domingo, 15 de janeiro de 2012

MERCADO DE VAIDADES

Talvez você já conheça a história:

Há alguns anos atrás nas Olimpíadas Especiais de Seatle, nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos.

Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou a chorar.

Os oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles viraram e voltaram. Todos eles.

Uma das meninas com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no menino e disse:

- Pronto, agora vai sarar.

E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada.

O estádio inteiro se levantou e os aplausos duraram muitos minutos. E as pessoas que estavam ali, naquele dia, continuam repetindo a história até hoje.

Talvez os atletas fossem deficientes mentais.

Mas, com certeza não eram deficientes de sensibilidade.

Por quê? Porque, lá no fundo, todos nós sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho.

O que importa nesta vida é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.

Precisamos, com urgência, usar o direito à rebeldia e à subversão diante do sistema que criou a lenda do "primeiro", do "único", da idéia de que fora do primeiro lugar não existe vida.

Tudo no capitalismo envolve a cultura de ser o vencedor, de ser o máximo. Ter as melhores jóias, o melhor emprego, o carro mais avançado, a mulher (vista como objeto) mais bela. Ostentar pois a ostentação implica em ter posse e em provocar respeito.

Uma vida em que ter é infinitamente mais importante do que ser.

Todos os passos do capitalismo levam à comparação, ao culto do vencedor e da exclusão do perdedor.

É belo ser um vencedor. É feio, decrepto, ser um perdedor.

Logo na infância aprendemos isso.

Tudo o que nos dizem possui uma forte conotação de elogio ou de censura. Aprendemos que temos que ser os melhores. Logo buscamos agradar para receber a recompensa/elogio. Essa "coleção" do que pensam de nós forma o que chamamos de ego. Nos tortura a censura, o ato envergonhado. Em pouco tempo vivemos em função das opiniões dos outros sobre nós e não sobre o que realmente queremos acreditamos que somos ou gostaríamos de ser.

Em pouco tempo a nossa vaidade torna-se nosso guia.

Os elogios são substituídos por melhores salários, pelo título de doutor.

Fazemos o que causa mais admiração aos outros, o que provoca mais “inveja” aos outros. Vivemos segundo os outros. Temos que ser melhores. Temos que ter mais.

O capitalismo criou a egolatria.

Assim como no mercado as empresas competem e, buscam conquistar o mercado e garantir consumidores. Assim como o consumo determina os investimentos e por isso novos antigripais possuem muito mais recursos para pesquisa do que remédios para o mal de Aizeimer, nós reproduzimos toda essa louca concorrência em nossas vidas, determinando a nossa individualidade.

Dar as mãos, só se houver “publicidade”.

Ceder o primeiro lugar... jamais.

Por isso o gesto das Olimpíadas Especiais de Seatle causou tanta comoção.
Por isso ela é lembrada até hoje...

Porque definitivamente o que os jovens fizeram foi, revolucionário.

Foi subversivo à ordem capitalista e contrário aos ditames da vaidade capitalista.


Prof. Péricles

Um comentário:

Anônimo disse...

bah professor legal essa tua linha de pensamento! tenho comigo guardado alguns valores que trago desde familia essa idéia dos pais quererem o melhor para os filhos(melhor profissão,status,carro etc). Hoje me empenho para que muitos dos meus defeitos devido essa influencia social não se manifestem. As vezes queria ir morar no interior longe de tudo; uma vidinha simples, sossegada; para não ver tudo o que acontece, mas na verdade é bom como tú falou na aula de hoje ''quem tem que mudar é eu'' pois, é muito facil critcar e ficar de braços cruzados. feito0o0o0 VMD