam. Para muitos brasileiros, foi uma descoberta. Talvez chocante demais para justificar audiência cativa. Ante o horror, muitos preferem a ignorância e olhar para o outro lado.

É de se incentivar novos trabalhos e de destacar a coragem da produção em navegar por águas tão turvas. Tornaram-se os responsáveis pelo trabalho, vidraças em que fartamente se jogaram pedras. Restam os elogios que não se dedicam aos covardes.

A Comissão da Verdade, que propoem investigar casos de crimes cometidos pela Ditadura, está em debate no Congresso. Que os brasileiros mais distraídos, saibam, ao menos, a importância que tem, poder enterrar seus mortos, para os familiares dos desaparecidos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

EGITO E A MALDIÇÃO DO FARAÓ

Existiam dois Egitos, até a unificação por Menés (para muitos um personagem lendário, tipo Licurgo, em Esparta) em 3.200 aC.

Povo extraordinário em várias áreas do conhecimento como medicina, arquitetura, matemática, entre outras.

Divide-se sua longa história em três fases ou Impérios: o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império.

Seu período de maior esplendor foi o Antigo Império, quando o faraó concentrou tamanho poder que era comum a crença que só o Faraó tinha alma.
Até por isso, foi no Antigo Império, que se construíram as maiores pirâmides, como Queóps, Quéfrem e Miquerinos, construções tão fabulosas que, com certeza, envolveram todo o povo, de uma forma ou outra, no esforço do estado em sua construção.

Destaca-se que a escravidão não era a forma usual de exploração da mão-de-obra de seus governantes, mas, a escravidão coletiva, muitas vezes confundida até por gregos e hebreus, com escravidão.

Por habitarem o nordeste da África, mantiveram-se distantes das sangrentas lutas por terra fértil (ao contrário da Mesopotâmia) o que foi bom para seu desenvolvimento. Porém, esse isolamento geográfico acabou acarretando um forte atraso na metalurgia e no desenvolvimento tecnológico que acabaria sendo fatal para sua independência. Exemplo disso foi a invasão dos hicsos, no final do Antigo Império, que conheciam o aço, enquanto os egípcios não conheciam esse tipo de ferramenta.

O Egípcio era um povo cuja cultura estava fortemente atrelada à religião (extremamente politeísta, com mais de 3 mil deuses) e a idéia da morte.
Pensavam a morte permanentemente.

Apesar disso, não eram mórbidos.

Segundo o Historiador grego Heródoto, o Egípcio, apesar desse pensamento dominante, a ponto de ensinarem suas crianças a morrer desde tenra idade, era um povo alegre.

Adoravam festas, cerveja (que inventaram e que bebiam gelada) e música.

Na câmara mortuária de um faraó, por exemplo, onde se guardavam as coisas mais queridas do morto, foram encontrados os ingredientes básicos de uma cervejaria completa.

Amavam suas crianças, tanto que, todas as famílias ambicionavam uma casa cheia delas. Bater numa criança era crime hediondo e só permitido a seus pais sob certas circunstâncias.

Grandes médicos, os maiores de seu tempo. Destacavam-se na ginecologia e obstetrícia.

Conheciam como ninguém a saúde da mulher, tendo criado métodos anticonceptivos (à base de sementes de acácia negra moída misturada ao mel e usada como absorvente higiênico) e as primeiras camisinhas. Eram tão bons nisso que chegaram a criar um método desconhecido além deles por milhares de anos, de permitir a mulher tornar-se infértil temporariamente, enquanto tratava-se de alguma moléstia, por exemplo.

Tamanha sua fama que o Imperador Persa, certa vez, pediu, através de um mensageiro, que os médicos do Egito fizessem sua esposa engravidar novamente. Constrangido, e temeroso, pois o Império persa era o maior naquela época (séc. VI AC), o faraó respondeu que agradecia a confiança na medicina de seu país, mas que, até para eles seria difícil fazer a rainha engravidar outra vez, tendo em vista que a mesma já tinha 62 anos.

Em meados do século XX, a Rádio de Londres anunciou que tinha em seu poder, um instrumento musical, parecido com um saxofone e que na noite seguinte, um músico contratado pela emissora iria tocar o “Saxofone do faraó”.

Milhares de ouvintes telefonaram pedindo o cancelamento da exibição, pois tocar o instrumento querido de um faraó morto a tanto tempo poderia trazer azar e maldição. Ninguém na Rádio deu bola.

No dia seguinte, as 22 hs. Quando foi anunciada a execução ocorreu um blecaute na cidade. Por meia hora toda Londres ficou no escuro, fato raro pra eles. Novos telefonemas falaram em maldição.

Restabelecida a energia, o músico encheu os pulmões e dois mil anos depois, o instrumento musical voltou a emitir sua música.

Era a noite de 31 de agosto de 1939.

No dia seguinte, por ordens de Adolf Hitler a Alemanha invadia a Polônia e começava a segunda guerra mundial, evento que mataria milhões de pessoas, muitos delas, ingleses.

Coincidência, ou terá sido a maldição do Faraó?

Prof. Péricles

ITAMAR FRANCO

Diz a lenda que Itamar nasceu num navio, entre a Bahia e Minas Gerais. Ele mesmo se dizia mineiro e ficava brabo se o chamassem de baiano.

Itamar Franco surgiu no velho (não no atual, desfigurado) PTB de João Goulart. Sua primeira eleição foi para vereador em Juiz de Fora - MG, em 1958. Foi também sua primeira derrota eleitoral.

Foi derrotado novamente em 1962, candidato a vice-prefeito daquela cidade (na época prefeito e vice-prefeito eram duas escolhas separadas).

Porém, seria eleito prefeito em 1966.

Como Prefeito construiu 5 ou 6 adutoras de água que tornaram Juiz de Fora invejada pelas cidades vizinhas, até hoje.

A administração de Itamar foi tão elogiada e bem vista pela população local, que homens como Mário Andreazza, de visão política ambiciosa, tentou por todos os meios, levá-lo para a ARENA.

Em 1974, após ser reeleito em 1972, por uma pressão de Tancredo Neves, Itamar renunciou ao cargo para concorrer ao Senado Federal. Foi eleito naquele ano e naquelas eleições que seriam marcantes para fazer ver aos Ditadores que seu tempo se esgotava, já que o MDB (a oposição ao regime) venceria de ponta a ponta no Brasil (tal massacre de votos provocaria o Pacote de Abril e a criação do Senador Biônico para que os entreguistas da ARENA continuassem com maioria).

Com o fim do bipartidarismo, em 1982, Itamar permaneceu no PMDB e foi reeleito para o Senado Federal.

Em 1990, tendo seu espaço reduzido na política mineira por Newton Cardoso, Itamar surpreende a todos ao aceitar ser vice do candidato à presidência Fernando Collor de Melo.

Pela primeira vez é derrotado em Juiz de Fora. Lula vence as eleições no segundo turno na cidade de Itamar, mas vira vice-presidente, e, mais tarde, diante da queda de Collor, assume o posto de Presidente da República (1992).

Homem íntegro e honesto, Itamar Franco jamais usou o cargo para meter a mão no dinheiro alheio, muito menos no dinheiro público.

Antônio Carlos Magalhães, um dia, quando governava a Bahia fez denúncias de corrupção no governo Itamar. O então presidente o desafiou a apresentar as provas num encontro do Planalto. ACM foi (provavelmente disposto a fazer acordos e propor negociatas) e quando chegou às portas do gabinete presidencial estavam abertas, os ministros e jornalistas lá estavam, e, possesso, ACM não conseguiu mais que apresentar recortes de jornais, acabou desmontada uma das muitas farsas que protagonizou na política.

Foi o “pai”, o verdadeiro criador do Plano Real, mas, calado, permitiu que o clone de salvador da pátria, construído pela mídia e pela elite nacional se apoderasse de sua criação.

Imagine o que deve ter sido doloroso ao homem simples de Juiz de Fora assistir à criação da lenda de FHC “pai” do Real, pela mídia, a mesma mídia que lhe dava espaço apenas como um “Presidente instável e exótico”.

Em 1998, por pouco não consegue impedir a reeleição de FHC, tentando ser o candidato do PMDB. Houve choro e ranger de dentes para que desistisse, e foi montado todo um espetáculo para jogar sua imagem no ridículo. Os escândalos de ser filmado ao lado de uma atriz sem calcinha (Liliam Ramos) num desfile carnavalesco no Rio, namoros, etc, foram superdimensionados pela mídia nacional.

E em janeiro de 1999, eleito governador de Minas decreta a moratória das dívidas do Estado e coloca em risco, mais uma vez, todo o processo neoliberal de FHC.

Itamar Franco, como todos nós, era uma pessoa com seus defeitos e suas incoerências. Mas era um político nato, um brasileiro honesto. Um homem simples que dignificou com sua presença e com seu comportamento, o cenário político nacional, independente das diferenças de pensamento político e de ideologias.

Prof. Péricles

QUANDO CABRAL ERA GAY

Em 1965, os autores da coleção "História Nova" (produção conjunta do Iseb com o MEC), inclusive Nelson Werneck Sodré, fomos presos. Certo dia um tenente, jovem como eu, me tirou da cela para cortar meu cabelo. Não admitia cabeludos ali. O barbeiro era um velho sargento reformado ou talvez civil, não me recordo.

Enquanto me aplicava a máquina zero, com a curiosidade própria do ofício, perguntou ao tenente por que eu estava ali. "É um subversivo", respondeu.

Passa um tempo, o barbeiro insiste: "Mas subversivo como?" "Subversivo, porra", ranhetou o tenente. Barbeiros não se conformam com meias respostas. "Mas o que fez?" O tenente, já de cara amarrada, braços cruzados, deu a explicação definitiva. "Um general comunista, Nelson Werneck Sodré, convenceu esse aí a reescrever a história do Brasil."

Passam-se então alguns minutos. O barbeiro arrisca uma derradeira pergunta. "Reescrever a história do Brasil, como assim?" Furioso e embaraçado, o tenente encerra: "Eles escreveram, por exemplo, que Pedro Álvares Cabral era viado!".

Não é anedota. A contra-agitação daqueles anos se caracterizou por crendices assim. Sujeitos bem-intencionados, fardados ou não, reproduziam invencionices, precisavam delas para obedecer e agir. Os chefes mandavam prender; tenentes e investigadores, funcionando pela lei da gravidade, enchiam a cabeça de absurdos.

A "História Nova" nem fora idéia de Werneck Sodré” ele apenas a abraçou com entusiasmo. Nasceu numa tarde do verão de 1963, no Leblon. Um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia, inconformado com a ruindade do ensino, planejou reescrever capítulos da história brasileira o descobrimento, as invasões holandesas, a independência de 1822, o sentido da Abolição e o advento da República, entre outros. Seriam a reforma de base no campo da história. Saíram cinco volumes pela Campanha de Assistência ao Estudante, do MEC.

Distribuídos gratuitamente a professores secundários, alcançaram êxito imediato, que se repetiu quando da segunda edição, em 1965, pela Brasiliense.

Essa nova tiragem foi apreendida, e nós, presos. O policial nos indagou, de imediato, pelo paradeiro de um certo Immanuel Kant.

A "História Nova" não existiria sem Werneck Sodré. Éramos estudiosos, mas ignorantes. Ele, historiador consagrado, orientava, discutia conosco o texto, emprestava o nome. Tinha suas cismas. Uma vez, nos foi visitar um brasilianista de gravata borboleta. Queria dados da realidade brasileira. Sodré o levou pelo braço até a varanda e apontou a favela Santa Marta. "Está tudo ali. Passe bem."

JOEL RUFINO DOS SANTOS
FOLHA DE SÃO PAULO - DOMINGO 26/06/2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CRISES DO SÉCULO XIV: AS DORES DO PARTO

O século XIV foi, sem dúvida, assustador para seus contemporâneos. Um século de dores profundas e de morte fácil.

As guerras feudais se multiplicaram como nunca, sendo a guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre ingleses e franceses, apenas, a mais conhecida delas. Muitas outras se revezariam no cenário europeu apocalíptico, tão fartas que, em muitas delas não restava tempo para enterrar seus mortos.

Em meados desse século a peste iria compor o drama com cores pungentes. A mais célebre delas, a “Peste Negra” matou, segundo alguns historiadores europeus, 1/3 da população do continente. Era letal, dolorosa e inclemente. Espalhava-se como fogo em mata seca a partir do contágio da pulga dos ratos, numerosos e audaciosos, que disputavam espaços miseráveis com os seres humanos. Em seguida, o infectado tornava-se, sem saber, agente de propagação da doença através da respiração. A Peste Negra, portanto, era duplamente mortal: bubônica pelos ratos e pneumônica pela respiração.

Em poucos dias grossos bulbos purulentos apareciam inicialmente na virilha e nas axilas, espalhando-se em seguida, por todo o corpo. Esses bulbos com o tempo tornavam-se escurecidos, sugerindo o nome “Peste Negra”. A morte era dolorosa e profundamente solitária, pois, afastar os pestilentos era a única forma real de combate ao contágio.

Atrelada à religião, a medicina tinha parcos conhecimentos sobre epidemias na época, quase todos dominados pela superstição e crendices.

A partir da segunda metade do século, crises agudas de fome espalharam-se pelos quatro cantos do continente europeu. Sucessivas secas e inundações (será o “El Nino) arrasaram colheitas inteiras por inúmeras estações. Em alguns lugares, como na Escócia, foram encontradas, recentemente, provas de que o canibalismo tornou-se uma prática comum diante do desespero da morte lenta por inanição.

Mas por que tantas dores numa mesma época, relativamente curta?

Além das várias explicações científicas e antropológicas, uma coisa parece evidente.

Eram as dores do parto.

O mundo feudal e suas velhas relações econômicas e de vassalagem estava nos estertores de sua limitação, enquanto o capitalismo, impulsionado desde o início das Cruzadas, no século XII, buscava espaço. Estava nascendo um novo mundo.

Entretanto, o homem jamais deixa de acreditar. E ainda no século XIV, lentamente, nas dobras das ruínas do mundo antigo, um movimento começava a nascer.

Misturado com bulbos, canibalismos e guerras cruentas, o Renascimento surgiria trazendo consigo todo um conjunto de novos valores humanistas, antropocentristas e burgueses.

O homem sobreviveria às dores da morte do mundo velho e do parto do mundo novo, a partir da substituição do pensamento religioso predominante nas velhas relações, pelo pensamento do “homem no centro” nas buscas de explicações.

Na pintura, escultura, astronomia, medicina, enfim, em todas as áreas do conhecimento e das artes, as mudanças seriam irreversíveis.

A nova economia não poderia funcionar com a mentalidade tacanha das atividades meramente primárias e subordinadas à fé.

E o mundo mudou.

Não será que as crises de nosso tempo, que afligem economias, antes dominantes, que testemunham mudanças climáticas e planetárias, que atingem profundamente o comportamento humano, não seriam também, as dores de um novo parto?

Se assim for, cabe a nós, os que acreditam na liberdade, e na força revolucionária de cada ser humano, construir nosso novo Renascimento.

E que seja um renascimento de esperança, de igualdade, de solidariedade e de paz.

Prof. Péricles

domingo, 26 de junho de 2011

ESTADOS UNIDOS, "EM DEFESA" DA LIBERDADE

Para os que ainda acreditam no discurso dos governos dos Estados Unidos de que seu país procura promover a paz mundial e a defesa da democracia, relacionamos ações bélicas e invasões patrocinadas por esse país, apenas nas duas últimas décadas.

1990 LIBÉRIA: Tropas invadem a Libéria justificando a evacuação de
estrangeiros durante guerra civil;

1990/1991IRAQUE: Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de
1990, os Estados Unidos, com o apoio de seus aliados da Otan, decidem impor
um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo
além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes)
que ganhou o título de "Operação Tempestade no Deserto". As hostilidades
começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao
Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do
Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados
americanos para a Guerra do Golfo;

1990/1991 ARÁBIA SAUDITA: Tropas americanas destacadas para ocupar a
Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque;

1992/1994 SOMÁLIA: Tropas americanas, num total de 25 mil soldados,
invadem a Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir
mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares
norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir
numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas
do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota militar nas
ruas da capital do país;

1993 IRAQUE: No início do governo Clinton é lançado um ataque contra
instalações militares iraquianas em retaliação a um suposto atentado, não
concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait;

1994/1999 HAITI: Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas
ocuparam o Haiti na justificativa de devolver o poder ao presidente eleito
Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe, mas o que a operação visava
era evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados
haitianos nos Estados Unidos;

1996/1997 ZAIRE (ex-República do Congo: Fuzileiros Navais americanos são
enviados para invadir a área dos campos de refugiados Hutus;

1997 LIBÉRIA: Tropas dos Estados Unidos invadem a Libéria justificando a
necessidade de evacuar estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos
rebeldes;

1997 ALBÂNIA: Tropas invadem a Albânia para evacuar estrangeiros;

2000 COLÔMBIA: Marines e "assessores especiais" dos EUA iniciam o Plano
Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico
fusarium axyporum (o "gás verde");

2001 AFEGANISTÃO: Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta
ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
Invadem depois o Afeganistão onde estão até hoje;

2003 IRAQUE: Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de
destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao
Iraque. É batizada pelos EUA de "Operação Liberdade do Iraque" e por Saddam
de "A Última Batalha", a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha,
sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo
inteiro. As forças invasoras americanas até hoje estão no território
iraquiano, onde a violência aumentou mais do que nunca.

Isso sem contar as ações desses campeões da liberdade de apoio, fomento, articulação de golpes e manutenção de regimes autoritários, como as Ditaduras da América do Sul, incluindo o Brasil.

D. HELDER CÂMARA, IRMÃO POR PARTE DE PAI

O arcebispo Dom Helder Câmara (1909-1999) é figura singular na história da Igreja Católica no Brasil. Diminuto, magérrimo, poucos o superavam em oratória: adornava as idéias com gestos efusivos e um senso de humor incomum ao se tratar de bispos. Por onde andasse, lotava auditórios: Paris, Nova York, Roma... Entre os anos de 1960-80, apenas dois brasileiros gozavam de ampla popularidade no exterior: Pelé e Dom Helder.

HÁBITOS SIMPLES

Desde seus tempos de seminarista em Fortaleza - nascera em Messejana, hoje bairro da capital cearense - Dom Helder cultivava hábitos incomuns: deitava-se por volta das dez ou onze da noite, levantava-se às duas da madrugada, trocava a cama por uma cadeira de balanço, na qual orava, meditava, lia e escrevia cartas e poemas. Todos os seus livros foram concebidos naquele momento de "vigília", como dizia. As quatro retornava ao leito, dormia por mais uma hora para, em seguida, celebrar missa e iniciar seu dia de trabalho.

SENSO DE OPORTUNIDADE

Para angariar recursos a suas obras, Dom Helder não titubeava em comparecer a programas de auditório de grande audiência televisiva. Certa ocasião foi convidado por um apresentador para sortear prendas expostas no palco e vistas por todos, exceto pela pessoa trancada numa cabine opaca. Calhou de ser um desempregado. "Seu Joaquim, o senhor troca isto por aquilo?" E sem nomear o objeto, Dom Helder apontava um liquidificador e, em seguida, um carro. Seu Joaquim respondia "sim" e toda a platéia vibrava. Em seguida, Dom Helder indagou se trocava o carro por um abridor de latas. O homem topou. E não mais arredou pé, cismou que escolhera a melhor prenda. Ao sair da cabine, recebeu dos patrocinadores, decepcionado, o abridor. E Dom Helder mereceu um polpudo cheque. O arcebispo não teve dúvidas: "Seu Joaquim, o senhor troca este cheque pelo abridor?"

No dia seguinte, no Palácio São Joaquim, onde funcionava a cúria do Rio, criticamos Dom Helder por ter aberto mão de um recurso que poderia reforçar suas obras sociais. Ele justificou-se: "Perdi o cheque, ganhei em publicidade. Esperem para ver quanto dinheiro vou angariar."

VISÃO EMPREENDEDORA

Homem carismático, dotado de forte espírito gregário, era difícil alguém - incluído quem o criticava - não se deixar envolver pela energia que dele emanava no contato pessoal. JK quis que se candidatasse a prefeito do Rio. Dom Helder jamais aceitou meter-se em política partidária; bastava-lhe, como lição, o erro de juventude, quando demonstrou simpatia pelos integralistas.

Por sua iniciativa, foram fundados, em 1955, o CELAM - Conselho Episcopal Latino-Americano que congrega e representa os bispos do nosso Continente, e a CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pólo articulador dos prelados de nosso país, do qual ele foi o primeiro secretário-geral.

BISPO VERMELHO

Numa época em que não havia Igreja progressista nem Teologia da Libertação, Dom Helder, graças à sua sensibilidade social e sua opção pelos pobres, era tido por comunista, difamação acentuada após a implantação da ditadura militar no Brasil, em 1964. Costumava comentar: "Se defendo os pobres, me chamam de cristão; se denuncio as causas da pobreza, me acusam de comunista".

Em 1972 o nome de Dom Helder despontou como forte candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Há fortes indícios de que não foi laureado por duas razões: primeiro, pressão do governo Médici. A ditadura se veria fortemente abalada em sua imagem exterior caso ele fosse premiado. Mesmo dentro do Brasil Dom Helder era considerado persona non grata. Censurado, nada do que o "arcebispo vermelho" falava era reproduzido ou noticiado pela mídia de nosso país.

A outra razão: ciúmes da Cúria Romana. Esta considerava uma indelicadeza, por parte da comissão norueguesa do Nobel da Paz, conceder a um bispo do Terceiro Mundo um prêmio que deveria, primeiro, ser dado ao papa...

No Recife, Dom Helder lançou a Operação Esperança: promoveu reforma agrária nas terras da arquidiocese; passou a visitar favelas, mocambos e bairros pobres; estreitou laços com artistas, universitários e intelectuais.

HOMEM DE FÉ

Um dia, o governo militar, preocupado com a segurança do arcebispo de Olinda e Recife, temendo que algo acontecesse a ele - um atentado ou "acidente" - e a culpa recaísse sobre o Planalto, enviou delegados da Polícia Federal para lhe oferecer um mínimo de proteção. Disseram-lhe: "Dom Helder, o governo teme que algum maluco o ameace e a culpa recaia sobre o regime militar. Estamos aqui para lhe oferecer segurança".

Dom Helder reagiu: "Não preciso de vocês, já tenho quem cuide de minha segurança". "Mas, Dom Helder, o senhor não pode ter um esquema privado. Todos que dispõem de serviço de segurança precisam registrá-lo na Polícia Federal. Esta equipe precisa ser de nosso conhecimento, inclusive devido ao porte de armas. O senhor precisa nos dizer quem são as pessoas que cuidam da sua segurança."

Dom Helder retrucou: "Podem anotar os nomes: são três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo."

A mulher bateu na igreja das Fronteiras: "Dom Helder, pelo amor de Deus, vem comigo, lá na delegacia do bairro estão matando meu marido a pancadas." O prelado a acompanhou. Ao chegar lá, o delegado ficou assustadíssimo: "Eminência, a que devo a honra de sua visita a esta hora da noite?"

Dom Helder explicou: "Doutor, vim aqui porque há um equívoco. Os senhores prenderam meu irmão por engano." "Seu irmão?!" "É, fulano de tal - deu o nome - é meu irmão". "Mas, Dom Helder - reagiu o delegado perplexo -, o senhor me desculpe, mas como podia adivinhar que é seu irmão. Os senhores são tão diferentes!"

Dom Helder se aproximou do ouvido do policial e sussurrou: "É que somos irmãos só por parte de Pai". "Ah, entendi, entendi." E liberou o homem.

De fato, irmãos no mesmo Pai.

PERSEGUISÕES E DIREITOS HUMANOS

Durante o regime militar, Dom Helder moveu intensa campanha no exterior de denúncia de violações dos direitos humanos. O governador de São Paulo, Abreu Sodré, tentou criminalizá-lo. Alegava ter provas de que Dom Helder era financiado por Cuba e Moscou. Alguns bispos ficavam sem saber como agir, como foi o caso do cardeal de São Paulo, Dom Agnelo Rossi, amigo do governador e de Dom Helder. Não foi capaz de tomar uma posição firme na contenda. Mais tarde a denúncia caiu no vazio, não havia provas, apenas recortes de jornais.

Se hoje, na Igreja, se fala de direitos humanos, especificamente na Igreja do Brasil, que tem uma pauta exemplar de defesa desses direitos, apesar de todas as contradições, isso se deve ao trabalho de Dom Helder. Nenhum episcopado do mundo tem agenda semelhante à da CNBB na defesa dos direitos humanos. A começar pelos temas anuais da Campanha da Fraternidade: idoso, deficiente, criança, índio, vida, segurança etc. Neste ano de 2010, economia. Isso é realmente um marco, algo já sedimentado. Também as Semanas Sociais, que as dioceses, todos os anos, promovem pelo Brasil afora, favorecem a articulação entre fé e política, sem ceder ao fundamentalismo.

A Igreja Católica e o Brasil devem muito a Dom Helder Câmara, que desclandestinizou a pobreza existente em nosso país e induziu poder público e cristãos a encarar com seriedade os direitos dos pobres à vida digna e feliz. O profeta nascido em Messejana foi, sim, um autêntico discípulo de Jesus Cristo.



Fonte: http://www.freibetto.org
Frei Betto é escritor, autor do romance "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros. Twitter:@freibetto

domingo, 19 de junho de 2011

O DISCURSO DE MÁRCIO MOREIRA ALVES

O ano de 1968 foi conturbado e decisivo para os destinos do Brasil sob o regime militar.

Enquanto a situação econômica assustava os generais, a reação contra o regime crescia nas ruas de todo o país.

Estudante morto durante protesto pacífico, passeata de cem mil pessoas, e um crescente desejo de retorno à normalidade política, colocava os senhores do sistema na parede.

Era preciso, segundo os mentores do golpe, promover um ato de extrema força para garantir mais tempo no poder.

Esse ato foi o AI-5. A “desculpa”? Bem, a “desculpa” para a publicação do AI-5 acabou sendo um discurso pronunciado no Congresso Nacional por um de seus deputados.

Márcio Moreira Alves nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de julho de 1936. Era portanto um jovem político de 32 anos quando esses fatos aconteceram.

Iniciou trabalho como Jornalista aos 17 anos, sendo correspondente de guerra em 1956 na crise da nacionalização do Canal de Suez.

Em 1963 bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais pela UERJ.

Em novembro de 1966, com 30 anos, foi eleito deputado federal pela Guanabara.
Tornou-se um dos maiores opositores da ditadura imposta em 1964.
No fim de agosto do fantástico ano de 1968, forças da repressão fecharam a universidade de Minas Gerais e invadiram a UNB (Universidade de Brasília) causando profunda revolta no jovem deputado.
Alinhado com a juventude estudantil, pronunciou, em 2 de setembro, o famoso discurso que entraria para a história.

Nele Márcio Moreira Alves conclama o povo brasileiro a boicotar as festividades de comemoração da independência de 7 de setembro. Segundo ele, essa era uma forma adequada, de mostrar aos militares ilegitimamente no poder, toda a indignação e revolta contra o autoritarismo.

“As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile”.

Em outro trecho, talvez o que mais enfureceu as “autoridades” Márcio lança um pedido às namoradas, noivas e esposas dos militares:
“Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968... Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das forças armadas, falando e agindo em seu nome.”

O pronunciamento foi considerado pelos ministros militares como ofensivo ''aos brios e à dignidade das forças armadas''. Em 12 de outubro foi pedida sua cassação no Congresso Federal por “uso abusivo do direito de livre manifestação”.

No dia 11 de dezembro, talvez pela primeira vez desde 31 de março de 1964, o Congresso levantou a cabeça e agiu com coragem. Por 216 votos contra e 141 a favor, o plenário recusou pedido para processar o deputado do MDB. Quando da leitura do resultado, os deputados deram-se as mãos, e, alguns com lágrimas nos olhos, cantaram o hino Nacional.

No dia seguinte, sexta-feira 13 de dezembro de 1968, o Genral Costa e Silva editava o AI-5.

Em 30 de dezembro foi divulgada a primeira lista de cassações do AI-5 e por quem era encabeçada? Pelo deputado do discurso maldito. Antes do final daquele ano, Márcio deixou clandestinamente o país, rumo ao Chile (onde ficou até 1971) e vários outros países depois.

Com a Lei da Anistia, retornou ao Brasil em setembro de 1979. Apesar de candidatar-se duas vezes à Câmara dos Deputados, não conseguiu se eleger.

Em 3 de abril de 2009, dois dias depois dos 45 anos do Golpe Civil-Militar, Márcio Moreira Alves morreu após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral).
Apesar disso, dizem que seu discurso ainda ecoa nas paredes do Congresso Nacional...ou pelo menos, nos corações dos que amam a liberdade.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A VACA ARGENTINA

O leite produzido pela vaca argentina Rosita - o primeiro bovino a obter genes humanos incorporados ao seu código genético - se assemelhará em grande parte ao leite materno humano, com propriedades antibacterianas e antivirais de grande impacto no sistema imunológico dos bebês.

Segundo os cientistas, quando Rosita chegar à idade adulta, seus genes serão capazes de codificar as mesmas proteínas presentes no leite materno.

A vaca foi apresentada em teleconferência com a Casa Rosada, sede do governo argentino, onde a presidente Cristina Kirchner disse ter rejeitado a "homenagem" de ver a vaca batizada com seu nome. "Que mulher gostaria de ter seu associado a um vaca? pergunta ela"

O objetivo é elevar o valor nutritivo do leite bovino através da produção da proteína lactoferrina - que é antibacteriana e antiviral - e da lisozima - também atibacteriana, disseram os responsáveis pelo programa em coletiva de imprensa.

Esse feito poderá ser de grande importância para as mães e seus bebês e ainda para a questão de falta de alimentos em geral.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A DITADURA MILITAR E OS AIs

Os Ais (Atos Institucionais) foram instrumentos jurídicos criados pela Ditadura Militar para impor sua vontade acima de qualquer outro instrumento jurídico, democrático e legítimo. Foi, em resumo, a forma que os militares encontraram para determinar suas decisões sem oposição jurídica.

Eram temidos e suas publicações se cercavam de ansiedade e espectativa.

Entre 1964 e 1969 foram promulgados 17 atos institucionais, regulamentados por 104 atos complementares; dentre eles, os mais importantes:

AI-1 - O primeiro Ato Institucional, editado em 09 de abril de 1964, por uma junta formada pelos ministros militares, visava a aumentar os poderes do executivo. Dava poderes ao regime militar para cassar mandatos, suspendendo os direitos políticos por dez anos. O ato vinha acompanhado de uma lista de cassados, incluindo o presidente deposto João Goulart e ainda, Luiz Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Leonel Brizola. O expurgo atingiu governadores, 50 deputados, 49 juízes, 1200 militares e 1400 civis.
Outras determinações nefastas: Demissão de funcionários públicos (civis ou militares) leais ao antigo governo e prisões de opositores, além de estabelecer as eleições indiretas para presidente da república. O AI-1 vigorou até 11 de junho de 1964.

AI-2 – Em 27 de outubro de 1965 foi editado o AI-2, estabelecia-se que as eleições para presidente seriam de forma indireta e sem possibilidades de reeleição; dissolvia os partidos existentes desde 1945, criando o bipartidarismo: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) – partido do governo e MDB (Movimento Democrático Brasileiro) – oposição ao governo (oposição consentida pelo próprio governo). Para garantir a maioria do governo no STF (Supremo Tribunal Federal), o AI-2 aumentava o número de ministros de 11 para 16. O governo tem, também, autorização para fechar órgãos legislativos.

AI-3 - foi editado em 5 de fevereiro de 1966. Definiu as eleições indiretas para os governadores dos estados e indicação pelos governadores, de prefeitos de capitais e cidades estratégicas.

AI-4 - em Dezembro de 1966 o Congresso Nacional foi convocado às pressas, para “votação e promulgação” imediata do Projeto de Constituição, que revogava definitivamente a Constituição de 1946.

O AI-5 – O mais abominável dos atos, instrumento de um autoritarismo fascista, foi divulgado no dia 13 de dezembro de 1968 (uma sexta-feira 13) após uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. Foi o ápice de uma crise que se arrastava ao logo de todo ano que incluiu a morte de um estudante durante uma passeata (Edson Luis), a Passeata dos Cem mil e o caso Márcio Moreira Alves. Entre outras aberrações aboliu o habeas corpus aos presos políticos, legalizando a tortura, suspendeu por dez anos os direitos políticos, fechou o Congresso por tempo indeterminado, deu Direito ao executivo de legislar por decreto e baixar outros Atos Institucionais.
O AI-5 já foi definido como o golpe dentro do golpe, pois ratificou a ala dura no poder, afastando os elementos da ala branda que defendiam o fim do movimento. Pelo contrário, o AI-5 representou o início da pior parte do pesadelo. Período definitivamente incorporado à figura do General Presidente Emílio Garrastazu Médice (1969-1974).

Na esteira do AI-5, foi promulgado em 1969 o AI-14, que estabelecia a pena de morte, a prisão perpétua e o banimento do país dos que eram considerados terroristas e atentavam contra a nova Lei de Segurança Nacional.

domingo, 12 de junho de 2011

PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA

A tortura como forma de eliminação do inimigo, obtenção de informação, maneira de impor o temor entre outros objetivos macabros, não é novidade na história humana. Foi praticada por egípcios, mesopotâmios e grandes impérios da antiguidade, com destaque para o Império de Roma. Foi, também, prática comum na Idade Média, especialmente pela Igreja, que, aliás, inovou, criando técnicas de tortura que serviram de inspiração para a maioria dos torturadores que vieram depois. A Inquisição foi pródiga de crueldade e homens como Torquemada marcaram seus nomes na história da desumanidade.

No Brasil e na América Espanhola colonial, tortura foi usada como praxe principalmente para coibir qualquer tipo de oposição aos desejos da metrópole.
O líder índio peruano, Tupac Amaru, por exemplo, foi esfolado vivo antes da execução fatal.

Em nosso país, no século XX, a tortura foi amplamente praticada nos dois maiores períodos ditatoriais que vivemos: do Estado Novo (1937-1945) e do regime militar (1964-1985), banalizando-se e sendo institucionalizada neste último.

A “ideologia” da tortura teve como base a Lei de Segurança Nacional, alicerçada no pensamento de que havia um “inimigo interno” a derrotar. A pátria deveria ser defendida de comunistas, homens que comiam criancinhas, pregavam o ateísmo e destruíam as igrejas e os conceitos familiares.

Essa doutrina, nascida na França e adotada pelos Estados Unidos, foi aplicada no Brasil com fervor, e segundo seus seguidores, justificava o uso da tortura.

O governo militar jamais admitiu que houvesse tortura no Brasil, o presidente Castelo Branco chegou a negar publicamente a existência de truculência em seu governo. De certa forma, podemos até concluir, passados 26 anos do fim da Ditadura e tantas evidências e histórias dramáticas depois, que o uso da tortura é o que mais incomoda e envergonha os defensores daqueles tempos, especialmente, entre os militares.

Certo, porém é que, não será negando sua existência que poderemos fechar as cicatrizes que o uso da tortura deixou no país.

Apresentamos a seguir, algo nada agradável, mas, infelizmente histórico: os métodos de tortura utilizados pela Ditadura Militar e seu aparato de repressão. Não estão listadas todas as formas utilizadas,evidente, apenas, as mais tristemente celébres.

Lembramos ainda que, os métodos de tortura variavam entre tortura física e tortura psicológica, e ainda que, tais métodos receberam nomes simbólicos e, na maioria das vezes, irônicos.

PAU-DE-ARARA: O preso era posto nu, abraçando os joelhos e com os pés e as mãos amarradas. Uma barra de ferro era atravessada entre os punhos e os joelhos. Nesta posição a vítima era pendurada entre dois cavaletes, ficando a alguns centímetros do chão. A posição causava dores e atrozes no corpo. O preso ainda sofria choques elétricos, pancadas e queimaduras com cigarro. Este método de tortura já existia na época da escravidão, sendo utilizado em várias fases sombrias da história do Brasil.

CADEIRA DO DRAGÃO: Os presos eram sentados nus em uma cadeira elétrica, revestida de zinco, ligada a terminais elétricos. Uma vez ligado, o zinco do aparelho transmitia choques a todo o corpo do supliciado. Os torturadores complementavam o mecanismo sinistro enfiando um balde de metal na cabeça da vítima, aplicando-lhe choques mais intensos.

CHOQUESELÉTRICOS:O torturador usava um magneto de telefone, acionado por uma manivela, conforme a velocidade imprimida, a descarga elétrica podia ser de maior ou menor intensidade. Os choques elétricos eram deferidos na cabeça, nos membros superiores e inferiores e nos órgãos genitais, causando queimaduras e convulsões, fazendo muitas vezes, o preso morder a própria língua. As máquinas usadas nesse método de tortura eram chamadas de "maricota" ou "pimentinha".

BALÉ NO PEDREGULHO: O preso era posto nu e descalço em local com temperatura abaixo de zero, sob um chuveiro gelado, tendo no piso pedregulhos com pontas agudas, que perfuravam os pés da vítima. A tendência do torturado era pular sobre os pedregulhos, como se dançasse, tentando aliviar a dor. Quando ele "bailava", os torturadores usavam da palmatória para ferir as partes mais sensíveis do seu corpo.

TELEFONE: Entre as várias formas de agressões que eram usadas, uma das mais cruéis era o vulgarmente conhecido como "telefone". Com as duas mãos em posição côncava, o torturador, a um só tempo, aplicava um golpe violento nos ouvidos da vítima. O impacto era tão violento, que rompia os tímpanos do torturado, fazendo-o perder a audição.

AFOGAMENTO NA CALDA DA VERDADE: A cabeça do torturado era mergulhada em um tambor, balde ou tanque cheio de água, urina, fezes e outros detritos. A nuca do preso era forçada para baixo, até o limite do afogamento na "calda da verdade". Após o mergulho, a vítima ficava sem tomar banho vários dias, até que o seu cheiro ficasse insuportável. O método consistia em destruir toda a auto-estima do torturado.


AFOGAMENTO COM CAPUZ: A cabeça do preso era encapuzada e afundada em córregos ou tambores de águas paradas e apodrecidas. O prisioneiro ao tentar respirar, tinha o capuz molhado a introduzir-se nas suas narinas, levando-o a perder o fôlego, produzindo um terrível mal-estar. Outra forma de afogamento consistia nos torturadores fecharem as narinas do preso, pondo-lhe, ao mesmo tempo, uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca, obrigando-o a engolir água.

MAMADEIRA DE SUBVERSIVO: Era introduzido na boca do preso um gargalo de garrafa, cheia de urina quente, normalmente quando o preso estava pendurado no pau-de-arara. Usando uma estopa, os torturadores comprimiam a boca do preso, obrigando-o a engolir a urina.

SORO DA VERDADE: Era injetado no preso pentotal sódico, uma droga que produz sonolência e reduz as inibições. Sob os efeitos do "soro da verdade", o preso contava coisas que sóbrio não falaria. De efeito duvidoso, a droga pode matar.

MASSAGEM: O preso era encapuzado e algemado, o torturador fazia-lhe uma violenta massagem nos nervos mais sensíveis do corpo, deixando-o totalmente paralisado por alguns minutos. Violentas dores levavam o preso ao desespero.

GELADEIRA: O preso era posto nu em cela pequena e baixa, sendo impedidos de ficar de pé. Os torturadores alternavam o sistema de refrigeração, que ia do frio extremo ao calor exacerbado, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. A tortura na "geladeira" prolongava-se por vários dias, ficando ali o preso sem água ou comida.

As mulheres, além de sofrer as mesmas torturas, eram estupradas e submetidas a realizar as fantasias sexuais dos torturadores. Poucos relatos apontaram para os estupros em homens, se houveram, muitos por vergonha, esconderam esta terrível verdade.

O modelo de tortura empregado pelos órgãos de informação da ditadura militar chegou a ser exportado para alguins países asiáticos, onde governos repressivos assumiram o poder. Curiosamente, países que adotaram regimes socialistas, como o Camboja, foram os que "importaram" os métodos da direita brasileira.

O Brasil precisa tratar suas feridas. É necessário, é urgente, que a população brasileira saiba, tudo o que realmente aconteceu no período negro da ditadura militar. Sem sentimentos de vingança, que nada constroem, mas num sentido de justiça e de reparação das memórias, PARA QUE ISSO NUNCA MAIS ACONTEÇA NO BRASIL.

Prof. Péricles
Fonte: http://www.torturanuncamais-rj.org.br

sábado, 11 de junho de 2011

IMPRENSA: OS "DEFENSORES" DA DEMOCRACIA

Sempre que se cogita debater o papel e a atuação da imprensa no Brasil, a mesma reage com truculência e trata de convencer seu público que a democracia está a perigo.

No jargão grotesco dos meios de comunicação imprensa = liberdade, ou imprensa = democracia, de tal maneira que qualquer proposta de discussão é imediatamente rotulada como medida autoritária e um perigo que aponta para o retorno da ditadura.

Não comentam, por exemplo, que, medidas de controle social da imprensa são rotina em países como Estados Unidos e França, cá pra nós, de tradição democrática bem maior do que a nossa.

Na verdade é uma jogada ensaiada dos senhores do quarto poder.

Eles não querem que a sociedade civil tenha qualquer poder de análise sobre o que se publica e o que se vende ao consumidor de notícias e de comentários.

Por falar nisso, esses senhores da imprensa são tão arrogantes em suas prerrogativas que chegaram a criar o termo “formadores de opinião” para definir seu trabalho.

Já que eles adotaram a simbiose imprensa/democracia, quem sabe a gente recorda como essa imprensa, democrática, defensora da liberdade, agiu durante o golpe militar?

Abaixo vocês terão alguns textos desses órgãos de comunicação a partir de pesquisa da jornalista Cristiane Costa, publicada no seu Blog BrHistória.

Não se surpreenda. Cinismo não tem limites.

Obs. Desaconselhável para quem tem estômago frágil:
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Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem.
(O Globo - Rio de Janeiro - 4 de Abril de 1964)

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos. Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais
(O Globo - Rio de Janeiro - 2 de abril de 1964)

Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas.
(Tribuna da Imprensa - Rio de Janeiro - 2 de abril de 1964)


A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil
(Editorial de O Povo - Fortaleza - 3 de abril de 1964)

Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade... A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas.
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 1º de abril de 1964)

Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República... O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve.
(Correio Braziliense - Brasília - 16 de abril de 1964)

[...] um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama [...].
(Editorial da Folha de S.Paulo - 22 de setembro de 1971)

Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada.
(Jornal do Brasil, edição de 1 de abril de 1964.)

Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada.
(Editorial do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal O Globo, edição de 7 de outubro de 1984, sob o título: "Julgamento da Revolução").

Mais algumas manchetes:

1°/04/64 - Correio da Manhã (do editorial, "Fora!"): Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!

02/04/64 - O Globo: Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada... atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

05/04/64 - O Globo: A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista.

05/04/64 - O Estado de Minas: Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos. Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria.


Essa é a mesma imprensa que diz defender a democracia. Os mesmos personagens que afirmam representar a liberdade!

Menos mal que apesar de manipular as pessoas menos informadas e “formarem opinião” com sua retórica, eles são incapazes de calar a história.

Prof. Péricles

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ELEIÇÃO NO PERU E AGONIA NEOLIBERAL

A Doutrina neoliberal surgiu com força no “mundo globalizado” a partir da crise terminal do socialismo real e provocaram o fim do Bloco Socialista e da da própria União Soviética. Sua ascensão está ligada aos governos Ronald Reagan (EUA) e Margareth Thatcher (Inglaterra), a partir de meados da década de 80.

Nas décadas seguintes predominou em todos os cantos do planeta, prometendo uma prosperidade nunca vista antes e que só seria possível com a globalização mundial, a integração dos mercados, a diminuição do estado e as privatizações.

No Brasil, o neoliberalismo chegou ao poder com a eleição de Fernando Collor de Melo (PRN) em 1989 e nos dois mandatos seguintes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Hoje, 25 anos, crise financeira internacional e milhões de desempregados depois, o neoliberalismo enfrenta sua agonia, provavelmente terminal.

Nenhuma de suas promessas, defendidas como dogmas por seus ideólogos, se concretizou, fazendo o mundo melhor e os povos mais felizes.

Seu "canto do cisne", pelo menos, na América, parece estar num de seus mais importantes baluartes, o Peru de Alberto Fujimori.

O Peru foi às urnas neste domingo (05/junho) para impedir a continuidade da política neoliberal personificada em Keiko Fujimori e eleger um novo projeto.

A vitória de Ollanta Humala de proposta claramente anti-neoliberal, de esquerda (segundo seus críticos de estilo muito próximo de Hugo Chaves, mas segundo ele mesmo, muito mais próximo de Lula), fala por si mesmo.

A derrota neoliberal no Peru é mais do que sintomática. Trata-se da rejeição definitiva de um modelo econômico, político e social que iludiu muito mais do que realizou. Que apequenou os estados transferindo patrimônio público para o patrimônio privado, que ampliou as diferenças sociais e infelicitou toda uma geração.

Definitivamente, a história não acabou, como seus adeptos, um dia, chegaram a profetizar e bem o diz quem alerta para os falsos profetas.

Prof. Péricles

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A REVOLTA DOS PADRES

Pernambuco, 1817.

Um forte sentimento antilusitano pode ser percebido nas ruas.

Além de olhares rancorosos por aqueles que controlam o comércio e residem nas melhores casas, dos melhores bairros, os brasileiros ainda dedicam aos portugueses apelidos como “galegos”, “pés de chumbo” e outros menos publicáveis.

Os brasileiros guardam ainda, uma mágoa especial, a seu governador, Caetano Pinto Montenegro. Ao pé de ouvido se diz que o tal é Caetano no nome, Pinto na coragem, Monte na altura (1:90m) e Negro nas ações.

O patriotismo está forte como jamais esteve em terras nordestinas.

São tempos de ousadia. Afinal, os Estados Unidos (1776) e o Haiti (1806), por exemplo, já não haviam rompido as amarras coloniais?

Então, todos os sentimentos explodiram no dia 6 de março.

O início foi num batalhão de soldados negros, os “Henriques” insatisfeitos com os péssimos salários, mas logo, lideranças das conhecidas Casas Maçônicas Patriotas e Aerópago de Itambé como Domingos José Martins, Antônio Carlos de Andrada e Silva e ainda de religiosos como Frei Caneca, assumem o movimento, que acabaria também conhecido como “A Revolta dos Padres”.

O Governador, após pifia resistência, foge, sob a zombaria geral.

Então, por 75 dias Pernambuco sonhou.

Um sonho brasileiro. Um sonho de brasilidade. Um sonho que se alastrou para o Rio Grande do Norte, a Paraíba e o Ceará.

Foram incentivadas as ações que demarcassem nacionalidade.

Até nas missas, onde o vinho (português) foi substituido pela aguardente (brasileira) e a hóstia passou a ser feita da mandioca brasileira em lugar do trigo.

Em maio, Antônio Gonçalves Cruz, o Cruz Cabugá, desembarcou na Filadélfia com 800 mil dólares (atualizados, aproximadamente 12 milhões de dólares ) na bagagem com três missões: Comprar armas para combater as tropas de D. João VI; Convencer o governo americano a apoiar a criação de uma república independente no Nordeste brasileiro e Recrutar alguns antigos revolucionários franceses exilados em território americano para, com a ajuda deles, libertar Napoleão Bonaparte, exilado na Ilha de Santa Helena para comandar a revolução pernambucana.

Um sonho brasileiro de 75 dias, a última tentativa de criação de um Brasil popular.

Mas o sonho acabou.

Tropas enviadas da Bahia avançaram pelo sertão pernambucano, enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias 8000 homens cercavam a província. No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de Ipojuca. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Recife. Em 19 de maio as tropas portuguesas entraram na cidade e a encontraram abandonada e sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.

Apesar do número relativamente pequeno de vítimas em combate (100 mortos e 150 feridos), a repressão não se fez de rogada: 13 executados na forca (inclusive um menino de 16 anos), 28 mortos no cárcere (suicidados), 1.203 degredados.

Quando o enviado especial aos Estados Unidos, Cruz Cabugá retornou ao Recife acompanhado de quatro veteranos oficiais de Napoleão para dar andamento ao sonho, tudo já estava consumado e o movimento completamente derrotado.

Caetano Pinto Montenegro e os portugueses voltaram a erguer o queixo e o Brasil continuou sua rota que o levaria a “independência” desenhada pelas e para as elites.

Napoleão Bonparte? Provavelmente jamais ficou sabendo do sonho sonhado por aqueles brasileiros malucos.

Prof. Péricles

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DESCOBERTA DA AIDS COMPLETA 30 ANOS

Há 30 anos, no dia 5 de junho de 1981, o Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos, descobriu em cinco jovens homossexuais uma estranha pneumonia que até então só afetava pessoas com o sistema imunológico debilitado.

Um mês depois, foi diagnosticado um câncer de pele em 26 homossexuais americanos e se começou a falar de "câncer gay".

No ano seguinte, a doença foi batizada com o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Aids, em inglês, Sida.

As epidemias são velhas companheiras do homem em sua história.

O próprio Império Romano estava debilitado quando caiu, em 476, por um surto de varíola que matava milhares de cidadãos.

O século XIV, chamado por muitos de “o século das crises” assistiu o drama inenarrável da Peste Negra (Peste bubônica e pneumônica).

Mais recentemente, o fenômeno da Gripe Espanhola pós I Guerra Mundial, matou milhares e milhares de pessoas em vários países diferentes (pandemia). Tão misteriosamente como apareceu, desapareceu sem deixar vestígios.

Nesses 30 anos, aprendemos e sofremos com a AIDS.

Perdemos muitas vidas. Mas talvez, tenhamos ganho dignidade no trato das diferenças.

Apesar de em 1996, com o desenvolvimento dos anti-retrovirais, a doença mortal ter passado a um padrão de enfermidade crônica. Apesar do conhecmento maior sobre o virus e mesmo com o desenvolvimento do coquetel medicamentoso que prolongou e deu mais qualidade de vida aos infectados, ainda não existe uma cura definitiva para a doença.

Hoje, a grande preocupação é não permitir o “salto alto”, a crença de que o inimigo não oferece mais risco, pois esse comportamento perigoso, acaba por incentivar a falta de cuidados e a consequente infestação viral.

O uso de preservativo, os cuidados nas relações sexuais e o reconhecimento que o problema ainda ameaça, é uma obrigação para conosco e para com os próximos.

A Aids, ou Sida, foi e ainda é, a maior epidemia de nosso tempo.