segunda-feira, 5 de outubro de 2015

OS ARRASTÕES E SUAS ESTRANHAS OCORRÊNCIAS





Por Mário Augusto Jakobskind


Os arrastões nas praias da Zona Sul do Rio de Janeiro e até mesmo no centro da cidade maravilhosa não são propriamente fatos novos.

Quem não tem memória curta lembra perfeitamente que nos dois governos de Leonel Brizola ocorreram os tais arrastões. No governo de Benedita da Silva, numa antevéspera de eleição, também.

Em várias ocasiões constatou-se que os incidentes foram forjados e a participação da mídia hegemônica, leia-se Rede Globo, foi decisiva no sentido de criar pânico entre a população.

Os arrastões mais recentes ganharam dimensões e as imagens da violência correram o mundo, provocando consequentemente sérios danos ao turismo no Rio de Janeiro e do Brasil.

Por coincidência ou não, mais uma vez a TV Globo esteve presente no momento exato de um dos arrastões na praia do Arpoador, tendo com uma das vítimas uma turista europeia que fez questão de afirmar que jamais voltaria ao Rio de Janeiro.

A mesma Rede Globo não cobre a violência que vem sendo praticada sistematicamente pela polícia em áreas carentes do Rio de Janeiro. São mortas gente inocente, em sua maioria afrodescendentes, e o Secretário de Segurança José Mariano Beltrame não aparece da mesma forma como nos acontecimentos recentes na Zona Sul carioca.

Beltrame parece que nesta hora se esconde ou então a mídia hegemônica não o procura para explicar as violências policiais.

No caso dos recentes arrastões na Zonal Sul as autoridades agiram de forma inconsequente. Como a Justiça tinha impedido a prisão de menores nos ônibus sem flagrante delito, o Secretário José Mariano Beltrame disse em entrevista que a polícia se sentia “constrangida” e “obedecia à lei”. Na prática, para usar uma expressão popular “deixou correr”.

Ficou evidente que no fundo ele queria o apoio da opinião pública contra a medida da Justiça. Foi a forma que encontrou para justificar a incompetência de sua gestão. A polícia não foi impedida de agir preventivamente e obedecer a lei. Beltrame deixou as praias vazias de policiais que foram atender aos organizadores do Rock in Rio.

Os arrastões se multiplicaram e acirraram o preconceito e racismo de setores da classe média da Zona Sul carioca que decidiram fazer justiça pelas próprias mãos. Foram gravadas cenas chocantes de menores sendo retirados à força de ônibus em plena Avenida Copacabana.

Tudo realmente, no mínimo muito estranho, ainda mais quando se sabe que a polícia e a Secretaria de Segurança Pública têm um setor de inteligência. Uma pergunta que não quer calar: por qual motivo a inteligência não foi acionada para identificar quem faz os arrastões? Seria apenas incompetência?

Na prática, os maiores atingidos pelo esquema truculento, seja por parte dos integrantes dos arrastões ou dos justiceiros de índole fascista, são os pobres, afrodescendentes que vão às praias de ônibus ou metrô. E que as autoridades querem proibir.

Não é de hoje também que esses cidadãos brasileiros pobres são mal vistos pelos truculentos de índole fascista que agora se organizam através de redes sociais para agredir os que consideram “invasores” de seu território.

No governo Brizola quando linhas de ônibus foram autorizadas a utilizar o Túnel Rebouças para facilitar a ligação da Zona Norte e subúrbio com a Zona Sul, houve protestos de frequentadores (racistas) das praias. Neste setembro de 2015, os racistas estão se valendo de justiceiros truculentos para atacar.

Os que se consideram donos das areias, sobretudo das praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, não excluindo moradores de bairros como a Lagoa, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes podem ser facilmente identificáveis.

São os mesmos integrantes da classe média de médio ou alto poder aquisitivo que em meses anteriores saíram às ruas de Copacabana pedindo o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff e os ainda mais radicais a volta da ditadura militar que assolou o país por 21 anos.

Na carona dos arrastões se consolida também a decisão dos proprietários dos ônibus, juntamente com a Prefeitura, de cancelar várias linhas que fazem a ligação das Zonas Norte e subúrbios com a Zona Sul. Com isso, os usuários, a maioria absoluta de trabalhadores, serão obrigados a fazerem baldeação, tanto na ida como na volta.

Redução de linhas para possibilitar ainda maiores lucros aos proprietários de veículos coletivos, como Jacob Barata, identificados como detentores de contas no exterior com polpudas quantias que não passaram pelo crivo do Imposto de Renda, mas que são beneficiados pela impunidade promovida por decisão da Câmara dos Deputados que ordenou a suspensão do aprofundamento das investigações nas contas do HSBC na Suíça.

O que vem acontecendo no Rio de Janeiro deve ser objeto de uma profunda investigação para evitar não só interpretações equivocadas sobre os nefastos acontecimentos, como também a manipulação da informação. E, além do mais, para acabar de uma vez por todas com a barbárie, que pode estar sendo estimulada para fins inconfessáveis.

Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA



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