quarta-feira, 12 de abril de 2017

CONFIRMADO, HITLER REENCARNOU NO RIO


Está confirmado : Hitler rencarnou no Rio. Como os kardecistas sabem e nisso estão na mesma linha dos budistas, as reencarnações ocorrem para melhorar os indivíduos. Renascendo aqui, renascendo lá, as almas vão se purificando.

Mas nem sempre. Existem almas empedernidas difíceis de serem purificadas na lavagem das reencarnações sucessivas.

De acordo com os mais entendidos em reencarnações, o nosso mundo está vivendo um clima parecido com o clima dos anos 30 do século passado, porque – vejam só! – a maioria dos nazistas e fascistas mortos na Segunda Guerra já reencarnaram e são hoje pessoas adultas, muitas delas ocupando cargos políticos em diversos países. Um reencarnado geralmente não retorna ao mesmo país onde viveu.

Vocês que acompanham o noticiário brasileiros e internacional já pensaram muitas vezes que fulano e sicrano agem e falam como se fossem nazistas ou fascistas. Pois é isso mesmo. Alguns trabalhavam diretamente com Hitler outros foram condenados por crimes contra a humanidade no Tribunal de Nuremberg.

Peguem uma folha de papel e coloquem numa coluna os nomes mais notórios de criminosos nazistas e fascistas, pode juntar também figuras como o Stalin. Faça um risco vertical e na outra coluna coloque os nomes de pessoas da nossa atualidade, que imagina serem a reencarnação. Pode ser bastante instrutivo e esclarecedor esse jogo, que poderíamos chamar de Jogo das Reencarnações, para a família jogar reunida num dia de chuva.

Mas atenção, vejam primeiro com o copo – aquele copo que em torno da mesa empurramos com o dedo indicador e que dispara respondendo perguntas e às vezes até a mesa levita – se no grupo familiar não existe um desses reencarnados. Pode ser mesmo um antigo SS disfarçado.

Felizmente, a maioria desses nazisfascistas reencarnados são fáceis de se identificar porque continuam dizendo as mesmas coisas da época do Hitler e Mussolini, dentro do contexto atual. Revelam o mesmo ódio e o mesmo racismo. Pode ser no balcão de um bar, num encontro no metrô mas pode ser numa festa familiar. Depois de umas e outras, o reencarnado começa a falar mal de árabes, se for na Europa, ou de índios e negros, mesmo se para disfarçar utiliza a palavra afrodescendentes.

A mais recente suspeita é a da reencarnação do próprio Hitler sem bigodinho mas com ligeira semelhança, no Rio de Janeiro. E o disfarce usado é quase perfeito – Hitler reencarnado se faz amigo de judeus, a ponto de lhe emprestarem até uma de suas associações para fazer suas pregações. O tom da voz, se prestarem atenção nas gravações ou vídeos, é a mesma que empregava quando subia nas mesas de bares em Berlim para acusar os judeus como responsáveis pela crise da época na Alemanha. Para conquistar a simpatia da casa, o reencarnado sem querer se revelou, ao fazer comparações de pessoas com porcos.

Como vive agora no Brasil, os bodes expiatórios dos males brasileiros, alvos do seu desejo mórbido e incontido de perseguir e exterminar, são os índios e os negros. Não se sabe como fará no Brasil para isso, mas um nazista reencarnado na África do Sul, na época do apartheid, era cientista e fazia pesquisas para encontrar um vírus racista, ou seja, um vírus capaz de atacar só negros e não os brancos. Parece que foi preso ou internado, porque maldade exagerada se confunde com loucura.

Como vocês sabem, revelações de possíveis reencarnações são extremamente raras e por isso sujeitas ao mais absoluto segredo. Porém, correndo o risco de ser castigado e reencarnado em mosquito Aedes Egypti, acho que esta é a única melhor maneira de alertá-los quanto ao perigo de vocês serem enganados e fazerem parte de uma multidão parecida com a dos nazistas em Berlim, dizendo Heil Hitler.

Não posso dar o nome e sobrenome dessa perigosa figura, mas deixei umas indicações e com seus amigos vocês poderão logo colocar na coluna, diante do nome de Hitler, o nome desse reencarnado.

E como se costuma fazer numa boa rede social e correntes, não deixe de compartilhar, não é fake!


Rui Martins, jornalista, escritor, escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. 

domingo, 9 de abril de 2017

RAUL E ANA LÚCIA

Ela era uma menina simples, de família pobre, se chamava Ana Lúcia (Analú, para os íntimos), trabalhava como balconista numa loja no centro da cidade e ganhava um salário pequeno, que mal dava para ajudar a família.

Ele era advogado, recém-formado, se chamava Raul e militava num partido de esquerda.

Ela não entendia nada de política e costumava ficar ouvindo ele se definir como um lutador pelos interesses dos mais pobres e suas definições sobre utopia, classes sociais e mais valia, coisas que ela não sabia do que se tratava, mas que ouvia com entusiasmo, já que ele falava bonito.

Ele dizia que sua luta era por ela e por outras como ela, gente simples do povo que ele tanto amava.

Certa vez Analú foi com o namorado numa reunião sindical. Sentados lado a lado ele tão educado, tão meigo provocava suspiros enquanto imaginava que jamais encontraria outro homem tão gentil e doce como ele. Um homem que a entendesse tão bem.

Então Raul foi chamado para falar no palco.

Pobre Ana Lúcia, nunca se recuperaria do trauma...

Diante da plateia seu namorado abandonou completamente os modos gentis e delicados assumindo uma postura extremamente agressiva. Gritou até ficar rouco, gesticulava como se manuseasse uma clava invisível e ofendeu um monte de gente que igualmente reagiram xingando e gesticulando.

Ao voltar ao seu lugar, ao lado dela, Raul voltou a ser o bondoso namorado de modos meigos que ela conhecia.

Naquela noite, ela não dormiu de tantos pensamentos conflitantes em sua cabeça. Qual deles afinal era seu namorado?

No outro dia, ela até questionou o porquê da transformação e ele respondeu que agia assim porque defendia suas posições políticas e o povo, que o seu sindicato deveria sempre defender o povo e impedir quaisquer distorções desse objetivo que é o que aconteceria se o grupo rival dominasse o sindicato.

Ela era povo, pensava Analú, mas preferia o Raul educado e afetuoso e não aquele estranho que ficava vermelho de tanto gritar e ofender.

Com o tempo Raul foi parecendo mais estranho à Ana Lúcia.

Buscava convencê-la do que era interessante e o que não valia nada. Do que ela deveria fazer ou menosprezar. Queria dirigir suas escolhas e quando ela não demonstrava entusiasmo a chamava de alienada e direcionada pela sociedade e pela propaganda burguesa.

Ana Lúcia cada vez mais se percebia sem vontade e não entendia como alguém que dizia amá-la era tão surdo para seus pequenos desejos a ponto de cada vez mais esconder dele as suas próprias opiniões.

Um certo dia ela percebeu que entre ela e Raul a distância só fazia aumentar.

E o namoro terminou.

A esquerda brasileira sempre teve mais intelecto do que povo e sobre o povo mais teorias do que prática.

No Brasil depois de 14 anos no poder e pós golpe talvez fosse interessante um repensar sobre suas estratégias e seu destino, mas, sem esquecer o que mesmo quer o povo que ela jura representar.

Ou Raul e Ana Lúcia continuarão distantes.




Prof. Péricles

sexta-feira, 7 de abril de 2017

SÓ PODE SER DEBOCHE


Rede Globo...



Presença de Anitta - a garota que foi abusada na infância e depois virou uma "ninfeta safada" de 18 anos que seduz e destrói a vida um pai de família (interpretado por José Mayer).

Laços de Família - esse mesmo ator interpreta Pedro, que se envolve com várias mulheres, fazendo todas se odiarem. Uma delas é uma menor de idade, interpretada por Debora Secco, com quem ele tem relacionamentos sexuais agressivos como forma de "corretivo". Na mesma novela mãe e filha disputam o mesmo homem.

Avenida Brasil - o empresário Cadinho se envolve com três mulheres lindas, ricas e poderosas, que abrem mão do conforto e, sobretudo, da dignidade para viver com ele na pobreza mesmo depois de se descobrirem enganadas.

Ligações Perigosas - o personagem Augusto, vivido por Selton Mello, entra no quarto de Cecília, estupra a personagem, que depois se apaixona por ele;

Verdades Secretas - o milionário empresário Alex se apaixona pela personagem Angel de 16 anos, com quem vive um tórrido romance, a ponto de se casar com a mãe dela para ficar perto da moça. A trama termina com o suicídio de uma mulher e com outra se tornando homicida;

Império - O charmoso e sedutor Comendador, vivido por Alexandre Nero, casado com Marta, mantém uma mulher mais jovem que sua filha como amante. O galante morre no final, deixando as duas com nítido sentimento de viuvez;

Da cor do pecado - O título da novela faz referência à cor de sua protagonista, Taís Araújo, cujos "dotes" de sedução são associados à sua negritude.

BBB - participante Laercio confessa embebedar adolescentes para fazer sexo com elas e, em sua saída, Pedro Bial diz "venha para fora com suas Anittas e Lolitas".

Escolinha do professor Raimundo - a personagem Marina da Glória sempre responde errado às perguntas, porém com sua voz sexy e seu "jeito insinuante", acaba tirando 10.

Angélica e Xuxa - as duas apresentadoras eram, ainda menores de idade, hipersexualizadas em programas para crianças, a ponto do jornal o Estado de São Paulo dizer que Xuxa povoava os mais secretos pensamentos infantis. O mesmo jornal anunciou que a TV manchete agora poderia fazer frente à audiência de Xuxa, pois havia contratado a estonteante ninfeta Angélica, à época com 13 anos.

Somando-se a esses exemplos as incontáveis passadas de mão, beijos roubados, assédio moral e sexual em ambiente de trabalho que depois viram romance, etc, etc.

Quando a Rede Globo diz, em nota, que "repudia qualquer forma de desrespeito, violência ou preconceito"... Só pode ser deboche, não é?

A Rede Globo sempre hipersexualizou nossos corpos, ridicularizou e desprezou nossas potencialidades, romantizou abusos, violências e humilhações contra todas as mulheres, ricas e pobres, e mais violentamente ainda contra mulheres negras e atuou fortemente na naturalização da cultura do estupro, da pedofilia e da exploração sexual.

Não vamos cair nessa!



Texto de Francine Albernaz Pickersgill

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O BRASIL E A GRANDE TRAGÉDIA

Planeta Terra, em algum momento do futuro.


Há muito o planeta já não tem vida, porém, nesse exato momento recebe a visita de uma equipe de arqueólogos espaciais, ets em busca de respostas.


Por que a vaca, ou melhor, a Terra foi pro brejo?


Quem apertou o botão? Ou o teclado?


Teria sido o lendário Trump, citado em cds primitivos como um presidente demoníaco do norte?


Livros antigos apontam que a respostas devem estar no hemisfério sul do orbe, mais precisamente num lugar outrora chamado de Brazil ou Brasil, algo assim...


As escavações começaram onde muitos acreditavam ser o local de fundação da terceira polis capital, Brasília, mas, as surpresas mesmo vieram de outro sítio arqueológico: uma tal São Paulo.


Os primeiros trabalhos revelaram restos de um grande pato. Um pato de borracha, aparentemente um deus pagão adorado por uma estranha tribo de idiotas.


Depois foram descobertas amontoados de tecidos que se revelarem camisas amarelas com um curioso símbolo esotérico com as letras “CBF”.


Qual seria a ligação? O que aquele pato de borracha e aqueles vestígios de camisetas tinham a ver com o fim da vida inteligente naquela parte do planeta?


Outras expedições continuaram incansáveis, escavando e amontoando descobertas.


Comprovou-se a existência de uma seita secreta denominada PMDB que tinha o poder das mutações, pois era encontrada em praticamente todas as formas de poder estabelecidas.


Em estranhas pinturas rupestres, conhecidas por pichações, haviam citações fascistas e adorações a lideres homofóbicos e racistas.


Antigos instrumentos, aparentemente panelas inox amassadas, também foram encontrados nos entulhos dessa civilização.


Então era isso? Mas como seria possível?


O tal Brazil, depois de um período de combate à miséria registrado em seus pergaminhos quando até as águas sagradas do São Francisco trouxeram vida ao árido nordeste havia entrado em tamanha decadência levado apenas por lideranças fascistas que usaram pato de borracha, camisetas amarelas e usando panelas como instrumentos de guerra?


Buscando datar os acontecimentos os historiadores ets admiraram-se ao descobrir que tudo havia sido contemporâneo.


O pato, as águas do rio, o combate à miséria, as marchas fascistas, as panelas, as camisetas, os idiotas, tudo junto e misturado...


Como era possível tamanha confusão?


Teria esse povo ingerido veneno tóxico? Maconha estragada? Lavagem cerebral?


E qual o papel em tudo aquilo daquele aparelhinho primitivo de transmissão de imagens que eles chamavam de televisão?


Mistérios.


Fato é que a vida inteligente havia desaparecido mas... 

Será que alguém, racionalmente, conseguirá, um dia, entender o que aconteceu no Brasil?


(Continua)



Prof. Péricles

terça-feira, 4 de abril de 2017

QUAL O SEU NOME?


Por Apóllo Natali



Havia expectativa quanto ao primeiro brasileirinho ou brasileirinha a nascer no terceiro milênio, e também com relação ao nome que receberia. 

Seria o de algum revolucionário, como os muitos rebentos da geração 68 batizados de Ernesto em homenagem a Chê Guevara? O de um herói dos esportes, como o Romário que nos deu o tetracampeonato de futebol? Daniela, para lembrar a Mercury que canta e nos encanta?

Nada disto. A inspiração do nome da menina que nasceu à meia-noite em ponto do primeiro dia de janeiro de 2001, na cidade paulista de Sorocaba, veio do anseio dos pais de que ela alcançasse muitos triunfos na vida: Natália Vitória.

O nome é um modo de designar as pessoas. É como uma etiqueta colocada sobre nós. E é uma instituição jurídica. Muitos pais e mães, alguns irresponsáveis, outros visionários, andaram colocando nomes desmoralizantes em seus filhos. 

Isto não existe mais, porque agora os nossos oficiais de registro não aceitam nomes bizarros, evitando também os homônimos (quase sempre de famosos); se os pais insistem, entregam a decisão ao juiz.

Ninguém pode impedir que os pais escolham nomes de personalidades para seus filhos, como Lincoln, Washington, Jefferson, Margareth, Edson (o da lâmpada), Roosevelt e outros.

Embora tenham se complicado os que, vivendo em países onde a esquerda não tem colher de chá, escolheram nomes incomuns como Lênin, Stalin, Trotsky, Fidel (o já citado Ernesto escapava, por já ser muito utilizado antes de certa foto correr mundo).

No tempo da segunda guerra mundial, o povo do nordeste do Brasil lia a placa da base da marinha dos Estados unidos – US Nave – e seus filhos passaram a se chamar Usnave.

Tamanha foi a pílula de westerns enfiados garganta abaixo aos cidadãos do mundo pelos Estados Unidos, que houve crianças batizadas com os nomes de Durango Kid, Jamesvest, Marlon Brando e quem procurar vai achar mais.

Eu sou Apóllo, que a partir do lançamento das naves à Lua, passou a designar tudo, desde funilarias e teatros até calcinhas. Meu pai é Cezar. Meu avô, Aníbal. Minha avó, Kzarina. Um primo, Homero. Um tio, Américo. Tias e primas têm nomes de flores: Margarida, Flora, Valquiria, Florisa, Rosa, Violeta, Jasmin. Minha irmã se chama Primavera.

No meu serviço tinha Ulysses, Narciso, Adonis, Hércules.

Quando me dizem que meu nome é o de um deus grego, o da beleza, modéstia à parte retruco que é também o nome de um inseto, apenas para ressaltar a transitoriedade das nossas vidas.

Mas há nomes que ultrapassam a imaginação.

O dono de um carro que comprei uma vez, se chamava Universo Trincado. Excelente pessoa que, certamente, não pode concordar com os juristas que dizem que o nome dá a chave da pessoa quase inteira.

No Nordeste era conhecido, há algumas décadas, o nome lança Perfume Rodo Metálico. Conhecidos foram também os nomes de Maria Tiburcina Prostituta Cataerva e Maria da Graciosa Rodela. Uma mulher morreu de parto e a criança se chamou Restos Mortais de Catarina.

Existem até colecionadores de nomes esquisitos, que falam em Cafiaspirina da Silva, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Olindo Barba de Jesus, José Casou de Calças Curtas, Decênio Feverêncio de Oitenta e Cinco, Antonio Dodói.

Os jornais divulgaram certa vez nomes de artistas de ópera. A família era formada pela menina Traviata, os meninos Trovador e Rigoleto. E também Crepúscula dos Deuses, Produto do Amor Conjugal de Maria América e Mariano Chaves.

O ex-presidente Getúlio Vargas, católico declarado, colocou nome de protestante num de seus filhos: Lutero.

O povo já ouviu falar de gente chamada Oceano Pacífico e dos nomes literários dados aos filhos pelo então deputado Epílogo de Campos: se chamaram Prólogo, Soneto e Ementa. O que esperou fosse o último se chamou Epílogo Júnior. Mas veio mais um, menina, de nome Errata.

Jerônimo Rosado teve muitos filhos e os chamou de Um, Dois, Três, e por aí vai, só que em francês. Um deles, o vigésimo, foi o deputado Vingt Rosado. O décimo oitavo, Dix-Huit Rosado.

Um nome sempre citado pelos catedráticos de Direito em sala de aula é Himeneu Casamentício das Dores Conjugais.

E você, quem é?




Apóllo Natali foi o primeiro redator da antiga Agência Estado. Escreve atualmente para diversos sites e blogs de notícia, como o Observatório da Imprensa.

domingo, 2 de abril de 2017

COMO IDENTIFICAR UM COXINHA



ESTUDO REVELA COMO INDENTIFICAR UM PERFIL DE COXINHA NO FACE:



1) -"Não sou nem de esquerda, nem de direita, sou pelo Brasil!" - (é de direita).



2) -"Não tenho partido, meu partido é o Brasil!" - (vota no PSDB).



3) -"Quero que a corrupção seja combatida no PT, PSDB ou PQP!" - (quer que a corrupção seja combatida apenas no PT. No perfil pessoal, só tem publicações contra o PT. Contra o PSDB ou PQP, nada).



4) -"Não sou coxinha nem petralha, sou brasileiro!" - (é coxinha).



5) -"Quero meu país livre da corrupção!" - (vota em Alckmin há 15 anos).



6) -"PT gosta de sustentar vagabundo!" - (perdeu a escrava doméstica e está tendo que lavar os pratos).



7) -"Não sou PSDB, mas também não concordo com o Bolsa-Esmola do PT!" - (é fascista).



​8) -"PT dá casa pra vagabundo!" - (é proprietário de várias casas para alugar).



9) -"Estou indignado com tanta corrupção!" - (segurou o cartaz 'Somos milhões de Cunhas').



10) -"Nenhum político presta!" - (é analfabeto político).



11) -"Tempos bons eram os de FHC!" - (é patrão e não paga direitos trabalhistas nem tira nota fiscal ).



12) -"Não sou de direita, mas tem que tirar essa vagabunda do poder!" - (votou em Aécio e está com o avatar de Bolsonaro na foto do perfil).



13) -"O PT não ensina a pescar e ainda rouba os rios e o anzol!" - (é fã de Lobão, assina a Veja, assiste e ri com Danilo Gentili, e publica 'pensamentos' de Arnaldo Jabor).



14) -"O PT quer parar com as investigações!" - (é burro).



15) -"Não sou de direita, mas o PT é uma quadrilha!" - (vota no PSDB desde que tirou o título).



16) -"Não bato panelas contra partido A ou B, mas contra a corrupção!" - (tem que bater uma panela de pressão na própria cabeça).



17) -"Não pude trocar meu carro, um absurdo o preço!" - (nunca passou necessidade ou se importou com quem já passou).



18) -"Não sou de direita, mas minha bandeira não vai ser vermelha! Fora Dilma, fora Lula, fora PT, fora petralhas, fora comunistas, vão embora para Cuba e deixem nosso país em paz!" - (é caso perdido, tem que ser internado).



19) -"Encher o Peito e chamar alguém de Pão com Mortadela" (Pobre SOBERBA que passava fome e melhorou de vida no governo Lula/Dilma e hoje se acha rico por que vota em Aécio que é candidato de rico).





Texto: Samantha Costa​

sábado, 1 de abril de 2017

TRAUMAS, TRAUMINHAS E TRAUMÕES


Trauma é uma palavra de origem grega. Os gregos chamavam assim uma “ferida” produzida por uma ação violenta.



Freud explicou que todos nós temos muitos traumas psicológicos, ou seja, feridas psicológicas, a maioria delas produzidas quando ainda éramos crianças, e que vivemos todos por aí, dodói, tentando se libertar das dores de nossos traumas.



Existem traumas, trauminhas e traumões.



Alguns carregam sacolas deles, outros se acham libertos, mas sempre carregam algum nos bolsos.



Como todos, eu já me libertei de vários, mas adquiri outros e, com o passar do tempo, até já me acostumei com alguns.



Quer saber, não troco alguns dos meus mais antigos traumas por felicidades virtuais que pululam por aí.



Curto minha solidão que antes me massacrava. Consigo despertar com ela ao lado e até consigo rir lembrando o quanto já me foi pavorosa e hoje mais parece uma corriqueira dor de cabeça.



Entretanto, superar essas meninas exige experiência, tempo e vontade, e infelizmente, a maioria acha que nunca tem tempo para nada.



Mas, as vezes elas ganham.



As penitenciárias, por exemplo, estão lotadas de traumas.



Os hospitais também, os manicômios em especial, enquanto os cemitérios servem de depósitos silenciosos de traumas que só se foram quando os hospedeiros foram também.



Ultimamente, para minha surpresa, descobri um trauma novo.



Algo assim, totalmente inesperado.



Descobri isso casualmente, caminhando pela rua, quando cruzei com uma moça usando a camiseta da seleção brasileira.



Camiseta da seleção brasileira... aquela mesma, canarinho, de tantas e tantas alegrias no passado.



De súbito me lembrou marchas fascistas, pato amarelo, panelas inox batidas.



Descobri que estou traumatizado por um símbolo que era de alegria.



Camisa amarelinha da seleção agora, na minha mente, está associada com fim de direitos e de aposentadoria.



Um novo trauma, um trauminha, mas como dói.



Talvez doa para sempre.



Ou até a seleção passar a jogar de azul.




Prof. Péricles

quinta-feira, 30 de março de 2017

CASAMENTO INFANTIL, VOCÊ SABIA?



Levantamento do Banco Mundial revela que o Brasil tem o maior número de casos de casamento infantil da América Latina e o quarto no mundo. No país, 36% da população feminina se casa antes dos 18 anos. As informações são da ONU News.


O estudo "Fechando a Brecha: Melhorando as Leis de Proteção à Mulher contra a Violência" lembra que a lei do Brasil estipula 18 anos como a idade legal para a união matrimonial e permite a anulação do casamento infantil. 



O problema é que há muitas brechas na legislação.



Se houver consentimento dos pais, por exemplo, as meninas podem se casar a partir dos 16 anos. 



A autora do estudo, Paula Tavares, fala sobre outras brechas na lei. “Um dispositivo ainda comum em todo o mundo é a permissão do casamento infantil – e em geral sem limite de idade – se a menina estiver grávida. Esse é o caso do Brasil”.



Segundo ela, o país também não prevê punição para quem permite que uma menina se case fora dos casos previstos em lei, nem para os maridos nesses casos. “Na América Latina, 24 países preveem pena a quem autorize o casamento precoce, mas o Brasil não está entre eles” observou.



Segundo o documento do Banco Mundial, a cada ano, 15 milhões de meninas em todo o mundo se casam antes dos 18 anos. 



Em muitas culturas, o casamento precoce muitas vezes é visto como uma solução para a pobreza, por famílias que acreditam que assim terão uma boca a menos para alimentar. No Brasil, os principais motivos incluem gravidez na adolescência e desejo de segurança financeira.



No entanto, o estudo destaca que o casamento infantil responde por 30% da evasão escolar feminina no ensino secundário a nível mundial e faz com que as meninas estejam sujeitas a ter menor renda quando adultas. Também as coloca em maior risco de sofrer violência doméstica, estupro marital e mortalidade materna e infantil.



O documento ressalta, ainda, que eliminar o matrimônio infantil traz ganhos econômicos. Por isso, as recomendações para o Brasil e a América Latina são eliminar as brechas na legislação e adotar punições para a união não prevista em lei.



Por Marcello Casal Jr. 

terça-feira, 28 de março de 2017

TRAGÉDIA BRANCA


Por: Monica de Bolle


A primavera costuma ser época de renascimento e esperança.

É primavera no Hemisfério Norte. Contudo, estudo de Anne Case e Angus Deaton (foi vencedor do Nobel de Economia em 2015 por suas contribuições na área de desigualdade de renda) mostra que, nesta primavera em particular, há muito desespero e tragédia.

Apresentado na prestigiosa reunião anual denominada Brookings Papers on Economic Activity, da centenária Brookings Institution aqui em Washington, o trabalho mostra que a expectativa de vida média de homens e mulheres brancos de meia-idade nos EUA está caindo vertiginosamente.

Indivíduos brancos com idade entre 45 e 54 anos morrem cada vez mais cedo, enquanto pessoas de outras raças e faixas etárias não estão desaparecendo no mesmo ritmo.

Não é só. Os que mais morrem cedo são aqueles com menos anos de estudo — homens e mulheres brancos sem educação superior padecem cerca de três a quatro vezes mais do que homens e mulheres brancos com grau universitário.

O fenômeno desvelado pelos autores é único entre os países desenvolvidos: apenas nos EUA se veem tantas mortes nessa faixa etária para esse grupo de pessoas com tal nível educacional, todos pertencentes à suposta "elite" branca.

As taxas de mortalidade em países desenvolvidos comparáveis continuaram a cair tal qual ocorria nos EUA antes dos anos 2000.

A revelação trágica de Case e Deaton, portanto, é também muito recente.

As causas apontadas para essas mortes precoces vão desde uma incidência maior de diabetes e outras doenças nessa faixa da população, ao suicídio, e ao abuso de álcool e drogas, sobretudo a epidemia de opioides que hoje tanto aflige diversos Estados e cidades americanos.

Os autores chamam essas mortes de "mortes do desespero", mortes causadas por uma profunda desesperança, pelo reconhecimento de que essas pessoas não terão jamais como alcançar a qualidade de vida que tinham seus pais e avós.

Hoje, a taxa de desemprego de quem tem apenas o Ensino Médio nos EUA está acima de 9%, enquanto a taxa de desemprego média do país inteiro está em 4,7%, ou a metade da que vale para os que têm baixos níveis de educação.

Ao que tudo indica, as políticas de Donald Trump não irão atenuar o sofrimento desses indivíduos desesperançados, muitos deles parte relevante do corte demográfico que elegeu o presidente americano.

Nas últimas semanas, Washington está paralisada pelas discussões em torno do American Health Care Act (AHCA), a proposta de reforma da saúde dos republicanos que visa alterar por completo aquela aprovada por Obama em 2010, conhecida como Obamacare.

De acordo com o Congressional Budget Office, órgão apartidário para a avaliação das políticas públicas que funciona no Congresso americano, serão 14 milhões os destituídos de seguro-saúde no primeiro ano de vigência da nova lei, caso seja aprovada. Até 2026, serão 24 milhões os indivíduos que não terão acesso a um plano de saúde.

O sistema de saúde nos EUA é inteiramente privado, o que revela o tamanho do problema para todos, mas sobretudo para essa população marcada pelo desespero.

Há mais. A proposta orçamentária recém desvelada por Trump prevê substancial aumento para os gastos militares e cortes profundos em programas sociais, muitos dos quais atendem a essa população que morre cada vez mais cedo. Portanto, a combinação do AHCA com o orçamento trumpista é muito mais do que aquilo que no Brasil conhecemos como "estelionato eleitoral".

As políticas propaladas pelo presidente são literalmente um golpe de morte na população que o elegeu em novembro de 2016.

Há solução? Case e Deaton argumentam que sim, que é possível reverter o quadro de mortes exageradas antes que seja tarde demais. Para isso, entretanto, é preciso fazer o oposto do que Trump propõe.

Donald Trump, em seu discurso de posse, fez questão de bradar que acabaria com o que chamou de "carnificina americana". Ao que tudo indica, o caminho que escolheu o levará a criar algo pior do que a carnificina sobre a qual discursou.



Monica de Bolle, Economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, professora da SAIS, Johns Hopkins University

sábado, 25 de março de 2017

BARCO A DERIVA

Quando o golpe fascista começou a demonstrar que teria êxito, os que defendem a ordem democrática passaram a apontar os perigos que esse êxito traria ao país.

Passados 7 meses de derrubada da presidente eleita e a posse espúria de um novo presidente as piores previsões não apenas se consolidam reais, como outras, não mencionadas, também tomam forma.

O pior desse escândalo da carne talvez nem seja o prejuízo financeiro ao país, uma tragédia nacional, ou a quebradeira de pequenos frigoríficos, uma tragédia pessoal. Pode ser que nem mesmo a fritura da imagem do Brasil lá fora seja o mais lamentável. Talvez o pior mesmo, seja a constatação de que o governo ilegítimo, é tão ilegítimo que não seja respeitado nem pelas esferas subalternas.

Sabe quando a tripulação de um navio perde a confiança no seu capitão? Ou quando a perícia do maestro é questionada pelo restante da orquestra?

É pouco céu para tanta pretensa estrela.

Para muitos, o que a polícia Federal fez, ou melhor, a forma como fez, jogando suspeitas no ventilador sem serem acompanhadas de provas, denuncia que há um motim no barco.

Como escreveu o Procurador de Justiça aposentado, Roberto Tardelli, “ninguém apontou para um lote de carnes e dali retirou papelão prensado; em matéria processual penal, a convicção vale apenas até a página dois, transformando-se em mera antipatia pessoal se dessa convicção não surgirem provas válidas e objetivamente consideradas”.

Certa vez, durante os tristes dias do golpe parlamentar, quando a presidenta Dilma nomeou um novo Ministro da Justiça, um superintendente da Polícia Federal afirmou, publicamente, que o órgão policial era técnico e que isso impedia que o Ministro da justiça interferisse em suas ações. Em outras palavras “o Ministro não manda na gente”.

É de se perguntar o que aconteceria com o superintendente do FBI, polícia federal dos Estados Unidos (modelo de país para a direita golpista) se manifestasse algo parecido.

Para derrubar um governo legitimamente eleito, as forças da elite do país forjaram servidores públicos que chamavam a presidente de tu e um ex-presidente de bandido.

Às vezes, a história nos mostra, cria-se um monstro que se volta contra si mesmo.

A democracia é baseada na liberdade, mas a liberdade se alicerça na responsabilidade. Como dizia minha professora de ensino fundamental, liberdade sem responsabilidade é libertinagem.

Um órgão investigativo federal que não dá explicação ao Ministro da Justiça e recusa outras análises antes de tomar atitudes “arrasa quarteirão” está trabalhando com liberdade ou com libertinagem?

Nessa terra de tanto amor ao Positivismo de Auguste Comte a ponto de ter em sua bandeira nacional um dístico que alerta para o respeito à hierarquia, deveriam, os que carregam consigo alguma responsabilidade sobre a coisa pública, questionar, onde chegará um país em que, cada um faz o que quer.

Como numa ópera em que cada um se acha a prima-dona.



Prof. Péricles

O PAPELÃO É DA POLÍCIA FEDERAL

Por Roberto Tardelli


Na história do boi, cuja carne parece ser fraca, a primeira questão que me veio à mente foi como estabelecer a competência da Polícia Federal, em uma questão que – a nós, carnívoros colossais – tem todo o matiz de uma questão de consumo, cuja competência se aliaria à Justiça Estadual e, portanto, às suas polícias respectivas.

Bem, mas esse tema de competência tem sido um fracasso de crítica junto aos tribunais, tendo-se a impressão que qualquer um pode investigar qualquer coisa, desde que esse um possa fazer traquinagens investigatórias, como grampos telefônicos, delações premiadas ou premiadíssimas.

Do chefe da guarda municipal de Cabrobó, com todo respeito à família cabrobense, à Polícia Federal, qualquer um pode meter o bedelho e sair investigando por aí. O Brasil se transformou em um enorme distrito policial.

A segunda coisa que me marcou foi algo que tenho observado e compartilhado com amigos, os poucos que ainda prezam a regularidade institucional, processual.

Divulga-se uma conversa tenebrosa, em que um executivo manda alguém moer cabeças. Credo, ainda que fossem cabeças suínas, de porcos já sacrificados. Quase como a Rainha de Alice (moam as cabeças!) determinou algo que seria traduzido como uma das fases do processo de produção desde a farinha de osso, salvo engano, com algum teor permitido nas salsichas, mortadelas e embutidos que fazem a festa dos balcões de padaria.

Ao que parece, imaginou o delegado federal que as cabeças foram atiradas a um enorme moedor, esmigalhadas com cérebros, olhos, membranas, tudo em sangue e atirado depois dentro das embalagens e levadas a consumo. Na produção bruta e desalmada da indústria da carne, tudo se aproveita.

Desde criança, diziam-me que da vaca só não se aproveita o berro. Por mais duro e impiedoso que isso soe aos ouvidos veggies e veganos, a vida é assim, de moer cabeças.

O que me ressalta é que o delegado caiu no conto da retórica processual, conversas capturadas em interceptações telefônicas que não poderiam substituir a prova pericial, qual seja, saber efetivamente se o lote de carnes apreendidas constituía um perigo à saúde humana ou não.

O barulho infernal que se fez, sem que se houvesse prova técnico-pericial apta a demonstrar a materialidade delitiva pode transformar a polícia federal em um órgão de trapalhões investigadores, que, na pressa de verem garantido um lugar ao sol Fantástico Global, podem ter acarretado irresponsavelmente bilhões de dólares de prejuízos à economia brasileira.

A razão de ser de os diretores darem asinhas de frango de presente ou grana aos fiscais não pode conduzir à conclusão de que comercializariam carne podre.

Temos uma burocracia que enlouquece o bastante todo aquele que depender de uma autorização de um desses empoderados fiscais; quem já tentou aprovar uma planta de construção ou reforma de casa na prefeitura já passou por todos os níveis de desespero possíveis à alma humana.

Imagino quem esteja com toneladas de carnes que devem ser postas em circulação, pelo singelo motivo que outras toneladas estão chegando e que não há espaço para toneladas se amontoarem por aí.

Ninguém se questionou porque nenhum bife exportado foi devolvido por estar bichado, por estar podre, por ter ácido conservante, por ter mais sal ou água.

Se o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo, se houvesse tamanha negligência, algum país-vítima teria dado o alarme, apresentando laudos técnicos suficientes a concluir que se negociou carne putrefada.

A conversa telefônica nada pode provar, relativamente à existência material do crime, sob pena de prescindir-se de prova que a própria determina como essencial, como, de resto, determina o art. 158 do CPP, não sendo suprível sequer pela confissão, pergunta que nenhum candidato à vaga de estágio pode errar.

Nessa era de retóricas judiciais, ninguém mais se detém para a efetiva necessidade de prova material, valendo o juízo moral desfavorável como suficiente para iniciar outra máquina de moagem: a moagem da credibilidade e da presunção de inocência.

Até onde vi, ninguém apontou para um lote de carnes e dali retirou papelão prensado; em matéria processual penal, a convicção vale apenas até a página dois, transformando-se em mera antipatia pessoal se dessa convicção não surgirem provas válidas e objetivamente consideradas.

Nessa febre persecutória, esqueceu-se da necessidade de ter a prova pericial em mãos, esqueceu-se da necessidade de apreender ao menos um pão com salame envenenado, um bife de papelão, que fosse.

Pelo que vi, até agora, o papelão será da Polícia Federal, que se não exibir prova pericial, laboratorial, terá que se defender de não querer, culposa ou dolosamente, quebrar de vez o país, uma vez que ninguém deterá as ondas de desistências da carne brasileira.

Papelão só menor que o de Temer na churrascaria.



Roberto Tardelli é Advogado e Procurador de Justiça do MPSP Aposentado.



quinta-feira, 23 de março de 2017

QUEM TEM MEDO DE ARTISTA?


Por Wagner Moura


Artistas são seres políticos. Pergunte aos gregos, a Shakespeare, a Brecht, a Ibsen, a Shaw e companhia -todos lhe dirão para não estranhar a participação de artistas na política.

A natureza da arte é política pura. Numa democracia saudável, artistas são parte fundamental de qualquer debate. No Brasil de Michel Temer, são considerados vagabundos, vendidos, hipócritas, desprezíveis ladrões da Lei Rouanet.

Diante de tamanha estupidez, fico pensando: por que esses caras têm tanto medo de artistas, a ponto de ainda precisarem desqualificá-los dessa maneira?

Faz um tempo, dei muita risada ao ver uma dessas pessoas, que se referia com agressividade a um texto meu, dizer que todo bom ator é sempre burro, pois sendo muito consciente de si próprio ele não conseguiria "entrar no personagem".

Talvez essa extraordinária tese se aplicasse bem a Ronald Reagan, rematado canastrão e deus maior da direita "let's make it great again". De minha parte, digo que algumas das pessoas mais brilhantes que conheci são artistas.

Esse medo manifestado pelo status quo já fez com que, ao longo da história, artistas fossem censurados, torturados e assassinados. Os gulags de Stálin estavam cheios de artistas; o macarthismo em Hollywood também destruiu a vida de muitos outros. A galera incomoda.

Uma apresentadora de TV fez recentemente sua própria lista de atores a serem proscritos. Usou uma frase atribuída a Kevin Spacey, possivelmente dita no contexto de seu papel de presidente dos EUA na série "House of Cards".

A frase era a seguinte: "a opinião de um artista não vale merda nenhuma". Certo. Vale a opinião de quem mesmo? Invariavelmente essas pessoas utilizam o chamado argumento "ad hominem" para desqualificar os que discordam de suas opiniões.

É a clássica falácia sofista: eu não consigo destruir o que você pensa, portanto tento destruir você pessoalmente. Um estratagema ignóbil, mas muito eficaz, de fácil impacto retórico. Mais triste ainda tem sido ver a criminalização da cultura e de seus mecanismos de fomento, cruciais para o desenvolvimento do país.

Aliás, todos os projetos sérios de Brasil partiram de uma perspectiva histórico-cultural, como os de Darcy Ribeiro, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.

Ver o ministro da Cultura dando um ataque diante do discurso de Raduan Nassar só faz pensar que há algo mesmo de podre no castelo do conde Drácula. Mesmo acostumado a esse tipo de hostilidade, causou-me espanto saber que o ataque, na semana passada, partiu de uma peça publicitária oficial da Republica Federativa do Brasil.

Sempre estive em sintonia com a causa do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto); fiz com eles um vídeo que tentava explicitar o absurdo dessa proposta de reforma da Previdência.

O governo ficou incomodado e lançou outro vídeo, feito com dinheiro público, no qual me chama de mentiroso e diz que eu fui "contratado" -ou seja, que recebi dinheiro dos sem-teto brasileiros para dar minha opinião.

O vídeo é tão sem noção que acabou suspenso, assim como toda a campanha publicitária do governo em defesa da reforma da Previdência, pela Justiça do Rio Grande do Sul.

Um governo atacar com mentiras um artista, em propaganda oficial, é, até onde sei, inédito na história, considerando inclusive o período da ditadura militar.

Mas o melhor é o seguinte: o vídeo do presidente não conseguiu desmontar nenhum dos pontos levantados pelo MTST.

O ex-senador José Aníbal (PSDB) escreveu artigo em que me chama de fanfarrão e diz que a reforma só quer "combater privilégios". Devo entender, então, que o senhor e demais políticos serão também atingidos pela reforma e abrirão mão de seus muitos privilégios em prol desse combate? E o fanfarrão ainda sou eu?

Se o governo enfrentasse a sonegação das empresas, as isenções tributárias descabidas e não fosse vassalo dos credores da dívida pública, poderíamos discutir melhor o que alardeiam como rombo da Previdência.

Mas eles não querem discutir nada, nem mesmo as mudanças demográficas, um debate válido. O governo quer é votar logo a reforma, acalmar os credores, passar a conta para o trabalhador e partir para a reforma trabalhista antes que o povo se dê conta.

Tenho uma má notícia: no último dia 15, havia mais de um milhão de pessoas nas ruas do país. Parece que não é só dos artistas que eles deverão ter medo.


WAGNER MOURA é ator. Protagonizou os filmes "Tropa de Elite" (2007) e "Tropa de Elite 2" (2010). Foi indicado ao prêmio Globo de Ouro, no ano passado, pela série "Narcos" (Netflix)



terça-feira, 21 de março de 2017

PUCHERO




Existe uma comida gaúcha típica, bem menos conhecida que o churrasco e o carreteiro, chamada “Puchero” (o gaúcho pronuncia putiero).

O Puchero é de uma constituição muito interessante.

Pega-se batata, mandioca (aipim aqui no Rio Grande), cebola, milho, nabo e uma infinidade de outros legumes. Acrescenta-se pedaços de carne de gado ou de ovelha. Bota-se tudo num caldeirão de ferro e deixa-se ferver por tempo indeterminado.

As atividades da festa na fazenda correm solta, rodeio e tudo mais e o puchero lá, fervendo.

Algumas vezes o panelão, onde está toda a mistura é enterrado para ferve sozinho, e a peonada até esquece dele.

Já na parte da noite, para arrefecer o trago, ele é finalmente trazido à mesa.

O que se vê é uma mistura uniforme, uma pasta só, com gosto delicioso e que reúne todos os ingredientes, como uma espécie de sopão.

É um alimento servido muito quente e é muito forte, capaz de sustentar qualquer um por um bom tempo.

Mas, o mais interessante, é que depois de tanta fervura não se distingue mais, com clareza, os ingredientes. Há uma uniformidade de gostos e sabores, num ponto em que ninguém sabe onde acaba a batata e começa o aipim.

Ao longo de eras o Brasil tem sido governado pelas elites ou por representantes dos interesses das elites.

Nesse tempo todo de poder, a corrupção sempre foi uma constante invariavelmente presente nas políticas públicas.

Paridos cujas diferenças são basicamente de siglas se revezaram ao longo dos anos nessa prática perniciosa, as vezes se aliando, apoiando mutuamente ou fazendo oposição de mentirinha.

Essa corrupção endêmica, na coisa pública e na vida partidária, é tão característica de nossa história que o povo sempre falou dela através do deboche das piadas, de forma que nunca foi segredo, no máximo, silêncio conveniente.

Na atualidade, quando a novidade foi a chegada ao poder de um partido de trabalhadores, fundado no final da Ditadura Militar e que jamais havia feito parte do jogo, a estratégia das elites e de sua mais importante superestrutura, a mídia, foi criar e difundir a ideia de que todos os políticos e de que todos os partidos são iguais.

Como um Puchero político. Tudo ferve no caldeirão do exercício do poder e da roubalheira, tudo igual, sem separação entre os ingredientes.

É um sofisma que agrada a direita, pois, se é tudo igual, a esquerda é tão leviana quanto ela e ao povo não cabe se preocupar em conhecer as ideias e diferenciar as propostas, pois é tudo a mesma coisa mesmo.

Agrada também o eleitorado conservador que assim justifica seu voto tacanho com o argumento de que não faz diferença, é tudo igual mesmo.

Só que não.

Não se deve ser levado por essa falsa ideia que uniformiza crimes e criminosos.

A esquerda nunca esteve no poder antes, a direita o exerce desde 1822.

Iguais são as propostas da direita, cuja diferenciação entre seus partidos se faz quase que imperceptível.

Acreditar nisso seria como acreditar que todo aquele que chega a um cargo público ou eleitoral é corrupto pelo simples fato de ter chegado, e convenhamos, acreditar nisso além de injusto é inescrupuloso. Está na raiz do pensamento daqueles que insistem em chamar Lula de ladrão, sem nenhuma prova.

É necessário que nosso sofrido povo diferencie bem os ingredientes.

É possível o exercício do poder através das ideias e ideais, a gente só não estava acostumado a ver isso.

A política não deve ser servida um puchero uniforme, mas como um belo e delicioso prato, onde se distinga bem o filé da carne de pescoço.




Prof. Péricles

sábado, 18 de março de 2017

O ESTUPRO NÃO CHOCA?

Por Débora Diniz


No Dia da Mulher, nada a comemorar

Há alguns sofrimentos que só a ficção nos permite conhecê-los na intimidade de quem sofre.

Foi assim que acompanhei a terrível cena de estupro de Lucy, no livro Desonra de John Coetzee.

Sem a proteção da fantasia foi que acompanhei a perseguição à menina de 11 anos, estuprada pelo padrasto, em alguma cidade anônima na fronteira entre o Piauí e o Maranhão. Sabemos pouco dos fatos, pois além de escandaloso, o caso é escondido.

Em torno de seu corpo e de sua tragédia se lançou a cruzada do aborto: foi mandada embora do hospital para aguardar a gravidez porque não havia mais como protegê-la da leis dos homens.

A menina não tem nome, a família desapareceu.

Dizem que mãe e filha são agora refugiadas em alguma casa abrigo para deixar a barriga da menina miudinha crescer sem que haja mais horror na violência que a acompanhou dos 8 aos 11 anos.

Vou abusar dos adjetivos para descrever essa menina, pois se não a vejo, só a imagino: ela é miudinha, como as meninas nordestinas de cidades sem nome, talvez chochinha como se diz por lá.

Foi só quando o bucho começou a crescer que se deram conta que a menina era violentada. Minha imaginação não permite recitar suas palavras de confidência sobre o padrasto violentador. Só sei que ela deve ter sentido muito medo.

Entre o segredo, a violência e o socorro, a menininha só chegou ao hospital com barriga de 25 semanas de gravidez. Já muito grávida para os protetores da vida de plantão – a menina foi impedida de fazer o aborto legal e, desde então, escondeu-se em lugar que se diz seguro para se fazer mãe em idade ainda infantil demais para um parto.

Se a história teve esse enredo, se a menina é o esqueleto chocho que imagino, são detalhes do real que me faltam, porém importantes para provocar a imaginação fraca sobre quem sofre distante.

Se os embriões e fetos importam, e é verdade que importam, temos uma menina de 11 anos, violentada, estuprada e grávida.

Essa menininha tem que nos importar muito, nos escandalizar até tremer, nos mover para abertamente discutir o direito ao aborto livre dos estigmas que perseguem até os corpos infantis.

quinta-feira, 16 de março de 2017

O ELEFANTE E O ÓDIO DESTILADO



Nossa classe média sofre de co-dependência.


A co-dependência é um fenômeno doentio que ocorre entre as famílias de dependentes químicos.


Como não conseguem livrar o ente amado da dependência, a família, esposa, mãe, pai, etc. passa a se sentir culpada pelo comportamento doentio e assume características da própria doença, como se dessa maneira pude se punir.


É por isso que tantas ex-esposas de alcoolistas, por exemplo, casam novamente com outro alcoolista.


Na sociedade brasileira temos uma classe média co-dependente da exploração que ela mesma sofre por parte de uma das elites mais arcaicas do mundo.


Sabe que jamais atingirá os andares mais acima, se acha a culpada da própria covardia e se sente livre da opressão ao oprimir. Por isso, busca fazer com os mais pobres o que sentem que fazem a si mesma.


E todos pagamos por isso. E todos somos um pouco doentes também.


Por isso negro é tão discriminado e pobre viajando de avião ou dirigindo carro próprio é tão detestado. Co-dependência.


Não existe cura para a dependência química, mas existe controle, e esse controle só é possível se o doente não consumir a droga que o domina.


Da mesma forma, a única maneira de se livrar da co-dependência social é a classe média abandonar os laços que a prendem aos atavismos que defende.


Não pode consumir ódio destilado, simples assim.


Já o pessoal dos andares mais abaixo, tem complexo de elefantinho.


O elefante, desde pequenino, é amarrado a um pequeno toco que impede que ele saia pelo circo fazendo estripulias.


Com o passar do tempo, o elefante cresce, vira aquele animal majestoso, porém, permanece preso ao pequeno toco do qual ele se livraria com muita facilidade, caso não guardasse na memória a sua submissão.


E assim, um enorme animal segue o tempo todo preso a um obstáculo ridículo do qual não se desfaz por não tentar.
Até quando nosso povo vai se sentir atado e submisso, desconhecendo a própria força?



Prof. Péricles 

terça-feira, 14 de março de 2017

A BANCA, A FARSA E A DITADURA INVISÍVEL


O romance 1984 de George Orwell, pseudônimo do súdito nascido na Índia Eric Arthur Blair, lançado em 1949, é uma crítica a Stalin e à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, de modo sutil, a glorificação de Winston Churchill, nome do herói – Winston – do romance.

Logo no início do livro travamos conhecimento da existência do Ministério da Verdade e da Novilíngua, graças aos quais se difundiam lemas governamentais: “liberdade é escravidão”, “ignorância é força”.

Parece ridículo a você, caro leitor, que alguém fosse atingido por tais farsas? Mas outra coisa não lhe é feita, desde os anos 1980, com as palavras e expressões tais como globalização, mercado livre, política ou decisão inevitável, modernização trabalhista, ações indispensáveis, contenção de despesas públicas, superavit fiscal, déficits públicos e baboseiras semelhantes.

A ensaísta e premiada escritora francesa Viviane Forrester publicou, em 2000, Uma Estranha Ditadura (UNESP, 2001) que desmascara a novilíngua neoliberal, que tomou conta de todas as notícias da imprensa, das análises supostamente técnicas e mesmo da academia, como demonstra com precisão e objetividade o filme de Charles Ferguson, Trabalho Interno (Inside Job), lançado em 2010.

Vamos analisar os verdadeiros significados destas palavras, os objetivos desta farsa e, como é óbvio, quem é beneficiado com este reeditado “1984”.

Tomemos um caso concreto – a reforma da previdência social no Brasil. Como já foi sobejamente demonstrado esta previdência é superavitária, mesmo sem a cobrança de milhões de reais devidos por empresas privadas.

O economista J. Carlos de Assis, nas páginas do jornal Monitor Mercantil e em vários blogs e portais virtuais, lançou o desafio a qualquer membro do governo, economista chapa branca ou independente, analista de jornal, rádio e emissora de televisão e doutos acadêmicos para debater com ele o “déficit previdenciário”. Ninguém se ofereceu a este repto que já completa dois meses.

Vejamos alguns elementos desta novilíngua. Primeiro este “pensamento único”, por si já prova do sentido ditatorial, que se autodenomina neoliberal.

Mas significando efetivamente a selvageria do cada um por si, de nenhuma restrição ao abuso, da satisfação de desejo, o mais iníquo, e a competitividade destruidora de pessoas e bens.

Viviane Forrester levantou, para março de 1996, sete grandes empresas multinacionais que tiveram cotações em bolsa elevadas com a divulgação da demissão de empregados. O resultado desta “competitividade” foi transferir o dinheiro de salários para os maiores lucros dos acionistas, um processo de concentração de renda e de expansão da miséria.

Mas a competitividade parece atender a voz divina que manda os ricos ficarem mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Ou você não havia notado esta novilíngua?

Para que serve a economia? Para promover concentração de riqueza ou existência digna para as pessoas?

Em Londres e em Nova Iorque houve manifestações (peço atenção do golpista Ministro da Educação (sic) – “houveram” remete-lo-ia (!) ao ensino Fundamental I) de mestres de escolas de economia em defesa do real estudo desta disciplina, pois, em suas próprias palavras, estava sendo transformada apenas e simplesmente em engenharia financeira.

Mas a imprensa mundial, dominada pela banca (sistema financeiro), fez-se surda e muda.

Outro vocábulo da novilíngua é globalização. Viviane Forrester chama “obra-prima do gênero” farsante.

Escreve esta crítica francesa: “seu nome por si só cobre todos os fatos de nossa época e consegue camuflar, tornando-a indiscernível no interior desse amálgama, a hegemonia do ultraliberalismo: um sistema político que, sem estar oficialmente no poder, comanda o conjunto daquilo que os poderes têm a governar, obtendo uma plenipotência planetária”.

Este avanço da banca à economia, à política, à comunicação social, a toda sociedade já é descrito até por seus executivos e membros de um organismo da banca: o Fundo Monetário Internacional (FMI).

E a imprensa, mesmo quando combate ações da banca, divulga a novilíngua, como se fosse inevitável a discussão nos seus termos e significados. É uma escolha a qual também devemos combater.

Afinal expropriação privada é tirar de alguém, sem que haja interesse público, algo que lhe pertence, seja o salário, no exemplo dado por Viviane Forrester, seja o direito à saúde ou à educação.

Chame-se de déficit público, de custo irrecuperável, de administração perdulária (como se altos juros não fosse o mais perdulário dos gastos públicos), de futura insolvência, como se alardeia às aposentadorias e pensões, sempre é você que está sendo tungado.

Já pensou o caro leitor quem vai receber suas contribuições previdenciárias se não for o Estado? e que garantia você terá da própria permanência da seguradora ou banco daqui a 30 ou 40 anos quando você resolver se aposentar?

É a farsa da banca que nos coloca nesta ditadura da própria linguagem, muito mais difícil de se insurgir do que a da censura, dos tanques nas ruas ou de um Estado totalitário.

É a ditadura invisível que nos oprime neste século XXI. E que os coxinhas, batedores de panela ou simplesmente ignorantes colocaram no Poder no Brasil.



Por Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

domingo, 12 de março de 2017

DECEPÇÕES A GRANEL


Em períodos de exceção como na década de 30 com o crescimento nazista, ou no período militar no Brasil, é muito fácil quebrar a cara quando se deposita esperanças de resistência em individualidades.



Os processos revolucionários são sempre coletivos, jamais individuais.



O autoritarismo não procura apenas eliminar os opositores, busca também coopta-los.



Como o regime detém as formas mais fáceis de promoção pessoal e abre portas com as chaves da truculência, torna-se sedutor apoia-lo tendo em mente o que pode se reverter em benesses pessoais, e não se trata aqui, uma questão de dinheiro, mas de estima.



O nazismo perseguiu intelectuais que o combatiam, mas antes, tentava traze-los para o seu lado, seduzindo-os de todas as formas além do econômico. Com alguns obteve exito, com outros não.



A mesma coisa foi feita pelo franquismo, salazarismo, etc.



Médice tornava-se muito mais simpático fazendo embaixadas depois de garantir prêmios vultosos aos atletas campeões da Copa de 70.



Por isso, é saudável que aqueles que contestam a dominação pela força não se entusiasmem em demasia pelos lampejos da intelectualidade. O desencanto mora ao lado enquanto os autoritários e todo seu poder de criar carismas tiverem como comprar simpatias.



É claro que dói profundamente ver um intelectual até então identificado como opositor de tudo de errado que está acontecendo na vida política brasileira, na mesa em alegre confraternização com um juiz identificado com essa situação.



É duro e desagradável, mas não pode ser considerado uma surpresa.



Bom mesmo é evitar julgamentos definitivos e acreditar que as luzes individuais podem ser maiores que as trevas de nossas pequenezas. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato e onde seus interesses individuais podem se tornar maiores que os coletivos.



Melhor a brandura de aceitar que essa lógica do opositor que se torna simpatizante como sendo um fenômeno universal no mundo das lutas pela democracia e pela justiça que invade a vida privada dos que se destacam e se tornam ícones de alguma forma de resistência.



Todo aquele que embasa sua opinião sobre ideias verdadeiros de igualdade jamais aceitará mudar de time.



Quem não tem esses ideais terá outras prioridades.



Aos que lutam pela verdade as compensações as vezes chegam em conta-gotas e as decepções à granel.



Prof. Péricles

sábado, 11 de março de 2017

AS UTOPIAS NOS FAZEM CAMINHAR


Quando escala uma montanha, sempre tem aquele momento em que, cansado, o alpinista senta numa pedra e ofegante olha para o caminho já percorrido. Aparentemente já foram tantos desafios superados, pensa ele, muitos metros vencidos, caminho feito.

Mas, em seguida seu olhar recai sobre o caminho que ainda falta e, é quando ele percebe que por mais que tenha subido, muito ainda falta para subir. O caminho pedregoso e íngreme que se apresenta parece sempre ser maior do que aquele que já foi superado.

É nesse momento que acontece uma espécie de decisão interior.

Prosseguir, pelo que parece ser o insuportável caminho que ainda falta, ou descer, retornando ao ponto de partida, para finalmente poder repousar e encerrar o sacrifício.

A busca por nossas utopias, muitas vezes aparece assim, diante de nossos olhos, não os físicos, mas, sensoriais.

Quanto já percorremos? Rememorando todas as dificuldades parece que muito foi vencido, mas, ao perceber a luta que ainda tem pelo caminho o desânimo é quase automático.

Vale a pena continuar?

Não seria mais fácil descansar, retornar às origens, subir as arquibancadas e apenas torcer pela escalada alheia?

Afinal, para que servem as utopias se estamos sempre em busca sem alcança-las plenamente, perguntaram a Eduardo Galeano, que, de forma serena respondeu que, as utopias servem para nos fazer caminhar.

Se as utopias não são sonhos, mas ideais que se busca transformar em realidade, então, buscamos o cume, a amplitude de nossos ideais com a possibilidade de que jamais sejam atingidos? Vale à pena todo esse longo caminhar?

De certa forma as respostas podem ser muito diferentes umas das outras.

O que moveu jovens de uma geração inteira a lutar contra um exército bem equipado e bem treinado, além de seus mecanismos de repressão repleto de torturas e torturadores apoiados até pelos Estados Unidos?

Sem dúvida era uma luta desigual e impossível de ser vencida, então, o que moveu seus corpos e mentes na ânsia desesperada por uma vitória impossível?

Consta que na Guerrilha do Araguaia, em certo momento, no coração da floresta, um oficial do exército colocou seus homens diante dos corpos de meia dúzia de guerrilheiros mortos e disse que sonhava que, um dia, eles tivessem a metade da coragem e da dignidade daqueles mortos.

O que fez de jovens estudantes universitários que mal conheciam arma de fogo, lutadores tão renhidos a ponto de serem elogiados post mortem por um comandante militar profissional?

Provavelmente a mesma coisa que faz hoje milhões de pessoas se organizarem de alguma maneira para lutar contra o despotismo do congresso/mídia/sistema jurídico... a indignação diante da injustiça.

A vergonha na cara pode mover mundos e empilhar estrelas num cantinho de um universo paralelo e nem todo o poder da máquina de construir mentiras é capaz de ser mais lúcido do que o olhar de um inocente que pede justiça.

Sigamos então, enquanto o tempo não fecha derradeiramente nossos olhos ou curvarem as pernas que movem montanhas.

Lutar é preciso, não para ir para outro ponto, mas para permanecer seguindo em frente.

É a dignidade das utopias que exige mais até do que pensamos ser capazes de fazer.



Prof. Péricles

quinta-feira, 9 de março de 2017

O HOMEM ESCOLHEU O PESADÊLO


Por Maria Lúcia Dahl



Estive pensando muito na minha geração, da qual fui fã e tiete. Admirei e defendi ardorosamente toda a sua virada de mesa dentro de um contexto geral: político, social, sexual, bissexual, feminista, libertário e até na revolução da moda, das saias, dos cabelos, reflexo imediato do pensamento revolucionário.

Mas agora, depois de essa mesma geração estar no poder comecei a repensar nossas atitudes.

Para mim, 68 não tinha erro, embora fosse uma geração experimental e nem toda experiência seja fadada ao sucesso, mesmo que eu continue achando muito melhor tentar do que ficar parado, até prova em contrário.

Quando o pai da minha filha, líder estudantil e exilado político, discursava na Cinelândia, ao lado de Vladimir Palmeira, dizendo: “ Nós vamos tomar o poder”, eu me preocupava, porque os achava jovens demais, sem experiência nem prática, apenas terminando a faculdade.

Então, trinta anos depois, quando finalmente tomamos o poder, pensei: “ agora tudo vai dar certo. Está todo mundo mais velho, mais sábio, mais experiente e amadurecido em suas ideias. O que eu não podia imaginar era que, pelo menos a maioria não pensava mais daquele jeito.

Como posso admitir que alguém vá preso e torturado por um ideal se realmente não acredita nele acima de tudo?

Ninguém é crucificado pra ficar rico, privando o povo de escolas, hospitais, aposentadoria, dignidade. Isso pra mim não bate. Ou se está de um lado ou de outro.

Será que, diferentemente do que eu achava, se tivessem tomado o poder quando jovens, teria sido diferente? Que só jovem tem ideologia? Que com a idade troca-se a ideologia pelo poder? Que a força da grana, como diz Caetano, ergue e destrói coisas belas?

Que éramos apenas sonhadores, como dizia Bertolucci? Libertários na ficção, na imaginação e que a teoria, na prática era outra?

Por um momento fiquei confusa, até constatar que continuo acreditando nos mesmos valores: democráticos, políticos, sociais, bissexuais, feministas, libertários. Continuo acreditando em “liberdade sem medo”, que era o lema de Summerhill, o que havia de mais amoroso e avançado em matéria de educação, continuo acreditando no amor e na paz como condições definitivas para o progresso, continuo apoiando a verdade contra os fingimentos da década de 50, cheios de garçonnières, esconderijos, traições, mentiras.

Mas infelizmente, não acredito mais no ser humano. Não era o pensamento nem o ideal da minha geração que estavam errados, ambos estavam certíssimos, e não tenho dúvidas de que pertencia a uma juventude que queria mudar o mundo de verdade.

Não acho que tenhamos sido apenas sonhadores. Nossa teoria estava certa e o sonho só acabou, como disse Lênin e depois Lennon, porque o homem continua bárbaro e não evolui um segundo da Idade da Pedra, até agora, em matéria de consciência. Prefere a guerra, o desamor e o sofrimento em nome do dinheiro e do conforto.

Mas que conforto, se o feitiço virou contra o feiticeiro?

Quem espalha miséria, sofrimento, escravidão, receberá tudo isso de volta. É a lei do retorno, da consciência, dos atos. Para que vivêssemos em paz, bastaria amar o próximo como a nós mesmos. Por isso acho que não foi Summerhill que errou em dar liberdade sem medo às crianças não é a opção sexual que nos faz melhores ou piores, mas o fingimento, a mentira.

Tudo o que não for verdadeiro sairá do fundo do poço, felizmente sobrando a esperança, como na caixa de Pandora. Basta saber o que fazer com ela.

Porque não foi o sonho que acabou, mas o homem que escolheu o pesadelo.



Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista.

terça-feira, 7 de março de 2017

DO QUE SÃO FEITOS OS SONHOS?


Talvez seja difícil para alguns comentar sobre seus sonhos.

Para outros pode até parecer os sonhos desapareceram com a idade ou diante das preocupações de cada dia.

Alguns, até mesmo, evitam assumi-los ou reconhecê-los.

Difícil é acreditar em alguém que não os tenha.

Do que afinal são feitos os sonhos? Ou melhor, de que matéria são feitos?

O extraordinário William Shakespeare escreveu em 1611, na sua última peça, injustamente menos conhecida, “A Tempestade”, que “somos feitos da matéria dos sonhos”.

Foi assim...

Um poderoso duque de Milão, chamado Próspero, é derrubado do poder num golpe sórdido e covarde liderado por seu irmão Antônio e outros traidores.

Ele e sua pequena filha, chamada Miranda, são colocados num barco sem remos e abandonados à deriva, numa triste noite sem luar.

Mas, pai e filha sobrevivem e chegam a uma ilha completamente desabitada, onde vivem apenas espíritos, isso é, individualidades desencarnadas.

Próspero conhece, entre outros, o espírito Ariel, bom e pacífico, e também Caliban, uma entidade rebelde, vingativa e inquieta. Descobre que tem habilidade para compreender os espíritos e passa a se dedicar a mantê-los sobre suas ordens e influência.

Muitos anos depois ele acredita que chegou a hora da vingança. Provoca, com a interferência dos espíritos, um naufrágio, fazendo com que Antônio, o irmão traidor, Ferdinando, filho do Rei de Nápoles, um dos golpistas que lhe derrubaram, e alguns outros amigos e inimigos chegassem à sua ilha, fragilizados, na condição de náufragos.

Só que as coisas começam a mudar quando Miranda, a filha de Próspero, que desconhecia completamente o passado de seu pai, encontra Ferdinando, e ambos se apaixonam perdidamente.

Entre a vingança e a felicidade da filha, Próspero abandona seus planos, liberta os espíritos e retorna ao convívio dos homens.

No Ato IV, cena I, Shakespeare escreve:

“Criai ânimo, senhor; nossos festejos terminaram. Como vos preveni, eram espíritos todos esses atores; dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. E tal como o grosseiro substrato desta vista, as torres que se elevam para as nuvens, os palácios altivos, as igrejas majestosas, o próprio globo imenso, com tudo o que contém, hão de sumir-se, como se deu com essa visão tênue, sem deixarem vestígio. Somos feitos da matéria dos sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono”.

Se nós somos feitos da matéria dos sonhos e somos nós aqueles que sonham estes sonhos, tão importante quanto o que eles nos dizem é saber de que parte de nós eles são feitos.

De que parte de Próspero eram feitos seus sonhos? Cravejados de vingança, não sobreviveram ao amor da própria filha. De ódio, certamente, não era.

E você, que lê esse texto? Quais são seus sonhos?

Onde eles sintonizam e qual seu verdadeiro lugar?

Do que afinal, são feitos seus sonhos?



Prof. Péricles



Fonte:

Cadernos de Psicanálise (Rio de Janeiro)
Neyza Prochet

A Tempestade
Willian Shakespeare
L&PM, 2002
Tradução Beatriz Viégas Faria

domingo, 5 de março de 2017

UM NOVO 1968 NOS ESTADOS UNIDOS



Trecho de um ótimo artigo da revista Cult, assinado por Sean Purdy (professor do departamento de História da USP), para nos fazer refletir: .



“A primeira grande mobilização do movimento estudantil nos Estados Unidos aconteceu na Universidade da Califórnia em Berkeley em 1964-1965 sobre o direito dos estudantes de organizar atividades políticas no campus, já que, nos anos 1950, os administradores dessa renomada universidade pública haviam banido tais atividades.



No outono de 1964, estudantes abertamente organizaram atos no campus em solidariedade ao movimento negro para desafiar as proibições. O aluno Jack Weinberg foi preso pela polícia e uma manifestação espontânea de 3 mil estudantes cercou o carro da polícia, proibindo-o de partir por 32 horas.



Por dois meses, estudantes continuaram organizando grandes atos e manifestações sob a bandeira do Movimento pela Livre Expressão. Em dezembro, alunos ocuparam o principal prédio da administração da universidade. A polícia entrou e mais de 700 alunos foram presos. Em janeiro, a universidade suspendeu os líderes da ocupação, provocando uma greve estudantil e manifestações amplas que efetivamente fecharam a universidade. Logo depois, a administração da universidade cedeu e atividades políticas foram permitidas no campus”.



Estamos passando por momento semelhante, com uma difusa insatisfação entre os jovens dos EUA e Europa, cientes de que a crise econômica colocará enormes obstáculos no seu caminho para a inserção profissional e sucesso nas futuras carreiras.



Os avanços autoritários pipocam em várias nações e a recém-iniciada presidência de Donald Trump vai na contramão de quase tudo que é belo, digno e justo na face da Terra, ameaçando tanger a humanidade para uma nova Idade Média ou mesmo para o extermínio (em função de seus desvarios ambientais).



Não é utópico trabalharmos com a hipótese de que os EUA novamente se dividirão entre uma embotada e intolerante parcela reacionária e uma ampla frente comum de pessoas esclarecidas e idealistas, dispostas a deter a marcha para a insensatez trumpiana. Sendo que, desta vez, a correlação de forças não será maioria silenciosa x minoria estridente, mas, provavelmente, meio a meio (não esqueçamos que a o apresentador de reality show só ganhou permissão para tocar o terror graças ao estapafúrdio sistema eleitoral estadunidense, pois foi sua hilária adversária quem obteve maior quantidade de votos).



E, com os rigores que se abatem sobre a Europa, tudo leva a crer que uma escalada de protestos estudantis e outras manifestações de inconformismo contra as políticas de Trump repercutirá instantaneamente no velho continente, alavancando o ressurgimento, em larga escala, da contestação jovem.



Um novo 1968 não só é possível, como pode já estar começando.








sábado, 4 de março de 2017

A FRANÇA SEM REVOLUÇÃO


A maior revolução popular de todos os tempos a Revolução Francesa, teve início após uma série de abusos insuportáveis sobre a população mais humilde e sobre a burguesia que na época, estava no mesmo barco que o povão.

Para se ter uma ideia do nível dos abusos, os nobres e o clero não pagavam impostos. Bem assim. Eram isentos, enquanto o terceiro estado formado pela tigrada e pela burguesia pagava todo tipo da tarifação que se possa imaginar.

Em 1788 o inverno foi inclemente e a safra insipiente até para o consumo interno. Por causa disso, a fome se tornou um flagelo entre os miseráveis e o número de idosos e crianças que morreram por inanição, impressionante.

No ano seguinte a revolução explodiu nas ruas.

Não foram os teóricos iluministas que botaram o povão nas ruas para enfrentar uma Guarda Nacional bem armada. Eles apenas deram um empurrãozinho. Foi a fome, o desespero e a vergonha na cara.

Não foi meramente a cobrança de impostos que transtornou até o mais pacato cidadão francês, foi o abuso, foi saber que perto dali as famílias aristocráticas viviam bem e seus filhos e seus idosos, se alimentavam do bom e do melhor.

Alguém já disse que, o Brasil é a França sem revolução.

Temos os absurdos, mas não temos povo nas ruas.

Não temos os iluministas dando empurrões, mas temos uma mídia canhestra empurrando para trás.

Temos um projeto, uma PEC que é abominada por bem mais da metade da população e ao mesmo tempo um Congresso que aprova a mesma PEC como se o povo não existisse. Como se o Parlamento não devesse representar maioria.

Um pastor ordena que seus fiéis ao descobrirem falcatruas da Igreja, troquem de igreja mas não denuncie a falcatrua pois “não é problema seu” e continua livre lépido, solto e ainda ganhando dinheiro.

Um processo de impeachment abandona qualquer tipo de análise sobre a existência ou não de ilícito e, simplesmente matematicamente somando votos de partidos contra o governo derrubam uma presidente eleita por mais de 54 milhões de votos e tudo continua na boa.

Um juiz abandona qualquer imparcialidade a ponto de ser fotografado ganhando prêmio e trocando sorrisos e confidências com um político rei de delações sobre corrupção. E nada acontece.

Outro, candidato ao Supremo Tribunal, antes de ser sabatinado, promove uma festa particular num barco, com aqueles que julgaram sua admissão ou não, e tudo bem...

Nem mesmo a mortandade infantil absurda nos falta. Nem a violência contra os humildes e as ditas, minorias.

Temos o palco e os atores, mas não temos a revolução da vergonha na cara.

Mas, temos carnaval.

Temos carnaval e a Portela, finalmente campeã outra vez.

Claro, nossa alegria dá um porre na tristeza por quatro dias.

O circo de Otávio no reinado de momo.

O Brasil é a França sem a Revolução, ao que parece.

Muito confete e serpentina





Prof. Péricles

sexta-feira, 3 de março de 2017

ATÉ QUANDO TRUMP?


Por José Inácio Werneck


Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?, perguntava Marco Túlio Cícero no Senado Romano ao político Lúcio Sérgio Catilina, numa das mais famosas peças oratórias da história.

Até quando abusarás, Catilina, de nossa paciência?

Hoje já há muita gente nos Estados Unidos (e no mundo) dirigindo a frase a Donald Trump, o recentemente inaugurado Presidente americano.

Já há quem especule que Donald Trump não chegará ao fim do primeiro mandato, quando mais de um eventual segundo.

Para tanto haveria o recurso a um impeachment ou, segundo alguns, ao dispositivo contido na emenda 25 da Constituição Americana.

Ela dispõe que o Presidente pode ser afastado se o Vice-Presidente e uma maioria dos membros do Gabinete (isto é, os Ministros) afirmar ao Presidente em Exercício do Senado e ao Líder da Maioria na Câmara de Deputados que o Presidente da República não tem condições de exercer o cargo.

Como, por exemplo, se ele estiver mentalmente insano ou incapaz.

Será Donald Trump insano ou incapaz?

Há quem garanta que sim e que o cargo de Presidente na verdade vem sendo exercido pela “Eminência Parda” Steve Bannon.

Steve Bannon, antigo Oficial de Marinha, com passagem por Hollywood (por mais contraditório que possa parecer, dada a fama de liberalidade da indústria cinematográfica americana) é um dos fundadores e depois Executivo-Chefe do Breitbart News, um site da extrema direita americana.

Tudo indica que no momento é Bannon, o “Senior Counselor to the President”, quem faz a cabeça de Trump e que sua estratégia é criar propositadamente uma situação de confronto com o “establishment”, o mundo político do país.

Faz sentido. Se Trump provoca um imenso escândalo com sua proibição de entrada no país de pessoas de diversas nações muçulmanas, se cria uma situação de confronto com o México, com sua ameaça de erguer um muro e obrigar os mexicanos a pagar, se torpedeia o acordo comercial Trans-Pacífico, se ameaça não pagar a OTAN, se nomeia para a chefia do Departamento de Proteção Ambiental um cidadão inimigo declarado do meio ambienrte, se diz que vai retirar os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris, se ameaça ações militares contra a China no Oceano Pacífico, se diz que vai mudar a Embaixada Americana em Israel para Jerusalém, com o que sepultaria qualquer esperança de negociações pacíficas com os palestinos, se diz que vai rasgar o Acordo Nuclear com o Irã, ao mesmo tempo que diz estar na hora dos Estados Unidos aumentarem seu arsenal nuclear – se Trump provoca tal alvoroço e desorientação, quem vai lembrar ou ter tempo de pedir-lhe coisas mais prosaicas, como revelar sua Declaração de Imposto de Renda ou desvendar seus interesses de homem de negócios na Rússia e outros países?

A mais recente investida de Trump é exigir que o Partido Republicano rompa com a tradição do “filibuster” no Senado se os democratas se opuserem à sua indicação de Neil Gorsuch para a Suprema Corte.

(O filibuster é um mecanismo pelo qual, em certos assuntos importantes, se faz necessária a concordância de 60 dos cem senadores.)

E, nas últimas horas, as provocações continuaram:

1) Trump brigou pelo telefone com o Primeiro Ministro da Austrália, por causa de refugiados;

2) disse que “o mundo está errado e vamos consertá-lo”;

3) atacou Arnold Schwarzenegger, seu substituto em The Apprentice;

4) garantiu que acabará com a proibição legal de igrejas ao mesmo tempo pregarem política e serem isentas de Imposto de Renda.

A estratégia Trump-Bannon de provocar um tumulto que os beneficie parece cada vez mais clara.

Mas às vezes – e como antigo membro das Forças Armadas Steve Bannon deve saber – o tiro sai pela culatra.




José Inácio Werneck , jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva.