sábado, 29 de outubro de 2016

A CIDADE E O VOTO


Prédios possuem personalidade própria. Observe bem e verá.

Os mais antigos estão carregados com aquela sabedoria dos anos que só quem os vive pode ter.

Já, os prédios mais jovens, adolescentes, com suas arquiteturas moderninhas, são belos, mas as vezes, muito esquisitos.

Árvores são divertidas.

Costumam rir dos homens sem que ninguém perceba e as vezes quando seus galhos se aproximam trocam confidências como grandes fofoqueiras, que não deixam de ser. Falam das últimas ventanias que levantaram as copas daquelas arvorezinhas mais jovens e distraídas.

Igrejas são arrogantes.

Não que eu implique com elas, nada disso, mas elas têm aquela coisa típica de quem se acha dono da verdade.

Todas elas.

Algumas ruas são mais divertidas do que as outras.

As lombas por exemplo, parecem sempre cansadas e por fazerem esforço a tanto tempo ficaram corcundas.

As avenidas são elegantes, mas se acham muito... prefiro as ruas mais calmas, especialmente as alamedas que falam com a gente. Você já ouviu, não é?

Tem lugares, entretanto, que a personalidade predomina sobre a paisagem.

Poucos lugares em Porto Alegre são mais frios e sisudos dos que os prédios da PUC.

Todos eles com jeito aristocrático e mesmo querendo ser populares a gente sabe que seus corações são de nobre linhagem.

A Redenção, nosso Parque no coração da cidade, já foi mais alegre.

Hoje, depois de assistir tantas violências e tantas vidas sendo queimadas ouvirando pó, ficou mais triste, mais sóbrio e mais velho.

O Arroio Dilúvio, antes imponente porta de entrada, hoje se queda completamente esquecido e abandonado. Ele até já pensou em participar de grupos de autoajuda, mas, parece que sua decadência é inevitável.

Não é culpa sua ser tão poluído, mas se sente desprezado e esquecido, logo ele que já viu até rebelde farroupilha se esgueirando entre suas sombras.

Com o tempo Porto Alegre se espreguiçou e algumas coisas saíram do lugar.

Alguns bairros nobres viraram bairros mais simples e alguns bairros simples viraram periferia.

A avenida independência uma baronesa agora se assusta com sua própria vulgaridade.

E tem os viadutos e seus grandes olhos que miram a todos e a tudo o tempo todo.

O Obirici, tão jovem, já traz nas costas quantidades inimagináveis de toneladas. Parece que ninguém se preocupa em lhe dar bom dia e em saber como vai sua saúde e suas vigas...

E o da Borges de Medeiros, um senhor quase caduco continua altivo, com a rua que lhe passa ao alto e o povo que o tempo todo lhe passa abaixo.

As cidades têm vida própria. E devemos respeita-las.

Talvez por isso, nos filmes de ficção de fim de mundo, o que mais nos assuste seja que elas não mais existam.

Fazemos amizade, trocamos confidências e todos nós temos um pedacinho de nossa cidade que gostamos de pensar que é só nosso.

Assim a eleição para prefeito é um momento especial para cada um.

Devemos pensar bem nosso voto e votar consciente naquele que se propõe a ser seu prefeito não por mero interesse carrerista, mas por amar verdadeiramente a cidade.

Vote bem e vote consciente e lembre-se que as vezes, o voto em branco pode ser uma declaração de amor.

Como tudo aquilo que amamos, não podemos entregar, nas mãos de qualquer um. 

Somos seres urbanos e com nossa cidade devemos agir com urbanidade e coerência.




Prof. Péricles



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