terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O IMPÉRIO DAS ELITES


O maior império da antiguidade, o Império Romano, agonizou antes da queda final. Uma agonia que durou cerca de três séculos.

Apesar de ter o mundo inteiro interessado em sua queda, não foi nenhum inimigo externo que o derrubou. Não foram os povos “bárbaros” como eles chamavam os germânicos, uma nova arma ou um gênio militar. O que derrubou o maior de todos os impérios foram suas próprias contradições.

Roma adotou uma religião alienígena, do oriente, que fazia sucesso entre seu povo, a religião cristã. Negociou com lideranças inimigas. Subornou generais estrangeiros. Fortaleceu os limes com aliados de última hora e até mesmo dividiu o próprio império acreditando que seria mais fácil defender e preservar dois impérios menores.

Os políticos romanos fizeram tudo o que acharam possível fazer. Só esqueceram de olhar para dentro do próprio Império. Se assim o fizessem talvez percebessem que a causa de sua decadência estava na sua própria estrutura escravagista e na imensidão de miseráveis que construía em torno de um pequeno núcleo de privilegiados.

Ao não enfrentar suas mazelas tentou deter uma avalanche com meias-medidas.

Outros grandes impérios deram o mesmo exemplo.

A falta de humildade somada à fome insaciável de poder e manutenção de privilégios, construíram ao longo da história, sepulturas de povos e de líderes que só olhavam para fora, para o inimigo externo, nunca para suas próprias deficiências.

A história deveria ser a conselheira dos governantes, mas não é.

No Brasil, o núcleo de privilegiados que tomaram o estado como sua propriedade encastelam-se dentro de um mundo surreal.

Quando Getúlio Vargas aproximou-se das causas operárias reagiram com a soberba de quem não aceita vizinhos pobres em sua esfera mítica. Tanto infernizaram a vida do líder populista que acabou com o suicídio do presidente.

Antes mesmo de retornar a segurança de suas muradas de privilégios, porém, um novo “ataque” externo tirou o sono da casta de bem-nascidos do Brasil, com o fenômeno João Goulart e suas reformas de base.

Ao invés de olhar para si mesma e perceber as enormes contradições num país que cada vez mais se industrializava e se politizava, a casta reagiu novamente com a força do império. Chamou os militares e o golpe de 1964 desbancou Jango, o “bárbaro” e trouxe mais 20 anos de calmaria aparente para esses eleitos da fortuna.

Mas o fim da ditadura traria com forças redobradas as esperanças dos mais humildes, principalmente depois da enorme popularidade da Campanha Diretas-Já e da promulgação da Constituição Cidadã de 1988.

O império dos eleitos temia por sua sobrevivência e usando sua mais potente arma, a mídia, que fora tão útil na deposição/morte de Getúlio e de Jango, criou uma mentira e elegeu um presidente amigo em 1989.

Outros mitos viriam, como um presidente sociólogo, teórico esquerdista nos velhos tempos e o Plano Real.

O que o império não entendeu e continua não entendendo é que esses mitos televisivos são eficientes para empurrar as crises para debaixo do tapete, mas são ineficazes para trazer a paz que almejam, sendo que a paz que almejam é manter seus privilégios sem que a esquerda e seus molambos ameaçem tomar o poder.

Lula deveria ser o choque de realidade, fosse nossas elites minimamente capazes de ler nas massas populares o desejo de mudanças.

Os programas sociais, os estímulos a distribuição de renda soaram para essas elites como o grito dos Hunos deve ter soado aos ouvidos romanos. O início do fim. Do cataclismo. E isso, simplesmente porque a elite brasileira, uma das mais reacionárias do mundo continua vendo pobre e melhorias sociais como algo inimigo, contrário ao seu mundo.

O golpe parlamentar contra Dilma não demonstra que a guerra acabou, ao contrário, deixa claro que a paz está cada vez mais distante.

Tomar o poder do qual sentiam tanta saudade não resolve seus problemas. O uso da truculência tem prazo de validade

O que fazer com um presidente pífio que não consegue obter uma popularidade que chegue a dois dígitos? Como angariar popularidade com medidas neoliberais?

Como enganar a população trazendo notícias de desenvolvimento econômico se a crise, a mesma que já era difícil nos tempos de Dilma, ameaça ficar pior a partir do protecionismo republicano de Trump?

A elite brasileira faria melhor se olhasse para si mesma, mas parece que, humildade é algo que os poderosos do Brasil continuam desconhecendo, assim como desconheceram que a causa da instabilidade da monarquia era, que ironia, a manutenção das estruturas escravagistas.



Prof. Péricles







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