domingo, 13 de maio de 2012

ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Desde a o início do século 19 existia uma forte pressão internacional pela abolição da escravidão nas Américas. A Grã-Bretanha, principal potência capitalista da época, passou a exigir que países como o Brasil abolissem o tráfico intercontinental de escravos. Menos por razões humanitárias e mais por razões econômicas.

Em 1831, por pressão inglesa, foi assinado um acordo proibindo o comércio intercontinental de escravos com o Brasil. No entanto, maior que a pressão do "imperialismo" britânico foi a pressão dos grandes comerciantes e latifundiários escravistas brasileiros, que eram forças hegemônicas no Estado Nacional nascido em 1822. A lei jamais foi aplicada e, por isto mesmo, foi ironicamente intitulada de uma lei "para inglês ver".

Após a aprovação da lei cresceu o número de escravos negros introduzidos no Brasil. Isto enfureceu a principal avalista internacional de nossa independência. As coisas tenderam a se agravar após a abolição completa da escravidão nas colônias inglesas. Em 1845 o parlamento britânico aprovou uma lei, a Aberdeen, que dava à sua marinha poder para apreender navios negreiros e julgar os traficantes.

Cresceu, então, um nacionalismo de conteúdo escravista. As elites conservadoras, sempre subservientes aos interesses externos, passaram a radicalizar seu discurso contra a intervenção estrangeira nos negócios internos do país. Um patriotismo bastante suspeito. As mesmas classes não se envergonhavam da contratação de mercenários estrangeiros para reprimir os movimentos insurrecionais no nordeste e nem em relação aos volumosos empréstimos externos feitos pelo governo brasileiro para pagar a nossa independência.

Em resposta ao nacionalismo espúrio das elites escravistas se levantaria a voz de um dos maiores poetas brasileiros que, nas estrofes revolucionárias de seu poema épico O Navio Negreiro, cantou: "Existe um povo que a bandeira empresta/ Para cobrir tanta infâmia e cobardia! / E deixa-a transformar nessa festa/ Em manto impuro de bacante fria! / Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, / Que impudente na gávea tripudia?! / Silêncio! (...) Musa! chora, chora tanto/ Que o pavilhão se lave no seu pranto!/ (...) Auriverde pendão de minha terra,/ Que a brisa do Brasil beija e balança,/ Estandarte que a luz do sol encerra,/ E as promessas divinas da esperança/ Tu, que da liberdade após a guerra/ Foste hasteado dos heróis na lança,/ Antes te houvesse roto na batalha,/ Que servires a um povo de mortalha!"

O movimento abolicionista adquiriu maior amplitude e ganhou amplas parcelas da população. A luta dos abolicionistas recebeu apoio internacional. Várias mensagens e manifestos de intelectuais progressistas europeus e americanos foram endereçados ao governo e ao parlamento brasileiro.

Acuado, o parlamento imperial aprovou, em 1871, a Lei do Ventre Livre que deu liberdade a todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela data. O escravismo entrava na defensiva e procurava manobrar, adotando medidas protelatórias. Sabiam que a abolição era inevitável e que seria necessário adiá-la o quanto fosse possível. O próprio projeto dava aos proprietários escravistas o direito de manter o "liberto" sob sua guarda até os 21 anos de idade - ou seja, até 1891. A lei serviu para desorganizar momentaneamente o movimento abolicionista, afastando dele os elementos mais conciliadores. Apenas a ala radical do abolicionismo se manteve ativa.

No início da década de 1880 a campanha ganhou novamente as ruas. Ela adquiriu maior dimensão e mudou de qualidade. O escravismo, ainda mais acuado, buscou deter a avalanche abolicionista com novas medidas protelatórias. Em 1885 o parlamento imperial aprovou a Lei do Sexagenário. Esta, libertava os escravos com mais de 60 anos, mas os obrigava a trabalhar compulsoriamente por mais três longos anos, ou seja - até o fatídico ano de 1888. Obrigava também o liberto a ficar no município em que foi libertado por cinco anos, sob ameaça de prisão.

Os fazendeiros escravistas resistiram quanto puderam, se organizaram nos Clubes de Lavoura e passaram a formar milícias armadas para combater os abolicionistas. Jornais foram empastelados e militantes foram agredidos e mortos.

A Lei do Sexagenário, considerada infame, não conteve o ímpeto dos abolicionistas. Ninguém aceitava mais as medidas protelatórias do império. A estratégia reformista parecia derrotada em 1886. Diante da ineficácia dos métodos moderados - exclusivamente jurídicos e parlamentares -, uma parte de seus membros aderiu às posições mais radicais e passou a organizar fugas de escravos.

Em outubro de 1887 o escravismo sofreu um duro golpe quando o Marechal Deodoro da Fonseca, presidente do Clube Militar, solicitou que não se utilizasse o Exército na caçada de escravos fugitivos. Aumentou, assim, a cisão no aparato repressivo do Estado escravista e os senhores de escravos não podiam mais contar com o braço armado do Estado imperial.

Expressiva foi a declaração de voto do deputado escravista Lourenço de Albuquerque: "Voto pela abolição porque perdi a esperança de qualquer solução contrária; seriam baldados os esforços que empregasse; sendo assim, homenagem ao inevitável, à fatalidade dos acontecimentos."

No primeiro semestre de 1887 ocorreu o auge do movimento de fugas de escravos - que atingiu o seu ápice no mês de junho -, colocando a lavoura paulista em crise. As autoridades provinciais pediram reforço militar ao governo imperial. O Barão de Cotegipe enviou um navio de guerra e um batalhão de infantaria. Não foi à toa que em dois de junho de 1887 Campos Salles iniciou o processo de emancipação "voluntária" dos escravos - com cláusulas de serviço por vários anos - entre os fazendeiros paulistas.

A abolição da escravidão foi um grande passo na construção da nacionalidade. Não deve ser subestimada. Ela permitiu que o país desse mais um passo no sentido do desenvolvimento capitalista - condição da revolução socialista. Corretamente, afirmou o documento 500 anos de Luta: "A abolição resultou de um vasto movimento de massas, que incluiu os escravos rebelados, os setores médios das cidades, a intelectualidade avançada e os primeiros da classe operária (...)".

No entanto, como ela não foi acompanhada de uma reforma agrária e de leis protetoras do trabalhador emancipado, acabou mantendo a população negra liberta numa situação de miséria e longe de poder integrar-se à sociedade brasileira enquanto cidadãos. Alguns abolicionistas, reformistas e radicais, compreenderam estes limites. Por isto apresentaram a proposta de uma reforma agrária, como complemento necessário da reforma servil. Assim pensavam Nabuco, Patrocínio e Rebouças. Mas, a reforma agrária seria uma das tarefas que não poderiam ser realizadas por aquele Estado oligárquico e pelas classes dominantes brasileiras - quer na sua versão monárquica ou republicana.

Augusto Buonicore

quinta-feira, 10 de maio de 2012

CAPITALISMO CORRUPTO



A corrupção tem acompanhado a história da humanidade, mas hoje chegou a tais extremos que seu significado etimológico torna-se incompleto: desestruturar, depravar, danar, viciar, perverter, propinar, subornar, não parecem suficientes para descrever este tipo de câncer inserido na sociedade, já que foi transformado num anti-valor.

A corrupção é um dos principais fenômenos que acontecem no mundo do desenvolvimento seja político, social e/ou econômico. É um mal universal que corrói as sociedades e as culturas estando também ligado a outras formas de injustiça e
imoralidade, como os crimes e assassinatos, violência de todos os tamanhos,
morte e todo tipo de impunidade, provocando exclusão, marginalização e medos
generalizados – além de gerar poder para poucos se locupletem. Afeta a dministração geral dos países, o processo eleitoral, o pagamento de impostos, as relações econômicas e comerciais e internacionais, além de corromper todos os tipos de mídias.

Está por igual na esfera pública ou privada na qual se completam mutuamente. Está
ligada ao tráfico de drogas, comércio de armas, suborno, a venda de favores e
decisões, tráfico de influência, enriquecimento ilícito. "Tudo isso, com
características quase apocalípticas, afirmou a Conferência Episcopal da reunião
do Equador em Quito, em 1988, em seu artigo "A corrupção e consciência cristã." Hoje, poder-se-ia considerar todos esses conceitos como absolutamente válido em qualquer lugar do mundo.

O capitalismo do fim do século vinte e início do vigésimo primeiro tornou-se, simplesmente, uma máfia. A corrupção mostra claramente que existe uma doença no sistema, corpo estranho, atacando-lhe: é sua essência, o que o constitui e define a forma que assume na atualidade.

"Os Estados Unidos exigem a liberdade de ação nas áreas globais e de acesso estratégico para regiões importantes do mundo para satisfazer as nossas necessidades de segurança nacional", afirmava um documento relacionado à Estratégia Nacional de Defesa de Washington, em 2008. O ganho será garantido a qualquer custo, e se for através da força bruta, não importa: o fim justifica os meios. A "livre concorrência" tão decantada em verso e prosa foi para as “calendas
gregas”. O mundo tornou-se base operacional de bandos de criminosos e ilegais
de todos os quilates! Com poder absoluto, com o controle do grande capital e ainda se dão ao luxo de falar de democracia e liberdade! Como um gangster pé-de-chinelo, o capitalismo atual se move com a bravata e a mais descarada impunidade.

Se no início do século XX o presidente dos EUA, Calvin Coolidge poderia dizer
que os empresários de seu país “faziam negócios” hoje deveríamos adicionar um qualificativo a palavra negócios, ou seja, denominá-lo de “negócio sujo".

O capitalismo atual é fundamentalmente baseado no sistema financeiro internacional, todos relacionados a mega-fundos - que não têm pátria, respondem apenas à lógica do dinheiro fácil e rapidamente migram para uma extraterritorialidade alienígena quando o ganho não lhes for favorável ou saindo sempre quando a supervisão bancária aperta ou quando o país sede utiliza normas e diretrizes relacionadas á sua soberania nacional. Este espaço não é controlado (como o negócio de armas ou drogas ilícitas) e que, inversamente, em grande medida se abrigam nos chamados paraísos fiscais e bancários offshore (bancos que cobram juros amigáveis dos aplicadores)

Hoje ninguém sabe exatamente quantas são as empresas e os capitais. A verdade
está lá fora, e sua presença na dinâmica global é crucial: as sociedades virtuais e reais que não são obrigados a apresentar balanços, para estabelecer a sua estrutura de propriedade, ou mesmo ter algum capital. Eles (os capitais) se abrigam em todo o mundo: ilhas perdidas espalhadas por todo o mundo, capitais de países do Norte, ou curiosidades como o Principado de Sealand, que funciona em uma plataforma de óleo velho no mar do Norte, ou o Domínio de Melchizedek, a "nação virtual" em primeiro
lugar, localizado em um vizinho atol deserto às Ilhas Marshall, na Micronésia,
no meio do Oceano Pacífico, através do seu site oferece nacionalidade, passaporte e facilidades para todos os tipos de empresas.

Hoje como ontem, nós enfrentamos os mesmos problemas: o sistema beneficia poucos à custa de danos à maioria. A diferença é que agora toda a criminosa corrupção foi se disfarçando em algo legal (com a conivência ou omissão de muitos).

Em outras palavras, estamos nas mãos de uns poucos bandidos perigosos, cheio de poder e disposto a fazer qualquer coisa para continuar a manter seus privilégios. Mas
estamos confiantes que a história não acabou, e como disse uma vez o espanhol
Xabier Gorostiaga: "os que seguem tendo esperança nunca serão estúpidos."



Marcelo Colussi*, Argenpress
*Escritor y politólogo argentino.

domingo, 6 de maio de 2012

A FOGUEIRA DO ÓDIO



O maior problema é que, muitas vezes, a radicalização caminha junto com o desespero.
Como aquele homem que diante da difícil tarefa de capinar o terreno, coloca fogo no campo.
Foi assim, com o desespero de mãos dadas com o extremismo que o nazismo floresceu num dos estados mais evoluídos e civilizados, como a Alemanha, e as labaredas de sua insânia atingiram toda a Europa.

A história não é, como muitos pensam, um mero relato do que já aconteceu. Muito mais que isso, a história, individual ou da civilização é uma advertência para que os erros não se repitam.

Por isso, temos que entender que um cidadão nórdico, típico, instruído e bem relacionado, que sai matando as pessoas que encontra no caminho e que, justifica seu desatino como um protesto diante da passividade de seu governo à questão da imigração, não é apenas um doidinho de atar, como muitos pensam.

Adolf Hitler também foi diminuído em importância e rotulado como “um sujeito engraçado” ou “um doidinho de atar” antes de 1933, quando chegou ao poder.

Ainda por isso, temos que entender de quase 20% de votos para a Sra. Le Pen, digna representante da extrema-direita francesa, não são meros 20%, mas um aviso que o monstro está vivo e doido para reassumir importância, não como um estigma do passado, mas como um personagem do presente.

Quando a crise bate à porta, muitas mentes imprevidentes procuram por culpados.
Um culpado que nunca é ele mesmo ou seu meio, mas um estranho, um componente de fora, um terceiro.

Assim sendo, todos os povos e seus governos devem estar atentos para todo avanço da xenofobia.

Nada, nesse sentido, pode ser negociado.

Não podemos aceitar os elogios ao primeiro-ministro australiano por ter “coragem” de dizer as verdades aos imigrantes muçulmanos da Austrália da mesma forma que não podemos achar algo distante e sem importância a imitação de macaco, ouvida nos estádios de futebol da Europa, quando um jogador negro toca na bola.

Temos que ser intolerantes com a intolerância.

Não podemos proteger com a democracia quem defende o fim da democracia.

Não podemos dormir tranquilamente enquanto pensões muçulmanas são queimadas ou cemitérios judeus são violados, já que não somos nem muçulmanos, nem judeus.

Se hoje as chamas da intransigência não queimam teus pés, a história ensina que amanhã a fogueira do ódio racial poderá te engolir inteiro.

Prof. Péricles

quarta-feira, 2 de maio de 2012

JORNALISMO BANDIDO


A influência da imprensa no alto escalão da política britânica tornou-se a pauta preferida dos chás ingleses desta semana. O magnata Rupert Murdoch depôs e foi a grande estrela da comissão de inquérito presidida pelo juiz Brian Leveson.

Instaurada após a eclosão do escândalo de espionagem de centenas de caixas postais telefônicas feita pelo News of the World (fechado em 2011, após o escândalo), ela investiga os padrões éticos da mídia na Inglaterra e a relação entre jornalistas e políticos.

O premier David Cameron, do Partido Conservador, já esquentara a pauta ao afirmar em sessão no Parlamento: "Todos nós tivemos contato com Rupert Murdoch". Murdoch, porém, no depoimento minimizou sua influência sobre os jornais britânicos. Calmo, bem humorado, sustentou nunca ter pedido nada a um primeiro-ministro: "É natural que políticos busquem editores e às vezes proprietários, se eles estiverem disponíveis, para explicar o que estão fazendo. Mas, eu era apenas um entre muitos."

Nesta 3ª, porém, novas revelações foram feitas por seu filho, James Murdoch. Este confirmou ter estreitos contatos com os ministros do Reino Unido. Em especial, o de Cultura, Jeremy Hunt, ministro sob suspeita de ter passado informações ao grupo Murdoch para a compra da totalidade da operadora de TV a cabo “BSkyB”, da qual a News Corp. já possuía 39% das ações. A oferta para obter o total de ações da operadora foi atropelada pelo escândalo das escutas telefônicas.

Barões da mídia não admitem discutir jornalismo bandido

Murdoch filho nega que Hunt fosse um “grande aliado” na operação, mas confirmou ter tido “inúmeras conversas sobre diferentes assuntos relativos aos negócios e a indústria dos meios de comunicação em geral”. O filho do magnata disse, também, ter estado nada menos que em 12 oportunidades com o premiê Cameron.

Um desses encontros foi em 2010, quando o premier ainda estava na oposição. E mais, Murdoch filho contou que pelo menos em quatro desta uma dúzia de vezes em que esteve com Cameron, Rebekah Brooks, ex-diretora da News International e antiga diretora do “The Sun” e do “The News of the World”, também estava presente. Ela também é investigada por seu papel no escândalo.

Pois é, enquanto a mídia britânica topa discutir seus podres e o principal magnata dela chega quase ao banco dos réus, nós aqui no Brasil, nada de regulamentarmos a nossa imprensa, hein? É discutir o assunto aqui, levantar uma palavra a respeito, e os barões da mídia já vêm com tudo em sua velha história de que é censura, ameaça à liberdade de imprensa...E assim, continuam senhores absolutos de seus monopólios de comunicação e informação usando-os de acordo com seus interesses políticos e econômicos.

Fazem cara de paisagem, fingem que não é com eles e nem em suas empresas, e não discutem o assunto nem agora, que o episódio Carlos Cachoeira desnudou a prática de jornalismo bandido no Brasil, as relações promíscuas da mídia com o crime organizado na produção de notícias contra seus adversários.

Por José Dirceu, em seu blog

domingo, 29 de abril de 2012

A CRUCIFICAÇÃO EM ATENAS

O homem que prenderam, interrogaram, torturaram, humilharam, escarneceram e crucificaram, na Palestina de há quase dois mil anos, foi, conforme os Evangelhos, um ativista revolucionário. Ele contestava a ordem dominante, ao anunciar a sua substituição pelo reino de Deus. O reino de Deus, em sua pregação, era o reino do amor, da solidariedade, da igualdade. Mas não hesitou em chicotear os mercadores do templo, que antecipavam, com seus lucros à sombra de Deus, o que iriam fazer, bem mais tarde, papas como Rodrigo Bórgia, Giullio della Rovere, Giovanni Médici, e cardeais como os dirigentes do Banco Ambrosiano, em tempos bem recentes.
... Ao longo da História, duas têm sido as imagens daquele rapaz de Nazaré. Uma é a do filho único de Deus, havido na concepção de uma jovem virgem, escolhida pelo Criador. Outra, a do homem comum, nascido como todos os outros seres humanos, em circunstâncias de tempo e lugar que o fizeram um pregador, continuador da missão de seu primo, João Batista, decapitado porque ameaçava o poder de Herodes Antipas. Tanto João, quanto Jesus, foram, como seriam, em qualquer tempo e lugar, inimigos da ordem que privilegiava os poderosos. Por isso – e não por outra razão – foram assassinados, decapitado um, crucificado o outro.

(...) O Reino de Deus, sendo o reino da justiça, é a libertação. Daí a associação entre essa felicidade e a vida eterna, presente em quase todas as religiões. Na pregação de Cristo, a libertação começa na Terra, na confraternização entre todos os homens. Daí o conselho aos que o quisessem seguir, e ainda válido – repartissem com os pobres os seus bens, como fizeram, em seguida, os seus apóstolos, ao criar a Igreja do Caminho. Se acreditamos na vida eterna, temos que admitir que a vida na Terra é uma parcela da Eternidade, que deve ser habitada com a consciência do Todo. Assim, a vida eterna começa na precariedade da carne.

Quarta-feira passada um grego, Dimitris Christoulas, chegou pela manhã à Praça Syntagma, diante do Parlamento Grego, buscou a sombra de um cipreste secular, levou o revólver à têmpora, e disparou. Em seu bilhete de suicida estava a razão: aos 77 anos, farmacêutico aposentado, teve a sua pensão reduzida em mais de 30%, ao mesmo tempo em que se elevou brutalmente o custo de vida. As medidas econômicas, ditadas pelo empregado do Goldman Sachs e servidor do Banco Central Europeu, nomeado pelos banqueiros primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos, não só reduziram o seu cheque de aposentado, como o privaram dos subsídios aos medicamentos. “ Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a buscar comida nos restos das latas de lixo” – escreveu em seu bilhete de despedida, lido e relido pelos que tentaram socorrê-lo, e que se reuniam na praça.

(...) No mesmo texto, Christoulas incita claramente os jovens gregos sem futuro à luta armada, a pendurar os traidores, na mesma praça Syntagma, “como os italianos fizeram com Mussolini em Milão, em 1945”. O tronco do cipreste se tornou painel dos protestos escritos. Em um deles, o suicídio de Christoulas é definido como um “crime financeiro”.


Nunca, em toda a História, tivemos tanto desdém pela vida dos homens, como nestes tempos de ditadura financeira universal.(...)

Ao expirar, depois de torturado, ultrajado seu corpo, humilhado, escarnecido, Cristo se tornou a maior referência de justiça. Aos 77 anos, o aposentado grego, ao matar-se, transformou-se em bandeira que ameaça iniciar, na Grécia, novo movimento em favor da igualdade – a mesma idéia que levou Péricles a fundar o primeiro estado de bem-estar social, ao reconstruir Atenas, empregar todos os pobres, e dotar os marinheiros do Pireu do pioneiro conjunto de casas populares da História.

Vinte séculos podem ter sido apenas rápido intervalo – um pequeno descanso da razão.

Santayana: a crucificação de Cristo e o suicídio em Atenas
por Mauro Santayana

quinta-feira, 26 de abril de 2012

COTAS E PRECONCEITOS

O Supremo Tribunal Federal julgará hoje a constitucionalidade das cotas para afrodescendentes e índios nas universidades públicas brasileiras.

No palpite de quem conhece a Corte, o resultado será de, pelo menos, sete votos a favor e quatro contra. Terminará assim um debate que durou mais de uma década e, como outros, do século 19, expôs a retórica de um pedaço do andar de cima que via na iniciativa o prelúdio do fim do mundo.

Em 1871, quando o Parlamento discutia a Lei do Ventre Livre, argumentou-se que libertando-se os filhos de escravos condenava-se as crianças ao desamparo e à mendicância. "Lei de Herodes", segundo o romancista José de Alencar.

Quatorze anos depois, tratava-se de libertar os sexagenários. Outro absurdo, pois significaria abandonar os idosos. Em 1888, veio a Abolição (a última de país americano independente), mas o medo a essa altura era menor, temendo-se apenas que os libertos caíssem na capoeira e na cachaça. Como dizia o Visconde de Sinimbu: "A escravidão é conveniente, mesmo em bem ao escravo".

A votação do projeto foi acelerada pelo clamor provocado pelo linchamento de um promotor que protegia negros fugidos no interior de São Paulo. Entre os assassinos, estava James Warne, vulgo "Boi", um fazendeiro americano que emigrara depois da derrota do Sul na Guerra da Secessão.

As cotas seriam coisa para inglês ver, "lumpenescas propostas de reserva de mercado". Estimulariam o ódio racial e baixariam a qualidade dos currículos das universidades. Como dissera o barão de Cotegipe, "brincam com fogo os tais negrófilos". Os cotistas seriam incapazes de acompanhar as aulas.

Passaram-se dez anos, pelo menos 40 universidades instituíram cotas para afrodescendentes e hoje há milhares de negros exercendo suas profissões graças à iniciativa.

O fim do mundo ficou para a próxima. Para quem acha que existe uma coisa como ditadura dos meios de comunicação, no século 21, como no 19, todos os grandes órgãos de imprensa posicionaram-se contra as cotas. Ressalve-se a liberdade assegurada aos articulistas que as defendiam.

Julgando a constitucionalidade das iniciativas das universidades públicas que instituíram as cotas, o Supremo tirará o último caroço da questão. No memorial que encaminharam na defesa do sistema, os advogados Márcio Thomaz Bastos, Luiz Armando Badin e Flávia Annenberg começaram pelos números: "Em 2008, os negros e pardos correspondiam a 50,6% da população e a 73,7% daqueles que são considerados pobres. (...) Em 1997, 9,6% dos brancos e 2,2% dos pretos e pardos de 25 ou mais idade tinham nível superior".

E concluíram: "A igualdade nunca foi dada em nossa história. Sempre foi uma conquista que exigiu imaginação, risco e, sobretudo, coragem. Hoje não é diferente".

O senador Demóstenes Torres, campeão do combate às cotas, chegou a lembrar que a escravidão era uma instituição africana, o que é verdade, mas não foram os africanos que impuseram a escravatura ao Brasil.

Nas suas palavras: "Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos, mas chegaram..."

Hoje o Supremo virará a última página da questão. Ninguém se lembra de James Barne, mas Demóstenes será lembrado por outras coisas.

Elio Gaspari
Historiador


segunda-feira, 23 de abril de 2012

CPI DA VEJA

Recheada de anúncios, a última edição da Veja esmera-se em representar à perfeição a mídia nativa. A publicidade premia o mau jornalismo. Mais do que qualquer órgão da imprensa, a semanal da Editora Abril exprime os humores do patronato midiático em relação à CPI do Cachoeira e se entrega à sumária condenação de um réu ainda não julgado, o chamado mensalão, apresentado como “o maior escândalo de corrupção da história do País”.

(...) Segundo a mídia, a CPI destina-se a desviar a atenção da opinião pública do derradeiro e decisivo capítulo do processo chamado mensalão. Com isso, a CPI pretenderia esconder a gravidade do escândalo a ser julgado pelo Supremo.

O caso revelado pelo vazamento dos inquéritos policiais que levaram à prisão do bicheiro Cachoeira existe. Pode-se questionar o fato de que o vazamento se tenha dado neste exato instante, mas nada ali é invenção. Inclusive, a peculiar, profunda ligação do jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal de Veja em Brasília, com o infrator enfim preso.
(...)

Não faltam, nesta área, os alquimistas, treinados com requinte para cumprir a vontade do patrão. Jograis inventores. Um deles sustenta impávido que a presidenta Dilma despenca em São Paulo para recomendar a Lula toda a cautela em apoiar a CPI do Cachoeira, caldeirão ao fogo, do qual respingos candentes poderão atingir o PT. É possível. E daí? Certo é que a recomendação não houve. E que o Partido dos Trabalhadores escala, no topo da pirâmide, um presidente, Rui Falcão, tão pateticamente desastrado ao rolar a bola na boca da pequena área para o chute midiático. Disse ele que a CPI vinha para “expor a farsa do mensalão”.
De graça, ofertou a deixa preciosa aos inimigos. Só faltava essa…

De todo modo, o mensalão. Se o inquérito policial falou claro a respeito de Cachoeira e companhia, o mensalão ainda não foi provado. É este um velho argumento de Carta Capital, pisado e repisado. É inaceitável, em tese, antecipar-se ao julgamento, mesmo que no caso haja razoável clareza para admitir outros crimes, como uso de caixa 2 e lavagem de dinheiro. Não há provas, contudo, de um pagamento mensal, mesada pontual a irrigar o Congresso. A sentença compete ao Supremo, e a presença de Ayres Brito na presidência do tribunal representa uma garantia. O mesmo Ayres Brito que não aceita declarar mensalão enquanto carece de provas.

Sobra a CPI do Cachoeira. Veremos o que veremos. Resta, de minha parte, a convicção de que poderia tornar-se o inquérito da mídia nativa. Outros são os jornalistas (jornalistas?) envolvidos, além de Policarpo Junior, de sorte a configurar a chance de naufrágio corporativo. Entendam bem, evito ilusões. Não creio, infelizmente, que o Brasil esteja maduro para certos exames de consciência entre o fígado e a alma.

Casa-grande e senzala continuam de pé e, por ora, falta quem se atire à demolição. No fundo, os graúdos sempre anseiam aparecer no Jornal Nacional e nas páginas amarelas de Veja. Um convescote promovido por João Dória Jr., de próxima realização, conta com a presença de 14 governadores. Nem ouso me referir ao ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira. O qual, obviamente, está em ótimas mãos. Igual a Daniel Dantas.

Resta algo mais, merecedor de destaque e, suponho em vão, da atenção da mídia nativa. Passou oito anos a agredir o presidente Lula e o agredido contumaz deixou o governo com quase 90% de aprovação. A presidenta Dilma, embora ex-guerrilheira não é ex-metalúrgica, e tem merecido alguma condescendente compreensão. Mesmo assim, se houver oportunidade, não será poupada. Por enquanto, cuida-se, de quando em quando, de colocar pedras em seu caminho. Não são o bastante, ela cresce inexoravelmente em popularidade. Não me arrisco a crer que os alicerces da senzala comecem a ser abalados, já me enganei demais ao longo da vida. Por parte da mídia, não valeria, porém, analisar os fatos com um mínimo de realismo?

Mino Carta
sábado, 21 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

TORTURADO ATÉ A MORTE


Os fatos a seguir narrados são verdadeiros embora não comprovados historicamente, visto seus responsáveis terem escondido ou destruído todas as provas.

“Ele foi preso pelas forças da repressão ao entardecer de quinta-feira depois da última reunião de seu pequeno grupo.

Não houve reação. Absolutamente nenhum confronto com os homens que vieram prendê-lo.

Como de costume, não havia mandato judicial, nem uma acusação formal que justificasse a prisão.

Foi levado diretamente para a sala de torturas onde passou a ser interrogado da forma mais desumana que alguém pode conceber.

Levou tapa na cara, pontapés, socos, pauladas. Foi chicoteado por horas.

Ficou praticamente desfigurado de tantas agressões.

Enquanto apanhava ouvia as acusações desconexas. Era questionado de forma vaga e confusa e ameaçado o tempo todo.

O chefe do aparato policial era um homem inseguro que buscava demonstrar humanidade e que apenas cumpria ordens, embora, as cumprisse com requinte.

No outro dia o martírio continuou.

Além das torturas físicas havia as torturas psicológicas.

Diziam que matariam seus amigos, seus irmãos. Diziam que o matariam na frente de sua mãe e ele sofreria demais por isso se ele não falasse.

Mas, ele não tinha o que falar.

Não tinha segredos para negociar. Não sabia de conspirações como eles insistiam em indagar. Nem mesmo participara de nada que visasse atingir o poder.

Nada.

E dessa forma, sem negociações e sem piedade ele foi torturado por quase 24 horas vindo a falecer em algum momento da sexta-feira seguinte à sua prisão”.

Este absurdo tão atual, foi cometido há mais de 2 mil anos.

O nome de mais essa vítima da violência é Jesus Cristo. O grande líder de todos os torturados do mundo.

Aquele aquém, com certeza, a maioria dos mortos e desaparecidos do Brasil, devem ter lançado uma oração de socorro, cada um a seu jeito, em seu último suspiro.

Preso pelo aparato repressivo da arrogância, do poder e da ordem. Mantido em cativeiro, torturado até a morte.

As marchas com Deus e pela pátria foram conduzidas pelos conservadores da época, que exigiam que Herodes detivesse o perigo subversivo. Temiam perder algum quinhão de seu prestígio e poder.

E a mensagem daquele homem era mesmo subversiva ao sistema, pois, falava em igualdade e justiça.

O golpe se deu, mas, como toda ditadura se esfacelou com o tempo como um castelo de cartas enquanto a mensagem de Jesus, seu apelo ao respeito aos pequenos e desprotegidos, sua exortação a uma vida de paz e de amor, entretanto, ainda ecoa da montanha de onde um dia ele disse aparentes incoerências do tipo - bem aventurados os perseguidos; Bem aventurados os que sofrem; Bem aventurados os humilhados.

Nesse mês de comemorações de Páscoa seria correto lembrar de Jesus como um desses sonhadores, anarquistas e idealistas enlouquecidos capazes de morrer sob tortura na luta pela liberdade no Brasil e no mundo.



Prof. Péricles

terça-feira, 17 de abril de 2012

A DERROCADA DO GRUPO ABRIL

Na década de 90, dois grupos empresarias brasileiros despontavam entre os principais grupos de mídia da América Latina. Depois da Globo, o outro grupo brasileiro era a Abril.

Desde então, a Abril Mídia é uma coleção de fechamentos e venda de empresas ou participações acionárias. A Abril fechou a gravadora Abril Music, o site Usina do Som e os canais de TV paga Fiz TV e Idea TV. Vendeu sua participação na HBO Brasil, na DirecTV Latin America, na ESPN Brasil, no Eurochannel, na TVA MMDS, na TVA Cabo e no UOL, entre outras.

Hoje a Abril se resume basicamente à editora e sua gráfica, à DGB (holding de distribuição e logística que é um verdadeiro monopólio nas bancas de jornais), à Elemídia (que instala monitores informativos em hotéis, elevadores, aeroportos, etc) e ao canal de TV paga MTV Brasil. Além dos sites de cada um destes veículos. Um grupo de mídia pequeno para o cenário de convergência que vivemos.

Cabe registrar que a MTV Brasil (que licencia a marca da Viacom) vive às voltas com o fantasma dos cortes de gastos e demissão de pessoal. Sua duração no longo prazo é constantemente posta em dúvida.

Para piorar, os Civita venderam 30% da Abril (o limite permitido pela Constituição Federal) aos sul-africanos do Naspers (donos, no Brasil, do site Buscapé). O Naspers, quando se chamava Die Nasionale Pers, foi o órgão de imprensa oficioso do povo africâner e porta-voz do apartheid. Pieter Botha e Frederik de Klerk foram membros do board do Naspers.

Ou seja, a Abril vive hoje do prestígio da revista Veja. Sem ela, os Civita já teriam virado empresários de porte médio do setor de comunicações, irrelevantes para o futuro do setor no Brasil.

E, segundo denúncias de Luis Nassif, sabedores dessa situação, os Civita tratam de inflar de todos os modos as vendas da Veja, inclusive com uma ajuda substancial do governo de São Paulo, que adquire milhares de assinaturas.

Cada vez mais fracos, mais temerosos do futuro, a tendência é que elevem o tom de voz na crítica a qualquer regulação das comunicações no Brasil. E se aproveitem da falta de vontade política do governo para enfrentar o tema e blefem com um poder político que, se um dia o tiveram, hoje com certeza já se esvaiu quase todo.

PS: como não são bobos e sabem que seu horizonte se estreita, os Civita resolveram colocar os ovos em outro cesto e passaram a investir em educação, criando uma outra empresa, sem relações com a Abril Mídia, chamada Abril Educação. Quando a Veja for de vez para as calendas, é de educação privada que eles irão viver.

Luis Nassif/a-derrocada-do-grupo-abril

domingo, 15 de abril de 2012

O PAPA E O MARXISMO

O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da revolução cultural chinesa.

Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição. Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia.

Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.

Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.

Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes. Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).

O marxismo é um método de análise da realidade. E, mais do que nunca, útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.

Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização.

A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia.

A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso.

A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.

Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de "partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano". A isso Marx chamou de socialismo.

O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital – um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867."Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério", disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. "Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20".

O autor do novo O Capital, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de "sociais-éticos" os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de "selvagem" e "pecado", e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política."As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo", afirma o arcebispo.

O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de "querido homônimo", falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.


Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
[Escritor, autor do romance Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros -

quinta-feira, 12 de abril de 2012

CONSERVADORES NUNCA MUDAM

Quando se é jovem, mulher bonita é mulher gostosa. Não há como separar beleza da atração ao sexo, então, nosso (nós homens) conceito de beleza está atrelado às possibilidades de prazer que o alvo de nossa admiração promete.

Quando amadurecemos, mulher bonita é muito mais que isso. É mulher serena, sábia e piedosa para com nossas inconstâncias.

Aprendemos com o tempo a separar sexo de beleza, sabedoria de fanfarronice, serenidade de apatia.

Quando somos jovens, liberdade é tudo aquilo que nos permite extrapolar nossa energia. É todos ser, ambiente e situação que nos permite liberar. Qualquer ato, o resmungo da mãe, a advertência da professora, o não da namorada, qualquer coisa que nos limite é visto como inibidor do sagrado direito à liberdade.

O tempo nos ensina, que a liberdade implica no respeito à liberdade alheia e que liberdade não é libertinagem e ainda que éramos libertinos e não libertos.

Quando jovens a crítica é sempre pessoal, burra (da parte do crítico) e injusta.

Quando “crescemos” aprendemos a tirar da crítica tudo o que ela pode conter para nossa melhora, para nosso auto-julgamento.

O tempo é o senhor da razão, diziam nossas avós. E pra variar, elas estavam certas.

O amadurecimento é capaz de transformas água em estalactite, montanha em planície e idéias em projetos.

Por isso é importante amadurecer. Por isso não é feio nem sinal de fraqueza mudar uma opinião ou rever um conceito.

Não é o que acontece com os conservadores.

Os conservadores são pessoas que se embrutecem dentro de suas certezas.

Os Conservadores não são, necessariamente, mais velhos, pois muitos jovens são mais conservadores do que o Papa.

Apegados às suas certezas possuem a falsa sensação de ter a verdade absoluta sobre os fatos e se os fatos se alteram tornam-se cegos à mudança temendo perder o controle que julgavam ter sobre os mesmo.

Olham as coisas apenas do mesmo ângulo, ou seja, de um único ponto de vista.

Revolução, apenas a palavra já provoca ojerizas.

Esquerdista é comunista. Jovem fora do padrão é maconheiro, e maconheiro é bandido.
Elite é elite, classe média é fechada e povo é uma invenção dos comunistas.

Esses professorezinhos de história, esses padrecos envolvidos em causas sociais, esses são os culpados pela corrupção, pelas dificuldades, por tudo que lhe foge da zona de conforto.


Nunca tiveram nem jamais terão uma propriedade rural, mas defendem o latifúndio e odeiam o MST mais do que os próprios coronéis. São eles, e não os latifundiários, os maiores inimigos da reforma agrária.

Nunca votaram, nem em seus piores pesadelos em qualquer partido de esquerda, mas, muitas vezes, para dar ares de veracidade aos seus argumentos afirmam que “eu já votei no PT” ou “eu fui simpatizante do socialismo” coisa que, ele sabe, jamais poderá ser comprovada.

O conservador teme estar errado. Ele não quer ouvir argumentos porque se for convencido de um erro isso representaria que a vida inteira ele esteve errado sobre algo e isso é impossível.

Os conservadores fazem parte de nossa paisagem política. Compõem o eleitorado que disputamos. Os conservadores não podem ser diminuídos, subestimados ou esquecidos.

Na verdade, o melhor que se faz é ter vivo que foram eles que apoiaram Jânio e a vassoura moralista. Foram os conservadores que organizaram a Marcha com Deus pela Liberdade e foram eles que clamaram, exigiram, imploraram pelo golpe militar de 1964.

Esquecê-los? Jamais.

Buscar sempre o debate..

Assim como na ficção o vampiro teme o crucifixo, os conservadores temem um bom argumento que lhes abale as carcomidas estruturas de convicções e preconceitos que construíram para se justificar a vida toda.



Prof. Péricles

terça-feira, 10 de abril de 2012

ENRUSTIDOS

Se ainda houvesse necessidade, o caso do Senador e da Cachoeira seria uma saborosa lição.

Paladino do bem, campeão da moral, carrasco dos corruptos sempre mostrado pela mídia com o dedo em riste exigindo demissões, cpis e compostura, o senador foi envolvido numa investigação da Polícia Federal, autorizada pela justiça, que trás de forma clara e sem dúvidas, provas de seu envolvimento até a raiz dos cabelos, em inescrupulosas negociatas.

Se ainda fosse preciso, seria o momento da sociedade brasileira, aquela parcela bem intencionada que sonho com uma vida melhor para os brasileiros, mas que é facilmente levada pelas ondas da emoção plantadas pela mídia e pelos setores mais conservadores, entender, que não existem heróis acima do bem e do mal, nesse jogo sujo que, infelizmente, faz parte da rotina política de nosso país.

Não existem mágicos, não existem santos.

O Senador é mais um exemplo da coisa mais podre do jogo do poder, aquele corrupto até a alma que usa o discurso da anticorrupção para iludir os outros.

Ele não é o primeiro. Houve muitos outros.

Houve um candidato despreparado, mas que foi eleito presidente, sem propostas e sem planos, apenas defendendo acabar com a corrupção, varrer a corrupção do Brasil, tornando-se a vassoura seu símbolo.

Teve aquele outro, mais despreparado ainda que foi eleito pela mídia com um discurso vazio e sem sentido, mas prometendo “caçar os marajás”.

E ele não será o último, pois o discurso moralista sempre é fácil e sempre seduz os incautos. Ele não será o último enquanto partidos sem propostas e sem conteúdo continuarem se apossando da “corrupção dos outros” enquanto escamoteia a sua própria.

A corrupção no Brasil e no mundo é intrínseca ao exercício da administração da coisa pública que envolve muito dinheiro, interesses, burocracia e pessoas.

Existe, claro, formas de combatê-la, de maneira honesta e sem partidarização.

Uma delas, talvez a mais urgente, é acabar definitivamente com qualquer forma de contribuição nas campanhas eleitorais.

É nesse momento, quando pessoas físicas e empresas contribuem, que nascem os acordos futuros, as negociatas. Ou você acha que a contribuição se dá por amor ou ideal?

Deveríamos criar no Brasil uma legislação parecida com a do Reino Unido, onde verba de campanha é pública e dividida de igual maneira entre os partidos. Qualquer outro centavo, além disso, é crime eleitoral.

Com atos realistas e objetivos só dessa forma poderemos combater essa moléstia moral e financeira.

O resto é discurso vazio. Falso moralismo. Hipocrisia.

Como o enrustido homofóbico que agride os homossexuais, continuarão existindo os enrustidos moralistas que agridem nossa inteligência.



Prof. Péricles

domingo, 8 de abril de 2012

AVALIAÇÃO DO GOVERNO DILMA

A presidenta Dilma Rousseff bateu um novo recorde desde o início do seu mandato e ampliou a sua popularidade mesmo depois da divulgação de um crescimento modesto do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011 e em meio a turbulências de uma crise política em sua base de apoio no Congresso.


Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira (4), a aprovação pessoal da presidenta (aqueles que acham o jeito Dilma de governar "ótimo" ou "bom") subiu cinco pontos percentuais desde dezembro, de 72% para 77%. É o maior índice registrado desde março do ano passado, quando a primeira pesquisa sobre seu governo foi divulgada.


A presidenta tem usado como trunfo em sua relação com o Congresso as altas taxas de popularidade alcançadas desde o início de seu governo.


A avaliação de sua gestão, contudo, manteve-se a mesma na comparação com dezembro, estacionada em 56%. O índice tinha sido o melhor para um primeiro ano de governo desde que a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria começou a ser feita, em 1995.


Comparativamente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tinha avaliação "ótima" ou "boa" de 34% no início de seu segundo ano de mandato, em 2004. Na época, o governo estava abalado pelo seu primeiro escândalo de corrupção, após a revelação do caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil.


Ainda assim, é maior o número de entrevistados que considera o governo Dilma pior do que o governo Lula (23%). A gestão Dilma é considerada superior por 15%.


LEMBRANÇAS

A pesquisa aponta que os assuntos mais espinhosos, e que poderiam abalar a avaliação positiva do governo, foram pouco lembrados pelos entrevistados. É o caso do crescimento do PIB de 2,7% em 2011, citado por apenas 1%. A crise política, que levou à troca da liderança do governo no Senado, foi citado por 4%.


De acordo com o levantamento, os assuntos mais lembrados espontaneamente pelos entrevistados sobre o governo foram os "programas sociais voltados para mulheres" e as "viagens da presidente Dilma".


A pouco mais de dois meses da Conferência Rio +20 e com a votação do novo código florestal voltando à pauta do Congresso, a pesquisa apontou que as ações e políticas para o meio ambiente foram aquelas que apresentaram maior crescimento na aprovação em relação a dezembro, saltando de 48% para 53%.


As áreas com pior avaliação são, de acordo com a pesquisa, impostos (65% de desaprovação), saúde (63%) e segurança pública (61%).


A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de março. No levantamento, foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios.


De: http://www1.folha.uol.com.br
Folha.com - Breno Costa
04/04/2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A GRUTA DA LOBA

Os próprios romanos contavam como tinha sido fundada a cidade.

Segundo eles, Marte, o deus da Guerra apaixonara-se e engravidara uma vestal (sacerdotisa de Vesta). Como castigo foi determinado por Júpiter que o fruto desse pecado (as Vestais juravam castidade) deveria ser morto ao nascer. Na verdade, não nasceu um baby, mas dois, gêmeos, a quem foram dados os nomes de Rômulo e Remo.

Abandonados em um cesto nas águas do Rio Tibre, eles foram salvos por uma loba (de verdade, de quatro patas e tudo), que os amamentou e os viu crescer. Adultos, Remo desapareceu misteriosamente durante uma tempestade (levado por seu pai? Morto por seu irmão?) enquuanto Rômulo acabaria fundando uma pequena aldeia, que um dia, conquistaria o mundo, Roma, oito séculos antes de Cristo.

Segundo os historiadores Dionísio e Plutarco, os romanos apontavam uma gruta, próxima ao monte Palatino (uma das sete colinas de Roma) na qual os irmãos foram aleitados pela loba. Ainda segundo esses historiadores clássicos, os romanos transformaram a gruta numa espécie de templo onde todos os anos, no mês de fevereiro realizavam ritual em homenagem a Luperco (entidade da natureza e dos ventos, tipo Pã, entre os gregos) que garantia colheita farta e ajudava a mulherada a arranjar marido e ter filhos.

No início do século XX o arqueólogo italiano Rodolfo Lanciani, pesquisando textos antigos, concluiu que a gruta da Loba mãe se localizaria realmente próxima ao Palatino e sob as ruínas do palácio construído por Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Cavou, escavou, procurou feito doido, mas nada encontrou.

Entretanto, há dois anos, arqueólogos passaram a explorar o local com sondas subterrâneas. Em julho, um dos aparelhos detectou um espaço vazio, a 16 metros de profundidade. Era uma câmara circular, com 7 metros de altura e 6,5 de diâmetro, coberta por uma cúpula. Uma filmadora controlada a distância revelou os deslumbrantes mosaicos que cobrem o teto e as paredes, feitos de mármore e conchas. Estudos indicam que essa é mesmo a gruta reverenciada pelos antigos romanos como o local onde vivia a loba que salvou Rômulo e Remo.

Como se vê, Roma ainda é capaz de surpreender o mundo.

Resta agora às meninas interessadas em arranjar marido e ter bons filhos conhecer a cidade eterna, e claro, em breve, dar uma passadinha na gruta da Loba para pedir uma ajudinha de Luperco.


Prof. Péricles

terça-feira, 3 de abril de 2012

CULPA DO LULA

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.

- É nisso que deu oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.

- A nova classe média nos descaracterizou?

- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...

- Buuu para o Lula, então?

- Buuu para o Lula!

- E buuu para o Fernando Henrique.

- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!

- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?

- Sim. Não. Quer dizer...

- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

- Por quê?

- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

- Acho, mas...

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.


Luis Fernando Verissimo
“O Estado de S.Paulo”

domingo, 1 de abril de 2012

CORRIDA DE BASTÃO


Garganta seca, árida como o sertão nordestino.

Camisa encharcada, grudada ao corpo.

Corpo repleto de dor.

Doem as pernas com mais nitidez, mais outras dores se misturam pelo tórax, braços, cabeça de um jeito que já não sabe onde a dor começa e onde ela termina.

A sede aperta. A garganta fica mais árida.

Ah como seria bom um descanso sob uma plácida sombra que protegesse desse sol abrasador!

Já na segunda metade da curva sente que o adversário dispara mais a frente.

É cruel correr contra quem tem tantas reservas e proteções...

Mas, a partir de um certo ponto, quase ao final da curva, já pode ver a figura lépida de seu parceiro de corrida.

Posicionado, mão estendida para trás, ansiosamente aguarda inquieto a sua vez.

Oh senhor! Finalmente. Minha hora de passar esse bastão que pesa mais que uma montanha.

Acelera os passos antes trôpegos, mas agora renovados. E voa na pista. Vôa como voaram um dia seus sonhos mais juvenis.

A mão estendida do companheiro aguarda para revezamento do bastão. Mal se contem.

Não há mais calor, não há mais sede, não há dor que seja maior que a felicidade de passar o bastão.

E quando estende o braço e sente que a mão segura à frente se apossa do objeto, ele desacelera as pernas, mas não desacelera o coração.

Corpo curvado com as mãos nos joelhos, mal consegue respirar. O que será que lhe tira mais o ar? O longo trajeto percorrido ou a emoção da missão cumprida?

Não poderia morrer jamais, sem cumprir o seu destino.

E seu destino se completava apenas com a passagem do bastão para outra mão amiga.

Seus olhos estão úmidos, mas não é mais de esgotamento ou fadiga, é de alegria e prazer de ter feito a coisa certa.

Então, senta na pista e fecha os olhos. As recordações do percurso cumprido ainda machucam. Ouve as vozes dos que vieram antes e já se calaram. Talvez seja hora de adormecer, mas de um adormecer repleto de esperança no resultado final dessa corrida, aonde com certeza, a vitória do mais justo chegará.

Essa semana o Brasil assistiu a estréia pública de um movimento que, nascido no Rio Grande do Sul, já se articulava por todo o Brasil a mais ou menos quatro anos.

Trata-se do “Levante Popular da Juventude”, movimento apartidário, composto majoritariamente por jovens estudantes brasileiros que querem que lhes seja contado direito à história do golpe de 64 e de sua ditadura.

Sabem esses moços, que outros moços como eles, foram mortos, muitos sob a tutela do estado, em meio a dilacerantes torturas.

Estão conscientes que muitas torturas ainda exercem seu nefasto poder na memória, nos traumas, nas fobias de homens e mulheres, marcados, presos, violentados, mutilados em porões imundos e clandestinos.

Sabem eles que muitas famílias ainda não puderam enterrar seus mortos, pois seus corpos permanecem desaparecidos e insepultos.

E também sabem que, se nada for feito, outros golpes como o de 64 e outras ditaduras ainda virão, podendo ser eles mesmos as próximas vítimas.

Esses jovens querem que os torturados, fartamente conhecidos sejam colocados no seu lugar de direito da história: o banco dos réus.

Para pelo menos quatro gerações de brasileiros o nascimento desse movimento de jovens, é muito mais do que apenas uma boa notícia. Para muitos veteranos de guerra o sentimento é de passagem do bastão.

A geração democrática mais nova está assumindo seu posto na luta pela democracia.

Há no ar, um sentimento de fim de jornada, que antes de ser triste, é de natural alegria.

Finalmente podem descansar os fatigados corredores, pois só poderiam descansar se houvesse convicção de que não seriam dos tiranos as últimas palavras ditas sobre tudo o que aconteceu.


Prof. Péricles
Para saber mais sobre o movimento, acesse www.levante.org.br

quarta-feira, 28 de março de 2012

LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

Militares da reserva e policiais supostamente envolvidos com atos de tortura e outros abusos cometidos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985) foram alvo de manifestações realizadas nesta segunda-feira em seis cidades do país. Integrantes do Levante Popular da Juventude - movimento de jovens que surgiu há seis anos no Rio Grande do Sul e hoje tem representantes em todo país - levaram faixas e fizeram apitaços em frente às casas ou endereços de trabalho dos agentes do Estado, com o intuito de constrangê-los em função da participação deles em atos do regime. As ações ocorreram em Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Belém (PA), Aracaju (SE) e devem continuar nos próximos meses.

O grupo chama os atos de "escracho" e informa ter se inspirado em ações semelhantes que ocorreram em países como Argentina e Chile. Eles levam cartazes com imagens dos militares e de vítimas, com base em informações de processos conduzidos pelo Ministério Público Federal, livros da época e relatos de familiares de opositores do regime. Em manifesto divulgado nesta segunda, se posicionam a favor da Comissão da Verdade e dizem ser necessário "expor e julgar aqueles que torturaram e assassinaram nosso povo e nossos sonhos". O grupo também organizou atos públicos em praças e ruas de mais seis cidades do país.

- Até agora, a única posição que vinha ganhando visibilidade era dos militares que se colocavam contra a Comissão e em defesa dos atos do regime. Nós pensamos diferente e queremos ter acesso à verdadeira história do Brasil - diz o analista de sistemas Edison Rocha Júnior, de 26 anos, integrante do Levante em São Paulo, cidade onde o ato reuniu cerca de 200 manifestantes.

Na capital paulista os jovens protestaram em frente à sede da empresa de segurança privada Dacala, que pertence ao delegado aposentado do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), David dos Santos Araujo. Ele foi acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de participar da tortura e do assassinato do ativista Joaquim Alencar de Seixas, em 1971. Os manifestantes levavam cartazes com imagens do ex-delegado e de outros mortos e desaparecidos durante a ditadura.

Funcionários da empresa Dacala informaram que o Araujo não estava na empresa na hora da manifestação e não falaria sobre o tema. Depois do ato, foram retiradas do site da empresa as logomarcas de seus principais clientes, entre eles uma rede de faculdades (Anhanguera Educacional), bancos (Itaú, Santander e Safra) e montadoras de veículos (Kia, Ford, Citroën e Volkswagen).

Em Belo Horizonte, cerca de 70 pessoas usaram tambores e apitos para fazer barulho na janela da casa de Ariovaldo da Hora e Silva. Ele também era lotado no Dops e é citado no livro Brasil Nunca Mais como envolvido na morte do opositor do regime João Lucas Alves, além de participação em atos de tortura.

- Eram jovens como muitos de nós que você torturou e assassinou nos porões da ditadura milita, vamos ficar atrás de você e cobrar a verdade. Que seja feita justiça com a sua condenação - gritavam os manifestantes, que dizem ter visto Ariovaldo espiar a manifestação pela janela.

Em Porto Alegre, um muro do outro lado da rua da casa do coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações de Porto Alegre, amanheceu com a frase: "aqui em frente mora um torturador". Ponzi foi citado em processo que apurou o desaparecimento do militante político Lorenzo Ismael Viñas em Uruguaina (RS), no início da década de 80. O GLOBO deixou recados no telefone da casa do coronel, mas ele não retornou.

Em Fortaleza, funcionários do escritório de advocacia do ex-delegado da Polícia Federal José Armando Costa teriam tentado impedir a colagem de cartazes e faixas em frente ao escritório, de acordo com os manifestantes. A polícia militar foi chamada, mas ninguém foi preso. Segundo familiares de presos políticos, Costa era responsável por tomar o depoimento de presos depois das sessões de tortura.

Uma encenação de uma cena de tortura com pau-de-arara marcou o protesto em Aracaju, realizado em rente ao Hospital e Maternidade Santa Isabel, que tem no quadro de diretores o médico José Carlos Pinheiro, suspeito de atender opositores do Regime durante atos de tortura no 28° Batalhão de Caçadores.

Segundo Rocha Júnior, o Levante surgiu em 2006 mas só cresceu e se nacionalizou no início deste ano, quando realizou um acampamento com a participação de mais de mil jovens em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O grupo atua em sintonia com organizações de esquerda tradicionais, como o Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), mas Rocha Júnior informa que o Levante não integra nenhuma dessas entidades.

- Somos um movimento de juventude autônomo, que tem como pauta um projeto social para o Brasil, algo que está além de legendas partidárias - diz


Jornal Correio do Brasil

terça-feira, 27 de março de 2012

ISRAEL E OS DIREITOS HUMANOS


Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia e Jerusalém oriental, territórios palestinos que se localizam na margem ocidental do rio Jordão e do Mar Morto. Desde então, o governo israelense colocou em prática uma política destinada a anexar a região a Israel. O projeto inclui a construção de um muro de quase 800 quilômetros de extensão e oito metros de altura, dentro da Palestina, com o objetivo de confiscar terras pertencentes a palestinos e erguer nelas colônias exclusivas para judeus.

O plano foi executado sem muita pressão internacional até 2004, quando o Tribunal Internacional de Justiça, órgão das Nações Unidas, considerou ilegais o confisco, o muro e as colônias, recomendando a destruição de tudo que fora construído, a devolução das terras aos palestinos e o pagamento de uma compensação financeira pelos prejuízos sofridos por eles.

Nada disso, porém, foi feito. Israel continuou erguendo o muro, as colônias, e tomando terras na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Entre 1967 e 2010 foram construídas 121 colônias, onde hoje vivem, ilegalmente, 600 mil judeus. Grande parte deles é ultranacionalista, considera que a Palestina pertence aos judeus e não aos palestinos e por isso procuram tirá-los de suas casas, atacando-os, roubando suas terras e fontes de água, destruindo suas plantações.

Diante da ofensiva israelense, o governo palestino decidiu ir à ONU, solicitar a formação de uma comissão internacional para investigar as atividades ilegais das colônias. A solicitação foi aprovada na quinta-feira, 22 de março, pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

As autoridades palestinas comemoraram. “Foi uma vitória não só nossa, mas também das leis internacionais”, saudou Saeb Erekat, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), representante dos palestinos em todas as instâncias internacionais. “Pedimos ao governo de Israel que suspenda todas as atividades relativas às colônias e dê uma chance às negociações de paz”, acrescentou ele. A Palestina afirma que só retornará às negociações quando os israelenses cancelarem a expansão das colônias.

Na segunda-feira, 26 de março, Israel deu o troco. Por decisão de Avigdor Lieberman, ministro de Relações Exteriores, rompeu com o Conselho de Direitos Humanos da ONU e orientou o embaixador de Israel em Genebra a nem mesmo atender os telefonemas do chefe da comissão.

O primeiro ministro Benjamin Netanyhau chamou o Conselho de “hipócrita”. “A maioria dos países do Conselho é contra Israel”, declarou o ministro.

Ambos estão certos. Só se esquecem de dizer que, se Israel respeitasse a Declaração de Direitos Humanos e o direito internacional, ninguém o condenaria. A verdade é que o país desconsidera a legislação internacional, age como quer, faz o que bem entende e não admite críticas por isso. Por esse motivo já foi considerado, pela Turquia, o “moleque” do mundo, aquele que não respeita nada e ninguém.

Laura Dupuy Lasserre, embaixadora do Uruguai na ONU e atual presidente do Conselho de Direitos Humanos, considerou “bastante infeliz” a decisão de Israel.

Israel também anunciou que não permitirá a entrada, em seu território, das milhares de pessoas de todo o mundo que irão se reunir em suas fronteiras em 30 de março, Dia da Terra Palestina, para tentar chegar a Jerusalém. Iniciativa de organizações internacionais de peso, a Marcha Global para Jerusalém tem os objetivos declarados de protestar contra a ocupação militar da Palestina e contra o que o governo israelense vem fazendo na cidade, em especial na parte oriental, considerada a capital do futuro Estado da Palestina.

O governo israelense pediu aos países vizinhos que a contenham em seus territórios, impedindo-a de chegar às fronteiras. Os participantes vêm anunciando há meses, desde o início da organização do evento, que a manifestação é pacífica e que não existe a intenção de confrontar o exército israelense. Agora, com as autoridades sionistas proibindo-lhes a entrada em Israel, as milhares de pessoas da marcha terão de apelar ao plano B: chegar o mais perto possível de Jerusalém. Isso significa deter a caminhada nos limites de Israel com Jordânia, Líbano e Egito.

As consequências podem ser imprevisíveis.


Baby Siqueira Abrão
Correspondente no Oriente Médio


domingo, 25 de março de 2012

CHICO ANÍSIO


Minha geração jamais esquecerá Chico Anísio.

Acostumamos, desde jovens, a encontrar nele, ou melhor, neles, pois Chico Anísio era múltiplo, um pouco de alívio para nossas angústias a partir de seu humor diferenciado.

Muitas vezes a discussão da turma enquanto afastava a tensão, foi sobre um personagem novo, ou sobre a última piada do personagem preferido de cada um.

Definia-se politicamente como de um pensamento mais ao centro e partidariamente se considerava um militante do PMDB, embora, nunca tenha escondido sua admiração por Ciro Gomes, quando governador de seu estado, o Ceará.

Esse pensamento “moderado” fazia que suas críticas sociais não se caracterizassem pela denúncia ou pelo aprofundamento. Eram mais, deboches às vezes bem cínicos, mas de característica popular, desses que se ouve nas filas e nos bares.

Mas, cá pra nós, ninguém é obrigado ao humor engajado, pelo contrário, faz bem a diversidade, o humor compromissado apenas em fazer rir.

Sabemos todos que morrer é natural, e que isso acontece para qualquer um. O problema, é que sendo múltiplo, a morte não é apenas de Chico, mas dos 209 Chicos. Dos 209 personagens talentosamente criados por ele.

Fica difícil não imaginar o Professor Raimundo encerrando sua última aula e se retirando para sempre num Colégio vazio. Como não pensar em Seu Pantaleão contando sua última mentira apoiado por D. Terta. É quase impossível não imaginar o Coalhada finalmente desistindo de conseguir uma vaga em algum time de 5ª divisão, e desistindo do futebol.

O “profeta” costumava encerrar os programas de Chico Anísio com uma frase profunda e nada humorística, que às vezes nos pegava distraído e calava fundo na alma.

O Profeta deve estar dizendo agora, que é esse o final de espetáculo de todos nós e não esqueçamos que também interpretamos muitos personagens, todos os dias, ao longo da vida.

Desempenhamos o papel de filhos, de irmãos, de pai/mãe, de colegas, de amigos, de cidadão. E que fomos nós que escolhemos cada papel.

Que possamos viver de um jeito que ao fecharem-se as cortinas de nossas existências possamos ser aplaudidos por nossas atuações.

Apesar dos múltiplos disfarces, e do enorme talento, Chico Anisio jamais conseguiu esconder uma tristeza que bailava em seus olhos, que se escondia daqui e dali, mas sempre acabava visível. Essa tristeza real que era do artista, não dos personagens, era o único traço presente em todos os personagens.

São nossos segredos, sentimentos profundos muito além de qualquer maquiagem.

É no respeito a seus segredos e na admiração de sua essência, que aplaudimos sinceramente esse grande artista!

E na lembrança serena do profeta lhe desejamos boa viagem.


Prof. Péricles

quinta-feira, 22 de março de 2012

NÃO É REVANCHISMO

O que os militares dessa geração pós golpe 1964 precisam enxergar é que
não há revanchismo nos trabalhos da Comissão da Verdade, nas denúncias
de tortura, assassinatos e nas várias ações para que a História de um
período brutal seja conhecida por todos os brasileiros.

Houve um golpe de estado em 1964, foi organizado e comandado por
potência estrangeira através de dois agentes, o embaixador Lincoln
Gordon e o general Vernon Walthers, contra um governo legítimo, dentro
de um processo maior, a guerra-fria. A máxima de Nixon “para onde se
inclinar o Brasil se inclinará a América Latina” foi dita anos depois,
mas não passou de uma constatação da realidade daquela época. E tanto é
assim que golpes semelhantes foram desfechados em países desta parte do
mundo, alguns, com níveis de estupidez absolutos. Caso da Argentina e do
Chile.

A ação dos governos gerados pelos golpes foi de caça pura e simples dos
adversários, inclusive e grande número de militares comprometidos com o
seu país. A forma de agir em momento algum fugiu do comando externo. O
que foi a Operação Condor? Uma aliança de governos golpistas do chamado
Cone Sul para promover o assassinato de líderes oposicionistas exilados
em qualquer parte do mundo. Orlando Letelier, ex-chanceler do governo de
Salvador Allende, foi morto em New York, onde ocupava um cargo de
funcionário nas Nações Unidas.

Os chamados projetos nacionais, ou seja, de busca do crescimento
econômico para esses países circunscreveram-se ao permitido por
Washington e às políticas de dominação impostas pelos EUA. Nada além
disso.

Deixar de lado as atrocidades cometidas por militares como Curió (ficou
milionário achacando garimpeiros em Serra Pelada), Brilhante Ulstra e
outros tantos é macular a história das forças armadas brasileiras e
transformá-las, hoje, em cúmplices de um tempo sombrio, cruel e
antinacional.

Puro espírito de corpo sem sentido e sem razão de ser, pois acaba sendo
mancha. Inserir as forças armadas no processo de construção democrática e
popular do Brasil, isso sim, dá um desenho claro das obrigações de
garantir a soberania nacional e a integridade de nosso território.

Ou os militares da nova geração entendem que os golpistas de 1964,
notadamente os torturadores, os assassinos, os estupradores, são
criminosos e praticaram crimes imprescritíveis – já denunciados por
organizações internacionais -, ou essa mancha vai atravancar o
cumprimento do real papel de uma força armada nacional. Têm que
responder pelos seus crimes. Esses enxovalham inclusive as forças
armadas através do falso patriotismo, aquele que Samuel Johnson chama de
“último refúgio dos canalhas”. Foi a estupidez dita por um general num
programa de televisão que “tortura existe em qualquer época, até hoje”.

Nesta semana a jornalista Hildegard Angel enviou uma carta a um ato de
homenagem às vítimas da ditadura militar onde fala de justiça. Sua mãe
Zuzu Angel foi morta pela ditadura ao buscar o paradeiro de seu filho
Stuart Angel, também executado pela ditadura. O prestígio internacional
de Zuzu e a mobilização que promovia, estavam incomodando e trazendo
transtornos a um regime que usou o pretexto de restaurar “a ordem e a
democracia”, para derrubar um governo legítimo.

Um documento comovente e repleto de sensatez.


Laerte Braga

terça-feira, 20 de março de 2012

CARTA DE HILDEGARD ANGEL



Dia Internacional da Mulher
Prezadas pessoas aqui presentes,

(...)
Este ano serão, no dia 14 de abril, 36 anos de seu assassinato pela ditadura, crime comprovado em 1998 pelo Governo Brasileiro. Além das inúmeras e comoventes homenagens, esta foi a única resposta oficial que tivemos até hoje: a confirmação do que todos já suspeitávamos, de que a morte de minha mãe foi provocada. Mas... é muito pouco, vocês não acham?

Quem são esses indivíduos sem rosto, sem nome, sem coração e sem alma, que urdiram nas sombras a cilada que empreenderiam, na madrugada, contra a mulher corajosa e solitária, que guiava seu Karman Ghia com a mala do carro lotada com exemplares do livro do historiador Helio Silva, que trazia transcrita a carta de Alex Polari D'Alverga, testemunhando em detalhes a tortura, a morte, o suplício de meu irmão Stuart?

Os livros não eram encontrados nas livrarias e, com receio de que o que restava da edição fosse apreendido, ela adquiriu o que pôde e saiu distribuindo a quem encontrasse o documento sobre o martírio de seu filho, as atrocidades cometidas contra ele.

Eram os pedaços de seu "Tuti" que ela entregava, com uma dedicatória emocionada, às pessoas de seu querer bem. E também àquelas que sequer conhecia. Era sua forma de panfletar a sua História, a nossa História brasileira, a sua e a nossa Dor. Dor de ontem e dor de sempre, que ainda me oprime a alma e se reflete nas minhas juntas, impedindo-me de estar hoje aqui.

Em seu discurso comovente no palco do Teatro Casa Grande, na véspera do segundo turno, a então candidata Dilma Rousseff, com uma ênfase e uma emoção que superou todos os seus pronunciamentos de campanha, disse: "Nenhum país desenvolvido respeita país que não olha pelos seus pobres, nenhum!". Pois eu peço licença à nossa presidenta para acrescentar: "... e nenhum país desenvolvido, nenhum, respeita país que não olha pela sua História!".

Chega, estou cansada. Já houve tempo demais para rever esse passado horroroso, esclarecê-lo, lavar as feridas, conferir responsabilidades, punir culpados, sim! E até agora, nada!

(...)
A rua em que nasceu minha mãe, em sua Curvelo, passou a ter seu nome no mesmo mês de sua morte em 1976. Tive o prazer e a tristeza de ir inaugurá-la. Alguns anos depois, na mesma década, Zuzu virou rua em Belo Horizonte. Eu havia convidado um amigo de minha mãe, deputado cassado José Aparecido de Oliveira, e um amigo da família, o político também cassado Dalton Canabrava, para discursarem pelos Angel. Com esse gesto, pretendia dar voz a quem não a tinha naquele período militar, num evento oficial.

No dia da inauguração, houve um grande temporal. O bairro Mangabeiras ainda era novo e a rua sem asfalto. A solenidade precisou ser no salão da Prefeitura. E pela primeira vez, desde a "fechadura", aquela casa se abriu para ouvir os políticos da oposição falarem...

Vieram muitas outras homenagens sucessivas à minha mãe, inúmeras, incontáveis, mesmo naqueles nebulosos anos 70 e, depois, nos 80. Para tanto, era usado o eufemismo da "grande costureira". Ninguém se referia à "grande mãe". Ninguém falava o subtexto. Mas todos pensavam. Todos sabiam. Bastava isso.

Com o passar dos anos e das homenagens, Zuzu, perdoem-me o humor torto, tornou-se uma espécie de "Elvis" brasileiro: não morreu. Hoje, há quem me chame de Zuzu. Há também quem ingenuamente me pergunte se eu sou a mãe da Zuzu Angel.

Ela dá nome a escolas, creches, centros comunitários, oficinas de costura, tem um Instituto que a celebra e batiza um dos mais importantes túneis do Rio de Janeiro, que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca, em cuja saída há um belo monumento, a figura de uma mulher forte, com o punho cerrado cortando o vento, representando Zuzu e sua luta.

(...)
... Tudo isso me dá a certeza, o alento e o conforto: se não for pelas vias da Política e das leis, não se preocupem. A Justiça imperiosa será e já está sendo feita, contada e escrita, através de nossos artistas. A Cultura brasileira está dando conta do recado de, como eu disse no início desta mensagem comprida, "olhar pela nossa História".

Muito obrigada.

Hildegard Angel
De: Rede Castorphoto

domingo, 18 de março de 2012

EU A MATEI, FOI INCRÍVEL

Lembra como fez?

- Claro, eu a esfaqueei e depois cortei a garganta... foi incrível.

Mas, afinal de contas, por que você a matou?

- Porque eu queria saber qual a sensação. O que eu sentiria matando, entende?

E...

- A experiência de matar é muito agradável. Logo que passa a sensação de “oh meu Deus, eu não posso fazer isso” se sente um prazer enorme.

O que fez depois?

- Pensei “agora estou tipo nervosa e tremendo, tenho que me acalmar. Tenho que ir para a igreja agora (risos, muitos risos)




A adolescente norte-americana Alyssa Bustamante, de 18 anos (15 na época do crime), que confessou ter matado a vizinha de 9 anos foi condenada nesta quarta-feira (7 de março) à prisão perpétua nos Estados Unidos. O crime aconteceu na cidade de Jefferson City, no estado do Missouri, em outubro de 2009.

Os advogados de Bustamante alegaram que a adolescente sofria de depressão há anos e que o uso do antidepressivo Prozac a deixou mais propensa à violência. Eles ainda alegaram que ela teria tentado suicídio por overdose de analgésicos. No entanto, os promotores afirmaram que Bustamente teria premeditado o crime, já que ela cavou duas sepulturas com vários dias de antecedência. A jovem enterrou o corpo de Elizabeth em uma cova rasa, sob um monte de folhas em uma floresta perto do seu bairro.

Momentos antes da sentença ser decretada, Bustamante levantou-se da cadeira e virou-se para a família de Elizabeth. "Eu sei que palavras nunca vão ser suficientes e nunca vão conseguir descrever exatamente quanto me sinto horrível por tudo isso", disse a adolescente diante dos pais e irmãos de Elizabeth. "Se eu pudesse dar minha vida para ter ela de volta, eu daria. Desculpa", completou.

A mãe da vítima, Patty Preiss, que no primeiro dia de julgamento classificou Bustamante de "monstro", ouviu o pedido de desculpas em silêncio.



Casos como esses, deveriam levar a humanidade a uma pausa para meditação: afinal de contas, que tipo de sociedade criamos? Que tipo de consciências estamos formando?

Somos hoje 7 bilhões de pessoas no mundo. Nunca teve tanta gente habitando o planeta, mas nunca, se sofreu tanto de solidão.

Se as estatísticas indicam que 10% da população (algo em torno de 700 milhões ou 4 brasis) desenvolvem dependência química e buscam nas drogas o prazer que lhes falta na alma, e se mais de 20% sofre de depressão crônica, algo, definitivamente, está errado no mundo que criamos.

Desde a Revolução industrial a quase trezentos anos, a produção de bens não pára de crescer. Somos seres consumidores. Consumimos tudo, até, e principalmente, o desnecessário, de tal forma que criamos do nada, novas necessidades, a todo instante e frustrações quando essas necessidades não são saciadas. .

Somos capazes de ir a Marte, realizar transplantes e criar computadores. Mas ainda somos incapazes de ouvir a dor de uma criança se ela nos for desconhecida.

O caso de uma adolescente que mata uma criança menor apenas para saciar a curiosidade do que sentiria ao matar, é um crime de todos nós.


Prof. Péricles


quarta-feira, 14 de março de 2012

NÃO MEXA COM A DILMA

A revista americana “Newsweek” chega às bancas esta semana com a presidente Dilma Rousseff na capa. Uma foto de Dilma ilustra a reportagem de capa, intitulada “Onde as mulheres estão vencendo”. A edição americana da revista diz que Dilma “está na área” e ressalta que a presidente será a primeira mulher a abrir a Assembléia Geral da ONU, em Nova York, na quarta-feira. Na edição internacional, a “Newsweek” chama a presidente de “Dilma Dinamite”.

Na entrevista à “Newsweek”, Dilma falou sobre Brasil, economia mundial, pobreza e corrupção. Fez questão de exaltar a solidez da economia brasileira e a capacidade do país de combater uma crise mundial. “Sabemos que não somos uma ilha. A Grécia não pode pagar seu socorro. A Espanha está em apuros, assim como a Itália. Os EUA não estão crescendo. Isso tem um impacto negativo nos resto do mundo”, disse a presidente. “Você sabe a diferença entre o Brasil e o resto do mundo? Temos todos os instrumentos intactos para combater o crescimento lento ou mesmo a estagnação da economia mundial”. Segundo ela, “ainda podemos cortar juros”.

“Somos uma grande economia, rica em recursos e com um mercado interno enorme”, continua Dilma. “Graças às nossas políticas sociais, tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza e as colocamos na classe média desde 2003. É o equivalente a uma Argentina. A demanda doméstica ficou tão reprimida por tanto tempo que temos um imenso potencial de crescimento. Temos um boom da construção, mas não uma bolha. Esse mercado interno nos permitirá acelerar o crescimento”.

Dilma afirmou ainda que é preciso profissionalizar e reformar o serviço público, “promovendo as pessoas com base no mérito”.

Dentro do especial das mulheres, a reportagem-perfil sobre a presidente (“Não mexa com a Dilma”), que tratou de seu governo e de sua trajetória pessoal, começa com uma história da corrida eleitoral. Entrevistada pela “Newsweek” em Brasília, Dilma contou que foi abordada por uma menina, curiosamente chamada Vitória, em um aeroporto, e ela lhe perguntou: “Uma mulher pode ser presidente”? E Dilma respondeu que sim.

A presidente contou que, quando era criança, queria ser bailarina ou bombeira, e acredita que a pergunta da menina mostra sinais de progresso. A revista diz que um terço do gabinete de Dilma é de mulheres. E lembra que 20 mulheres comandam Estados hoje, sendo quatro das Américas - além de Dilma, há Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica) e Kamla Persad-Bissessar (Trinidad e Tobago).

A revista publicou elogios dos empresariados. O empresário Eike Batista disse que Dilma gosta de eficiência: “Trabalhar é seu hobby”. O publicitário Nizan Guanaes acredita: “O país sente que há alguém no comando”. E disse que “nosso homem do ano é uma mulher”.

Segundo a reportagem, Dilma se levanta cedo para caminhar nos jardins do Alvorada, devora um resumo das notícias em seu iPad e está em seu escritório às 9h15, onde fica até as 21h. Para a “Newsweek”, a presidente, embora não perca a chance de enaltecer seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não é a inocente política que os rivais pintavam.

Dilma disse à revista que nunca usou armas na militância - embora fosse boa em limpá-las - porque era muito míope para atirar. A “Newsweek” contou em detalhes a trajetória revolucionária da presidente, sua prisão e a tortura a que foi submetida.

segunda-feira, 12 de março de 2012

CUBA - VOCÊ SABIA (2)

Ainda com o intuito de trazer fatos e dados ignorados pela mídia oficial, listamos abaixo outras informações, que também poderiam intitular de “CUBA - VOCÊ SABIA (2)?”

1) Mais de 8 milhões de cubanos participaram da discussão do Projeto de Diretrizes para a Política Econômica e Social do Partido e da Revolução, debate prévio ao 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba.

2) Foram registrados mais de 3 milhões de intervenções populares.

3) O governo cubano destinará, em subsídios, mais de 800 milhões de pesos para pessoas de baixa renda, como parte da Lei do Orçamento para 2012.

4) No orçamento de 2012, serão alocados 400 milhões de pesos para proteger as pessoas em situação financeira crítica, incluindo pessoas com deficiências e consideradas disponíveis no processo de reestruturação do trabalho.

5) Produto Interno Bruto cresceu 2,7% em 2011.

6) Mais de 357 mil cubanos exercem o trabalho por conta própria.

7) Mais de 2,5 milhões de turistas visitaram a Cuba em 2011.

8) Foram produzidos 4 milhões de toneladas de petróleo e gás em 2011.

9) A taxa de mortalidade infantil em Cuba é inferior a 5 por mil nascidos vivos.

10) A expectativa de vida é de 78 anos.

11) 186 países condenaram os EUA pelo bloqueio genocida contra Cuba, durante a Assembléia Geral da ONU, em outubro passado.

12) Cuba ficou em segundo lugar nos Jogos Pan-Americanos Guadalajara, com 58 medalhas de ouro.

13) O Conselho de Estado da República de Cuba concordou em indultar mais de 2.900 presos.

14) Cuba ocupa a 51ª posição, no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, com um alto desenvolvimento humano.

15) Em 14 de dezembro marcou o primeiro aniversário da primeira rede social de conteúdo digital cubano, EcuRed, com cerca de 80 mil artigos e verbetes.

16) Mais de 40 mil cubanos estão em missões de solidariedade por mais de 70 países.

17) Mais de 3 milhões de pessoas foram alfabetizados pelo método “Yo, si puedo”, depois de ser aplicado em quase três dezenas de países ao redor do mundo.

18) Com o início do ano letivo 2011–2012, em 5 de setembro, abriram suas portas mais de 60 universidades na Ilha, com cerca de 500 mil alunos matriculados.

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHERES GUERREIRAS

Viva as Mulheres Palestinas, Guerrilheiras, de Atenas, do Brasil... A Luta Continua.

Porque Somos Todas Mulheres: Capixabas, Brasileiras, bolivarianas, Palestinas. Mulheres de Atenas e antenadas...

Para comemorar a data convido a todas para serem mulheres palestinas, dentre tantas mulheres reúne a todas numa só luta. LIBERDADE ao nosso povo, JUSTIÇA a nossos tombados, Unidade na nossa luta, futuro a nossos filhos.

Nesta mulher, saudemos as Pagus, as Quitérias, Asa Joanas, as rosas de Hiroshima, as Marias cheias de Graça e força. As Maria Bethania, as Veras e Sandras, as Genaro, as Adrianas, Cassias. A querida Zezé de Machado, Alciones e Alcioneia Santiago Simplício, enfim... a todas as mulheres que lutam sem deixar de serem mulheres , mães, sindicalista, Guerrilheiras. As hermanas da Farcs e as conselheiras...
A minha mãe guerrilheira, militante, presa política como tantas outras rotuladas pelo sistema. E principalmente a tantos companheiros (impossível escrevê-los todos aqui) que nos fizeram fortalecidas se colocando junto a todas nós, seja em casa, no trabalho ou nas lutas.
Toquemos a luta Caminhemos Somos todas palestinas.

As Renatas e Ciças e Julis e Moemas, as Simones, Sabrinas, Izabelas.... porque família é a base de qualquer luta..

Laerte Henrique, Fortes Braga, Celso Furtado consideraram a Revolução Feminista como a mais importante do século XX. O papel revolucionário da mulher é fundamental ao processo de construção do socialismo e suas etapas seguintes. Uma das ações predatórias do capitalismo é tentar transformar a mulher em objeto,
vendendo bijuterias como sendo direitos legítimos e o faz através da mídia. O Dia Internacional da Mulher é um registro do significado desse ser mágico. Todos os dias são dias de mulheres e homens, iguais e plenos, numa luta sem tréguas contra preconceitos, violência (que se manifesta de várias formas) e barbárie.
Há um caminho grande a percorrer a despeito do que alcançaram as mulheres. E um
deles, com certeza, é viver a vida como protagonistas da História.

Conheço muitas assim, lá em cima, cá embaixo e na verdade mais que homenagear a data, ou citá-la, registro a indispensável presença das mulheres na caminhada de todos nós, para além dos lugares comuns, mas à frente, como muitas o fizeram e muitas o fazem.
Rosa de Luxemburgo, Olga Benário e até a lenda/verdade de Lady Godiva, que em plena Idade Média desafiou seu "senhor", afirmando-se como ser humano, logo, na
vocação da luta, do sacrifício, mas também e principalmente da afirmação do ser mulher.

E Claro as Guerrilheiras de todas as guerrilhas nas hermanas da FARC.


Fernanda Tardin


quarta-feira, 7 de março de 2012

CUBA – VOCÊ SABIA?

Quando se trata de Cuba muita gente, torce o nariz, afirma detestar Fidel e a Revolução.
Claro que o direito de opinião é legítimo e democrático, porém, muitos o fazem baseados apenas no que a mídia oficial comenta, e no folclore que ao longo de 50 anos, se criou sobre a ilha, sua revolução e seu líder.

Cuba, próxima dos Estados Unidos como Osório de Porto Alegre (90 Km) é um fato nunca aceito pelos Estados Unidos, acostumados a ver na América Latina, o seu quintal.

Com o intuito de trazer fatos e dados ignorados pela mídia oficial, listamos abaixo algumas informações, que bem poderiam intitular de

“CUBA - VOCÊ SABIA?”

1) que o povo cubano vem suportando um bloqueio econômico, comercial e financeiro por parte dos Estados Unidos desde o ano de 1961, como medida de guerra que castiga toda empresa que negocia com Cuba e que tal embargo/bloqueio não está legitimado pelas Nações Unidas?

- e que os danos causados por esse bloqueio a uma pequena ilha produtora de meia dúzia de produtos primários antes da revolução foi estimado em 53 bilhões de euros entre 1961 a 2008? O Brasil resistiria a um semestre de embargo do mundo?

2) que o povo cubano celebra eleições a cada cinco anos, nos âmbitos municipal, estadual e federal e que na mesma não concorrem os partidos políticos, nem tampouco o Partido Comunista?

3) que o povo cubano aprovou uma Constituição democrática de caráter socialista, no ano de 1976 com voto favorável de 97% do eleitorado, que reconhece e garante os direitos fundamentais amparados da Declaração Universal dos Direitos Humanos?

4) que Cuba ocupa o posto número 50 em Desenvolvimento Humano (IDH), posição, portanto, superior ao Brasil?

5) que Cuba é, segundo a UNICEF, o único país da América Latina que erradicou a desnutrição infantil e exibe a Esperança de Vida mais alta do chamado Terceiro Mundo (78 anos) e a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América Latina e Caribe? (4,7 por cada mil nascidos vivos, inclusive mais baixa daquela apresentada pelos Estados Unidos)?

6) que Cuba erradicou o analfabetismo em 1961, somente dois anos depois da revolução e que atualmente através do programa de alfabetização de adultos “Yo, si puedo” permitiu que em escassos dois anos, países como a Venezuela, Nicarágua e Bolívia ficassem livres do analfabetismo?

7) que Cuba é o país do mundo que aloca mais médicos na Campanha das Nações Unidas contra a AIDS com mais de três mil médicos, quando os Estados Unidos e a União Européia juntos aportam apenas um mil? O mesmo acontece com os 2.500 médicos cubanos enviados para cobrir o terremoto do Paquistão em 2005 e na qual foram salvas mais de 1.500 pessoas e curado centenas de milhares mais. Sabiam vocês que Cuba tem o melhor handicap médico por habitante do mundo e quem afirma isso é a OMS?

8) que na batalha de “Cuito Cuanavale” em Angola em 1987, graças às tropas cubanas, foi derrotado o exército da África do Sul apoiado pelos Estados Unidos e Israel e com isso se obteve a independência total de Angola, Namíbia e Zimbawe e ao mesmo tempo dado um golpe mortal no regime racista da África do Sul – o que permitiu o desmoronamento poucos anos depois desse regime e a libertação de Nelson Mandela?

9) que os Estados Unidos proíbem seus cidadãos viajar para Cuba e quem o fizer se sujeitarão a penas de 10 anos de prisão?

10) que Cuba tem um dos melhores sistemas sanitários e educativos do mundo de caráter público, gratuito, universal, reconhecido pelas Nações Unidas – da qual beneficiam inclusive cidadãos estadunidenses de baixa renda, e que chegam a Cuba tanto para estudar como para serem medicados e que correm riscos no retorno ao seu país de sofrerem represálias de autoridades governamentais?

11) que em Cuba os adultos maiores de idade realizam voluntariamente tarefas sociais de interesses comunitários e devido a isso em Cuba não existem anciões que vivem sós?

12) que em Cuba existe 65 escolas de arte, se editam 80 milhões de livros ao ano e são rodadas 5 ou 6 filmes anualmente e que existem 11 mil instalações esportivas gratuitas, sendo uma potência mundial no esporte, com 24 medalhas em Pequim e 27 em Atenas?

13) que Cuba é o único país da América que dá as mulheres grávidas um ano de licença, com recebimento de salário integral e no retorno ao trabalho há garantias de que essa pessoa não perderá o emprego? E se a criança necessitar cuidados especiais, a mãe pode tirar outra licença e o salário dela irá para o pai se assim o casal concordar?

14) que cada cidadão cubano tem o direito de ser atendido sem despensas para si em operações cirúrgicas de alto custo como doenças do coração, homodiálise, AIDS, transplantes de órgãos e outros.

15) que todos os serviços básicos oferecidos a população como água, luz, gás telefone, cesta básica, transporte público, pagamento de aluguéis para moradia e outros são subsidiados pelo governo, portanto as famílias pagarão preços reduzidos pelo uso dos mesmos e que tal fato pode ser considerado como sendo salário indireto aos trabalhadores.


"É isso que eles não podem nos perdoar, que tenhamos feito uma revolução socialista debaixo dos seus narizes (...) Esta é a revolução socialista e democrática dos humildes, com os humildes e para os humildes"

Fidel Castro