terça-feira, 10 de abril de 2012

ENRUSTIDOS

Se ainda houvesse necessidade, o caso do Senador e da Cachoeira seria uma saborosa lição.

Paladino do bem, campeão da moral, carrasco dos corruptos sempre mostrado pela mídia com o dedo em riste exigindo demissões, cpis e compostura, o senador foi envolvido numa investigação da Polícia Federal, autorizada pela justiça, que trás de forma clara e sem dúvidas, provas de seu envolvimento até a raiz dos cabelos, em inescrupulosas negociatas.

Se ainda fosse preciso, seria o momento da sociedade brasileira, aquela parcela bem intencionada que sonho com uma vida melhor para os brasileiros, mas que é facilmente levada pelas ondas da emoção plantadas pela mídia e pelos setores mais conservadores, entender, que não existem heróis acima do bem e do mal, nesse jogo sujo que, infelizmente, faz parte da rotina política de nosso país.

Não existem mágicos, não existem santos.

O Senador é mais um exemplo da coisa mais podre do jogo do poder, aquele corrupto até a alma que usa o discurso da anticorrupção para iludir os outros.

Ele não é o primeiro. Houve muitos outros.

Houve um candidato despreparado, mas que foi eleito presidente, sem propostas e sem planos, apenas defendendo acabar com a corrupção, varrer a corrupção do Brasil, tornando-se a vassoura seu símbolo.

Teve aquele outro, mais despreparado ainda que foi eleito pela mídia com um discurso vazio e sem sentido, mas prometendo “caçar os marajás”.

E ele não será o último, pois o discurso moralista sempre é fácil e sempre seduz os incautos. Ele não será o último enquanto partidos sem propostas e sem conteúdo continuarem se apossando da “corrupção dos outros” enquanto escamoteia a sua própria.

A corrupção no Brasil e no mundo é intrínseca ao exercício da administração da coisa pública que envolve muito dinheiro, interesses, burocracia e pessoas.

Existe, claro, formas de combatê-la, de maneira honesta e sem partidarização.

Uma delas, talvez a mais urgente, é acabar definitivamente com qualquer forma de contribuição nas campanhas eleitorais.

É nesse momento, quando pessoas físicas e empresas contribuem, que nascem os acordos futuros, as negociatas. Ou você acha que a contribuição se dá por amor ou ideal?

Deveríamos criar no Brasil uma legislação parecida com a do Reino Unido, onde verba de campanha é pública e dividida de igual maneira entre os partidos. Qualquer outro centavo, além disso, é crime eleitoral.

Com atos realistas e objetivos só dessa forma poderemos combater essa moléstia moral e financeira.

O resto é discurso vazio. Falso moralismo. Hipocrisia.

Como o enrustido homofóbico que agride os homossexuais, continuarão existindo os enrustidos moralistas que agridem nossa inteligência.



Prof. Péricles

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