segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O MINISTRO MORTO E O AVISO


Assassinatos políticos são muito complicados, e perigosos.

O atentado que não dá certo pode denunciar seus autores e não apenas destrui quem o organizou mas afetar diretamente os interesses políticos e econômicos que lhe deram causa.

Por isso, apesar das teorias da conspiração, o assassinato político, é um recurso extremo, usado apenas por grupos que têm tanto a perder com a atuação de seus alvo que até vale à pena arriscar e isso, em política, onde inúmeros são os corredores que podem ligar amanhã os que hoje são rivais, é relativamente raro.

O suicídio de Vargas até hoje tem crentes em um assassinato.

Mas, politicamente isso seria totalmente improvável.

Vargas estava isolado, sem apoios significativos, sofrendo até ultimato dos militares para renunciar. Matar Vargas seria como gastar pólvora em caça morta. Arriscar tudo num jogo que já estava ganho.

Já o assassinato por briga na prisão de seu secretário e amigo particular, Gregório Fortunato, alguns anos depois, sim, tem as cores fortes de uma queima de arquivo, já que sua delação poderia arruinar muita gente que havia participado da farsa da Rua Toneleros e não tinha outra maneira de impedir o “Anjo Negro” de falar.

O assassinato político não é um assassinato de bandidos que brigam no botequim. Não é um ato impulsivo.

Interessante mesmo é a morte de João Goulart no exterior.

Jango estava numa situação complexo que justificaria um assassinato assim como não justificaria o risco.

Os donos do Brasil preparavam-se para escancarar o projeto inevitável de abertura política pondo fim à execrável ditadura militar. Jango, voltando, seria uma pedra no sapato dos que buscavam controlar essa abertura, mas, na ocasião não se poderia arriscar até onde essa pedra no sapato poderia ferir ou ser insignificante.

Mistério.

Agora, com a morte do ministro do STF novamente se discute se o acidente fatal foi mesmo um acidente ou se foi um atentado premeditado.

Além de fazer força para levar a sério as investigações que virão as perguntas que se devem formular é: havia algo que o ministro pudesse fazer que atingisse o interesse direto de grupos e que esses grupos não pudessem evitar de outra maneira?

Quem, no meio político poderia se sentir ameaçado pelo ministro? Havia nos processos de que era relator potencial para atingir interesses maiores, digamos mesmo, internacionais? Quais? Ele poderia levar adiante esse potencial ou era “negociável”?

No caso da morte do Ministro, a sociedade deve exigir uma investigação rigorosa, pois há elementos de potência para um crime político.

E se toda a aparência for de um acidente comum é bom lembrar Marx quando dizia “Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária”.

Para inviabilizar um governo e derrubar uma presidenta eleita, forças poderosas usaram de recursos imensos que prejudicaram até aliados, arruinaram grupos econômicos poderosos como o das construtoras e fabricaram uma crise econômica que teve a colaboração de muita gente.

Talvez o acidente seja apenas e tão somente, um aviso.

Correntes silenciosas movem-se no mar de lama que a política brasileira tem se transformado e vozes silenciosas as vezes gritam, mas é preciso ouvidos apurados para ouvi-las.

Ressentidas por 14 anos sem o poder, que consideraam uma propriedade sua, elas nos avisam: Não esqueçam de quem manda nessa maloca.





Prof. Péricles



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