quarta-feira, 13 de julho de 2016

A "NOVA" EUROPA


Por Martonio Mont’ Alverne


A saída do Reino Unido da Comunidade Europeia comporta diversos pontos de análise.


Desde 1919 Keynes adverte ingleses e europeus dos perigos de vitórias da direita reacionária. Não foi ouvido, e aí está a história para dar-lhe razão.


Se o Brexit foi uma vitória desta direita, a responsabilidade é inteiramente dos próprios europeus. A partir dos anos 1990, a Comunidade Europeia tornou-se uma associação de banqueiros, a impor regras em favor do capitalismo financeiro, deixando para segundo plano o capitalismo produtivo.


Desta forma é que cruéis sacrifícios foram impostos a diferentes povos, cujo melhor e mais recente exemplo é o da Grécia.


A estabilidade financeira passou a ser a maior razão da existência da Comunidade, o que fez com que bancos recebessem generosos recursos e especial atenção, seguindo a antiga receita de que este capital financiará a produção e o bem-estar social, que não ocorreu.


Os programas de socorro para países endividados não é ajuda aos estados, mas ao sistema bancário destes países, o qual é vinculado aos bancos internacionais.


Referida orientação traduz a dependência dos europeus não aos seus interesses, mas àqueles dos Estados Unidos da América. Esta visão é ainda responsável pela contenção da Rússia como um dos pilares da Comunidade Europeia, ignorando a visão de Bismarck, desde o século XIX, de que uma Europa sem a Rússia é impossível: cultural, econômica e geopoliticamente.


Um sábio de 92 anos, Egon Bahr, ministro de Willy Brandt, dizia em 2014, que a Europa precisava de sua “emancipação” dos Estados Unidos.


Os europeus pagam caro pela saída do Reino Unido. Podem pagar um preço mais elevado.


Se a direita reacionária da França e noutros estados vence, pode-se falar no começo do fim do sonho europeu. O que deveria ser o incremento da livre circulação de bens e pessoas, a promoverem o comércio – que precisa de paz e tranquilidade – transformou-se num clube privado de banqueiros, a desejarem obrigar outras nações a viverem de joelhos perante seus interesses.


Surpreende que a opinião pública europeia não se tenha apercebido dos perigos, exatamente quando decorridos apenas 70 anos do fim do totalitarismo bélico que viveu entre 1939 e 1945.


Como vemos, ignorar a própria história e decidir com base em informações unilaterais, o que sempre conduz à ruína econômica e da política, não é problema só dos brasileiros.





Martonio Mont’ Alverne, Presidente do Instituto Latino-Americano de Estudos em Direito, Política e Democracia (ILAEDPD)"



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