domingo, 10 de julho de 2016

E SE NÃO HOUVER 2018?


Os brasileiros defensores da democracia que sofreram o golpe de 64 na carne, costumam pensar nos fatos que aconteceram com grande pesar. Porém, dor maior talvez seja provocada pelos fatos que não aconteceram.

Por exemplo, e se Jango não fizesse o discurso do 13 de março teria evitado o golpe? E se Jango aceitasse a sugestão de Brizola de resistir ao golpe teria abreviado os longos 20 anos de ditadura?

No rol das lembranças dolorosas também entram as esperanças que evitaram radicalizações e depois não se concretizaram, como acreditar nas eleições que ocorreriam em 1966 e que, segundo os golpistas, marcariam o fim do movimento... não houve eleições em 1966 mas a sua espera foi motivo para impedir muitas lutas quando ainda era possível lutar contra o golpe.

Hoje também pode estar acontecendo uma ilusão com esperanças que não se concretizem e acabem atrapalhando a reação contra o fascismo.

Muitos amigos defendem a tese de que, seria melhor enfrentar com serenidade o afastamento de Dilma e até aceitar o golpe jurídico-parlamentar a partir de uma postura mais preocupada com 2018 e a volta de Lula.

Entretanto, há um componente terrivelmente ameaçador que não pode ser esquecido: e se não haver 2018?

Com o poder assegurado, os golpistas podem criar casuísmos econômicos que tragam a idéia da superação da crise econômica “criada pelo governo Dilma”.

Podem também, partir para o ataque cada vez mais pontual contra o PT e seus aliados enquanto vendem a idéia de saneamento moral da coisa pública.

Enfim, no terreno da legalidade é possível que o país seja coberto, nesses dois anos  de governo Temer com a falsa idéia de que os governos Lula-Dilma levariam o país ao caos e eles, super-heróis salvaram a nação.

Mídia para isso não falta.

Mas, o terreno da legalidade será apenas uma frente de combate.

Haverá outras, como a intensificação das medidas golpistas na área jurídica onde detêm amplamente o poder. É lá que tratarão de tornar ilegal a candidatura de Lula, isso se não conseguirem antes a sua prisão.

E se todas as medidas dentro da legalidade não derem certo, se a incapacidade do governo golpista for maior do que as possibilidades de fraudar a realidade, se apesar de tudo a candudatura Lula ainda se apresentar como favorita, resta a possibilidade de um golpe mais tradicional e sem floreios. 

Afinal, golpista e golpista e meio pode nem haver tanta diferença assim.

Seria um golpe dentro do golpe, coisa que nossa história conhece bem.

Dessa forma, não haveria 2018 como pensam, os que hoje argumentam que é mais sensato investir na volta de Lula do que na reação ao golpe em vigência.

Por isso, abandonar Dilma à própria sorte, voltando a atenção para Lula e uma suposta candidatura em 2018 é uma estratégia eticamente incorreta e politicamente perigosa, com altas possibilidades de fracasso.

A luta pela volta de Dilma Roussef se configura hoje como a verdadeira luta contra o golpe e esse foco não pode sofrer desvios em nome de esperanças em fatos que talvez jamais ocorram, como foram as eleições, tão esperadas e defendidas, de 1966.





Prof. Péricles

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