segunda-feira, 12 de outubro de 2015

SEM DISCURSO E SEM CANTO



Certas coisas não avisam quando terminam. Simplesmente acabam e pronto.

A Gripe espanhola, por exemplo.

Depois de matar milhões de pessoas no mundo inteiro num tempo absurdamente curto, em 1918, simplesmente acabou em algum momento de 1919 sem deixar aviso.

Durante meses o mundo espreitou assustado, quando surgiria uma nova vítima, mas, simplesmente, acabou.

De certa forma, o feudalismo também.

As mudanças foram ocorrendo em série, as relações servis se alterando, o capitalismo se assentando aqui, acolá, e quando se viu, já não existia feudalismo.

Até hoje historiadores divergem sobre uma data específica sobre seu fim.

Outra coisa que acabou sem pompa e circunstância foi o governo Dilma Rousseff.

Não seu período de governo que ainda durará três anos, mas, sua originalidade e diferenciação.

Depois de um primeiro governo de resultados positivos em várias áreas e de carregar trôpega as bandeiras sociais do governo anterior, de Lula, o governo Dilma acabou sem nenhum aviso ou manchete no Jornal Nacional.

E isso depois de uma extraordinária vitória eleitoral, contra todas as forças conservadoras e a mídia, por um punhado de milhões de votos, Dilma venceu.

Sim, Dilma venceu embora a maioria tenha esquecido desse detalhe.

Mas Dilma e a esquerda brasileira não soube vencer.

Apequenou-se com a vitória.

Pressionado pelos perdedores que, ao contrário, se agigantaram com a derrota, o governo Dilma fez como o time pequeno que após fazer um gol se retranca e apenas se defende dos ataques do time que está perdendo, fazendo sua torcida sofrer a cada escanteio do adversário.

Ou como o lutador que, mesmo melhor tecnicamente, prefere se encostar nas cordas e suportar os golpes do outro esperando a vitória por pontos quando poderia ser por  knockout.

Numa situação parecida, embora mais grave pois acossado ainda por militares golpistas, João Goulart foi pra cima e proferiu o histórico discurso da Central do Brasil, em 13 de março de 1964. Com essa ação corajosa, Jango deixou claro que preferia ser deposto a fazer de conta que governava e que não aceitava chantagens. Os golpistas que mostrassem a cara.

Caiu, visto que sob a força das armas, mas não mentiu pra ninguém.

O governo Dilma terminou quando aceitou a chantagem da direita.

Terminou quando temeu perder o “apoio” dos aliados de sustentação e permitiu que esse medo fosse maior que a coragem de lutar.

Acabou quando promoveu uma reforma ministerial que agride aliados históricos e sinceros, substituindo ministros comprometidos com a luta ideológica por seres sinistros, que não serão seus ministros, mas, inimigos na trincheira.

No pôquer da política, aceitou um remendo de blefe e depôs suas cartas que eram, infinitamente melhores.

Faltou ao governo Dilma, ao governo do PT, o discurso da Central do Brasil.

Ou o canto do cisne que barulhento despede-se da vida num último ato de coragem.

O fim do governo Dilma, do governo do PT, será sem discurso e sem canto, muito menos ainda, coragem.

Infelizmente certas coisas são assim.

Não avisam quando terminam. Simplesmente acabam e pronto.




Prof. Péricles

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