domingo, 11 de setembro de 2011

MARCHAS E MARCHANTES

As passeatas promovidas, inicialmente em redes sociais (?), e depois com hora e trajeto intensamente divulgados pela mídia, chamaram a atenção nos últimos dias.

Inicialmente, todo mundo é contra a corrupção. Qual cidadão brasileiro a defenderia?

Fazer passeata contra a corrupção é como fazer passeata contra o câncer. Bonitinho, mas inócuo.

Mas, junto com a aparente unanimidade de um movimento assim constituído, podemos ter inúmeras segundas intenções, que, claro, é próprio da política e da politicagem.

O maior perigo de movimentos assim são seus desdobramenos conforme o interesse de quem os organiza.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento que nasceu dessa forma.

Auto denominando-se defensores da moral e dos bons costumes elegeram o governo do presidente João Goulart o responsável pela secular corrupção brasileira. De passagem, e não menos ímpeto, acusaram o presidente e seus auxiliares de comunistas. Assim, os defensores da moral uniram a corrupção à ideologia e a um governo. Tornaram-se proprietários puritanos da moral exigindo um golpe que derrubasse o poder constituído e salvasse a família brasileira.

A marcha, promovida pelas mulheres mineiras e que depois se alastrou por vários estados, clamou pelo golpe militar de 64. Segundo muitos foi ela que fez optar pelo golpe até militares que, inicialmente, eram contra ele, como o General Castelo Branco.

Pois deu-se o golpe e a corrupção não desapareceu.

Seguiram-se 20 anos de trevas e autoritarismo. Foram-se os antigos corruptos e novos tomaram seu lugar. Aliás, esse é o procedimento de todas as ditaduras: afastar os corruptos inimigos e colocar no lugar os corruptos amigos.

Não se pode partidarizar a corrupção. Ela é tão antiga quanto o Brasil e mais global do que o sistema financeiro. Não se pode permitir essa partidarização, pois isso é burro, injusto e desconhece a história do Brasil.

Na verdade, a corrupção começa na própria forma com que nosso sistema político está organizado, principalmente, nas questões de financiamento das campanhas eleitorais. É aí que os conchavos, acordos e alianças de interesses fazem nascer compromissos que mais tarde realimentarão o processo da corrupção.

Em vez de passeatas vazias deveríamos sair às ruas exigindo uma reforma política profunda, que torne absolutamente claro os investimentos de campanha. Que criasse o sistema unicameral extinguindo o senado que nunca serviu pra nada maior em nosso país já que nunca fomos realmente uma federação. Isso, por si só já traria um controle relativo que atualmente é impossível.

Em vez de passeatas contra o óbvio faria melhor o cidadão brasileiro sair às ruas quando elementos de um partido ameaçassem a presidenta de uma derrota no Congresso se continuasse a “limpa” em seu ministério.

Além disso, deveríamos trabalhar solução desse problema da corrupção no mesmo lugar onde nascem todos os nossos problemas e suas soluções: o nosso íntimo.
Não podemos exigir um sistema político e uma máquina administrativa menos corrupta enquanto nós mesmos não nos reformarmos no exercício da cidadania.

Não pode um povo que fura fila, que estaciona em fila dupla, que burla a Lei sempre que possível, que busca vantagem em tudo, que oferece propina à autoridade para obter vantagens, querer um congresso límpido como um coral de anjos.

Na verdade, cada congresso espelha fielmente seu próprio povo.

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