quarta-feira, 28 de março de 2012

LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

Militares da reserva e policiais supostamente envolvidos com atos de tortura e outros abusos cometidos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985) foram alvo de manifestações realizadas nesta segunda-feira em seis cidades do país. Integrantes do Levante Popular da Juventude - movimento de jovens que surgiu há seis anos no Rio Grande do Sul e hoje tem representantes em todo país - levaram faixas e fizeram apitaços em frente às casas ou endereços de trabalho dos agentes do Estado, com o intuito de constrangê-los em função da participação deles em atos do regime. As ações ocorreram em Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Belém (PA), Aracaju (SE) e devem continuar nos próximos meses.

O grupo chama os atos de "escracho" e informa ter se inspirado em ações semelhantes que ocorreram em países como Argentina e Chile. Eles levam cartazes com imagens dos militares e de vítimas, com base em informações de processos conduzidos pelo Ministério Público Federal, livros da época e relatos de familiares de opositores do regime. Em manifesto divulgado nesta segunda, se posicionam a favor da Comissão da Verdade e dizem ser necessário "expor e julgar aqueles que torturaram e assassinaram nosso povo e nossos sonhos". O grupo também organizou atos públicos em praças e ruas de mais seis cidades do país.

- Até agora, a única posição que vinha ganhando visibilidade era dos militares que se colocavam contra a Comissão e em defesa dos atos do regime. Nós pensamos diferente e queremos ter acesso à verdadeira história do Brasil - diz o analista de sistemas Edison Rocha Júnior, de 26 anos, integrante do Levante em São Paulo, cidade onde o ato reuniu cerca de 200 manifestantes.

Na capital paulista os jovens protestaram em frente à sede da empresa de segurança privada Dacala, que pertence ao delegado aposentado do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), David dos Santos Araujo. Ele foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de participar da tortura e do assassinato do ativista Joaquim Alencar de Seixas, em 1971. Os manifestantes levavam cartazes com imagens do ex-delegado e de outros mortos e desaparecidos durante a ditadura.

Funcionários da empresa Dacala informaram que o Araujo não estava na empresa na hora da manifestação e não falaria sobre o tema. Depois do ato, foram retiradas do site da empresa as logomarcas de seus principais clientes, entre eles uma rede de faculdades (Anhanguera Educacional), bancos (Itaú, Santander e Safra) e montadoras de veículos (Kia, Ford, Citroën e Volkswagen).

Em Belo Horizonte, cerca de 70 pessoas usaram tambores e apitos para fazer barulho na janela da casa de Ariovaldo da Hora e Silva. Ele também era lotado no Dops e é citado no livro Brasil Nunca Mais como envolvido na morte do opositor do regime João Lucas Alves, além de participação em atos de tortura.

- Eram jovens como muitos de nós que você torturou e assassinou nos porões da ditadura milita, vamos ficar atrás de você e cobrar a verdade. Que seja feita justiça com a sua condenação - gritavam os manifestantes, que dizem ter visto Ariovaldo espiar a manifestação pela janela.

Em Porto Alegre, um muro do outro lado da rua da casa do coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações de Porto Alegre, amanheceu com a frase: "aqui em frente mora um torturador". Ponzi foi citado em processo que apurou o desaparecimento do militante político Lorenzo Ismael Viñas em Uruguaina (RS), no início da década de 80. O GLOBO deixou recados no telefone da casa do coronel, mas ele não retornou.

Em Fortaleza, funcionários do escritório de advocacia do ex-delegado da Polícia Federal José Armando Costa teriam tentado impedir a colagem de cartazes e faixas em frente ao escritório, de acordo com os manifestantes. A polícia militar foi chamada, mas ninguém foi preso. Segundo familiares de presos políticos, Costa era responsável por tomar o depoimento de presos depois das sessões de tortura.

Uma encenação de uma cena de tortura com pau-de-arara marcou o protesto em Aracaju, realizado em rente ao Hospital e Maternidade Santa Isabel, que tem no quadro de diretores o médico José Carlos Pinheiro, suspeito de atender opositores do Regime durante atos de tortura no 28° Batalhão de Caçadores.

Segundo Rocha Júnior, o Levante surgiu em 2006 mas só cresceu e se nacionalizou no início deste ano, quando realizou um acampamento com a participação de mais de mil jovens em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O grupo atua em sintonia com organizações de esquerda tradicionais, como o Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), mas Rocha Júnior informa que o Levante não integra nenhuma dessas entidades.

- Somos um movimento de juventude autônomo, que tem como pauta um projeto social para o Brasil, algo que está além de legendas partidárias - diz


Jornal Correio do Brasil

terça-feira, 27 de março de 2012

ISRAEL E OS DIREITOS HUMANOS


Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia e Jerusalém oriental, territórios palestinos que se localizam na margem ocidental do rio Jordão e do Mar Morto. Desde então, o governo israelense colocou em prática uma política destinada a anexar a região a Israel. O projeto inclui a construção de um muro de quase 800 quilômetros de extensão e oito metros de altura, dentro da Palestina, com o objetivo de confiscar terras pertencentes a palestinos e erguer nelas colônias exclusivas para judeus.

O plano foi executado sem muita pressão internacional até 2004, quando o Tribunal Internacional de Justiça, órgão das Nações Unidas, considerou ilegais o confisco, o muro e as colônias, recomendando a destruição de tudo que fora construído, a devolução das terras aos palestinos e o pagamento de uma compensação financeira pelos prejuízos sofridos por eles.

Nada disso, porém, foi feito. Israel continuou erguendo o muro, as colônias, e tomando terras na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Entre 1967 e 2010 foram construídas 121 colônias, onde hoje vivem, ilegalmente, 600 mil judeus. Grande parte deles é ultranacionalista, considera que a Palestina pertence aos judeus e não aos palestinos e por isso procuram tirá-los de suas casas, atacando-os, roubando suas terras e fontes de água, destruindo suas plantações.

Diante da ofensiva israelense, o governo palestino decidiu ir à ONU, solicitar a formação de uma comissão internacional para investigar as atividades ilegais das colônias. A solicitação foi aprovada na quinta-feira, 22 de março, pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

As autoridades palestinas comemoraram. “Foi uma vitória não só nossa, mas também das leis internacionais”, saudou Saeb Erekat, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), representante dos palestinos em todas as instâncias internacionais. “Pedimos ao governo de Israel que suspenda todas as atividades relativas às colônias e dê uma chance às negociações de paz”, acrescentou ele. A Palestina afirma que só retornará às negociações quando os israelenses cancelarem a expansão das colônias.

Na segunda-feira, 26 de março, Israel deu o troco. Por decisão de Avigdor Lieberman, ministro de Relações Exteriores, rompeu com o Conselho de Direitos Humanos da ONU e orientou o embaixador de Israel em Genebra a nem mesmo atender os telefonemas do chefe da comissão.

O primeiro ministro Benjamin Netanyhau chamou o Conselho de “hipócrita”. “A maioria dos países do Conselho é contra Israel”, declarou o ministro.

Ambos estão certos. Só se esquecem de dizer que, se Israel respeitasse a Declaração de Direitos Humanos e o direito internacional, ninguém o condenaria. A verdade é que o país desconsidera a legislação internacional, age como quer, faz o que bem entende e não admite críticas por isso. Por esse motivo já foi considerado, pela Turquia, o “moleque” do mundo, aquele que não respeita nada e ninguém.

Laura Dupuy Lasserre, embaixadora do Uruguai na ONU e atual presidente do Conselho de Direitos Humanos, considerou “bastante infeliz” a decisão de Israel.

Israel também anunciou que não permitirá a entrada, em seu território, das milhares de pessoas de todo o mundo que irão se reunir em suas fronteiras em 30 de março, Dia da Terra Palestina, para tentar chegar a Jerusalém. Iniciativa de organizações internacionais de peso, a Marcha Global para Jerusalém tem os objetivos declarados de protestar contra a ocupação militar da Palestina e contra o que o governo israelense vem fazendo na cidade, em especial na parte oriental, considerada a capital do futuro Estado da Palestina.

O governo israelense pediu aos países vizinhos que a contenham em seus territórios, impedindo-a de chegar às fronteiras. Os participantes vêm anunciando há meses, desde o início da organização do evento, que a manifestação é pacífica e que não existe a intenção de confrontar o exército israelense. Agora, com as autoridades sionistas proibindo-lhes a entrada em Israel, as milhares de pessoas da marcha terão de apelar ao plano B: chegar o mais perto possível de Jerusalém. Isso significa deter a caminhada nos limites de Israel com Jordânia, Líbano e Egito.

As consequências podem ser imprevisíveis.


Baby Siqueira Abrão
Correspondente no Oriente Médio


domingo, 25 de março de 2012

CHICO ANÍSIO


Minha geração jamais esquecerá Chico Anísio.

Acostumamos, desde jovens, a encontrar nele, ou melhor, neles, pois Chico Anísio era múltiplo, um pouco de alívio para nossas angústias a partir de seu humor diferenciado.

Muitas vezes a discussão da turma enquanto afastava a tensão, foi sobre um personagem novo, ou sobre a última piada do personagem preferido de cada um.

Definia-se politicamente como de um pensamento mais ao centro e partidariamente se considerava um militante do PMDB, embora, nunca tenha escondido sua admiração por Ciro Gomes, quando governador de seu estado, o Ceará.

Esse pensamento “moderado” fazia que suas críticas sociais não se caracterizassem pela denúncia ou pelo aprofundamento. Eram mais, deboches às vezes bem cínicos, mas de característica popular, desses que se ouve nas filas e nos bares.

Mas, cá pra nós, ninguém é obrigado ao humor engajado, pelo contrário, faz bem a diversidade, o humor compromissado apenas em fazer rir.

Sabemos todos que morrer é natural, e que isso acontece para qualquer um. O problema, é que sendo múltiplo, a morte não é apenas de Chico, mas dos 209 Chicos. Dos 209 personagens talentosamente criados por ele.

Fica difícil não imaginar o Professor Raimundo encerrando sua última aula e se retirando para sempre num Colégio vazio. Como não pensar em Seu Pantaleão contando sua última mentira apoiado por D. Terta. É quase impossível não imaginar o Coalhada finalmente desistindo de conseguir uma vaga em algum time de 5ª divisão, e desistindo do futebol.

O “profeta” costumava encerrar os programas de Chico Anísio com uma frase profunda e nada humorística, que às vezes nos pegava distraído e calava fundo na alma.

O Profeta deve estar dizendo agora, que é esse o final de espetáculo de todos nós e não esqueçamos que também interpretamos muitos personagens, todos os dias, ao longo da vida.

Desempenhamos o papel de filhos, de irmãos, de pai/mãe, de colegas, de amigos, de cidadão. E que fomos nós que escolhemos cada papel.

Que possamos viver de um jeito que ao fecharem-se as cortinas de nossas existências possamos ser aplaudidos por nossas atuações.

Apesar dos múltiplos disfarces, e do enorme talento, Chico Anisio jamais conseguiu esconder uma tristeza que bailava em seus olhos, que se escondia daqui e dali, mas sempre acabava visível. Essa tristeza real que era do artista, não dos personagens, era o único traço presente em todos os personagens.

São nossos segredos, sentimentos profundos muito além de qualquer maquiagem.

É no respeito a seus segredos e na admiração de sua essência, que aplaudimos sinceramente esse grande artista!

E na lembrança serena do profeta lhe desejamos boa viagem.


Prof. Péricles

quinta-feira, 22 de março de 2012

NÃO É REVANCHISMO

O que os militares dessa geração pós golpe 1964 precisam enxergar é que
não há revanchismo nos trabalhos da Comissão da Verdade, nas denúncias
de tortura, assassinatos e nas várias ações para que a História de um
período brutal seja conhecida por todos os brasileiros.

Houve um golpe de estado em 1964, foi organizado e comandado por
potência estrangeira através de dois agentes, o embaixador Lincoln
Gordon e o general Vernon Walthers, contra um governo legítimo, dentro
de um processo maior, a guerra-fria. A máxima de Nixon “para onde se
inclinar o Brasil se inclinará a América Latina” foi dita anos depois,
mas não passou de uma constatação da realidade daquela época. E tanto é
assim que golpes semelhantes foram desfechados em países desta parte do
mundo, alguns, com níveis de estupidez absolutos. Caso da Argentina e do
Chile.

A ação dos governos gerados pelos golpes foi de caça pura e simples dos
adversários, inclusive e grande número de militares comprometidos com o
seu país. A forma de agir em momento algum fugiu do comando externo. O
que foi a Operação Condor? Uma aliança de governos golpistas do chamado
Cone Sul para promover o assassinato de líderes oposicionistas exilados
em qualquer parte do mundo. Orlando Letelier, ex-chanceler do governo de
Salvador Allende, foi morto em New York, onde ocupava um cargo de
funcionário nas Nações Unidas.

Os chamados projetos nacionais, ou seja, de busca do crescimento
econômico para esses países circunscreveram-se ao permitido por
Washington e às políticas de dominação impostas pelos EUA. Nada além
disso.

Deixar de lado as atrocidades cometidas por militares como Curió (ficou
milionário achacando garimpeiros em Serra Pelada), Brilhante Ulstra e
outros tantos é macular a história das forças armadas brasileiras e
transformá-las, hoje, em cúmplices de um tempo sombrio, cruel e
antinacional.

Puro espírito de corpo sem sentido e sem razão de ser, pois acaba sendo
mancha. Inserir as forças armadas no processo de construção democrática e
popular do Brasil, isso sim, dá um desenho claro das obrigações de
garantir a soberania nacional e a integridade de nosso território.

Ou os militares da nova geração entendem que os golpistas de 1964,
notadamente os torturadores, os assassinos, os estupradores, são
criminosos e praticaram crimes imprescritíveis – já denunciados por
organizações internacionais -, ou essa mancha vai atravancar o
cumprimento do real papel de uma força armada nacional. Têm que
responder pelos seus crimes. Esses enxovalham inclusive as forças
armadas através do falso patriotismo, aquele que Samuel Johnson chama de
“último refúgio dos canalhas”. Foi a estupidez dita por um general num
programa de televisão que “tortura existe em qualquer época, até hoje”.

Nesta semana a jornalista Hildegard Angel enviou uma carta a um ato de
homenagem às vítimas da ditadura militar onde fala de justiça. Sua mãe
Zuzu Angel foi morta pela ditadura ao buscar o paradeiro de seu filho
Stuart Angel, também executado pela ditadura. O prestígio internacional
de Zuzu e a mobilização que promovia, estavam incomodando e trazendo
transtornos a um regime que usou o pretexto de restaurar “a ordem e a
democracia”, para derrubar um governo legítimo.

Um documento comovente e repleto de sensatez.


Laerte Braga

terça-feira, 20 de março de 2012

CARTA DE HILDEGARD ANGEL



Dia Internacional da Mulher
Prezadas pessoas aqui presentes,

(...)
Este ano serão, no dia 14 de abril, 36 anos de seu assassinato pela ditadura, crime comprovado em 1998 pelo Governo Brasileiro. Além das inúmeras e comoventes homenagens, esta foi a única resposta oficial que tivemos até hoje: a confirmação do que todos já suspeitávamos, de que a morte de minha mãe foi provocada. Mas... é muito pouco, vocês não acham?

Quem são esses indivíduos sem rosto, sem nome, sem coração e sem alma, que urdiram nas sombras a cilada que empreenderiam, na madrugada, contra a mulher corajosa e solitária, que guiava seu Karman Ghia com a mala do carro lotada com exemplares do livro do historiador Helio Silva, que trazia transcrita a carta de Alex Polari D'Alverga, testemunhando em detalhes a tortura, a morte, o suplício de meu irmão Stuart?

Os livros não eram encontrados nas livrarias e, com receio de que o que restava da edição fosse apreendido, ela adquiriu o que pôde e saiu distribuindo a quem encontrasse o documento sobre o martírio de seu filho, as atrocidades cometidas contra ele.

Eram os pedaços de seu "Tuti" que ela entregava, com uma dedicatória emocionada, às pessoas de seu querer bem. E também àquelas que sequer conhecia. Era sua forma de panfletar a sua História, a nossa História brasileira, a sua e a nossa Dor. Dor de ontem e dor de sempre, que ainda me oprime a alma e se reflete nas minhas juntas, impedindo-me de estar hoje aqui.

Em seu discurso comovente no palco do Teatro Casa Grande, na véspera do segundo turno, a então candidata Dilma Rousseff, com uma ênfase e uma emoção que superou todos os seus pronunciamentos de campanha, disse: "Nenhum país desenvolvido respeita país que não olha pelos seus pobres, nenhum!". Pois eu peço licença à nossa presidenta para acrescentar: "... e nenhum país desenvolvido, nenhum, respeita país que não olha pela sua História!".

Chega, estou cansada. Já houve tempo demais para rever esse passado horroroso, esclarecê-lo, lavar as feridas, conferir responsabilidades, punir culpados, sim! E até agora, nada!

(...)
A rua em que nasceu minha mãe, em sua Curvelo, passou a ter seu nome no mesmo mês de sua morte em 1976. Tive o prazer e a tristeza de ir inaugurá-la. Alguns anos depois, na mesma década, Zuzu virou rua em Belo Horizonte. Eu havia convidado um amigo de minha mãe, deputado cassado José Aparecido de Oliveira, e um amigo da família, o político também cassado Dalton Canabrava, para discursarem pelos Angel. Com esse gesto, pretendia dar voz a quem não a tinha naquele período militar, num evento oficial.

No dia da inauguração, houve um grande temporal. O bairro Mangabeiras ainda era novo e a rua sem asfalto. A solenidade precisou ser no salão da Prefeitura. E pela primeira vez, desde a "fechadura", aquela casa se abriu para ouvir os políticos da oposição falarem...

Vieram muitas outras homenagens sucessivas à minha mãe, inúmeras, incontáveis, mesmo naqueles nebulosos anos 70 e, depois, nos 80. Para tanto, era usado o eufemismo da "grande costureira". Ninguém se referia à "grande mãe". Ninguém falava o subtexto. Mas todos pensavam. Todos sabiam. Bastava isso.

Com o passar dos anos e das homenagens, Zuzu, perdoem-me o humor torto, tornou-se uma espécie de "Elvis" brasileiro: não morreu. Hoje, há quem me chame de Zuzu. Há também quem ingenuamente me pergunte se eu sou a mãe da Zuzu Angel.

Ela dá nome a escolas, creches, centros comunitários, oficinas de costura, tem um Instituto que a celebra e batiza um dos mais importantes túneis do Rio de Janeiro, que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca, em cuja saída há um belo monumento, a figura de uma mulher forte, com o punho cerrado cortando o vento, representando Zuzu e sua luta.

(...)
... Tudo isso me dá a certeza, o alento e o conforto: se não for pelas vias da Política e das leis, não se preocupem. A Justiça imperiosa será e já está sendo feita, contada e escrita, através de nossos artistas. A Cultura brasileira está dando conta do recado de, como eu disse no início desta mensagem comprida, "olhar pela nossa História".

Muito obrigada.

Hildegard Angel
De: Rede Castorphoto

domingo, 18 de março de 2012

EU A MATEI, FOI INCRÍVEL

Lembra como fez?

- Claro, eu a esfaqueei e depois cortei a garganta... foi incrível.

Mas, afinal de contas, por que você a matou?

- Porque eu queria saber qual a sensação. O que eu sentiria matando, entende?

E...

- A experiência de matar é muito agradável. Logo que passa a sensação de “oh meu Deus, eu não posso fazer isso” se sente um prazer enorme.

O que fez depois?

- Pensei “agora estou tipo nervosa e tremendo, tenho que me acalmar. Tenho que ir para a igreja agora (risos, muitos risos)




A adolescente norte-americana Alyssa Bustamante, de 18 anos (15 na época do crime), que confessou ter matado a vizinha de 9 anos foi condenada nesta quarta-feira (7 de março) à prisão perpétua nos Estados Unidos. O crime aconteceu na cidade de Jefferson City, no estado do Missouri, em outubro de 2009.

Os advogados de Bustamante alegaram que a adolescente sofria de depressão há anos e que o uso do antidepressivo Prozac a deixou mais propensa à violência. Eles ainda alegaram que ela teria tentado suicídio por overdose de analgésicos. No entanto, os promotores afirmaram que Bustamente teria premeditado o crime, já que ela cavou duas sepulturas com vários dias de antecedência. A jovem enterrou o corpo de Elizabeth em uma cova rasa, sob um monte de folhas em uma floresta perto do seu bairro.

Momentos antes da sentença ser decretada, Bustamante levantou-se da cadeira e virou-se para a família de Elizabeth. "Eu sei que palavras nunca vão ser suficientes e nunca vão conseguir descrever exatamente quanto me sinto horrível por tudo isso", disse a adolescente diante dos pais e irmãos de Elizabeth. "Se eu pudesse dar minha vida para ter ela de volta, eu daria. Desculpa", completou.

A mãe da vítima, Patty Preiss, que no primeiro dia de julgamento classificou Bustamante de "monstro", ouviu o pedido de desculpas em silêncio.



Casos como esses, deveriam levar a humanidade a uma pausa para meditação: afinal de contas, que tipo de sociedade criamos? Que tipo de consciências estamos formando?

Somos hoje 7 bilhões de pessoas no mundo. Nunca teve tanta gente habitando o planeta, mas nunca, se sofreu tanto de solidão.

Se as estatísticas indicam que 10% da população (algo em torno de 700 milhões ou 4 brasis) desenvolvem dependência química e buscam nas drogas o prazer que lhes falta na alma, e se mais de 20% sofre de depressão crônica, algo, definitivamente, está errado no mundo que criamos.

Desde a Revolução industrial a quase trezentos anos, a produção de bens não pára de crescer. Somos seres consumidores. Consumimos tudo, até, e principalmente, o desnecessário, de tal forma que criamos do nada, novas necessidades, a todo instante e frustrações quando essas necessidades não são saciadas. .

Somos capazes de ir a Marte, realizar transplantes e criar computadores. Mas ainda somos incapazes de ouvir a dor de uma criança se ela nos for desconhecida.

O caso de uma adolescente que mata uma criança menor apenas para saciar a curiosidade do que sentiria ao matar, é um crime de todos nós.


Prof. Péricles


quarta-feira, 14 de março de 2012

NÃO MEXA COM A DILMA

A revista americana “Newsweek” chega às bancas esta semana com a presidente Dilma Rousseff na capa. Uma foto de Dilma ilustra a reportagem de capa, intitulada “Onde as mulheres estão vencendo”. A edição americana da revista diz que Dilma “está na área” e ressalta que a presidente será a primeira mulher a abrir a Assembléia Geral da ONU, em Nova York, na quarta-feira. Na edição internacional, a “Newsweek” chama a presidente de “Dilma Dinamite”.

Na entrevista à “Newsweek”, Dilma falou sobre Brasil, economia mundial, pobreza e corrupção. Fez questão de exaltar a solidez da economia brasileira e a capacidade do país de combater uma crise mundial. “Sabemos que não somos uma ilha. A Grécia não pode pagar seu socorro. A Espanha está em apuros, assim como a Itália. Os EUA não estão crescendo. Isso tem um impacto negativo nos resto do mundo”, disse a presidente. “Você sabe a diferença entre o Brasil e o resto do mundo? Temos todos os instrumentos intactos para combater o crescimento lento ou mesmo a estagnação da economia mundial”. Segundo ela, “ainda podemos cortar juros”.

“Somos uma grande economia, rica em recursos e com um mercado interno enorme”, continua Dilma. “Graças às nossas políticas sociais, tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza e as colocamos na classe média desde 2003. É o equivalente a uma Argentina. A demanda doméstica ficou tão reprimida por tanto tempo que temos um imenso potencial de crescimento. Temos um boom da construção, mas não uma bolha. Esse mercado interno nos permitirá acelerar o crescimento”.

Dilma afirmou ainda que é preciso profissionalizar e reformar o serviço público, “promovendo as pessoas com base no mérito”.

Dentro do especial das mulheres, a reportagem-perfil sobre a presidente (“Não mexa com a Dilma”), que tratou de seu governo e de sua trajetória pessoal, começa com uma história da corrida eleitoral. Entrevistada pela “Newsweek” em Brasília, Dilma contou que foi abordada por uma menina, curiosamente chamada Vitória, em um aeroporto, e ela lhe perguntou: “Uma mulher pode ser presidente”? E Dilma respondeu que sim.

A presidente contou que, quando era criança, queria ser bailarina ou bombeira, e acredita que a pergunta da menina mostra sinais de progresso. A revista diz que um terço do gabinete de Dilma é de mulheres. E lembra que 20 mulheres comandam Estados hoje, sendo quatro das Américas - além de Dilma, há Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica) e Kamla Persad-Bissessar (Trinidad e Tobago).

A revista publicou elogios dos empresariados. O empresário Eike Batista disse que Dilma gosta de eficiência: “Trabalhar é seu hobby”. O publicitário Nizan Guanaes acredita: “O país sente que há alguém no comando”. E disse que “nosso homem do ano é uma mulher”.

Segundo a reportagem, Dilma se levanta cedo para caminhar nos jardins do Alvorada, devora um resumo das notícias em seu iPad e está em seu escritório às 9h15, onde fica até as 21h. Para a “Newsweek”, a presidente, embora não perca a chance de enaltecer seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não é a inocente política que os rivais pintavam.

Dilma disse à revista que nunca usou armas na militância - embora fosse boa em limpá-las - porque era muito míope para atirar. A “Newsweek” contou em detalhes a trajetória revolucionária da presidente, sua prisão e a tortura a que foi submetida.

segunda-feira, 12 de março de 2012

CUBA - VOCÊ SABIA (2)

Ainda com o intuito de trazer fatos e dados ignorados pela mídia oficial, listamos abaixo outras informações, que também poderiam intitular de “CUBA - VOCÊ SABIA (2)?”

1) Mais de 8 milhões de cubanos participaram da discussão do Projeto de Diretrizes para a Política Econômica e Social do Partido e da Revolução, debate prévio ao 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba.

2) Foram registrados mais de 3 milhões de intervenções populares.

3) O governo cubano destinará, em subsídios, mais de 800 milhões de pesos para pessoas de baixa renda, como parte da Lei do Orçamento para 2012.

4) No orçamento de 2012, serão alocados 400 milhões de pesos para proteger as pessoas em situação financeira crítica, incluindo pessoas com deficiências e consideradas disponíveis no processo de reestruturação do trabalho.

5) Produto Interno Bruto cresceu 2,7% em 2011.

6) Mais de 357 mil cubanos exercem o trabalho por conta própria.

7) Mais de 2,5 milhões de turistas visitaram a Cuba em 2011.

8) Foram produzidos 4 milhões de toneladas de petróleo e gás em 2011.

9) A taxa de mortalidade infantil em Cuba é inferior a 5 por mil nascidos vivos.

10) A expectativa de vida é de 78 anos.

11) 186 países condenaram os EUA pelo bloqueio genocida contra Cuba, durante a Assembléia Geral da ONU, em outubro passado.

12) Cuba ficou em segundo lugar nos Jogos Pan-Americanos Guadalajara, com 58 medalhas de ouro.

13) O Conselho de Estado da República de Cuba concordou em indultar mais de 2.900 presos.

14) Cuba ocupa a 51ª posição, no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, com um alto desenvolvimento humano.

15) Em 14 de dezembro marcou o primeiro aniversário da primeira rede social de conteúdo digital cubano, EcuRed, com cerca de 80 mil artigos e verbetes.

16) Mais de 40 mil cubanos estão em missões de solidariedade por mais de 70 países.

17) Mais de 3 milhões de pessoas foram alfabetizados pelo método “Yo, si puedo”, depois de ser aplicado em quase três dezenas de países ao redor do mundo.

18) Com o início do ano letivo 2011–2012, em 5 de setembro, abriram suas portas mais de 60 universidades na Ilha, com cerca de 500 mil alunos matriculados.

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES GUERREIRAS

Viva as Mulheres Palestinas, Guerrilheiras, de Atenas, do Brasil... A Luta Continua.

Porque Somos Todas Mulheres: Capixabas, Brasileiras, bolivarianas, Palestinas. Mulheres de Atenas e antenadas...

Para comemorar a data convido a todas para serem mulheres palestinas, dentre tantas mulheres reúne a todas numa só luta. LIBERDADE ao nosso povo, JUSTIÇA a nossos tombados, Unidade na nossa luta, futuro a nossos filhos.

Nesta mulher, saudemos as Pagus, as Quitérias, Asa Joanas, as rosas de Hiroshima, as Marias cheias de Graça e força. As Maria Bethania, as Veras e Sandras, as Genaro, as Adrianas, Cassias. A querida Zezé de Machado, Alciones e Alcioneia Santiago Simplício, enfim... a todas as mulheres que lutam sem deixar de serem mulheres , mães, sindicalista, Guerrilheiras. As hermanas da Farcs e as conselheiras...
A minha mãe guerrilheira, militante, presa política como tantas outras rotuladas pelo sistema. E principalmente a tantos companheiros (impossível escrevê-los todos aqui) que nos fizeram fortalecidas se colocando junto a todas nós, seja em casa, no trabalho ou nas lutas.
Toquemos a luta Caminhemos Somos todas palestinas.

As Renatas e Ciças e Julis e Moemas, as Simones, Sabrinas, Izabelas.... porque família é a base de qualquer luta..

Laerte Henrique, Fortes Braga, Celso Furtado consideraram a Revolução Feminista como a mais importante do século XX. O papel revolucionário da mulher é fundamental ao processo de construção do socialismo e suas etapas seguintes. Uma das ações predatórias do capitalismo é tentar transformar a mulher em objeto,
vendendo bijuterias como sendo direitos legítimos e o faz através da mídia. O Dia Internacional da Mulher é um registro do significado desse ser mágico. Todos os dias são dias de mulheres e homens, iguais e plenos, numa luta sem tréguas contra preconceitos, violência (que se manifesta de várias formas) e barbárie.
Há um caminho grande a percorrer a despeito do que alcançaram as mulheres. E um
deles, com certeza, é viver a vida como protagonistas da História.

Conheço muitas assim, lá em cima, cá embaixo e na verdade mais que homenagear a data, ou citá-la, registro a indispensável presença das mulheres na caminhada de todos nós, para além dos lugares comuns, mas à frente, como muitas o fizeram e muitas o fazem.
Rosa de Luxemburgo, Olga Benário e até a lenda/verdade de Lady Godiva, que em plena Idade Média desafiou seu "senhor", afirmando-se como ser humano, logo, na
vocação da luta, do sacrifício, mas também e principalmente da afirmação do ser mulher.

E Claro as Guerrilheiras de todas as guerrilhas nas hermanas da FARC.


Fernanda Tardin


quarta-feira, 7 de março de 2012

CUBA – VOCÊ SABIA?

Quando se trata de Cuba muita gente, torce o nariz, afirma detestar Fidel e a Revolução.
Claro que o direito de opinião é legítimo e democrático, porém, muitos o fazem baseados apenas no que a mídia oficial comenta, e no folclore que ao longo de 50 anos, se criou sobre a ilha, sua revolução e seu líder.

Cuba, próxima dos Estados Unidos como Osório de Porto Alegre (90 Km) é um fato nunca aceito pelos Estados Unidos, acostumados a ver na América Latina, o seu quintal.

Com o intuito de trazer fatos e dados ignorados pela mídia oficial, listamos abaixo algumas informações, que bem poderiam intitular de

“CUBA - VOCÊ SABIA?”

1) que o povo cubano vem suportando um bloqueio econômico, comercial e financeiro por parte dos Estados Unidos desde o ano de 1961, como medida de guerra que castiga toda empresa que negocia com Cuba e que tal embargo/bloqueio não está legitimado pelas Nações Unidas?

- e que os danos causados por esse bloqueio a uma pequena ilha produtora de meia dúzia de produtos primários antes da revolução foi estimado em 53 bilhões de euros entre 1961 a 2008? O Brasil resistiria a um semestre de embargo do mundo?

2) que o povo cubano celebra eleições a cada cinco anos, nos âmbitos municipal, estadual e federal e que na mesma não concorrem os partidos políticos, nem tampouco o Partido Comunista?

3) que o povo cubano aprovou uma Constituição democrática de caráter socialista, no ano de 1976 com voto favorável de 97% do eleitorado, que reconhece e garante os direitos fundamentais amparados da Declaração Universal dos Direitos Humanos?

4) que Cuba ocupa o posto número 50 em Desenvolvimento Humano (IDH), posição, portanto, superior ao Brasil?

5) que Cuba é, segundo a UNICEF, o único país da América Latina que erradicou a desnutrição infantil e exibe a Esperança de Vida mais alta do chamado Terceiro Mundo (78 anos) e a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América Latina e Caribe? (4,7 por cada mil nascidos vivos, inclusive mais baixa daquela apresentada pelos Estados Unidos)?

6) que Cuba erradicou o analfabetismo em 1961, somente dois anos depois da revolução e que atualmente através do programa de alfabetização de adultos “Yo, si puedo” permitiu que em escassos dois anos, países como a Venezuela, Nicarágua e Bolívia ficassem livres do analfabetismo?

7) que Cuba é o país do mundo que aloca mais médicos na Campanha das Nações Unidas contra a AIDS com mais de três mil médicos, quando os Estados Unidos e a União Européia juntos aportam apenas um mil? O mesmo acontece com os 2.500 médicos cubanos enviados para cobrir o terremoto do Paquistão em 2005 e na qual foram salvas mais de 1.500 pessoas e curado centenas de milhares mais. Sabiam vocês que Cuba tem o melhor handicap médico por habitante do mundo e quem afirma isso é a OMS?

8) que na batalha de “Cuito Cuanavale” em Angola em 1987, graças às tropas cubanas, foi derrotado o exército da África do Sul apoiado pelos Estados Unidos e Israel e com isso se obteve a independência total de Angola, Namíbia e Zimbawe e ao mesmo tempo dado um golpe mortal no regime racista da África do Sul – o que permitiu o desmoronamento poucos anos depois desse regime e a libertação de Nelson Mandela?

9) que os Estados Unidos proíbem seus cidadãos viajar para Cuba e quem o fizer se sujeitarão a penas de 10 anos de prisão?

10) que Cuba tem um dos melhores sistemas sanitários e educativos do mundo de caráter público, gratuito, universal, reconhecido pelas Nações Unidas – da qual beneficiam inclusive cidadãos estadunidenses de baixa renda, e que chegam a Cuba tanto para estudar como para serem medicados e que correm riscos no retorno ao seu país de sofrerem represálias de autoridades governamentais?

11) que em Cuba os adultos maiores de idade realizam voluntariamente tarefas sociais de interesses comunitários e devido a isso em Cuba não existem anciões que vivem sós?

12) que em Cuba existe 65 escolas de arte, se editam 80 milhões de livros ao ano e são rodadas 5 ou 6 filmes anualmente e que existem 11 mil instalações esportivas gratuitas, sendo uma potência mundial no esporte, com 24 medalhas em Pequim e 27 em Atenas?

13) que Cuba é o único país da América que dá as mulheres grávidas um ano de licença, com recebimento de salário integral e no retorno ao trabalho há garantias de que essa pessoa não perderá o emprego? E se a criança necessitar cuidados especiais, a mãe pode tirar outra licença e o salário dela irá para o pai se assim o casal concordar?

14) que cada cidadão cubano tem o direito de ser atendido sem despensas para si em operações cirúrgicas de alto custo como doenças do coração, homodiálise, AIDS, transplantes de órgãos e outros.

15) que todos os serviços básicos oferecidos a população como água, luz, gás telefone, cesta básica, transporte público, pagamento de aluguéis para moradia e outros são subsidiados pelo governo, portanto as famílias pagarão preços reduzidos pelo uso dos mesmos e que tal fato pode ser considerado como sendo salário indireto aos trabalhadores.


"É isso que eles não podem nos perdoar, que tenhamos feito uma revolução socialista debaixo dos seus narizes (...) Esta é a revolução socialista e democrática dos humildes, com os humildes e para os humildes"

Fidel Castro

domingo, 4 de março de 2012

A VOZ DO DESERTO

Era uma vez, um comerciante árabe chamado Muhammad Bin Abdullah Bin Abdul Mutalib Bin Hachim Bin Abd Manaf Bin Kussay, que, cansado após longo caminho percorrido sob o sol do deserto, entrou numa caverna fresca e convidativa, e nela adormeceu.

Seu sono tranqüilo foi interrompido por uma voz que o despertou repentinamente.
Olhos arregalados o mercador viu surgir em sua frente um anjo, que se identificou como Arcanjo Gabriel (lembram dele? Aquele que avisou Maria que ela seria mãe).

O Arcanjo disse que a partir daquele dia, ele, o mercador, receberia instruções vindas de Deus, que deveriam ser recitadas para o conhecimento dos homens.

Isso aconteceu em 610, quando o homem tinha 40 anos, e ele, até morrer, em 632, jamais deixaria de recitar (sim, recitar como quem recita um poema) em estado alterado de consciência, lições recebidas diretamente de Deus, segundo a crença.

Suas palavras, em transe, foram copiadas em folhas de palmeira, pedras, ossos, e finalmente copiladas pelo califa Omã no ano 644.

Essa compilação tornou-se o livro sagrado e é chamado de Corão (em árabe “a Recitação”) e reúne leis e mandamentos da religião Islâmica ou muçulmana, seguidos hoje em dia, por mais de 1,3 bilhão de pessoas.

O comerciante de nome comprido acabou sendo conhecido pelo ocidente como Muhammad, depois por, Maomé.

Só há um Deus, e Maomé é seu Profeta (La illa Allah, Mohammed rasul Allah)

Muhammad casou aos 25 anos com uma rica viúva de nome Kadija. Com 39, ele mesmo ficou viúvo. Um ano depois veio a caverna e a revelação.

A religião de Maomé foi o mais importante e significativo fato histórico de seu povo.
A crença em um único Deus (Alá) unificou sua gente antes pulverizada em várias tribos e religiões tão politeístas quanto regionais.

As principais obrigações do fiel são: acreditar em Alá como único Deus e em Maomé seu profeta; rezar cinco vezes por dia, sempre voltado para Meca; jejuar durante o dia no mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã (o nosso outubro/novembro); dar esmola aos pobres; fazer uma peregrinação à cidade de Meca ao menos uma vez na vida se tiver condições materiais, mas em suas suratas (capítulos), o Corão determina boa parte do dia a dia do crente, interpretando a fé, explicando a história e ditando as normas de vida, incluindo um código com punições para quem não seguir essas leis.

Falando abertamente contra a idolatria, isto é, o culto a imagens, e contra os males sociais de seu tempo, Maomé provocaria a fúria dos poderosos Coraixitas que tentaram matá-lo e impedir o crescimento de sua religião no ano de 622. Entretanto, ele sobreviveria embora tivesse que fugir de Meca, sua cidade natal, e retornaria vitorioso em 632, mesmo ano de sua morte.

Após sua morte houve divergências quanto a quem seria seu sucessor e essa questão, entre outras, acabou separando para sempre os muçulmanos xiitas dos muçulmanos sunitas.

Tradicionalmente vistos como menos radicais, os sunitas contam com a simpatia do ocidente (o que explica, por exemplo, o apoio a Hosni Mubarak, ditador sunita do Egito, ou ao governo Turco, ou ainda, o apoio a Sadam Hussein na guerra contra o Irã) enquanto os xiitas (a maioria) são considerados inimigos em potencial.

Com certeza, essa divisão não faria feliz o velho coração do mercador de Meca, que um dia sonhou, no interior de uma caverna, no meio do deserto, ver seu povo unido pela fé.


Prof. Péricles




quinta-feira, 1 de março de 2012

O NAZISMO NO PODER

Na gelada manhã de 30 de janeiro de 1933 (79 anos) chegaria ao fim a tragédia da República de Weimar, a tragédia de 14 frustrados anos em que os alemães buscaram infrutiferamente pôr em funcionamento uma democracia.

Mais ou menos às 10h30, os membros do ministério proposto em negociações entre nazistas e reacionários da velha escola, mais forças conservadoras e de centro, parcelas sociais-democratas, além dos grandes empresários, atravessam o jardim do palácio e se apresentam no gabinete presidencial.

O presidente da República, o velho marechal Paul Von Hindenburg, 86 anos, confia a chancelaria a Adolf Hitler, 43 anos, ‘führer’ do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NationalsozialistischeDeutsche Arbeiterpartei- NSDAP), mais conhecido como Partido Nazista, e o encarrega de formar o novo governo.

A nomeação surpreendente de Hitler seguiu-se às tratativas entre os dirigentes conservadores, notadamente o ex-chanceler Franz von Papen, e os simpatizantes nazistas, representados pelo doutor Hjalmar Schacht, um reputado economista, responsável pelo reordenamento espetacular da economia alemã após a crise monetária de vertiginosa inflação de 1923, o «ano desumano».

Os conservadores e o grande empresariado queriam se servir de Hitler para deter a ameaça comunista. Não acreditavam que os nazistas representassem um perigo real para a democracia alemã. No entanto, eles sabiam bem quem era Hitler e sua ideologia, desde a publicação do Mein Kampf, a ‘Bíblia nazista’, oito anos antes.

O Partido Nazi estava perdendo velocidade eleitoral. No pleito de julho de 1932 haviam conquistado 230 cadeiras no Reichstag de um total de 608 e 37,3 % dos votos populares. Já nas eleições legislativas de novembro do mesmo ano obtiveram 33,1% dos sufrágios, perdendo 2 milhões de votos e 34 lugares no Parlamento. Os comunistas ganharam 750 mil votos e os sociais-democratas perderam a mesma quantidade. Com esse resultado os comunistas passaram de 89 para 100 cadeiras e os socialistas caíram de 133 para 121 deputados. Os dois somados – 221 – superavam largamente as 196 cadeiras nazistas. A perda de 2 milhões de votos nazistas sobre um total de 17 milhões, em quatro meses, significava um duro revés.

O governo formado por Hitler foi aberto amplamente aos representantes da direita clássica. Não contava com mais do que três nazistas, Hitler entre eles. Von Papen é, ele próprio, o vice-chanceler.

Por falta da maioria absoluta no Reichstag, Hitler parecia longe de poder governar a seu talante. Ninguém, a não ser os nazistas, levava a sério os discursos antissemitas e racistas. Muitos alemães pensavam, ao contrário, que ele poderia recuperar o país atormentado pela crise econômica.

Com uma rapídez fulminante e por meios totalmente ilegais, vai consolidar a ditadura a despeito da fraca representação de seu partido no governo e no Reichstag.

No dia seguinte a sua investidura na chancelaria, Hitler dissolve o Reichstag e prepara novas eleições para 5 de março de 1933. Ao mesmo tempo, traça aquilo que seu chefe de propaganda, Josef Goebbels, chamava de «as grandes linhas da luta armada contra o terror vermelho».

As tropas de assalto de seu partido, as SA (Sturmabteilung) aterrorizam a oposição, à guisa de campanha eleitoral. Cometem pelo menos 51 assassinatos.

Um dos principais acólitos de Hitler, Hermann Goering, ocupando o cargo chave de Ministro do Interior da Prússia, manipula a polícia, demite funcionários hostis, coloca os nazistas nos postos essenciais.

Hitler faz rondar o «espectro da revolução bolchevique», mas como esta tarda a eclodir, decide inventá-la. Já em 24 de fevereiro, uma batida na sede do Partido Comunista permite a Goering anunciar a apreensão de documentos prenunciando a revolução. Esses documentos jamais foram publicados.

Como toda essa agitação não parecia bastar para reunir a maioria dos sufrágios aos nazistas, decidem, logo em seguida, em 27 de fevereiro, pôr fogo no Reichstag, lançando a culpa aos comunistas do Comintern.

As classes conservadoras julgavam ter encontrado o homem que as ajudaria a alcançar suas metas : erguer uma Alemanha autoritária que pusesse termo à « insensatez democrática » ; esmagasse os comunistas e o poder dos sindicatos ; arrancasse as algemas de Versalhes; reconstruísse um grande exército; reconquistasse para o país o seu lugar ao sol.





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