quinta-feira, 16 de junho de 2016
RUÍNA DE UMA TRAIÇÃO
Por Max Cavalera
Esfacela-se, miseravelmente, toda a rede conspiratória que culminou em uma das mais vergonhosas e indecentes traições da nossa breve e frágil história democrática.
Sob à luz dos fatos, desmantela-se uma quadrilha de hipócritas que se utilizou da intolerância e do preconceito de uma sociedade branca, elitista e machista para se locupletarem num ciclo de corrupção, impunidade, poder e dinheiro.
A sequência dos fatos é estarrecedora tanto do ponto de vista prático quanto simbólico.
Uma vez afastada a presidenta Dilma, vimos, num misto de espanto e horror, surgir um ministério de velhos burgueses onde a diversidade de gênero, de raça e de ideias se fez tão escasso quanto a dignidade dos que protagonizaram a verdadeira falência desse tão celebrado Estado Democrático de Direito.
A partir desse monstro criado da mentira e da desonra, pôs-se em prática a retomada de um Status Quo que em certo dia um metalúrgico ousou subverter.
Com o cínico discurso da moralidade, tudo a que se referia social foi revisto, diminuído ou simplesmente extinto. Assim manda o capital.
A questão é que não importa o quão dissimulado esse governo interino possa ser, a marca de sua ilegalidade é gritante. E logo fez suas primeiras vítimas.
Como num câncer que corrói de dentro pra fora, os primeiros sinais de podridão foram sentidos já nos primeiros dias. Temer se viu obrigado a cortar na carne para salvar as aparências.
Como a metástase de sua delinquência moral é incontornável, assumiu de vez o caráter puramente corruptor e corruptível de sua equipe e já não se constrange em manter ao seu lado a leva de denunciados que se somam a cada dia.
No caminho percorrido que levou à completa desmoralização de todos aqueles que apoiaram o golpe, chegamos ao dia em que é solicitada a prisão da nata dos golpistas. Jucá, Sarney, Renan e Cunha na cadeia criam um retrato fiel do que representa Michel Temer na presidência da República.
Que jamais esqueçam, cada lágrima derramada pela traição regará a força e a razão necessárias para impor a ruína dos traidores.
Max Cavalera, nome artístico de Massimiliano Antônio Cavalera, é um cantor e guitarrista brasileiro. Formou a banda de thrash metal Sepultura juntamente com seu irmão, Igor Cavalera.
terça-feira, 14 de junho de 2016
AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA
Por André Roberto de A. Machado
Logo depois da votação do impeachment de Dilma Roussef na Câmara dos Deputados, cheguei em casa e peguei o único Hemingway da prateleira. Não sou um grande conhecedor de Hemingway, nem mesmo um profundo admirador da sua literatura. Mas foi um ato imediato, impensado. Larguei inacabado o romance do português Lobo Antunes que tinha me acompanhado na viagem, uma história engenhosa de um homem velho entre o delírio e a vida em seus dias finais, e agarrei uma narrativa solar. Mas não era a literatura que eu buscava.
Afinal, nós somos a exceção da história da humanidade: excetuando os anos finais da Ditadura começada em 1964
Depois de algum tempo, entendi que eu buscava mesmo era a companhia de Hemingway, como a de um amigo mais velho que talvez me explicasse o que estava acontecendo.
A verdade é que nos últimos dias tenho pensado muito na vida de Hemingway que, na verdade, é muito parecida com a maior parte da história dos homens de todos os tempos: um indivíduo que saltou de uma guerra para outra, de um desastre para outro até desembocar em um suicídio, ironicamente repetindo a atitude do pai. Exceção mesmo só foi o sucesso literário e o fato de que, no meio tempo entre tudo isso, até teve a chance de viver em uma Paris que faz inveja a todos nós.
Acredito que para nenhum outro grupo o Golpe de Estado que está acontecendo é pior do que para a geração que, como eu, está chegando hoje aos 40 anos. Não tenho dúvidas de que é algo terrível para aqueles que viveram a repressão da última ditatura e conheço relatos muito tristes de pessoas que começam a ter reminiscências desse tempo. No entanto, para aqueles que estão próximos dos 40 e não tiveram pais ou pessoas próximas diretamente atingidos pela repressão, encarar o avanço assustador do conservadorismo, aqui coroado com um golpe parlamentar muito semelhante a de outras partes da América Latina, é difícil de assimilar por falta de repertório.
Afinal, nós somos a exceção da história da humanidade: excetuando os anos finais da Ditadura começada em 1964, quando éramos muito novos para compreender o que estava acontecendo, a nossa vida foi toda percorrida em um regime democrático. Não aconteceu nada parecido como esta tentativa de inversão de um resultado eleitoral, quando o programa de governo derrotado está prestes a ser implementado por via de uma espécie de “indiretas já”.
Ao contrário disso, os resultados eleitorais, ao menos no plano nacional, foram não só respeitados, como é inegável uma melhoria do país e avanços à esquerda em quase todas as áreas, mesmo que sempre insuficientes para o nosso gosto. Da mesma forma, nunca vivenciamos pessoalmente uma guerra, a não ser nas redes sociais. Não choramos a dizimação do país por uma peste ou desastre natural de enormes proporções.
Mas parece que agora as coisas mudaram e talvez tenhamos que cada vez mais pensar naqueles que admiramos e passaram por adversidades como as que estão nos obrigando a viver agora.
De relatos de amigos a resumos que li sobre a recente entrevista do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, para a imprensa alternativa em São Paulo, o que mais me chamou a atenção foi a incompreensão dele ao nosso sentimento de “fim da história”. Apoiado em tantas lutas, Mujica só lembrava a todos nós que nenhuma vitória ou derrota é definitiva. Por isso, venho insistindo aos meus companheiros de geração: vamos lutar até o fim, mas, se o golpe prevalecer, vamos ter que encarar as consequências que virão de frente, como fizeram os que vieram antes de nós. Essa será a nossa vida.
A miséria política brasileira não é um discurso só de ódio ao PT, mas à política em geral.
Logo após a votação do impedimento de Dilma Roussef, muitos se perguntaram: é possível resistir? Como resistir? Vladmir Saflate poucos dias antes, na Folha de São Paulo, indicou uma direção: a desobediência civil.
Vários outros escreveram nos dias seguintes sobre o direito histórico de resistir a governos considerados ilegítimos. Isso acontecerá nestes termos? Não sei. A desobediência civil parece um ato simples, mas não é por acaso que é rara na história e, via de regra, mortal para os regimes políticos. Na falta de um Gandhi ou de um Luther King, fica a pergunta do que traduzirá para os demais esse sentimento difuso de que está tudo fora dos seus lugares.
Além disso, não se trata apenas do mandato de Dilma Roussef. É preciso resistir a uma onda conservadora, dessas que se espalham pelo Brasil afora.
Acredito que para nenhum outro grupo o Golpe de Estado que está acontecendo é pior do que para a geração que, como eu, está chegando hoje aos 40 anos. Não tenho dúvidas de que é algo terrível para aqueles que viveram a repressão da última ditatura e conheço relatos muito tristes de pessoas que começam a ter reminiscências desse tempo. No entanto, para aqueles que estão próximos dos 40 e não tiveram pais ou pessoas próximas diretamente atingidos pela repressão, encarar o avanço assustador do conservadorismo, aqui coroado com um golpe parlamentar muito semelhante a de outras partes da América Latina, é difícil de assimilar por falta de repertório.
Afinal, nós somos a exceção da história da humanidade: excetuando os anos finais da Ditadura começada em 1964, quando éramos muito novos para compreender o que estava acontecendo, a nossa vida foi toda percorrida em um regime democrático. Não aconteceu nada parecido como esta tentativa de inversão de um resultado eleitoral, quando o programa de governo derrotado está prestes a ser implementado por via de uma espécie de “indiretas já”.
Ao contrário disso, os resultados eleitorais, ao menos no plano nacional, foram não só respeitados, como é inegável uma melhoria do país e avanços à esquerda em quase todas as áreas, mesmo que sempre insuficientes para o nosso gosto. Da mesma forma, nunca vivenciamos pessoalmente uma guerra, a não ser nas redes sociais. Não choramos a dizimação do país por uma peste ou desastre natural de enormes proporções.
Mas parece que agora as coisas mudaram e talvez tenhamos que cada vez mais pensar naqueles que admiramos e passaram por adversidades como as que estão nos obrigando a viver agora.
De relatos de amigos a resumos que li sobre a recente entrevista do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, para a imprensa alternativa em São Paulo, o que mais me chamou a atenção foi a incompreensão dele ao nosso sentimento de “fim da história”. Apoiado em tantas lutas, Mujica só lembrava a todos nós que nenhuma vitória ou derrota é definitiva. Por isso, venho insistindo aos meus companheiros de geração: vamos lutar até o fim, mas, se o golpe prevalecer, vamos ter que encarar as consequências que virão de frente, como fizeram os que vieram antes de nós. Essa será a nossa vida.
A miséria política brasileira não é um discurso só de ódio ao PT, mas à política em geral.
Logo após a votação do impedimento de Dilma Roussef, muitos se perguntaram: é possível resistir? Como resistir? Vladmir Saflate poucos dias antes, na Folha de São Paulo, indicou uma direção: a desobediência civil.
Vários outros escreveram nos dias seguintes sobre o direito histórico de resistir a governos considerados ilegítimos. Isso acontecerá nestes termos? Não sei. A desobediência civil parece um ato simples, mas não é por acaso que é rara na história e, via de regra, mortal para os regimes políticos. Na falta de um Gandhi ou de um Luther King, fica a pergunta do que traduzirá para os demais esse sentimento difuso de que está tudo fora dos seus lugares.
Além disso, não se trata apenas do mandato de Dilma Roussef. É preciso resistir a uma onda conservadora, dessas que se espalham pelo Brasil afora.
Na contramão do mundo, não bastavam as antigas pautas como leis homofóbicas, contra o aborto e o uso de drogas que já são legais em boa parte dos países tão admiradas por nossas mentes colonizadas.
sábado, 11 de junho de 2016
CHAMA PELA MÃE
Toda criança sabe que quando a coisa estiver preta, não houver mais esperanças, estiver perdido... resta a opção mágica que é gritar com toda a força dos pulmões pela mãe.
Funciona.
Mãe é super-heroína e, mesmo sem a gente saber como, aparece em qualquer lugar naquele pior momento de aflição.
O brasileiro sempre teve uma mãezona que aprendeu a confiar e esperar nos piores momento e, talvez, o mais triste dessa crise que nos tirou tantas coisas, foi perder essa última esperança.
Os tribunais de justiça, seus rituais sempre alimentaram o mito da justiça cega e do juiz imparcial, que não olha a quem dar razão e a concede aquele que verdadeiramente merece.
O mito de que todos somos iguais perante a Lei faz parte da inocência de acreditar num país igual para todos.
Numa cadeia de esperanças dá para dizer que o supremo do supremo, isso é o STF sempre foi a verdadeira mãe pela qual se grita e confia na intervenção segura quando em perigo.
As atitudes parciais e partidárias do supremo trazem um peso muito maior para nossa história já que a justiça deixou de ser cega para se tornar vesga.
De certa forma o brasileiro perdeu a mãe pela qual sempre gritava quando tinha medo. O medo agora é da própria mãe, ou seja, da própria Lei.
Por isso, o pior do pior, em toda essa crise moral que o país passa, foi perder a fé na justiça.
Mesmo não conhecendo os meandros processuais o povo se pergunta como pode um ministro ficar mais de cinco meses de posse de um processo contra alguém que era chave na aceitação do impeachment da presidente, sem se pronunciar.
Obviamente responde de si para si ele queria o afastamento da presidente e por isso não fez seu trabalho.
No popular, Dilma gritou pela mãe quando se sentiu cercada de criminosos... mas a mãe não ouviu.
O que aconteceu para que um juiz federal estadual abandonasse a discrição e o anonimato que eles fazem questão de criar sobre si e sua vida privada para virar protagonista, aparecer na televisão, ganhar prêmio, ver a esposa postar vídeo enaltecendo suas qualidades?
Como acreditar novamente?
Tem coisas que ninguém deveria ter o direito de tirar das pessoas.
Uma delas é a ingênua idéia de que a justiça é soberana e está acima de qualquer outro interesse.
Outra e acreditar que mãe nunca falha.
MÃEEEEE....
Prof. Péricles
quinta-feira, 9 de junho de 2016
A ÓPERA BUFA DO GOLPE
Maria Fernanda Arruda |
Por Maria Fernanda Arruda
Como é constante na História do Brasil, o grande derrotado é o povo. Mas, nesse momento trágico-cômico, todos estamos entregues às mãos de bandidos primatas.
Quem eles representam? Representam a Máfia que quer dominar a educação, a saúde, as terras e os recursos naturais, hoje em especial a Máfia do Petróleo. Nesse momento, não são os banqueiros e alguns segmentos das velhas elites nacionais. Esses tiveram sempre a boa-educação recebida: dos Setúbal aos Mesquita.
Já tivemos a fala de Miguel Reale: proferindo palavras com dificuldade dolorosa, ele não consegue expor ideias que não formula, perde-se no vazio das mentes afetadas pelos malefícios de uma saúde precária. Foi seguido de Janaína, a histérica carente e que vive a crise incalculável de abstinência, aquela a quem falta tudo, mas especialmente o juízo que lhe permitiria fosse um ser racional.
São várias as certezas que poderão ser antecipadas e que correspondem aos anseios maiores dos donos do poder, desejosos de completar a obra-prima parida por Fernando Henrique Cardoso.
Haja espaço para lamentarmos, além das figuras nojentas, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Jose Sarney e mais alguns tantos. Caiado de Castro não é Carlos Lacerda. As bancadas do PMDB e do PSDB não fazem uma velha banda de música, aquela que era regida por Afonso Arinos. A derrota nos está sendo imposta pela incompetência dos que foram líderes.
A enumeração dos erros faz uma listagem muito grande que foram tolerados em razão daquilo que excepcionalmente de bom foi feito: a inclusão social de milhões de brasileiros.
O Partido dos Trabalhadores, é preciso reconhecer e entender, acomodou-se no pantanal da política brasileira e os seus comandantes devem ser responsabilizados.
Não vale para coisa alguma o sofisma paupérrimo do “ruim com eles, pior sem eles”.
Possivelmente, a menor das culpas caiba a Dilma Rousseff. A ela não se atribua corrupção.
A crítica do Partido dos Trabalhadores precisa ser feita, associada a uma proposta e um programa de ação. Não cabe fazer crítica baseada no sentimento justo de frustração. E não dispensa a contestação dura e firme do Golpe de Estado e o que resulte dele.
Greves? Greve geral é utopia, totalmente teórica e inviável. Greve dos petroleiros: perfeito. Greve dos transportes públicos: altamente desgastante junto ao povo. Greve dos estudantes? Ótimo, desde que não termine com todos indo para a praia: ocupem os estabelecimentos e usem o espaço para atividades de discussão, esclarecimento, diálogo com a sociedade. Fazer passeatas de protesto contra a Globo? Repetir o que já foi feito e está sendo repetido? Seria viável obter o apoio efetivo de atores e atrizes que vendem seus serviços.
Não tenhamos ilusões, como as que foram alimentadas diante da ditadura de 1964, imaginando-se que teria duração curta, jamais supondo-se 20 anos de chumbo.
Teremos que enfrentar um parto difícil e dolorido, pois não nos preparamos para ele, embalados pelos sucessos obtidos, mas que cegaram para os problemas que foram se acumulando.
O que fazer então? O que faltou?
1. Aceitou-se e justificou-se a política econômica neoliberal, que era programa do PSDB, e não do PT. Cometeu-se o erro grosseiro, aceitando a atuação de um Ministro empregado de um banco privado. Tivemos meses de justificativas equivocadas. Não será possível a repetição do erro e o povo precisa ser esclarecido, o que não se fez, tentando-se a validação da mentira.
2. A regulamentação da “mídia” é condição para que se realize a desintoxicação ideológica promovida pela televisão.
3. Os programas sociais precisam ser mantidos e aperfeiçoados. Precisam ser divulgados de forma eficiente, sem a conotação simplória que se usou com frequência. Organizados e fiscalizados.
4. A omissão diante do problema indígena é inaceitável, e muito menos ainda a prática de desrespeito sistemático aos camponeses, contando-se para isso com o apoio do MST.
5. O modelo agroexportador, justificando a ocupação ilegal de terras, o uso indiscriminado de agrotóxicos e a disseminação das sementes transgênicas, precisa passar por reformas radicais.
6. O desenvolvimentismo, que justifica a desumanização brutal, tem que ser substituído pelo planejamento de um desenvolvimento econômico e social.
7. A reforma política é condição para as demais reformas. Não se confunde com medidas paliativas e só será possível com uma nova Constituição.
Essa é uma listagem preliminar, incompleta e enunciada de maneira muito pouco refletida. Mas pode ser um ponto de partida. É preciso substituir a superficialidade e o dogmatismo dos slogans que, por mais que sejam repetidos, não se fazem realidade.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.
terça-feira, 7 de junho de 2016
SOBRE MITOS, PODER E MENTIRAS
Eram duas irmãs que disputavam o poder na Terra: Democracia e Ditadura.
Democracia era bela, modos elegantes, tratava a todos da mesma maneira.
Ditadura era uma ordinária, só gostava de cafajestes e tratava as pessoas de acordo com seus próprios e íntimos interesses.
Democracia nasceu na Grécia, passou muitos anos afastada de todos e voltou só no fim da Era dos Feudos, infelizmente, muito mal acompanhada por um tal de capitalismo, que a promoveu como estrela de seu show de ilusionismo.
Ditadura era mais velha, inclusive ninguém sabia sua real idade pois sempre fora vista junto com os homens desde os tempos mais remotos.
Na verdade, Ditadura era meio revoltada já que, injustamente, diziam que ela só andava com socialistas e comunistas, quando na verdade sempre fora a preferida do capitalismo, aquele infiel.
Isso mesmo, o capitalismo fazia as maiores sacanagens com ditadura, mas, andava com democracia só para manter as aparências.
Ditadura gostava muito do Brasil.
Esteve em nosso país desde o nascimento da nação.
Era a melhor amiga de “Café com Leite”, brilhou no Estado Novo da Era Vargas e chegou a seu momento apoteótico com os militares (Ditadura adora os homens de farda, é um fetiche).
Democracia, coitadinha, nunca foi bem aceita em nossas terras.
Quando tentou se impor um presidente se suicidou em pleno mandato, outro renunciou e outro foi derrubado.
Democracia é assim mesmo, incompreendida entre os brasileiros.
Depois que sua irmã feiosa foi embora em 1985, Democracia ficou se achando. Inspirou a Constituição de 1988 e incentivou avanços sociais.
Pensou que agora sim, promoveria a diminuição das diferenças entre ricos e pobres, igualdades raciais e de gênero, enfim, Democracia ficou assanhada e fresca.
Ah... Dona Democracia, não aqui em terras tupiniquins... pensou uma velha inimiga sua, uma tal de Classe Média.
Classe Média era uma recalcada que ficava na janela invejando o progresso dos outros e torcendo para que sua janela fosse o centro do mundo.
Então, resolveu usar uma velha arma de sua querida amiga ditadura, a corrupção, para expulsar Democracia do país.
Quais das irmãs vencerá e permanecerá em nossas terras?
Bem isso dependerá de uma outra deusa pouco frequente nessas terras, mas decisiva nos momentos de crise - a Vontade, prima-irmã da dignidade, melhor amiga da Vergonha na Cara....
Mas esse... já é um outro mito.
Prof. Péricles
domingo, 5 de junho de 2016
GOLPE DE MESTRE
Por Tarcísio Lage
Michel Temer está de parabéns. Ele conseguiu dar o golpe de mestre, sonho máximo de partidos fisiológicos, sem ideologia.
No Brasil o PMDB ocupa o pódio. Golpe sim!
Se o Brasil fosse um regime parlamentarista a destituição de Dilma – vá lá, o eufemismo é afastamento – teria sido a coisa mais normal do mundo. Nesse sistema quem não tem maioria no Parlamento cai sem apelação. Mas o Brasil é presidencialista, os cargos executivos com mandatos de quatro anos, todo mundo sabe, até criança de escola primária.
Claro, sempre há a possibilidade de impedimento desde que dentro de normas previstas na Constituição, mas que não foram observadas.
Durante a aprovação pela Câmara, dia 17 se abril, assistimos ao espetáculo grotesco de ver a maioria da Casa sem ter a mínima ideia do motivo jurídico do pedido do impedimento e deputados dedicando seus votos a filhos, vovozinhas e até sogrinhas.
No Senado, pelo menos, a farsa foi menos grotesca.
No entanto, Michel Temer, o mestre golpista, nem de longe agiu só encastelado no Jaburu. Teve cúmplices em praticamente todas as instituições, do STF a traidores nos ministérios, na Lava a Jato, no diabo a quatro.
Michel Temer está de parabéns. Ele conseguiu dar o golpe de mestre, sonho máximo de partidos fisiológicos, sem ideologia.
No Brasil o PMDB ocupa o pódio. Golpe sim!
Se o Brasil fosse um regime parlamentarista a destituição de Dilma – vá lá, o eufemismo é afastamento – teria sido a coisa mais normal do mundo. Nesse sistema quem não tem maioria no Parlamento cai sem apelação. Mas o Brasil é presidencialista, os cargos executivos com mandatos de quatro anos, todo mundo sabe, até criança de escola primária.
Claro, sempre há a possibilidade de impedimento desde que dentro de normas previstas na Constituição, mas que não foram observadas.
Durante a aprovação pela Câmara, dia 17 se abril, assistimos ao espetáculo grotesco de ver a maioria da Casa sem ter a mínima ideia do motivo jurídico do pedido do impedimento e deputados dedicando seus votos a filhos, vovozinhas e até sogrinhas.
No Senado, pelo menos, a farsa foi menos grotesca.
No entanto, Michel Temer, o mestre golpista, nem de longe agiu só encastelado no Jaburu. Teve cúmplices em praticamente todas as instituições, do STF a traidores nos ministérios, na Lava a Jato, no diabo a quatro.
Prometeu corte drástico nos ministérios, desistiu ao ver diminuído o poder de barganha de cargos e vacila ainda como comerciante sem escrúpulos ou de alguém que começou sua carreira política com Ademar de Barros.
É mais do que possível que soubesse da queda de Cunha depois do espetáculo deprimente da sessão do dia 17 e que o ministro Gilmar (acrescente o adjetivo mais apropriado) Mendes ia abrir processo contra Aécio Neves sobre graves suspeitas de falcatruas em Furnas. Toma lá, dá cá.
Mestre incontestável do golpe, da cartada decisiva, do xeque mate, Michel Temer é também não mais do que um instrumento de grupos nacionais e multinacionais interessados na mudança radical da política econômica brasileira.
O primeiro e mais urgente relaciona-se ao assédio constante das petroleiras pela privatização da Petrobras desde de que foi fundada em 1953 no bojo do movimento que tomou as ruas sob o lema “o petróleo é nosso”.
Não foi por nada que Temer nomeou Serra para o Ministério do Exterior, um sujeito que destoa até de seu próprio partido de tão entreguista que é. E não duvide: é bem provável que o preço do petróleo suba a medida que a privatização da Petrobrás se torne real. Certamente a Exxon e a Arábia Saudita vão deixar de segurar o barril a preço de banana.
O outro objetivo desse golpe é recolocar o Brasil total e cabalmente na área de influência dos Estados Unidos e do dito Ocidente.
Nesse caso, o Brasil é pouco mais do que um peão no jogo de xadrez dos países ocidentais contra os BRICS. É bom lembrar que o novo Banco de Desenvolvimento criado pela China. Rússia, India, Brasil e África do Sul tem o objetivo declarado de concorrer com o Banco Mundial, instrumento de dominação econômica comandadopelos EUA desde do fim da Segunda Guerra.
O golpe no Brasil ou o impedimento inconstitucional, se quiserem, pode ser uma revisão tática do grande capital em relação ao Brasil. Nesse sentido, é preciso deixar bem claro que a primeira eleição de Lula, em 2002, só foi possível porque o programa original do PT foi rasgado e substituído por outro social democrata e até certo ponto nacionalista.
Durante seu governo, Lula fez acordos com banqueiros e com parte do agronegócio para o desenvolvimento do etanol. Um risco calculado de perder (como perdeu) militantes mais à esquerda. Nasceu aí ressentimentos de muitas organizações de luta, como o MST, mas não suficientes para quebrar a aliança popular que sustentou o governo.
E, talvez, mais importante: beneficiado pelo avanço econômico (o Brasil chegou à posição de sexta economia do Planeta) o PT deu início à grande cartada de seu governo: a melhor distribuição da renda. Sair da vergonha onde grandes executivos ganhavam (e ganham ainda) salários equivalentes aos de seus colegas em Nova Iorque ou Paris, enquanto competia com o Haiti o primeiro lugar da pior distribuição da renda no mundo.
O bolsa família para tirar de imediato milhões da miséria e o aumento real do salário mínimo foram os grandes instrumentos. O capital financeiro ao calcular um bom aumento do mercado consumidor apoiou, mas sempre com um pé atrás, fiel a sua ideologia neoliberal do Estado mínimo.
Enfim, contornadas as arestas, dado o encaminhamento da contenção da miséria absoluta com as migalhas do bolsa família, tudo indica que o grande capital financeiro quebrou a aliança tática com o PT e agora está com Michel Temer do partido que faz qualquer jogada por mais suja que seja.
É o Brasil escancarando as portas para o neoliberalismo.
Tarcísio Lage, jornalista, escritor. As Tranças do Poder é seu último livro.
É mais do que possível que soubesse da queda de Cunha depois do espetáculo deprimente da sessão do dia 17 e que o ministro Gilmar (acrescente o adjetivo mais apropriado) Mendes ia abrir processo contra Aécio Neves sobre graves suspeitas de falcatruas em Furnas. Toma lá, dá cá.
Mestre incontestável do golpe, da cartada decisiva, do xeque mate, Michel Temer é também não mais do que um instrumento de grupos nacionais e multinacionais interessados na mudança radical da política econômica brasileira.
O primeiro e mais urgente relaciona-se ao assédio constante das petroleiras pela privatização da Petrobras desde de que foi fundada em 1953 no bojo do movimento que tomou as ruas sob o lema “o petróleo é nosso”.
Não foi por nada que Temer nomeou Serra para o Ministério do Exterior, um sujeito que destoa até de seu próprio partido de tão entreguista que é. E não duvide: é bem provável que o preço do petróleo suba a medida que a privatização da Petrobrás se torne real. Certamente a Exxon e a Arábia Saudita vão deixar de segurar o barril a preço de banana.
O outro objetivo desse golpe é recolocar o Brasil total e cabalmente na área de influência dos Estados Unidos e do dito Ocidente.
Nesse caso, o Brasil é pouco mais do que um peão no jogo de xadrez dos países ocidentais contra os BRICS. É bom lembrar que o novo Banco de Desenvolvimento criado pela China. Rússia, India, Brasil e África do Sul tem o objetivo declarado de concorrer com o Banco Mundial, instrumento de dominação econômica comandadopelos EUA desde do fim da Segunda Guerra.
O golpe no Brasil ou o impedimento inconstitucional, se quiserem, pode ser uma revisão tática do grande capital em relação ao Brasil. Nesse sentido, é preciso deixar bem claro que a primeira eleição de Lula, em 2002, só foi possível porque o programa original do PT foi rasgado e substituído por outro social democrata e até certo ponto nacionalista.
Durante seu governo, Lula fez acordos com banqueiros e com parte do agronegócio para o desenvolvimento do etanol. Um risco calculado de perder (como perdeu) militantes mais à esquerda. Nasceu aí ressentimentos de muitas organizações de luta, como o MST, mas não suficientes para quebrar a aliança popular que sustentou o governo.
E, talvez, mais importante: beneficiado pelo avanço econômico (o Brasil chegou à posição de sexta economia do Planeta) o PT deu início à grande cartada de seu governo: a melhor distribuição da renda. Sair da vergonha onde grandes executivos ganhavam (e ganham ainda) salários equivalentes aos de seus colegas em Nova Iorque ou Paris, enquanto competia com o Haiti o primeiro lugar da pior distribuição da renda no mundo.
O bolsa família para tirar de imediato milhões da miséria e o aumento real do salário mínimo foram os grandes instrumentos. O capital financeiro ao calcular um bom aumento do mercado consumidor apoiou, mas sempre com um pé atrás, fiel a sua ideologia neoliberal do Estado mínimo.
Enfim, contornadas as arestas, dado o encaminhamento da contenção da miséria absoluta com as migalhas do bolsa família, tudo indica que o grande capital financeiro quebrou a aliança tática com o PT e agora está com Michel Temer do partido que faz qualquer jogada por mais suja que seja.
É o Brasil escancarando as portas para o neoliberalismo.
Tarcísio Lage, jornalista, escritor. As Tranças do Poder é seu último livro.
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