sábado, 11 de outubro de 2014

NARCISO E O ECO NOS ROCHEDOS





Narciso era filho do rio Cefiso e de Leríope, a ninfa, nasceu extremamente belo.

Quando ainda era criança, sua mãe procurou o adivinho Tirésias para saber algo sobre o futuro de seu rebento.

"Narciso viverá longos anos, desde que não se veja." Disse o velho.

E o menino o mais belo entre todas as crianças e tornou-se o jovem mais atraente e desejado.

Em sua jovem vida, passou a colecionar paixões.

Jovens mortais, entre as mais belas. Ninfas de extrema sensualidade e deusas, todas eram atraídas por sua beleza.

Entre as apaixonadas encontrava-se Eco, uma ninfa que acobertara Zeus em uma de suas incontáveis traições. Furiosa, Hera (esposa de Zeus) condenou Eco ao silêncio. A ninfa não conseguia mais falar e apenas repetia os últimos sons das palavras que ouvia.

Louca de amor e desejo Eco segue Narciso, sem ser vista. O jovem, em determinado momento começou a gritar pelos amigos que ficaram distantes. Eco fica confusa com o som que ele emite e pensa que ele chama por ela. Feliz ela sai de seu esconderijo e corre para ele. Narciso, porém nem presta atenção em sua presença e vira as costas em profundo desprezo.

Tamanha humilhação é demais pra sofrida Eco. Nos dias seguintes, entregue aos prantos, ela deixa de se alimentar e definha.

Finalmente, dilecerada de dor, transforma-se num rochedo e multiplica-se em muitos outros rochedos capazes apenas de repetir os derradeiros sons do que se diz.

As demais ninfas, irritadas com a insensibilidade e frieza do filho de Leríope, pedem vingança a Nêmesis, deusa da justiça, que prontamente condenou Narciso a amar um amor impossível.

Foi então que o jovem mais belo entre todos, sedento, debruça-se sobre a fonte de Téspias para matar a sede. Ao ver a própria imagem refletida no espelho da água, torna-se prisioneira da própria beleza. Narciso está irremediavelmente apaixonado por si mesmo. Um amor impossível, como condenou a deusa Nêmesis, e mortal.

Estirado na relva, agoniza entre a fonte que espelha sua imagem e o solo úmido de sua orla, até morrer de amor.

Quando procuram por seu corpo, encontram apenas uma delicada flor amarela, cujo centro era circundado por pétalas brancas.

Narciso alerta sobre como pode ser devastador o fascínio pela auto-imagem.

A felicidade solitária é impossível como amar apenas a si mesmo. Ninguém é feliz sozinho.

Adotam-se verdades, que passam a justificar crenças e valores. São nossos mitos, e amamos profundamente nossa própria mitologia.

Porém, vale mais a busca de si mesmo refletido no próximo do que nas frias águas da vaidade. Se não houver a procura do outro é possível sucumbir à cilada armada pelo orgulho e pela força devastadora do egoísmo.

Vale a lembrança em tempos de eleições definidoras do futuro de milhões.

Insensibilizados as necessidades sociais de multidões de mais pobres, às vezes emudecidos pelas contingências, o voto pode ser a expressão mesquinha de um Narciso que só enxerga a si mesmo.

Alienados, os corações não podem tornar-se cruéis reproduzindo o eco nos rochedos.

Que o eleitor seja belo, como a flor Narciso e justo como Nêmesis, ao depositar o voto, não guiado por simpatias pessoais ou preconceitos que residem no egoísmo, na vaidade e no orgulho, mas pelo desejo sincero de encontrar sua humanidade na fonte da Téspia das águas puras de sua alma.

Prof. Péricles

Nenhum comentário: