sexta-feira, 16 de setembro de 2011

VÍTIMAS DA DITADURA: STUART EDGAR ANGEL JONES

Stuart Edgar Angel Jones era filho da estilista de alta costura Zuzu Angel com o norte-americano Norman Angel Jones. Nasceu em Salvador, em 11/01/1945 e cresceu no Rio de Janeiro. Era estudante de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo trabalhado também como professor. Em 18/08/1968, havia casado com Sonia Maria Lopes de Moraes e Moravam na Tijuca.

Era militante do Militante do MR-8

Foi preso por volta das 9h da manhã do dia 14 de maio de 1971, na avenida 28 de Setembro, em Vila Isabel, zona norte do Rio de Janeiro.

As circunstâncias de sua morte sob torturas foram narradas, em carta à sua mãe, Zuzu, pelo preso político Alex Polari de Alverga, que esteve com ele, preso na unidade da Aeronáutica, na Base Aérea do Galeão.

“Em um momento retiraram o capuz e pude vê-lo sendo espancado depois de descido do pau-de-arara. Antes, à tarde, ouvi durante muito tempo um alvoroço no pátio. Havia barulho de carros sendo ligados, acelerações, gritos, e uma tosse constante de engasgo e que pude notar que se sucedia sempre às acelerações. Consegui com muito esforço olhar pela janela que ficava a uns dois metros do chão e me deparei com algo difícil de esquecer: junto a um sem número de torturadores, oficiais e soldados, Stuart, já com a pele semi-esfolada, era arrastado de um lado para outro do pátio, amarrado a uma viatura e, de quando em quando, obrigado, com a boca quase colada a uma descarga aberta, a aspirar gases tóxicos que eram expelidos.”

Presume-se que os militares o torturaram com tamanha brutalidade porque pretendiam, através dele, chegar a Carlos Lamarca, recentemente integrado à organização.

Zuzu Angel procurou o filho infatigavelmente, abordando autoridades nacionais e internacionais e concedendo entrevistas a quantos veículos de imprensa tivessem a coragem de publicá-las. Conseguiu fazer chegar sua denúncia ao então senador Edward Kennedy, que levou o caso à tribuna do Senado dos Estados Unidos.

Pessoalmente, conseguiu entregar ao secretário de Estado Henry Kissinger, em visita ao Brasil em fevereiro de 1976, uma carta com a denúncia e um exemplar do livro de Hélio Silva, onde era relatada a morte de Stuart. Todos os principais jornais estrangeiros registraram o fato, em especial o Washington Post e Le Monde.

Zuzu foi morta, em março de 1976, sem nunca descobrir qualquer indício do paradeiro do filho. O desaparecimento de Stuart e a luta de Zuzu foram evocados por Chico Buarque e Miltinho na canção Angélica, de 1977, e levados ao cinema, em 2006, pelo diretor Sérgio Rezende, tendo a atriz Patrícia Pilar atuado como a mãe de Stuart.

No livro “Desaparecidos Políticos”, Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa escrevem:

“Para o desaparecimento do corpo existem duas versões. A primeira é de que teria sido transportado por um helicóptero da Marinha para uma área militar localizada na restinga de Marambaia, na Barra de Guaratiba, próximo à zona rural do Rio, e jogado em alto-mar pelo mesmo helicóptero. Mas, de acordo com outras informações, o corpo de Stuart teria sido enterrado como indigente, com o nome trocado, num cemitério de um subúrbio carioca, provavelmente Inhaúma.”

Muito mais que um exemplo de coragem, a estilista Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, foi uma mãe determinada a dizer ao mundo como é cruel ter um filho assassinado sob torturas e não ter o direito de sepultá-lo com dignidade.

Longe de ser uma ativista política, Zuzu Angel era apenas uma estilista reconhecida do Brasil e no exterior preocupada em fazer o seu trabalho.
Zuzu Angel gostava de mostrar aos amigos a última carta que recebera de seu filho:
“Mãe,
Você me pergunta se eu acredito em Deus e eu te pergunto, que Deus? Tem sido minha missão te mostrar Deus dentro do homem, pois, somente no homem ele pode existir.
Não há homem pobre ou insignificante que pareça ser, que não tenha uma missão. Todo homem por si só influencia a natureza do futuro. Através de nossas vidas nós criamos ações que resultam na multiplicação de reações.
Esse poder, que todos nós possuímos, esse poder de mudar o curso da história, é o poder de Deus. Confrontado com essa responsabilidade divina eu me curvo diante do Deus dentro de mim.

Adaptado do Jornal "O Berro"

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