domingo, 22 de março de 2015

CÉSAR E CESÁREAS


Antigamente todos os partos eram normais. A “cesariana”, parto do “útero rasgado” que implica “corte, incisão” só era praticada na antiguidade após a morte da mãe, visando salvar o feto ainda com vida.

Uma versão, sem aceitação histórica, mas aceita há muito tempo, afirma que a expressão “cesariana” teve origem no nascimento do General e ditador romano, Júlio Cesar (100 – 44 aC).

Tudo aponta que César nasceu de parto normal. Sua mãe, Aurélia, não apenas sobreviveu ao parto como ainda teve mais cinco filhos depois dele.
Já Plínio, o Velho, afirmava que não César, mas seu pai, teria nascido dessa forma.

O primeiro parto cesáreo, aceito como tal historicamente, ocorreu em 1500, em na cidade suíça de Sigershaufen, e foi realizada pelo próprio pai em sua esposa. Jacob, esse era o nome dele, homem simples, habituado a castrar porcas, vendo o sofrimento da esposa no momento do parto resolveu, impedir, de alguma forma, a morte da esposa que se tornava evidente. Auxiliado por duas horrorizadas parteiras, fez uma incisão em sua amada, retirou o rebento, e, como fazia com as porcas que castrava, fechou o corte.

Mãe e filho se recuperaram bem e nunca tiveram qualquer problema devido ao parto.

Somente no século XVIII é que esse tipo de parto tornou-se uma prática obstétrica, na França, e foi lá que foi batizado de cesariana, numa evidente homenagem a César.

No Brasil, assiste-se a uma verdadeira epidemia de cesarianas.

Nove de cada 10 partos, hoje, são feitos dessa maneira.

Embora existam muitos mitos que façam a cabeça feminina sobre o quanto a cesárea seja melhor do que o parto normal, a causa dessa equação desproporcional, muito provavelmente, seja mesmo, econômica.

Enquanto o custo de um parto normal pelo Sistema Único de Saúde é de R$ 291 a cesariana custa cerca de R$ 402. O valor, nos convênios privados, pode variar conforme a operadora do plano, ainda mais, sendo essa, a maior beneficiada.

Desde 2005, quando se descobriu que as mulheres com plano de saúde em quase sua totalidade faziam cesarianas, o governo federal tem pressionado as operadoras a reduzir as taxas. Passados dez anos, quase nada mudou e, o pior, o Brasil até agora não sabe ao certo em qual frente deve trabalhar para reverter a situação, já que os fatores de escolha pelo parto cesáreo são múltiplos.

A grande reclamação das mulheres, porém, é de que os médicos induzem ao parto cesáreo. Talvez isso

ocorra, porque além de ser mais lucrativo a cesárea é mais cômoda para o médico já que este procedimento dura cerca de duas horas enquanto um parto normal pode durar 12 horas.

Diante de dados que indicam que a cesariana, quando não há indicação médica, aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe e ainda que de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no país estão relacionados à prematuridade, o Ministério da Saúde resolveu jogar duro.

O Ministério juntamente com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou uma resolução em janeiro desse ano que estabelece normas para o estímulo ao parto normal e a consequente diminuição das cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As operadoras receberam 180 dias para se adaptar às mudanças.

As novas regras ampliam o acesso à informação, já que as consumidoras poderão solicitar aos planos os percentuais de cirurgias cesarianas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico obstetra. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Em caso de descumprimento, será aplicada multa no valor de R$ 25 mil.

Outra norma prevê a obrigatoriedade de as operadoras fornecerem o cartão da gestante, no qual deve constar o registro de todo o pré-natal. Dessa forma, de posse do documento, qualquer profissional de saúde terá conhecimento de como se deu a gestação, facilitando o atendimento à mulher quando ela entrar em trabalho de parto.

Segundo o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, “não dá para continuar tratando como normal aquilo que não é normal, que é o parto cesariano”.

É um assunto polêmico, que envolve o emocional das parturientes e o necessário nível de informação de cada uma delas.

A ideia é que, com essas medidas, haja uma reavaliação dos responsáveis por momento tão sublime da vida.

A César o que é de César e as brasileiras, o seu direito de escolha.


Prof. Péricles

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