segunda-feira, 28 de julho de 2014

APOLO E O GIRASSOL




O romance foi breve, mas para ela, profundo e único. Clítia, a ninfa das águas, uma das filhas do Oceano, apaixonou-se perdidamente por Apolo, o Deus das artes, da música, das profecias.

Clítia sonhava com aquele jovem Deus, atraente, dono de um rosto de menino e de uma voz encantadora. Por ele, ela seria capaz de qualquer coisa e entregou-se inteira, cega de amor.

Mas Apolo, divindade relacionada ao sol, que era seu carro dourado com o qual percorria o firmamento, tinha outras paixões e foi surdo aos seus clamores. Clítia mostrou que a única que o amava realmente era ela e que ela era a sua melhor escolha. Mas, tudo em vão.

Apolo continuou apaixonado por Castália, que, no entanto, corria dele e acabou preferindo se transformar numa fonte cristalina no Monte Parnaso, onde está correndo até hoje, ou Coronis que ofendeu o deus ao troca-lo por Isquis, um simples mortal. Ou ainda por Marpessa, disputada por Apolo e por Idas, príncipe da Messênia, que preferiu o mortal quando Zeus ordenou que fizesse uma opção: Apolo não me serve como parceiro, disse ela. "Para um deus, o tempo não passa; para os humanos, porém, cada hora deixa a vida mais curta".

Definitivamente Apolo, o mais belo dos deuses do Olimpo, não tinha sorte no amor, mas preferia sofrer por quem não o amava do que olhar para Clítia.

Então, a ninfa das águas com a alma despedaçada, afastou-se do convívio feliz das outras ninfas e foi sentar na terra, nua, no lugar mais solitário da campina. Ali, no raiar de cada manhã, ela esperava que Apolo apontasse no horizonte, dirigindo ocarro do Sol, e dali mesmo ela seguia sua luminosa trajetória no azul do firmamento, até que o manto da Noite viesse cobrir o Universo.

Segundo o poeta Ovidio, ela ficou assim imóvel, sem sentir fome nem sede, nutrida apenas pelo orvalho e pelas lágrimas que derramava, por nove dias e nove noites, quando então os deuses, por piedade, transformaram-na numa flor, o girassol, que até hoje acompanha nos céus a passagem de seu amado.

As mulheres mais práticas perceberam que, o deus da perfeição também era o deus da morte súbita, das pragas e doenças, e que, portanto, sua luz de beleza indescritível podia ser mortal como a luz que atrai e arrasta a mariposa para a morte.

Clítia, porém, foi ingênua ao acreditar no amor impossível entre ela, que vivia na planície e Apolo, que brilhava entre os astros do céu.

Amem, meninas e meninos, intensamente, mas cuidem-se do brilho falso e não permitam que seu amor se transforme num belo girassol, perdidamente solitário nas dobras do coração.


Prof. Péricles

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheço vários "Girasóis"! Adorei!Péricles, o culto! Bjão, meu Prof.de história favorito!