sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

AS DUAS FACES DE AFRODITE


Responda ligeiro, você homem experiente ou menino.

Diga sem medo, homem de todas as idades, nacionalidades e matizes.

Quantas mulheres existem numa só mulher?

Quantos amores ela é capaz de guardar dentro do peito e emoções conflitantes é capaz de equilibrar?

Qual seria a mulher mais perfeita?

Quantas mulheres uma só mulher carrega ao longo do dia, todos os dias de todas as vidas, nossas vidas de simples mortais?
Para os gregos, o segredo estava posto diante dos olhos e da mente através do exemplo onde se assomavam todas as virtudes, paixões e defeitos femininos – Afrodite.

Afrodite significa "espuma do mar", nasceu da espuma abundante provocada pela queda no oceano do sangue e esperma de Urano, castrado por Cronos.

Assim que nasceu, Afrodite foi levada pelo vento Zéfiro para Citera e em seguida para Chipre, aquela ilha ao sul da Grécia.
A humanidade quer entender a tudo e quando não entende, teme, ama e inventa algo que lhe dê, a aparente sensação de controle.

O homem pretensioso buscou entender a mulher incompreensível em seus caracteres através de Afrodite.

Como entender Afrodite com a cabeça machista do capitalismo onde mulheres se classificam de acordo com a estética de seu tempo?

Para o capital, mulher bonita é produto de lucro, na venda ou na especulação. Como algo que se cobiça ou tesouro que se guarda escondido em casa, mas nem tanto, pois o tesouro precisa causar inveja, ou não é tesouro.

Foi no capitalismo que o homem passou a chamar a esposa de “minha mulher” como se mulher fosse objeto de posse.

Afrodite só é compreensível na cabeça do homem da Grécia Clássica.

Para esses, a beleza feminina não era produto, não era meio. Era o fim, o próprio objetivo de uma vida bem vivida que se desprende do fundo da alma, se expande pela derme, forma as curvas de um corpo que nada mais é do que o reflexo do próprio eu.
Onde também as curvas das rugas guardam seus mistérios.

Afrodite nasceu da própria decadência do macho que é mutilado em seu diferencial de poder e de força sobre a beleza.

Mistura-se às ondas do mar a mais bela criação divina, por ondas crispadas que simbolizam dedos imaginários que acariciam eternamente a todos os corpos que lhe penetram em seu interior e se dissolvem sem revelar seus mistérios.

O mar não tem sexo, pois é o fim e não o meio, enquanto o sexo é o gatilho para disparos de sonhos levados aos pontos mais distantes da terra pelo vento Zéfiro que carrega todas as emoções humanas e as multiplica para retornar as origens.

A adoração por Afrodite na Helade (como os gregos chamam o seu mundo) era tão diversa quanto intensa.

Por isso ela recebia importantes epítetos.

Há “Afrodite Urânia” que designa a deusa celeste da fertilidade, inspiradora do amor etéreo e superior, que se desliga da beleza corporal atingindo a beleza em si e que participa do eterno, mas também há “Afrodite Pandemos” inspiradora dos amores comuns, vulgares, carnais e dominados pelo prazer mais humano do sexo.

É a Afrodite Pandemos, “a vulgar” que era adorada pelo povo e fazia dela a mais amada entre os gregos.

Porque são vulgares nossos amores e não divinos. Porque somos movidos pela busca do prazer intenso e inexplicável, sem origem ou propósito superior. Somos humanos que buscamos no próximo o seu oposto, a alegria que se acredita ter fugido de dentro de si, para se esconder no outro, e queremos nossa alegria de volta.

Se somos divinos em essência, somos vulgares na vivência.

Então, não fuja da resposta que não precisa ser ligeira, você homem experiente ou menino.

Diga sem medo, homem de todas as idades, nacionalidades e matizes.

Quantas afrodites você amou?


Encontrou em sua amada a face de Urânia? Ou seu coração chegou ao êxtase no amor de uma Pandemos.
Não... não se desculpe, todo o amor é grande e vale à pena.

Perceba que assim como as espumas do mar foram berço para Afrodite, a mais linda entre todas as lindas, nosso coração deveria ser o berço eterno do amor que não precisa de explicação.

E se ainda não amou nenhuma, chore a vontade, mas não se esqueça de pedir a Zéfiro que lhe traga uma estrela, aquela Dalva, que os gregos identificavam como se fosse a deusa, para iluminar seus dias.

Prof. Péricles

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