domingo, 22 de março de 2015

CÉSAR E CESÁREAS


Antigamente todos os partos eram normais. A “cesariana”, parto do “útero rasgado” que implica “corte, incisão” só era praticada na antiguidade após a morte da mãe, visando salvar o feto ainda com vida.

Uma versão, sem aceitação histórica, mas aceita há muito tempo, afirma que a expressão “cesariana” teve origem no nascimento do General e ditador romano, Júlio Cesar (100 – 44 aC).

Tudo aponta que César nasceu de parto normal. Sua mãe, Aurélia, não apenas sobreviveu ao parto como ainda teve mais cinco filhos depois dele.
Já Plínio, o Velho, afirmava que não César, mas seu pai, teria nascido dessa forma.

O primeiro parto cesáreo, aceito como tal historicamente, ocorreu em 1500, em na cidade suíça de Sigershaufen, e foi realizada pelo próprio pai em sua esposa. Jacob, esse era o nome dele, homem simples, habituado a castrar porcas, vendo o sofrimento da esposa no momento do parto resolveu, impedir, de alguma forma, a morte da esposa que se tornava evidente. Auxiliado por duas horrorizadas parteiras, fez uma incisão em sua amada, retirou o rebento, e, como fazia com as porcas que castrava, fechou o corte.

Mãe e filho se recuperaram bem e nunca tiveram qualquer problema devido ao parto.

Somente no século XVIII é que esse tipo de parto tornou-se uma prática obstétrica, na França, e foi lá que foi batizado de cesariana, numa evidente homenagem a César.

No Brasil, assiste-se a uma verdadeira epidemia de cesarianas.

Nove de cada 10 partos, hoje, são feitos dessa maneira.

Embora existam muitos mitos que façam a cabeça feminina sobre o quanto a cesárea seja melhor do que o parto normal, a causa dessa equação desproporcional, muito provavelmente, seja mesmo, econômica.

Enquanto o custo de um parto normal pelo Sistema Único de Saúde é de R$ 291 a cesariana custa cerca de R$ 402. O valor, nos convênios privados, pode variar conforme a operadora do plano, ainda mais, sendo essa, a maior beneficiada.

Desde 2005, quando se descobriu que as mulheres com plano de saúde em quase sua totalidade faziam cesarianas, o governo federal tem pressionado as operadoras a reduzir as taxas. Passados dez anos, quase nada mudou e, o pior, o Brasil até agora não sabe ao certo em qual frente deve trabalhar para reverter a situação, já que os fatores de escolha pelo parto cesáreo são múltiplos.

A grande reclamação das mulheres, porém, é de que os médicos induzem ao parto cesáreo. Talvez isso

ocorra, porque além de ser mais lucrativo a cesárea é mais cômoda para o médico já que este procedimento dura cerca de duas horas enquanto um parto normal pode durar 12 horas.

Diante de dados que indicam que a cesariana, quando não há indicação médica, aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe e ainda que de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no país estão relacionados à prematuridade, o Ministério da Saúde resolveu jogar duro.

O Ministério juntamente com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou uma resolução em janeiro desse ano que estabelece normas para o estímulo ao parto normal e a consequente diminuição das cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As operadoras receberam 180 dias para se adaptar às mudanças.

As novas regras ampliam o acesso à informação, já que as consumidoras poderão solicitar aos planos os percentuais de cirurgias cesarianas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico obstetra. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Em caso de descumprimento, será aplicada multa no valor de R$ 25 mil.

Outra norma prevê a obrigatoriedade de as operadoras fornecerem o cartão da gestante, no qual deve constar o registro de todo o pré-natal. Dessa forma, de posse do documento, qualquer profissional de saúde terá conhecimento de como se deu a gestação, facilitando o atendimento à mulher quando ela entrar em trabalho de parto.

Segundo o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, “não dá para continuar tratando como normal aquilo que não é normal, que é o parto cesariano”.

É um assunto polêmico, que envolve o emocional das parturientes e o necessário nível de informação de cada uma delas.

A ideia é que, com essas medidas, haja uma reavaliação dos responsáveis por momento tão sublime da vida.

A César o que é de César e as brasileiras, o seu direito de escolha.


Prof. Péricles

sábado, 21 de março de 2015

O PT PERDE A SUA ALMA



Por Celso Lungaretti


O PT em seu manifesto de fundação, em fevereiro de 1980, cuspia fogo:

“…O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo“.

Infelizmente, bastou um resultado eleitoral insatisfatório em 1982 para começar a metamorfosear-se num partido da ordem, que expurgou uma a uma as tendências revolucionárias existentes no seu seio para tornar-se respeitável aos olhos dos eleitores preconceituosos.

Escancararam-se as portas para carreiristas e oportunistas de todos os matizes; o inchaço alterou a correlação de forças dentro do partido, desideologizando-o cada vez mais. As vitórias eleitorais, demeio, passaram a ser vistas como fim, a ser perseguido com unhas, dentes, indignidades e golpes baixos. Lula, que acusara Brizola de pisar até no pescoço da mãe para alcançar a Presidência da República, não hesitou em fechar os acordos mais podres e confraternizar com os piores inimigos de outrora, ao sabor das conveniências momentâneas.

Esquemas corruptos brotaram desde as primeiras prefeituras importantes assumidas e, no rumoroso caso Paulo de Tarso Venceslau x Roberto Teixeira, em 1998, o PT tomou a deplorável decisão de expulsar um militante idealista que denunciava falcatruas e livrar a cara do empresário calculista que operava tais esquemas, um laranja podre que teria sido, inclusive, torturador do delegado Sérgio Fleury. Foi a senha para o liberou geral substituir o tradicional desapego pessoal dos quadros comunistas formados na velha escola do partidão.

Em 2002 o PT perdeu de vez sua alma, ao pactuar com os Mefistófeles de plantão que, se lhe fosse permitido assumir a Presidência da República após a previsível vitória eleitoral, não confrontaria o poder econômico, abdicando das decisões realmente importantes e limitando-se a gerenciar o varejo. Com o grande capital ditando a bel prazer as diretrizes macroeconômicas, nunca dantes neste país os lucros dos bancos, p. ex., foram tão escandalosos, com os recordes da agiotagem legalizada sendo anunciados triunfalmente pelo Bradesco e Itaú em quase todo mês.

Uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável ao Brasil permitiu que os governos do PT na década passada dessem um tiquinho mais aos pobres sem tirar nada dos ricos, então todos ficaram felizes, com exceção da classe média, cujos integrantes mais prosaicos lamentavam perda de status e indignavam-se com a corrupção escancarada, enquanto seus melhores rebentos desiludiram-se com o abandono dos ideais igualitários e da postura de superioridade moral por parte do PT. Ver Lula aos beijos e abraços com os Sarneys, Malufs, Collors, Renans, Barbalhos e ACMs da vida sempre deu vontade de chorar!

Se jogasse limpo, é bem provável que coubesse a Marina ou a Aécio a tarefa espinhosa e antipática de promover um ajuste recessivo, ficando o PT com prestígio intacto e caminho desimpedido para voltar ao poder com Lula em 2018.

Agora, o PT está colhendo o que plantou. Por Dilma haver jurado de pés juntos que não imporia aos trabalhadores os odiosos rigores do receituário neoliberal, atribuindo tais sinistros desígnios aos adversários, não tem moral nenhuma para exigir sangue, suor, trabalho e lágrimas dos brasileiros. Muito menos com a roubalheira da Petrobrás presente o tempo todo no noticiário.

O PT não conseguirá atravessar incólume os mares turbulentos que nos separam de 2018. Precisa dividir as responsabilidades do poder (formando um gabinete de crise ou articulando um governo de união nacional) ou delas abdicar de uma vez por todas (com a renúncia de Dilma).

Os augúrios serão os piores possíveis se o PT continuar cometendo erros crassos em cascata –como o de escalar ministros inexpressivos para falarem mais do mesmo quando o impacto das manifestações do dia 15 exigia um pronunciamento presidencial e uma verdadeira resposta ao clamor popular.

Como os técnicos de futebol, o PT tem de tirar um ano sabático para reciclar-se, preparar um novo repertório e, quem sabe, voltar a vencer. Neste momento, só tem desastres e fiascos pela frente.



Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar e participou da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia.

sábado, 14 de março de 2015

ESTAMOS VIVOS OU MORTOS?



Todo o ser vivo neste planeta é composto de células. Basicamente, uma célula é um robô feito de proteínas pequeno demais para sentir ou experimentar o que quer que seja. Essas são as características que definimos para a vida:

• Ela tem uma barreira que a separa das redondezas, criando ordem;
• Ela se ajusta e mantém um estado constante;
• Ela come coisas para se manter viva;
• Ela cresce e se desenvolve;
• Ela reage ao ambiente;
• E é sujeita à evolução;
• E ela produz cópias de si mesma.

Mas de todas as coisas que se constroem uma célula, nenhuma é viva. Materiais reagem quimicamente com outras coisas, formando reações que iniciam outras reações que iniciam outras reações.

Numa única célula, todo segundo vários milhões de reações químicas ocorrem, formando uma harmonia complexa. Uma célula pode fazer milhares de tipos de proteínas: algumas muito simples, outras como máquinas complexas e muito pequenas.

Imagine dirigir um carro a 100km/h enquanto constantemente reconstrói todas as partes dele com coisas que encontra pela rua. Isto é o que células fazem. Mas nenhuma parte da célula está viva; tudo é matéria morta movida pelas leis do universo.

Eventualmente, tudo que é vivo viva morrerá. O objetivo do processo todo é prevenir isso produzindo novas entidades; ou seja, com o DNA. A vida é, de certa forma, apenas um amontoado de coisas que carregam a informação genética por aí. Toda forma de vida está sujeita à evolução, e o DNA que desenvolve a melhor forma de vida para si continuará no jogo.

Então o DNA é a vida?

Se você considerar o DNA fora de seu invólucro, certamente será uma molécula muito complexa, mas que não pode fazer nada por si própria.

É aí que os vírus complicam as coisas. Eles são basicamente cadeias de RNA ou DNA num invólucro pequeno e precisam das células para conseguirem fazer qualquer coisa. Nós não sabemos se devemos considerá-los vivos ou mortos. Ainda assim, há 225 milhões m³ de vírus na Terra. Eles parecem não se importar do que pensamos deles.

Há ainda vírus que invadem células mortas e as reanimam assim elas podem hospedá-los, o que embaça a linha ainda mais.

Ou mitocôndrias. Elas são as usinas das células mais complexas e eram bactérias independentes que formaram uma parceria com células maiores. Elas ainda têm seu próprio DNA e podem se multiplicar por si próprias, mas elas não vivem mais; elas estão mortas.

Assim elas trocaram a própria vida para a sobrevivência do seu DNA, o que significa que formas de vida podem evoluir para coisas mortas contanto que seja benéfico para seu código genético.

Assim, talvez a vida seja uma informação que conduz a garantia de que haja uma existência contínua.

Hum, ok. O que é a vida então?

Coisas, processos, DNA, informação? Isto pode se tornar confuso rapidamente. Há uma certeza: a idéia que vida é fundamentalmente diferente de coisas mortas porque elas contêm algum elemento não físico ou são governados por princípios diferentes dos objetos inanimados acabou sendo errada.

Antes de Charles Darwin, os humanos definiram uma linha entre si próprios e o resto das formas de vida; havia algo mágico sobre nós que nos fazia especiais. Quando tivemos que aceitar que somos como qualquer outra forma de vida, um produto da evolução, nós definimos uma linha diferente.

Mas quanto mais aprendemos o que computadores podem fazer e como a vida funciona, mais nos aproximamos de criar a primeira máquina que se encaixa na nossa descrição de vida, e mais a imagem de nós mesmos corre risco novamente. E isto acontecerá cedo ou tarde.

E aqui está outra questão para você: se tudo no universo é feito da mesma coisa, isso significa que tudo no universo está morto ou que tudo no universo está vivo?

Esta é uma pergunta complexa?

Isto significa que nunca morreremos porque, em primeiro lugar, nunca estivemos vivos? É a vida e morte uma questão irrelevante e nunca notamos? É possível que nós somos uma parte do universo maior do que imaginamos?

Não olhe para nós. Não temos nenhuma resposta para você. São apenas questões para você pensar.

Afinal, é se pensando em questões como estas que nos faz sentir vivos e nos dá algum conforto.


Texto vertido por Amara.org, via Gizmodo

quinta-feira, 12 de março de 2015

ESTADO ISLÂMICO, FRANQUIA DO INFERNO



Quando a “Primavera Árabe” apareceu no cenário mundial, trazia promessas de novos tempos para a sofrida população dos países muçulmanos.

Esperava-se que o processo iniciado na Tunísia, em 2010, representasse o início de uma nova era, algo assim, o que representou a Reforma Religiosa e o Iluminismo para o Ocidente.

Liderados, na maior parte, por grupos estudantis, portanto, majoritariamente, jovens, a “Primavera Árabe” prometia trazer consigo a tolerância religiosa, a democracia, quem sabe até, promover uma troca dos estados fundamentalistas por estados laicos.

Doce sonho, amargo despertar.

O tempo encarregou-se de mostrar as duas faces negras escondidas sobre o véu de Alá.

Primeiro, uma faminta interferência internacional, liderada pelos Estados Unidos, e seguidos de perto pela OTAN. Tal interferência espúria, decidiu, com o uso da força, os caminhos seguidos pelos movimentos.

Segundo, a existência de grupos oportunistas dentro desses movimentos, mas, apoiados pelos Estados Unidos e OTAN, que longe de promover a tolerância e a liberdade, trouxeram ainda mais radicalismos e terror.

O grupo jihadista (Jihad = Guerra Religiosa) Estado Islâmico (EI), desde o início de 2014, vem obtendo vitórias militares e anexando territórios aos seus domínios, situados, parte no Iraque, parte na Síria, aproximando-se perigosamente da fronteira com a Turquia.

No dia 29 de agosto de 2014, o Estado Islâmico proclamou que seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, havia se autoproclamado “califa do Oriente Médio”.

Nos meses seguintes eles iriam invadir os telejornais ocidentais com imagens de execuções “ao vivo” através de decapitações e até da queima de um piloto de caça jordaniano, abatido na Síria.

Além das execuções comprovadas, são ainda acusados de prática tenebrosas como mutilações, crucificação, estupro de mulheres e crianças, além da destruição de patrimônio histórico internacional.

Sua capital é Mossul, cidade ao norte da Síria, mas destacam-se ainda as cidades de Tal Afar, Kikut e Tkrit (cidade natal de Saddam Hussein).

De uma forma assustadora, esse grupo ultra fundamentalista consegue atrair a atenção de jovens europeus, especialmente, franceses, gregos e italianos para enfileirarem-se com eles como voluntários em sua guerra santa.

De onde nasceu o estado Islâmico?

Por que, de forma tão repentina, tornam-se ameaça a paz global?

A resposta é tão triste quanto previsível: da interferência do ocidente nos assuntos internos dos países do Oriente.

O Iraque foi invadido por tropas norte-americanas que apenas recentemente, literalmente, abandonaram seus aliados e o país à própria sorte.

Divididos por muito ódio entre sunitas, xiitas e curdos, e sem o seu presidente Saddam Hussein, morto durante a invasão, o Iraque é hoje um “saco de gatos” irreconhecível e irreconciliável. Conquistar o apoio de desesperados e tomar generosas fatias do país não foi difícil para o EI.

A Síria queda-se numa guerra civil que já matou centena de milhares de pessoas. De um lado o presidente inimigo dos Estados Unidos, Bashar al-Assad e seus aliados. De outro, tropas de “rebeldes” e mercenários de multinacionalidades, armados e treinados pela OTAN. Para complicar ainda mais o caos, China e Rússia, além do Hezzbolah, estão com o presidente.

Por sua vez, não custa lembrar que o “Estado Islâmico” nasceu de uma divisão na Al-Qaeda, grupo fundado por Osama Bin Laden sob os auspícios da CIA e do governo norte-americano, nos anos 80.

Ou seja, o ocidente construiu seu próprio pesadelo, que recentemente chegou até a França para matar cidadãos franceses em um jornal popular.
Mas, daí não podemos pensar que tudo seja uma sequência de azar dos mentores ocidentais a golpes e intervenções.

Não. Na verdade, tudo faz parte de um plano maior que visa desestabilizar completamente a região mais importante para a produção de energia do globo e criar uma espécie de franquia do inferno, administrada por Washington.

Desgraças, não existem na política internacional. Tudo são consequências das ações planejadas e executadas, num contexto de dominação e de interesses.

Prof. Péricles

segunda-feira, 9 de março de 2015

MULHER CELTA


O povo celta organizava-se em múltiplas tribos e ocupava quase toda a Europa ocidental, especialmente regiões que hoje identificamos como França, Bélgica e algumas ilhas britânicas.

Povo misterioso, de cultura avançada em comparação aos demais povos de seu tempo. Possuíam como sacerdotes os druidas e adoravam as forças da natureza, especialmente, as árvores.

Combateram (homens e mulheres) como gigantes a expansão do império Romana deixando lições de heroísmo e coragem, refletidos até hoje em vários contos da literatura europeia.

Sua influência na cultura ocidental foi combatida pela Igreja Cristã que a considerava influência pagã perigosa.

Viam a mulher de uma forma única em seu tempo.

Observe o texto abaixo, retirado de uma inscrição Celta para entender melhor o pensamento desse povo extraordinário:


“Ama teu homem e o segue, mas somente se ambos representarem, um para o outro, o que a Deusa Mãe ensinou: Amor, companheirismo e amizade”

Jamais permita que algum homem a escravize: você nasceu livre para amar, e não para ser escrava.

Jamais permita que o seu coração sofra em nome do amor. Amar é um ato de felicidade, por quê sofrer?

Jamais permita que seus olhos derramem lágrimas por alguém que nunca lhe fará sorrir!

Jamais permita que o uso de seu próprio corpo seja cerceado. Saiba que o corpo é a moradia do espírito. Por que mantê-lo aprisionado?

Jamais se permita ficar horas esperando por alguém que nunca virá, mesmo tendo prometido!

Jamais permita que o seu nome seja pronunciado em vão por um homem cujo nome você sequer sabe!

Jamais permita que o seu tempo seja desperdiçado com alguém que nunca terá tempo para você!

Jamais permita ouvir gritos em seus ouvidos. O Amor é o único que pode falar mais alto!

Jamais permita que paixões desenfreadas a levem de um mundo real para outro que nunca existiu!

Jamais permita que outros sonhos se misturem aos seus, tornando-os um grande pesadelo!

Jamais acredite que alguém possa voltar quando nunca esteve presente!

Jamais permita que seu útero gere um filho que nunca terá um pai!

Jamais se permita viver na dependência de um homem como se você tivesse nascido inválida!

Jamais se ponha linda e maravilhosa a fim de esperar por um homem que não tenha olhos para admirá-la!

Jamais permita que seus pés caminhem em direção a um homem que só vive fugindo de você!

Jamais permita que a dor, a tristeza, a solidão, o ódio, o ressentimento, o ciúme, o remorso e tudo aquilo que possa tirar o brilho dos seus olhos, a dominem, fazendo arrefecer a força que existe dentro de você!

E, sobretudo, jamais permita que você mesma perca a dignidade de ser... MULHER!



Prof. Péricles
FONTE: http://vickcris.blogspot.com.br/mulheres-celtas.html

quinta-feira, 5 de março de 2015

O SERIAL KILLER DA RUA DO ARVOREDO




Porto Alegre, 18 de abril de 1864, 10 horas da manhã.

O Chefe de Polícia da cidade, Dario Rafael Callado, não consegue deixar de resmungar. Ha dias a cidade está tensa e perplexa com uma série de desaparecimentos. O último foi de um menino de apenas 14 anos, José Ignácio, caixeiro (espécie de ajudante) de outro desaparecido, o comerciante português, Januário Martins Ramos da Silva.

A pressão da população, e até das autorizados, para que a policia encontrasse respostas estava se tornando insuportável.

Por isso, enquanto o carro sacolejava pelas pedras da Rua do Cotovelo (atual Riachuelo), em direção à rua da Ponte (atual Borges de Medeiros), o chefe de polícia resmungava o que poderia ser uma oração, pedindo ajuda do céu.

Alguns moradores da Rua do Arvoredo (atual Fernando Machado) relataram que um cachorrinho preto, idêntico ao do menino desaparecido, havia ficado por dias latindo na porta de uma residência e dormido ao relento, como se esperasse o retorno de seu dono, até que, misteriosamente, o próprio cachorrinho sumira. Quem sabe a polícia dava uma olhada? Talvez fosse o cachorro querendo chamar a atenção, enfim... lá se fora Dario Rafael, mas sem muitas esperanças de encontrar qualquer coisa além de um vira-lata inconveniente.

Ao chegar na Rua do Arvoredo (era conhecida assim pelas inúmeras árvores centenárias em praticamente toda sua extensão) o carro da polícia estacionou na frente do endereço indicado.

Ninguém veio atender e com uma ordem judicial nas mãos, o agente público forçou a entrada e penetrou em seus sombrios recintos.

Após duas horas de investigações o sentimento de toda a equipe era horror e repugnância.

Um cadáver foi encontrado no porão, em avançado estado de putrefação. A vítima, mais tarde, foi reconhecida por um brinco que usava. Tratava-se do açougueiro alemão Carlos Klaussner, antigo proprietário daquela mesma residência, onde mantinha um açougue. Seu corpo havia sido retalhado, com a cabeça e membros separados do corpo.

Nos fundos da casa, num poço desativado, foi encontrado o corpo do taverneiro Januário Ramos da Silva e de seu caixeiro, igualmente esquartejados. Junto aos dois o cadáver do cãozinho preto rasgado da garganta ao ventre.

Foram encontrados ainda, vários objetos de uso pessoal dos desaparecidos, além de restos humanos nunca devidamente identificados.

José Ramos, ex-inspetor de polícia de Santa Catarina, que teria comprado (ou alugado) a casa, foi localizado e preso. No mesmo dia, na cadeia, confessou todos os crimes além de apontar sua companheira Catharina Palse, como cúmplice.

A polícia passou a ligar os fatos e a montar o macabro quebra-cabeça.

José Ramos, chegou a Porto Alegre um ano antes e alugou (ou comprou) a residência de Carlos Klaussner, que continuou gerenciando um açougue no térreo do local.

Catarina era uma bela moça recém chegada à capital. Descobriu-se depois que, com apenas 12 anos, assistiu a morte de toda sua família pelas tropas russas que invadiram seu país, a Hungria. Sobreviveu, mas foi agredida e estuprada por vários homens. Aos 15 anos, casou-se com Peter Palse, e ambos resolveram vir para o Brasil. Ainda no navio seu marido se suicidou, e a jovem se viu sozinha em um país que não conhecia. Provavelmente, chegou ao Rio de Janeiro antes de se transferir para Porto Alegre.

No início de 1864, José Campos e Catarina Palse conheceram-se e, aparentemente, apaixonaram-se. Passaram a viver juntos na Rua do Arvoredo.

José Ramos gostava de ostentar cultura. Era comum vê-lo nos espetáculos do Teatro São Pedro, recém inaugurado. Gostava de música e era ávido leitor de jornais e livros. Trajava-se de forma sóbria e elegante. Porém, sobre a aparência simpática e bem falante escondia-se um serial killer tenebroso.

Segundo uma versão, ele teria confessado após algumas taças de vinho, ao alemão, seu desejo de matar, desde que não fosse descoberto. Bêbado, o Klaussner teria brincado que, como açougueiro ele sabia perfeitamente como fazer os corpos das vítimas desaparecerem sem deixar pistas. Bastaria transformá-los em linguiça.

Infelizmente, a conversa de bêbados tornou-se uma armadilha fatal.

José Ramos, mentiroso e inteligente, atraia homens, em sua maioria imigrantes alemães sem parentes na cidade e com algum bem que pudesse ser roubado, até o endereço na rua do Arvoredo. Os homens eram bem acolhidos pela bela Catharina que, num macabro ritual, servia um belo prato de comida ao visitante. Após o jantar era levado até a poltrona na sala. Ela saía e Ramos entrava no recinto armado de um machado. A vítima era massacrada com golpes na cabeça, sem chance de defesa.

Depois, no porão, o corpo era esquartejado, cortado em fatias e o açougueiro Klaussner fazia linguiças. Os ossos eram queimados ou jogados no rio Guaíba.

Com um macabro prazer, José Ramos vendia apenas para a elite e por um bom preço, as linguiças que, em pouco tempo originou uma clientela fiel.

Por algum motivo, Ramos e Klaussner brigaram e esse foi morto pelo ex-policial. O corpo foi totalmente retalhado, mas Ramos descobriu que não sabia fazer as linguiças, então, a vítima foi escondida no porão, onde acabaria sendo localizada delatando o crime.

Na Porto Alegre do século XIX os escândalos que atingiam as elites eram, rapidamente, escondidos, por isso, o chefe de Polícia foi exonerado, provavelmente por não aceitar encobrir os fatos e o inquérito passou a ser vago nos pontos mais macabros.

Seria duro demais para nossa aristocracia reconhecer ter consumido carne humana com voracidade.

Quais as reais motivações de José Ramos e Catharina Palse?

Vingança? Ódio? Desprezo? Dinheiro, apenas?

Infelizmente, o medo da verdade foi maior que a vontade de esclarecer os fatos, e os Crimes da Rua do Arvoredo permanecerão para sempre envoltos numa espessa capa de mistérios e segredos.

O número verdadeiro de vítimas nunca foi revelado.


Prof. Péricles

NOTAS:

01. Suspeita-se que José Ramos tenha chegado a Porto Alegre por estar fugindo de um crime hediondo. Ele teria assassinado o próprio pai.

02. A linda Catharina Palse, lavou todas as manchas de sangue que ficaram na casa, usufruiu dos ganhos ilícitos dos crimes, já que foi vista adquirindo roupas caras e joias, possivelmente do dinheiro das vítimas, respondeu como cúmplice e foi condenada a 13 anos e quatro meses de prisão. Cumpriu na íntegra sua pena. Pouco tempo depois foi recolhida nas ruas muito doente. Passou anos num hospício. Possivelmente se suicidou em 1891 sendo enterrada como indigente no cemitério da Santa Casa.

03. José Ramos seria condenado a forca ou prisão perpétua, mas solicitou alistamento na Guerra do Paraguai e prometeu silêncio sobre seus crimes, o que lhe garantiu indulto. Sobreviveu à guerra, retornou a Porto Alegre, por onde perambulou, sem amigos, até morrer alguns anos depois, provavelmente de tuberculose.

04. José Ramos e Catharina Palse, que se saiba, jamais se reencontraram depois da prisão.

05. O assassinato do caixeiro, o menino José Ignácio, foi o único sem propósitos premeditados, sendo caracterizado como queima de arquivo, assim como seu fiel cachorrinho.

06. Charles Darwim, naturalista britânico relatou os crimes da rua do arvoredo num seminário, para exemplificar como o homem, em sua psique, ainda está próximo da bestialidade.

07. O endereço exato da casa maldita foi, deliberadamente esquecido, havendo apenas indicações de sua localização, ao lado das escadarias (FOTO).

08. Segundo o historiador Décio Freitas, autor de um livro sobre o assunto, “O Maior Crime da Terra”, os processos estão incompletos, faltam folhas, é de difícil leitura e as folhas faltantes nos autos são, justamente, as que poderiam dar algum indício sobre a veracidade das tais linguiças, ou não.

segunda-feira, 2 de março de 2015

CHEIRO DE ROSAS



Ela disse pra ele que não iria chorar.

Seu projeto de mulher moderna incluía uma resistência às lágrimas, como se elas representassem aquela fragilidade feminina que ela abominava.

Ele começou algo que deveria ser um sorriso, mas ficou suspenso e preso a um olhar para o cigarro entre seus dedos.

Não fora bem isso que havia planejado, embora nunca planejasse nada mesmo.

Ela o olhou com aquele jeito tão dela, de quem gritar calada.

E agora, pensou ele enquanto dava uma tragada que servia como fuga, para ganhar mais um tempo para pensar.

Deveria dizer “te amo, não vá”? Mas... não amava.

Deveria dizer “eu vou contigo”? Mas... não queria ir.

O que diria nessa hora seus heróis imaginários. Seu modelo de homem seguro que ele tentava criar pra si?

Nenhum herói imaginário assaltou seus pensamentos com alguma fórmula mágica.

E ele ficou do jeito que estava, olhando a brasa consumir lentamente o cigarro.

De certa forma, tudo já tinha sido dito, na note passada.

Ela arrumou os cabelos daquela maneira que nenhuma mulher repete e sorriu.

Aproximou-se e uma de suas mãos tocou seu peito.

Ele sentiu levemente a dor pela mordida bem ali, na noite anterior.

Ele não lembra bem se houve o beijo, aliás, houve, mas não lembra do gosto.

Talvez despedida não tenha gosto ou tenha gosto de nada.

Mas ficou o cheiro. Aquele leve cheiro de rosas que ela emanava, como se fosse dela, vindo de sua essência e não apenas um perfume que se joga ao corpo após o banho.

Ainda lembra de sua última frase, “não desista de seus sonhos””.

Então ela se afastou.

Por alguma razão ele não teve coragem de vê-la partir, como se, ao não vê-la sumir ela jamais sumisse de verdade de sua vida, como a criança que pensa que não vendo vovô morto, vovô jamais morrerá.

E ela continuou se afastando misturada aos últimos passageiros que pegavam o mesmo ônibus.

Ele nunca mais a viu.

Ao menos em realidade, pois em sonhos continuou aparecendo e mordendo seu peito, no mesmo lugar, trazendo o mesmo cheiro de rosas, provocando a mesma leve dor, por algum tempo.

Até que os sonhos foram rareando, e também desapareceram.

Ele fez história, depois casou e teve filhos, foi um bom cidadão.

Ela fez a história e foi vista pela última vez em algum canto de uma suja delegacia daqueles tempos sujos.

Sua alma permanece viva entre os cipós e igarapés e parece que o vento quando sopra sussurra seu nome.

Faz parte de uma estatística inacabada, dos desaparecidos, num país que evita encontrar seus fantasmas para não ter que explica-los.

Ele ainda fuma e vê em todas as brasas a mesma brasa que usou para ganhar tempo como se se fosse a mesma e jamais se apagasse.

Talvez por isso nunca tenha pensado em parar de fumar.

“Não desista dos teus sonhos”.

Ele sorri amargo enquanto sente o cheiro de rosas.


Prof. Péricles


sábado, 28 de fevereiro de 2015

CATARINA, A RAINHA


Em 1580 Portugal ficou sem Rei. D. Sebastião morrera jovem dois anos antes, sem deixar herdeiros e seu tio-avô D. Henrique, um ancião, vivera apenas 2 anos com a coroa.

Filipe II, rei da Espanha e primo-irmão de D. Sebastião pretendeu a Coroa e o povo lusitano estremeceu, pois, considerava ser inadmissível ser governado por um rei estrangeiro, ainda mais da vizinha e arquirrival, Espanha.

Mas, você sabe, o que vale é dinheiro e no capitalismo lucro não tem pátria. A classe mercantil seduzida pela oportunidade de participar dos negócios das minas espanholas na América e seu ouro interminável, apoiou lipe (assim mesmo, cheios de intimidades).

Seguiram-se 3 reis, três Filipes, Filipe II, Filipe II e Filipe IV, e 60 anos que os modernos portugueses chamam de “Domínio Espanhol” o período em que Portugal, literalmente, perdeu a independência.

Quando Filipe IV morreu os mercadores portugueses chegaram à conclusão que o negócio de vender o país já não era mais rendoso (afinal, a Espanha derrotada pelos ingleses já não era aquela fonte de ouro toda) e resolveram recuperar a autonomia.

Seguiu-se uma guerra entre Portugal e Espanha de fácil previsão: Portugal seria derrotado.

Para que isso não acontecesse a nobreza lusitana pediu socorro aos ingleses e, esses, bonzinhos como sempre, aceitaram apoia-los na guerra, porém, exigiam o casamento de uma das filhas do rei de Portugal com o seu próprio rei, Carlos II.

Carlos II queria muito o casamento. Primeiro porque a princesa em questão, Catarina, era uma gatinha (dizia a Caras da época que era a Princesa mais bela de todas as princesas da Europa). Depois porque, o dote exigido era irrecusável. Na verdade, foi o maior dote que se tem notícias na Europa.

Seu valor era altíssimo e incluía a posse da cidade de Tanger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia. Podemos dizer que, a partir da aceitação dos portugueses, a Inglaterra tornou-se um império enquanto o império português perdeu para sempre seu esplendor.

Foi um autêntico golpe do baú em grande estilo e justificaria uma infinidade de piadas sobre a pouca inteligência dos patrícios.

A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.

Para a linda Catarina de Bragança (gravura) era como entrar no inferno.

Fora educada numa das cortes mais elegantes e cultas e passaria a sobreviver numa corte (a inglesa) rude e atrasada para os padrões da época.

Apesar disso, e das saudades que carregaria para sempre de sua terra e de sua gente, Catarina não se prostrou num canto do palácio para chorar as pitangas. Ao contrário, foi a luta para transformar o seu, então, novo mundo.

Mesmo sendo hostilizada o tempo todo (principalmente pelas mulheres), por ser linda (entendeu agora?) e por ser estrangeira, Catarina, não desistiu e teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses.

Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.

Catarina adorava chupar uma laranja e foi ela quem introduziu essa fruta, que recebia em cestos enviados por sua mamãe, nas frias terras inglesas.

O mais britânico dos costumes (não, não estou falando em torcidas se matando nos estádios) o chá das 5, surgiu do hábito de Catarina de organizar reuniões com amigas (e inimigas, queridas, claro) nesse horário, para saborearem chá, numa espécie de trégua que só mulher entende.

Gata como só ela, introduziu a saia curta. Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés de lancha das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas e mais ódios.

Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar e nem por isso deixou de ser admirada pela feminilidade, ao contrário, parecia ainda mais linda.

Coisa que ela abominava nos ingleses era o hábito de comer com as mãos, inclusive o Rei, embora o garfo já fosse conhecido. Claro que quem manda em casa é o homem, mas, Catarina tanto incomodou (provavelmente com dor de cabeça crônica e ameaças de chamar a mamãe pra morar com ela) que o rei acabou ordenando que todos comecem com garfo e faca.

A Rainha Catarina foi uma mulher que fez do limão uma limonada. Tratou de mudar o mundo que ameaça lhe oprimir trazendo beleza, luz e civilidade para então cinzenta e rude Inglaterra.

A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi batizado em sua homenagem e ainda existe uma associação, a “Friends of Queen Catherina” para relembrar seus feitos e sua glória.

Morreu em 25 de novembro de 1705, aos 67 anos, cercada, como sempre, por uma legião de admiradores e de invejosas.

Prof. Péricles

OS BONITOS E O FIM DA HUMANIDADE


Thomas Malthus, economista e demógrafo britânico preocupava-se com o crescimento populacional humano em relação as condições naturais do planeta para abastecer os novos membros. Em 1797 publicou uma série de ideias alertando para a importância do controle da natalidade, afirmando que o bem estar populacional está intimamente relacionado com o crescimento demográfico do planeta. Segundo essas ideias, enquanto a população cresce numa progressão algébrica (exponencial) os recursos alimentares crescem numa progressão aritmética e, um dia, não haveria alimentos para todo mundo.

Malthus concluía alertando sobre a necessidade do controle da natalidade e isso o tornou um dos mais odiados inimigos da igreja.

O tempo amainou o alarme da Malthus. Guerras, doenças e novas condições econômicas trataram de diminuir o ritmo alucinante do crescimento populacional, enquanto que, novas descobertas e tecnologias aumentaram a produção de alimentos.

O problema maior, entretanto, parece ser a incapacidade humana de distribuir de forma justa o que é produzido.

As elites sociais e as elites geopolíticas continuam sendo a maior ameaça quando se debruça sobre a questão demográfica e se relaciona essas questões a sobrevivência humana.

Vejam, por exemplo, a interessante pesquisa feita pelo pesquisador John Calhoun.

Em 1972, ele decidiu construir um paraíso para ratos, com belos edifícios e alimento ilimitado (foto). Ele introduziu oito ratos a essa população.
“Universo 25” era o nome da caixa gigante, projetada para ser uma “utopia roedora”.

Dividido em “praças principais” por sua vez subdivididas em níveis, com rampas indo até os “apartamentos”, o Universo 25 era um lugar maravilhoso, sempre abastecido com comida, mas que logo começou a ficar apertado demais.

Tendo iniciado com oito ratos, quatro machos e quatro fêmeas, o Universo 25 chegou ao dia 560 com uma população de 2.200 animais. Em seguida, diminuiu de forma constante até a extinção irrecuperável.

Durante os terríveis dias dessa população de pico, a maioria dos ratos gastava cada segundo que vivia na companhia de centenas de outros ratos. Eles se reuniam nas principais praças à espera de ser alimentados e, ocasionalmente, atacavam uns aos outros. Poucas fêmeas levavam suas gestações a termo, e as que faziam pareciam simplesmente esquecer seus bebês. Às vezes, abandonavam um filhote enquanto o estavam carregando, deixando que caísse.

Os poucos espaços isolados da enorme caixa abrigavam uma população que Calhoun nomeou de “Os Bonitos”. Geralmente guardada por um macho, as fêmeas e os poucos machos no interior do espaço não se reproduziam, lutavam ou faziam qualquer coisa a não ser comer e dormir. Quando a população geral começou a diminuir, os bonitos foram poupados da violência e da morte, mas tinham perdido completamente o contato com os comportamentos sociais, incluindo ter relações sexuais ou cuidar de seus filhotes.

Os “apartamentos” no final de cada corredor tinham apenas uma entrada e saída, tornando-os fáceis de guardar. Isso permitiu que os machos mais territoriais e agressivos limitassem o número de animais em cada aposento, superlotando o resto da caixa, enquanto isolava os poucos “bonitos” que viviam em uma sociedade “normal”.

Em vez de um problema de população, pode-se argumentar que o Universo 25 tinha um problema de distribuição justa. O que também poderia muito bem acontecer conosco, uma vez que os humanos são mestres em desigualdade.

O experimento de fato parece um sinal assustador. Se a fome não matar todo mundo, as pessoas vão destruir a si mesmas, de acordo com os nossos ratos modelos.

Da mesma forma que os ratos, as elites nas sociedades humanas, longe de se preocupar com o todo, parecem ligadas apenas em aumentar seus privilégios às custas da crescente exclusão.

Os criados dos bonitos, em nosso mundo-rato, são os membros de uma pretenciosa classe média que, embora jamais vá ocupar os apartamentos exclusivos, e jamais vá fazer parte de seu mundo, serve aos propósitos dos “bonitos”, combatendo os pobres, os “feios”, para manter a falsa impressão de superioridade.

Assusta aos bonitos e causa ódio em seus lacaios ver filhos de pobres cursando ensino superior, viajando de avião, dirigindo seu próprio carro e vencendo eleições.

Seja como for, esse experimento bizarro e temeroso pode ser uma prévia do que vai acontecer com a humanidade se permitirmos a morte dos nossos sonhos de igualdade e de construção de uma sociedade mais justa.

O resultado é a extinção, de mil maneiras possíveis.

Divirta-se, enquanto pode no nosso "universo 25".


Prof. Péricles
Fonte de consulta: HypeScience.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DE BRAÇOS ABERTOS


É mais confortável pensar que apenas a repressão pode ter algum efeito de contenção ao tráfico de drogas e que, apenas com punição se é capaz de coibir o consumo que já virou, autêntico flagelo mundial.

Mas essa visão embasada apenas nos rigores da Lei e da força da repressão, é simplista, na medida em que reduz todo o problema ao seus aspecto de crime e ilegalidade, e é superada pelos números que nos indicam que, o consumo de drogas no mundo não se reduziu nem mesmo com ameaças radicais como a pena de morte.

Outras ideias, porém, tem mostrado avanços que nos permitem um otimismo renovador.

Uma dessas ideias é o enfrentamento da questão a partir da diminuição dos danos, da não exigência da suspensão do consumo e da atenção social e emocional ao dependente.

Exemplo disso é o Programa “De Braços Abertos” criado pela prefeitura de São Paulo com o objetivo específico de combater o patético drama conhecido por todos como “Cracolândia”.

Leia as informações abaixo sobre os resultados apresentados nesse primeiro ano de programa (2014).

Ah... não se pergunte porque nunca leu ou ouviu nada sobre isso... a notícia é muito boa e o prefeito de São Paulo é Fernando Haddad (PT). Entendeu agora?

“Há um ano, a equipe do prefeito Fernando Haddad (PT) colocava em prática uma ação na Cracolândia que acendeu o sinal vermelho de críticos Brasil afora. O “De Braços Abertos” rendeu discussões fervorosas sobre a legitimidade de um programa que, numa análise simplória, dá comida e renda a usuários de drogas que não necessariamente se comprometem a suspender o vício.

Pela primeira vez, no entanto, a cidade de São Paulo assistiu ao governo local trabalhar o “resgate social dos usuários de crack por meio de trabalho remunerado, alimentação e moradia digna”, não com “intervenções violentas”.



Um ano depois, eis o resultado: a chamada Cracolândia perdeu território no Centro de São Paulo, e o fluxo de usuários que consomem crack a céu aberto no local foi reduzido em 80%.

Além disso, presença mais ostensiva do poder público na região tem impactado também nos números relativos à segurança pública. A Polícia Militar registrou diminuição de 80% nos roubos de veículos e de 33% no furto a pessoas em relação ao ano anterior, antes da implantação do programa, e efetuou número 83% maior de prisões por tráfico de entorpecentes.

Dos 453 cadastrados hoje no programa, 63% são homens (286) e 37% mulheres (167). Desse total, há seis adolescentes e 30 crianças. Elas são encaminhadas para creches e escolas da rede municipal e para os Centros para Crianças e Adolescentes (CCA) para atividades no contra turno.

Entre os beneficiários, 290 são do município de São Paulo, 63 de outras cidades do estado, 99 de outros estados e um estrangeiro.

As equipes de assistência social estimam que cerca de 70% chegaram a passar pelo sistema prisional. Cinco têm ensino superior completo e outros nove, incompleto; 70 completaram o ensino médio, e outros 13 não foram alfabetizados. Do total de cadastrados, 18 ingressaram em cursos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Os participantes hoje residem em sete hotéis da cidade. Segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, há 50 pessoas que, apesar de não morarem nos hotéis, continuam no programa – há pessoas que voltaram para as famílias, mas continuam nas atividades no programa e outras que optaram por viver em Centros de Acolhida fora da região.

Atualmente 21 beneficiários estão em processo de autonomia e trabalhando fora do programa. Dezesseis deles foram contratados em agosto de 2014 pela empresa Guima Conseco para prestar serviços em equipamentos públicos municipais. Eles recebem R$ 820 por mês, vale refeição de R$ 9,10 por dia, cesta básica no valor de R$ 81,33 e vale transporte.

Outros 321 trabalham no serviço de varrição de ruas e limpeza de praças e, destes, 100 participam de cursos de capacitação, como cursos de estética e beleza, jardinagem e inclusão digital. A remuneração é de R$ 15 por dia, mais três refeições.

Há ainda um grupo de 75 participantes em processo de inserção nas frentes de trabalho, que por ora residem nos hotéis e recebem assistência social, psicológica e em saúde, mas não recebem remuneração.

Os números da Polícia Militar apontam para queda na criminalidade entre 2013, quando ainda não existia o programa, e 2014. Em 2014 a PM registrou 17 furtos de veículos e 392 furtos a pessoas, enquanto em 2013 os números foram 34 e 582, respectivamente – uma queda de 50% e 33%. As prisões por tráfico de entorpecentes realizadas pela PM saltou de 96, em 2013, para 176 em 2014, um acréscimo de 83% no número de registros.

Ao longo do último ano foram realizadas 6.344 abordagens pela Guarda Civil Metropolitana na região, em apoio ao trabalho da Polícia Militar, e 319 prisões, das quais 91 com crack. No total, a GCM apreendeu 2.486 pedras de crack. Somente em três das maiores apreensões ocorridas em julho, por exemplo, foram apreendidas 513 pedras e, junto aos traficantes, mais de R$ 10 mil.

Segundo as equipes de assistência social, desde o início das ações, 113 pessoas deixaram o programa por motivos diversos.



Fonte: Jornal GGN
Com informações da Prefeitura de São Paulo

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

LÍBIA? QUE LÍBIA?


Há males que veem para o bem, dizia minha vó. Mas, nem sempre.

Em 2011 a Líbia era o mais próspero país do norte da África. Ao contrário dos seus vizinhos, a população jovem não fugia para a Europa em busca de emprego. Encontrava colocação no próprio país. A nenhum líbio era permitido viver sem ter um teto e o próprio governo se encarregava disso, fruto do grande trauma do período colonial em que as propriedades eram garantidas através de desapropriações, apenas aos estrangeiros, enquanto o líbio comum morava em cabanas. Todos os jovens ao casarem recebiam uma quantia, em dinheiro, bem interessante, para iniciarem a vida.

A Líbia não era um paraíso, possuía problemas ancestrais e modernos, mas era um modelo de dar inveja a qualquer de seus vizinhos.

Sim, claro, a situação política não primava pela democracia.

Muamar Kadhafi, que um dia foi chamado de "cachorro louco" por Ronald Reagan, tamanha era a aversão que provocava no ocidente, estava no poder desde 1969, governando como ditador.

Nem todo ditador é Médici ou Pinochet cuja a simples lembrança provoca repugnância. Há Solano Lopes e Getúlio Vargas, ditadores que foram amados por seus povos. Kadhafi era mais do segundo grupo do que do primeiro.

No calor da “Primavera Árabe” em fevereiro de 2011, surgiram protestos de rua contra Kadhafi e por mais democracia. O movimento insurgente que se originou não era forte o suficiente para derrubar o ditador já que, a maior parcela da população manteve-se neutra ou em apoio a ele. A maior parte das forças armadas, por exemplo, continuou fiel ao presidente.

Entretanto, os Estados Unidos, que já alguns anos queria fritar Kadhafi em pouca banha, viu nisso a sua grande oportunidade. Convocou sua gangue, a OTAN e acionou seu departamento de marketing, a ONU, para, primeiro, armar os insurgentes (que não deu certo porque as forças oficiais continuaram no controle da situação) e depois, invadiram diretamente o país através de uma coligação formada pelas forças militares dos Estados Unidos, sua fiel Inglaterra e a França.

Aqui no Blog, denunciamos em alguns textos essa farsa montada pelos norte-americanos. Recebemos críticas contundentes, principalmente do público fiel ao noticiário oficial.

Entre os meses de fevereiro e agosto de 2011, cerca de 60 mil pessoas morreram numa autêntica guerra civil. No final desse mês, os “rebeldes” tomaram Trípoli em outubro Kadhafi foi morto, como um “cachorro louco”.

A bela Líbia passou a ser governada pelo CNT (Conselho Nacional de Transição) que nada decidia sem o ok dos países da coligação. O petróleo, ah! O petróleo líbio! tornou-se o mais barato comprado pelo ocidente.

Hoje, a Líbia é um trapo se comparada a ela mesma nos tempos de Kadhafi.

O governo fantoche obedece o grande pai branco de Washington com devoção.

Milhares de pessoas se matam todos os dias num conflito tribal que parecia ter sido superado mas que voltou com ódios antigos.

O Estado Islâmico possui campos de treinamento, estoque e inteligência ao norte do país.

A Al Quaeda do falecido Osama, domina o centro e o sul. O governo não domina nada.

Uma guerra fratricida se aproxima e os Estados Unidos, a OTAN e a ONU não estão nem aí pois não serão seus cidadãos que morrerão e porque o petróleo (ah! O petróleo) continua barato.

Nenhum chefe de estado do ocidente deixa de dormir com problema de consciência.

E eu, aqui atrás do teclado me pergunto, aquela galera que apoiava o noticiário global, se dizia defensores da democracia e me xingava, lembra disso?

Não. Não são seus filhos, maridos, amigos ou parentes que estão nessa situação.

Líbia? Que Líbia?

Agora é férias, carnaval, BBB...


Prof. Péricles

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

PIT STOP


Estamos de volta.

Depois de um pit stop importante para a saúde mental de quem navega pelo face e pelos obscuros mares da educação brasileira, estamos reabrindo o Blog.

Muito mais pelos amigos, alunos e incentivadores, do que propriamente por vontade própria, a gente vai mantendo no ar.

Despretensioso e objetivando apenas ser útil, o Blog mais uma vez estará com a atenção voltada aos assuntos de atualidades, obrigatório em muitos concursos públicos, e para a reflexão sobre temas da história.

Mais uma vez pedimos o apoio de nossos amigos.

Todos que quiserem colaborar escrevendo textos, remetam para o mail periko09@gmail.com. Serão todos muito bem vindos.
Perguntas, críticas e sugestões de assuntos, podem ser registrados no espaço do próprio blog ou enviadas para o mesmo mail.

O Blog é de quem o lê, não é meu.

Desde já agradecemos pelo apoio e pela companhia.

E que venha 2015, estaremos por aqui.

Abraços,

Péricles

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

FÉRIAS 2015


Caros amigos,

Estamos dando um tempo para o Blog.

Depois de um ano eleitoral de intensos debates, visitas amistosas e outras nem tanto, Copa do Mundo e 365 dias de atuação, o Blog está saindo de férias.

Agradecemos a todos por cada clic que tanto nos prestigiaram, e foram 19.775.

Estaremos de volta depois do carnaval, dia 22 de fevereiro.

Aproveitem os textos em arquivo.

Temos muitos de história do Brasil, história Geral, Atualidades, Mitologia e diversos outros assuntos que podem ser úteis.

Curtam à vontade. Basta digitar o assunto no campo de pesquisa que os textos referentes ao assunto são listados.

Muito obrigado a todos, e que possamos estar juntos por todo o ano de 2015.

Tchau,

Prof. Péricles

sábado, 24 de janeiro de 2015

ENTULHOS RACISTAS



Por Jacques Gruman

Antigamente, a gente ia ao cinema para ver mais do que o filme. Dentro dos cinejornais, aguardávamos com ansiedade a hora do Canal 100. Numa época em que as televisões engatinhavam, com tecnologias a lenha, as imagens do Carlinhos Niemeyer nos permitiam quase entrar nos estádios, com closes espetaculares, detalhes impossíveis de captar com as paquidérmicas câmeras de TV.

E não se diga que a paixão rubro-negra do Carlinhos privilegiava o Mais Querido. Tudo ao som viciante do Na cadência do samba (Que bonito é/as bandeiras tremulando/a torcida delirando/vendo a rede balançar...). Na era romântica do futebol, o Canal 100 foi um banquete. Tudo devagar, sem essa incontinência digital, que está fazendo o planeta nadar em informação e patinar em ignorância.

Dizem que, até 2020, a produção de dados no mundo dobrará a cada dois anos. A criançada está cada vez mais conectada em máquinas e mais carente de contatos e conversas. Um psicólogo que escreveu sobre o assunto disse que já tinha visto um garoto escrevendo uma mensagem enquanto andava de bicicleta. Não é por nada não, mas isso é uma definição precisa de filme de terror, que as novas gerações já estão protagonizando.

(...) Desde moleque ouço dizer que o Brasil não é racista, que os casos detectados são isolados, que aqui a discriminação racial não sentou praça. Como se já não existissem provas fartas de que isso não passa de uma perigosa bobagem, agora vem o futebol para confeitar o bolo venenoso. Em poucos dias, um juiz e um jogador foram insultados por idiotas racistas. Não faz muito, um jogador do Cruzeiro foi vítima de racismo no Peru. Será uma escalada? O ódio racial nos estádios brasileiros terá saído do armário ?

Difícil dizer. Como o futebol tem raízes fundas no imaginário brasileiro e, bem ou mal, reflete o que somos, cabe dar um trato na matéria.

A exclusão social, que, não raro, se confunde com vários preconceitos, está na origem do futebol no Brasil.

Em São Paulo, os primeiros times foram todos compostos pela elite branca, especialmente os oriundos das colônias inglesa e alemã.

Quando o povo começou a organizar suas peladas em várzeas e pensou em aderir a uma proposta liga metropolitana, os clubes dos abonados se recusaram a misturar-se com os “canelas negras”, como desdenhosamente chamavam os varzeanos.

No Rio de Janeiro, há o caso da torcida do Fluminense. Em 1914, um século pois, chegou ao clube um jogador do América. Negro. Temeroso da reação dos torcedores, gente de nariz empinado, cobriu-se com pó de arroz para disfarçar a cor de sua pele. Foi só com muita luta que essas barreiras foram rompidas. Como, aliás, acontece com todas as causas populares.

Dos episódios recentes, sobram muitas constatações e perguntas. Os técnicos, mal chamados de “professores”, se omitem. A exceção é Muricy Ramalho. Felipão prefere distância indecente dos acontecimentos, achando que melhor é ignorar o racismo. Os cartolas fingem indignação, mas a revolta fica na retórica vazia de sempre. Os jogadores, sem lideranças reconhecidas e totalmente despolitizados (onde está o Bom Senso F. C.?), vão a reboque dos acontecimentos.

Se tivessem um pouco de organização, não esperariam pelas nunca tomadas providências e se recusariam a continuar os torneios enquanto não se punissem as ofensas. Yaya Touré, da seleção de Costa do Marfim, propôs que os jogadores negros boicotem a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, por conta do racismo de torcidas locais. Será que isso não devia valer para qualquer país?

Não se combate a intolerância racial com bons modos. No país da Copa das Copas (sic), este não é um assunto menor.

Texto original em: CARTA MAIOR

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A MALDIÇÃO DA PRAIA DO RINCÃO


Corria o ano de 1755.

Um navio vindo de Portugal passava grande sufoco margeando o perigoso litoral do sul da Colônia Brasil.

Ventos fortes jogavam a nau de um lado para outro. As velas foram recolhidas e, de certa forma deixara de lutar contra a força das ondas, deixando se levar, ocupado apenas em evitar as pedras e o alagamento excessivo.

A bordo 120 pessoas vindas da Metrópole.

Entre elas 22 escravos e uma família da mais fina casta aristocrática lusitana.

Os “Borges Fernandes” outrora poderosos proprietários rurais viviam agora tempos difíceis, por isso, o Duque Tomé Borges Fernandes viera para o Brasil, mantendo a pompa, mas decidido a achar ouro na nova terra e recuperar seu antigo poder.

Agora chegavam no navio ameaçado, sua esposa, D. Rute e sua única filha, Amélia.

O destino final da viagem era algum ponto do litoral de São Vicente (São Paulo) de onde as aguardavam D. Tomé, para, em seguida rumarem juntos às suas novas terras na região de Vila Rica, na Capitania das Minas.

O navio se perdera, rumando muito ao sul, no atual litoral de Santa Catarina, e justo quando o capitão percebia o erro e alterava a rota, fora colhido pela medonha tempestade.

O céu negro rugia como um monstro invisível, as ondas se erguiam acima dos três, quatro metros, o navio se equilibrava.

Marinheiros corriam de um lado a outro gritando palavras incompreensíveis.

D. Rute orava. Amélia orava. O capitão orava.

Mas, nenhuma oração poderia salvar aquele navio condenado.

No exato momento que uma fresta entre as nuvens permitiu aos homens perceberem que estavam próximos demais da praia, ouviu-se um tremendo barulho do casco batendo em rochas.

Seguiram-se outras batidas violentas, o navio literalmente foi imobilizado e depois, tremendo intensamente, entregou-se as águas invasoras.

Pânico. Gritos desesperados.

Alguns, pensando apenas em si, pularam no mar carregando barcos e qualquer coisa que pudesse flutuar, sumindo em seguida no mar negro, como se o navio bailasse num poço sem fundo.

Nos momentos seguintes, uma figura poderosa se sobressaiu. A figura de um escravo negro, robusto, aparentando ser a única pessoa que mantinha a calma diante da morte.

Sem palavras ele passou a tirar a nado um a um dos passageiros do navio.

Em pouco tempo, praticamente todos estavam seguros na praia, apavorados, entre choro e ranger de dentes, mas salvos, graças ao negro nadador.

De repente, ao retornar pela enésima vez ao navio que afundava com espantosa rapidez, o escravo percebeu que apenas uma mulher, a bela, Amélia, filha de D. Tomé e de Dona Rute (já a salvo na praia), se mantinha encolhida encostada na murada.

Várias vezes o salvador negro estendeu a mão, mas em todas Amélia recusou a ajuda.

Em seu coração habitava tamanha repulsa por negros, racismo tão exacerbado que, pra ela, a morte era preferível a ser salva por aquele homem abjeto.

Em poucos minutos a salvação tornou-se impossível e o escravo teve que partir para salvar a própria vida.

Amélia morreu. Afogada pelo mar, e pelo oceano do preconceito rancoroso.

Desde então, um estranho fenômeno passou a ser observado entre a Praia do Rincão e a Praia da Esplanada.

Em noite sem lua, em especial, quando se ouve o ronco das trovoadas, uma estranha luz percorre a região como se guiada por uma mão invisível.

Uma vela, que estranhamente não se apaga.

Dizem que é a alma torturada e arrependida de Amélia que procura alguém com coragem para segui-la até o ponto do naufrágio e por ela fazer uma prece de perdão.

Só assim sua alma ganhará a liberdade.

Mas até hoje ninguém suportou a pressão de sua presença.

Os mais corajosos até tentaram. Mas todos desistiram diante da sensação de medo, ódio e arrependimento que se desprende da pequena chama.

Uma vela. Carregada por alguém invisível aos olhos.

Muitos antigos já a viram e por isso, a Lenda da Vela da Praia do Rincão persiste por gerações.

Eu... não, eu nunca a vi... mas conheço muitos que viram.

É sim.

Prof. Péricles
Obs. Os nomes dos personagens são fictícios.

domingo, 18 de janeiro de 2015

PENA DE MORTE E O PRESIDENTE METALEIRO


A pena de morte, além de fascista é burra.

Podemos pegar como exemplo o caso da execução, ontem, do brasileiro Marco Archer.

Ele era apenas uma de 64 pessoas condenadas à morte por tráfico de drogas na Indonésia.

Apesar de toda a pressão de organismo como a “Anistia Internacional” e do governo Brasileiro, um governo de país aliado em vários negócios de interesse da Indonésia, ainda assim, o presidente do país Joko Widodo, não concedeu clemência.

De certa forma, já era de se esperar.

Joko Widodo foi eleito com pouco mais de 50% dos votos, presidente da Indonésia, ano passado. O endurecimento ao combate do tráfico de drogas era uma de suas plataformas preferidas de campanha.

Não dava mesmo pra esperar clemência de um presidente eleito em cima desse tipo de proposta, e conhecido fã do Sepultura, Iron Maiden, Black Sabbath e Napalm Death.

Há pouco tempo, aliás, o presidente pagou um mico danado já que a Comissão de Erradicação da Corrupção do país confiscou um baixo dado ao presidente pelo baixista do Metallica.

Por outro lado, antes que os defensores da pena de morte sorriam satisfeitos, permitam lembrar que, mesmo com todo esse terror legalizado, as drogas não deixam de ser um flagelo, igualzinho a qualquer outro país em que não há pena de morte.

No país de Joko Widodo é comum encontrar uma gurizada em cima do teto dos trens fumando o “putaw”, um derivado menor da heroína (mais ou menos como o crak é da cocaína). Como o crak, o “putaw” é muito barato (menos de R$ 15,00 a dose) e é potencializada quando injetada. Como conseqüência, a Indonésia é um dos campeões de AIDS na Ásia, sendo que 59% da contaminação se dá por seringa compartilhada.

Especialistas estão chegando à conclusão que, o combate inclemente ao tráfico não está impedindo a circulação das drogas e inibindo o consumo.

Dependente é dependente e irá buscar um jeito de consumir de qualquer maneira.

Pelas leis de mercado capitalista, quanto menor a oferta (e a oferta diminui pela dureza da Lei), maior o valor, e, por isso, está ficando cada vez mais caro usar drogas menos fatais, como a cocaína que Marco Archer trazia. Por isso, os consumidores indonésios estão ficando cada vez mais violentos, praticando crimes que vão desde pequenos furtos até atos mais desatinados, para fazer frente ao aumento dos preços da droga.

Ou usam “putaw” e aceitam o risco de contrair AIDS.

É lamentável que, apesar de todos os avanços da ciência e da tecnologia. Apesar de tanta riqueza de informações, ainda existam países e pessoas que defendam a pena de morte como algo capaz de diminuir o índice de crimes.

Oremos pelos outros 63 condenados no país do presidente metaleiro. Inclusive pelos 47 estrangeiros (e mais um brasileiro) no corredor da morte.

Prof. Péricles

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

UMA HISTÓRIA DE AMOR E VINGANÇA


Os casamentos reais na baixa Idade Média e na Idade Moderna eram questão de estado, tratados com a frieza e a lógica das alianças políticas.

No século XIV, Portugal já era um Estado, governado por uma monarquia absolutista.

Apesar de sua prematura unificação lhe dar superioridade política diante dos reinos ainda em formação na Europa, seu pequeno tamanho e limitado poder militar obrigava a que seu rei, estivesse muito atento contra ameaças a sua independência.

Por isso, o rei Afonso IV decidiu que o seu filho, herdeiro ao trono, príncipe Pedro, casaria com Constanza, a filha de um poderoso aliado.

O príncipe, aparentemente, aceitava bem a situação, como um fato político, mas mantinha uma ardorosa paixão por Inês de castro, uma jovem e belíssima aristocrata.

Todos, inclusive a esposa de Pedro, sabiam dessa paixão avassaladora, mas faziam de conta não saber. Até que Constanza morreu, em 1345.

Rei Afonso ficou preocupado e temendo que Pedro aproveitasse a viuvez para oficializar o caso “secreto” que poderia inviabilizar seus novos planos, ordenou que Pedro rompesse e deixasse definitivamente de ver Inês.

Pedro foi incapaz de cumprir a ordem. Seu amor era maior que seu devotamento ao pai e ao Estado. Continuou encontrando sua amada e com ela passando tórridas noites.

Boatos de uma provável gravidez começaram a chegar aos ouvidos dos conselheiros do rei que não demoravam em repassar a seu chefe o perigo que um filho bastardo poderia significar.

Então, o velho monarca radicalizou.

Certa noite, três agentes enviados por ele, invadiram o mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde Inês passava uma temporada reclusa e a seqüestraram. Levada para uma área deserta, a pobre moça foi violentamente terrivelmente assassinada com diversos golpes de sabre.

A dor de Pedro foi imensa.

Sua revolta quase o levou a matar o próprio pai, mas foi contido.

queimando de ódio e de dor, recuou. Disse estar arrependido, jurou fidelidade ao Rei e escondeu-se em algun canto sombrio do castelo.

Pouco mais de um ano Afonso IV morreu e Pedro se tornou rei com o título de D. Pedro I.

Então sua fúria explodiu contra os assassinos de sua amada.

Um deles, o mais esperto, percebeu antes a situação e fugiu de Portugal, desaparecendo para sempre. Mas, os outros dois foram presos.

Os assassinos foram bárbaramente torturados por ordem de Pedro I, que fez questão de, pessoalmente, abrir o peito de cada um, e arrancar o coração ainda pulando para, em seguida, retalha-los com a adaga.

Pedro afirmou, embora sem provas, que havia se casado em segredo e nomeou postumamente Inês de castro, rainha de Portugal. Seu corpo foi exumado e transferido para o suntuoso mausoléu no palácio. (foto acima).

Antes disso, porém, foi colocado no trono e por ordem real, todos os cortesãos, conselheiros de seu pai, foram obrigados a formar fila e um a um, beijar a mão e os pés do cadáver.

Pedro I, nunca mais amou outra mulher.


Prof. Péricles


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

EU NÃO SOU CHARLIE, JE NE SUIS PAS CHARLIE


por Rafo Saldaña


Em primeiro lugar, eu condeno os atentados do dia 7 de janeiro. Apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões sou um cara pacífico. A última vez que me envolvi em uma briga foi aos 13 anos (e apanhei feito um bicho). Não acho que a violência seja a melhor solução para nada. Um dos meus lemas é a frase de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobramos sinos: é por mim”. Não acho que nenhum dos cartunistas “mereceu” levar um tiro. Ninguém merece. A morte é a sentença final, não permite que o sujeito evolua, mude. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem.

A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970 e identificada com a esquerda pós-68. Não vou falar de toda a trajetória do semanário. Basta dizer que é mais ou menos o que foi o nosso Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006.

O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de “não-civilizados” (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet – críticas que foram resolvidas com a saída dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã – ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011.

Uma pausa para o contexto. A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de “cidadão de segunda classe”. Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou.

De volta a Charlie Hebdo: Ontem vi Ziraldo chamando os cartunistas mortos de “heróis”. O Diário do Centro do Mundo (DCM) os chamou de “gigantes do humor politicamente incorreto”. No Twitter, muitos chamaram de “mártires da liberdade de expressão”. Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos.

O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. (Isso gera situações interessantes, como o filme A Mensagem – Ar Risalah, de 1976 – que conta a história do profeta sem desrespeitar esse dogma – as soluções encontradas são geniais!). Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a estátua de Nossa Senhora para atacar os católicos.

Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas, e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência (quantos trocadilhos com “matar” e “explodir”…). Alguns argumentam que o alvo era somente “os indivíduos radicais”, mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam…

Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus. Isso me lembra o já citado gênio do humor (sqn) Danilo Gentilli, que dizia ser alvo de racismo ao ser chamado de Palmito (por ser alto e branco). Isso é canalha. Em nossa sociedade, ser alto e branco não é visto como ofensa, pelo contrário. E – mesmo que isso fosse racismo – isso não daria direito a ele de ser racista com os outros. O fato do Charlie Hebdo desrespeitar outras religiões não é atenuante, é agravante. Se as outras religiões não reagiram a ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado.

“Mas isso é motivo para matarem os caras!?”. Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apóia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça francesa tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso. Traçasse uma linha dizendo: “Desse ponto vocês não devem passar”.

“Mas isso é censura”, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra “Censura” é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados – como o racismo ou a homofobia – isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim.

Por coincidência, um dos assuntos mais comentados do dia 6 de janeiro – véspera dos atentados – foi a declaração do comediante Renato Aragão à revista Playboy. Ao falar das piadas preconceituosas dos anos 70 e 80, Didi disse: “Mas, naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos homossexuais, elas não se ofendiam.”. Errado. Muitos se ofendiam. Eles só não tinham meios de manifestar o descontentamento.

Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada” (grifo meu). Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos!

Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro de ontem, eu não sou Charlie. No twitter, um movimento – muito menor do que o #JeSuisCharlie – começa a surgir. Ele fala do policial, muçulmano, que morreu defendendo a “liberdade de expressão” para os cartunistas do Charlie Hebdo ofenderem-no. Ele representa a enorme maioria da comunidade islâmica, que mesmo sofrendo ataques dos cartunistas franceses, mesmo sofrendo o ódio diário dos xenófobos e islamófobos, repudiaram o ataque. Je ne suis pas Charlie. Je suis Ahmed.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

AS DUAS FACES DE AFRODITE


Responda ligeiro, você homem experiente ou menino.

Diga sem medo, homem de todas as idades, nacionalidades e matizes.

Quantas mulheres existem numa só mulher?

Quantos amores ela é capaz de guardar dentro do peito e emoções conflitantes é capaz de equilibrar?

Qual seria a mulher mais perfeita?

Quantas mulheres uma só mulher carrega ao longo do dia, todos os dias de todas as vidas, nossas vidas de simples mortais?
Para os gregos, o segredo estava posto diante dos olhos e da mente através do exemplo onde se assomavam todas as virtudes, paixões e defeitos femininos – Afrodite.

Afrodite significa "espuma do mar", nasceu da espuma abundante provocada pela queda no oceano do sangue e esperma de Urano, castrado por Cronos.

Assim que nasceu, Afrodite foi levada pelo vento Zéfiro para Citera e em seguida para Chipre, aquela ilha ao sul da Grécia.
A humanidade quer entender a tudo e quando não entende, teme, ama e inventa algo que lhe dê, a aparente sensação de controle.

O homem pretensioso buscou entender a mulher incompreensível em seus caracteres através de Afrodite.

Como entender Afrodite com a cabeça machista do capitalismo onde mulheres se classificam de acordo com a estética de seu tempo?

Para o capital, mulher bonita é produto de lucro, na venda ou na especulação. Como algo que se cobiça ou tesouro que se guarda escondido em casa, mas nem tanto, pois o tesouro precisa causar inveja, ou não é tesouro.

Foi no capitalismo que o homem passou a chamar a esposa de “minha mulher” como se mulher fosse objeto de posse.

Afrodite só é compreensível na cabeça do homem da Grécia Clássica.

Para esses, a beleza feminina não era produto, não era meio. Era o fim, o próprio objetivo de uma vida bem vivida que se desprende do fundo da alma, se expande pela derme, forma as curvas de um corpo que nada mais é do que o reflexo do próprio eu.
Onde também as curvas das rugas guardam seus mistérios.

Afrodite nasceu da própria decadência do macho que é mutilado em seu diferencial de poder e de força sobre a beleza.

Mistura-se às ondas do mar a mais bela criação divina, por ondas crispadas que simbolizam dedos imaginários que acariciam eternamente a todos os corpos que lhe penetram em seu interior e se dissolvem sem revelar seus mistérios.

O mar não tem sexo, pois é o fim e não o meio, enquanto o sexo é o gatilho para disparos de sonhos levados aos pontos mais distantes da terra pelo vento Zéfiro que carrega todas as emoções humanas e as multiplica para retornar as origens.

A adoração por Afrodite na Helade (como os gregos chamam o seu mundo) era tão diversa quanto intensa.

Por isso ela recebia importantes epítetos.

Há “Afrodite Urânia” que designa a deusa celeste da fertilidade, inspiradora do amor etéreo e superior, que se desliga da beleza corporal atingindo a beleza em si e que participa do eterno, mas também há “Afrodite Pandemos” inspiradora dos amores comuns, vulgares, carnais e dominados pelo prazer mais humano do sexo.

É a Afrodite Pandemos, “a vulgar” que era adorada pelo povo e fazia dela a mais amada entre os gregos.

Porque são vulgares nossos amores e não divinos. Porque somos movidos pela busca do prazer intenso e inexplicável, sem origem ou propósito superior. Somos humanos que buscamos no próximo o seu oposto, a alegria que se acredita ter fugido de dentro de si, para se esconder no outro, e queremos nossa alegria de volta.

Se somos divinos em essência, somos vulgares na vivência.

Então, não fuja da resposta que não precisa ser ligeira, você homem experiente ou menino.

Diga sem medo, homem de todas as idades, nacionalidades e matizes.

Quantas afrodites você amou?


Encontrou em sua amada a face de Urânia? Ou seu coração chegou ao êxtase no amor de uma Pandemos.
Não... não se desculpe, todo o amor é grande e vale à pena.

Perceba que assim como as espumas do mar foram berço para Afrodite, a mais linda entre todas as lindas, nosso coração deveria ser o berço eterno do amor que não precisa de explicação.

E se ainda não amou nenhuma, chore a vontade, mas não se esqueça de pedir a Zéfiro que lhe traga uma estrela, aquela Dalva, que os gregos identificavam como se fosse a deusa, para iluminar seus dias.

Prof. Péricles

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

QUANDO "NÃO SEI" É A MELHOR RESPOSTA


Por ironia da vida, embora Marx destacasse que os caminhos da história fossem dirigidos por processos de lutas sociais e não por individualidades, foram as personalidades dos protagonistas que determinaram o futuro da primeira experiência socialista da história.

Vladimir Ilitch Lênin foi o mais brilhante de uma geração de pensadores geniais. Do alto de sua sabedoria, não se limitou a aplicar as idéias de Marx, mas, foi além disso, adaptando essas idéias às especificidades russas.

Mesmo exilado, fazia oposição ao Czar, o soberano absolutista Nicolau II.

Intelectual de intensa produção literária, não acreditava estar vivendo o momento ideal para a revolução comunista. Entendia que a imensa maioria dos russos submetidos a situações quase servis de trabalho e com alto grau de analfabetismo deveria antes, se politizar para assumir o poder.

Lênin não considerava que ele e meia dúzia de iluminados do Partido Operário Social-Democrata Russo legitimasse o poder da maioria e foi contra a própria ascensão ao poder após a renúncia do Czar em fevereiro de 1917.

Ao retornar para casa e ser recebido por uma multidão carregando bandeiras vermelhas, Lênin fez, na Estação Finlândia, em Petrogrado, um discurso em que apoiava o governo nas mãos dos Mencheviques (facção reformista, portanto, não revolucionária) como um estágio necessário na criação da nova ordem.

A um amigo próximo Lênin teria confessado seu pesar, pois queria muito ver seu povo vivendo uma sociedade comunista, mas pensava que duraria menos do que o tempo necessário para que as massas estivessem preparadas.

Porém, Lênin foi atropelado pelos acontecimentos. O Governo provisório não tirou a Rússia da Guerra (I Guerra Mundial), a fome e a revolta popular aumentaram e, mesmo contra suas previsões, em outubro, o povo praticamente o impôs no poder.

Começava assim, o primeiro governo socialista da história.

Uma pergunta crucial atormentava o novo governo russo. Uma pergunta que exigia resposta e coragem. Algo que fazia tremer os que esperavam que aquela “aventura” tivesse um final feliz. A pergunta era – se a economia capitalista se baseia na busca do lucro e na competição dentro de “leis” de mercado, onde todo investidor procura ter vantagens e se dar bem e por isso o estado tende a se dar bem, como se faria a economia socialista se a maior parte dos bens de produção (que geram lucros) e as terras produtivas foram socializadas? Quem iria competir com quem? Não havendo competição o que irá impulsionar os investimentos?

A essa pergunta decisiva sobre todos os aspectos, visto que a sociedade política não sobrevive sem uma economia que funcione, Lênin respondeu criando a NEP (Nova política Econômica) onde alguns elementos de mercados eram preservados numa espécie de hibrido de passagem do capitalismo para o socialismo. Um pouco confusa a NEP tinha o grande mérito do “não sei, vamos dar um tempo pra ver como fica”.

Parecia que tudo estava dando certo. Um governante sem adoração ao próprio ego, sábio e consciente de seu momento, líder máximo de um processo que parecia enveredar por uma nova democracia popular, sendo guinado por uma economia prudente e consciente de seus desafios.

Foi então que o imponderável se fez presente e interferiu na grande revolução vermelha.

Lênin sofreu o primeiro AVC (como se denomina hoje) em 26 de maio de 1922. O segundo em 16 de dezembro de 1922 o deixou extremamente debilitado. O terceiro em 10 de março de 1923, se revelaria fatal.

Morreu em 21 de janeiro de 1924, aos 54 anos.

Com sua morte os rumos da revolução sofreriam uma guinada rumo ao mais cruel autoritarismo e uma das mais sangrentas ditaduras da história, o Stalinismo.


Prof. Péricles












segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

SOCIALISMO, COMUNISMO E OUTROS SONHOS


As origens do socialismo são belas. Nasceram do desejo de justiça e liberdade aos menos favorecidos.

As primeiras propostas foram dos chamados “socialistas utópicos”. Pensadores que defendiam a criação de um modelo social menos desumano, porém, sem saber bem como construir uma sociedade assim, suas propostas esbarravam no impraticável, tornando suas idéias algo como que sonhadoras.

O “capitalismo bonzinho” não poderia mesmo ser ponto de partida para nada mais concreto.

Os anarquistas, cujos pensamentos geraram uma infinidade de variáveis teóricas, apregoavam, basicamente, um estado sem poder central, enraizado na fraternidade e no respeito ao direito do próximo. Como promover a fraternidade, eles não sabiam bem.

Porém, valores burgueses como propriedade privada, exército, nacionalismo, lei e religião, eram tão questionados pelos anarquistas que estes não foram vistos apenas como sonhadores e, contra eles, levantaram-se os ódios mais profundos do capital.

A dupla Marx e Engels difere-se dos utópicos exatamente porque basearam suas conclusões na observação histórica da formação das sociedades.

Partindo da premissa que o mundo em que viviam (o século XIX) não era justo e no desejo de demonstrar como seria uma sociedade igualitária, indicaram o que, consideravam ser, o caminho para a construção de um mundo melhor.

Primeiro Marx desmontou a forma clássica de interpretação da história, demonstrando que o que move as civilizações para frente não era a vontade iluminada de soberanos, os desejos particulares ou a bondade da busca do bem maior, mas, sim, a luta de classes entre os que habitam o andar de cima do prédio social contra os interesses dos que habitam andares inferiores, tão violenta quanto silenciosa.

Nesse contexto, proprietário e escravo, patrício e plebeu, senhores e servos, eram atores do mesmo espetáculo interpretado inúmeras vezes na história.

Num trabalho imortal do intelecto humano, Marx comparou a sociedade a um prédio e explicou o que era a infraestrutura (os pilares da obra do prédio), redefinindo o que seria salário, trabalho, capital, propriedade. Também demonstrou quais eram as superestruturas sociais (o acabamento do prédio) e quais suas funções na manutenção da ordem burguesa o papel da religião, do patriotismo, da guerra, de nacionalismo.

Marx e Engels demonstraram que, apesar de moraram no mesmo prédio, as pessoas não eram iguais e demonstraram sociológicamente, o que as tornavam diferente.

Especialmente interessante na visão marxista é o papel e a representatividade do governo e da própria democracia, sendo o governo muito mais um comitê que representa os interesses dos poderosos do que um órgão representativo do todo e a democracia uma fumaça que confunde o foco dos mais pobres.

Depois, especialmente em “O Manifesto Comunista” editado pela primeira vez em 1848, o historiador e sociólogo Karl Marx aponta (não prevê no imensurável) criticamente, historicamente, quais seriam os passos futuros da humanidade.

Para ele, sendo a mola propulsora do mundo o modo dialético onde uma situação, um tese, inexoravelmente se esgota dando lugar a uma antítese, uma nova situação, o capitalismo, pela própria criação da miséria que lhe é inerente seria desafiado num futuro próximo, donde ocorreria uma das seguintes situações – o proletário organizado em um partido operário forte e consciente, por ser esmagadora maioria, chegaria ao poder de forma revolucionária, jamais pela democracia burguesa (desconstruindo o velho e criando o novo), gerando a ordem proletária de organização social, ou, os capitalistas se reorganizariam em novas ordens gerando reformas (mantendo o velho e mudando apenas a roupagem).

Se tudo desse certo e os proletários organizados e politizados chegassem ao poder, o que teríamos primeiramente seria uma sociedade em que boa parte da propriedade seria estatizada atingindo de morte a propriedade burguesa, e a sociedade seria governada por esse partido representativo das massas.

A Ditadura do proletário, na verdade, significaria o poder da maioria sobre o estado, e não o contrário, o estado acima de todos, como apregoam os menos informados.

A existência de governo e de estado, e nisso marxistas e anarquistas concordavam, ainda seria a manutenção das estruturas arcaicas de poder, por isso, num segundo estágio, com a ampliação da igualdade, da responsabilidade compartilhada e do entendimento que todos, no mundo inteiro são iguais, assistiríamos o nascimento da sociedade comunista, o paraíso na terra, segundo Marx, onde não haveriam governos, fronteiras, nacionalidades e exércitos.

A teoria assustou, como não poderia deixar de ser, os donos do capital. Mas, por algum tempo permaneceu apenas uma teoria.
O que mudaria o mundo, para sempre, seria o dia que a teoria, pela primeira vez seria posta em prática.

Isso aconteceu a partir de outubro de 1917, na Rússia, mas já é outro assunto.

Prof. Péricles