domingo, 24 de julho de 2011

AMY WINEHOUSE E AS BENGALAS

Nesse fim de semana recebemos a trágica notícia da morte da cantora e compositora britânica Amy Winehouse, de causas ainda não esclarecidas, mas, provavelmente ligadas ao uso abusivo de drogas.

Chama atenção que nos meios de comunicação, muitos entrevistados alegaram que esse desfecho já era esperado exatamente pelo envolvimento da artista com drogas, como álcool, anfetaminas, cocaína e outros.

E talvez, fosse mesmo de se esperar esse ponto final, lamentado por todos os fãs. Mas, que o lamento não seja inútil. Que a dor traga a reflexão necessária.

A dependência química é uma doença identificada no CID (Código Internacional de Doenças) e classificada como doença incapacitante para o trabalho.
É doença. E doença incurável, como incurável são alguns tipos de cânceres, diabetes e outros males. Porém, diferentemente desses, a dependência química é controlável, embora seu controle só seja possível com a abstinência total da droga incapacitante.

Possuí uma boa dose de características únicas que fazem duvidar seja realmente uma moléstia, algumas vezes sendo confundida com “falta de caráter”, “imoralidade”, “promiscuidade” etc. Quase sempre, o próprio dependente químico não aceita estar com uma doença quando usa sua droga de preferência.

Tem seus mistérios ainda não solucionados: por que alguns desenvolvem a dependência e outros não? Sua ocorrência é hereditária? Existem sinais que nos alertem para a predisposição à dependência?

Mas, também temos muitas certezas.

A dependência química é contagiosa. Mas não pelo contágio viral ou algo assim, mas pelo contágio da dor psíquica, da depressão, do sentimento de impotência que se alastra do dependente aos seus familiares, amigos, esposas, esposos, filhos. Na medicina moderna já é comum a expressão “família co-dependente”.

É essa co-dependência que explica as mentiras dos familiares para esconder cada ressaca, cada mico, para justificara a falta ao trabalho. A não aceitação do problema é comum entre os familiares.

Também é ela, a co-dependência, que explica porque a maioria das ex-esposas de dependentes químicos tornam a casar com outros dependentes químicos.
Importante não acreditar em falsas imunidades, como, por exemplo, do grau de escolaridade, função profissional ou poder aquisitivo.

Existem dependentes químicos em todas as funções conhecidas, do gari ao médico, do ajudante de pedreiro ao padre. Entre homens e mulheres e em todos os estamentos sociais. Ricos e pobres, de igual maneira. A dor não discrimina intelecto nem especialização, muito menos ter mais ou menos dinheiro.

O que varia nesses casos é apenas o tipo de droga mais utilizada.

Não acredite que o alcoolismo ou o tabagismo seja menos deprimente do que, por exemplo, fumar maconha. A legitimidade do uso ou da proibição é meramente fruto da cultura existente.

No Brasil qualquer um pode beber qualquer bebida de álcool, porém o consumo de maconha é reprimido pela Lei. Entretanto, nos países árabes o uso de Haxixe (um tipo de maconha potencializada) é liberado enquanto que consumir álcool é punido com cadeia e, às vezes com chibatadas públicas.

O uso de uma substância estranha ao corpo que provoca sensações de prazer, de alegria, euforia, invencibilidade é, na verdade, uma bengala que o dependente recorre para seguir a vida.

E quem de nós não usa bengalas?

Não será o trabalho excessivo, o sexo compulsivo, a inveja, a busca do poder, o sentimento de vingança, o ódio, entre tantas outras, bengalas?

Claro, que nada justifica o sofrimento e a dor, e no caso de Amy Winehouse e de milhares de dependentes, a morte.

Mas solução pronta não existe. Precisa ser construída.

A solução para esse que é o maior flagelo da humanidade passa, necessariamente, por melhorias na educação, no repensar a família e as relações afetivas.

Passa pela construção de uma sociedade menos injusta, menos egoísta e competitiva.

Uma sociedade mais fraterna onde os prazeres sejam pra todos e que não exija fugas em prazeres artificiais.

Se devemos reciclar o lixo por uma natureza mais limpa e saudável, não podemos esquecer o sonho de reciclar o homem enquanto ser social, por uma sociedade mais justa, mais humana e, só assim, sem drogas.

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