terça-feira, 20 de outubro de 2015

O CIRCO DA PILANTRAGEM

Pilantragem e Civismo
Por Laerte Braga    

 
Kalanag foi um mágico que se apresentou no Brasil lá pelos idos de 1960. 

Como, ninguém nunca soube, mas descia do palco até a platéia com uma jarra d’água e mandava o espectador escolher a bebida preferida. Vinho, uísque, cerveja, da tal jarra saia tudo. Se levarmos em conta que os mágicos àquela época dispunham de poucos recursos tecnológicos, aquele negócio de jogos de luzes, máquinas que engolem pessoas, esses aparatos todos dos mágicos de hoje, Kalanag era de fato um prodígio.

Circos ainda ocupam um espaço importante tanto na lembrança dos que assistiram aos velhos grandes circos do passado, como os que hoje têm o privilégio de observar uma arte – falo de tudo o que o circo traz -. Aquela armação de lona sobrevive em muitas cidades do interior do País. Hoje, uma nova roupagem recheada de salamaleques dos tempos atuais, levou o circo para dentro dos ginásios, das grandes áreas de espetáculos e numa certa forma preservou e preserva as características do espetáculo circense.

Águas dançantes apareceram no Rio de Janeiro no final da década de 50 e o show aconteceu no Maracanãzinho como ponto culminante de um dos grandes circos norte-americanos em seguida a trapezistas, palhaços, mágicos, equilibristas, toda a troupe.

Foi uma semana antes da célebre luta entre Archie Moore e o brasileiro Luisão, mas essa é outra história.
 
A descaracterização da palavra circo, transformada, entre outros sinônimos, em local de pilantragem, de maracutaia aconteceu por conta de se emprestar à pilantragem e às maracutaias o epíteto de um grande circo, com mágicas com dinheiro público, trapaças nos negócios de governo, grandes palhaçadas de políticos, toda essa sorte de ilusionismo do chamado mundo real.

O circo de Brasília, por exemplo, não tem nada a ver com o Circo de Moscou. E nem com as lonas remendadas que povoam as cidades do interior brasileiro.  Ali, nessas cidades, crianças e adultos ainda são capazes de gargalhadas quando o palhaço tropeça e daquelas interjeições de espanto quando o mágico faz sumir um carro em pleno palco substituindo-o ou por um elenco de mulheres, ou por pássaros coloridos que saem voando dentro dos limites da lona.

O circo de Brasília tem a batuta de três dos mais espertos “mágicos” da política brasileira.

O presidente do Senado, José Sarney. O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer e o presidente do Supremo Tribunal Federal – atual STF – o “ministro Gilmar Mendes.

Sarney, proprietário dos estados/fazenda Maranhão e Amapá seja talvez o mais completo exemplo de Zelig da história da política brasileira. Em 1º de abril de 1964, governador do Maranhão, soltou um manifesto na parte da manhã apoiando o governo constitucional de João Goulart e outro à tarde, aderindo ao golpe militar. Virou capacho de confiança dos governos da ditadura. Acabou presidente da República no episódio da construção da candidatura Tancredo Neves e da morte do mineiro, eleito presidente em 1984.

Michel Temer saiu da casca de jurista e constitucionalista para virar político, deputado em vários mandatos e uma interpretação para cada caso, não importa que seja diversa da anterior, desde que os interesses dos que representa sejam mantidos.

É ponta de lança de FHC e José Serra no PMDB. O maior partido do País, curiosamente sem cara, sem rosto, um amontoado de queromeu, onde ainda pontificam figuras sérias do porte de Roberto Requião governador do Paraná.

O terceiro nessa trindade de pilantras é Gilmar Mendes, presidente do STF. Corrupto de carteirinha, tucano de coração, corpo e alma, ocupa a presidência do que deveria ser a corte suprema do País para transformá-la em instrumento de garantia de todo esse mundo podre e irreal que acaba sendo o real.

E William Bonner, síntese do pilantra na comunicação, está lá para assustar todos os “homer simpson” na hora do Jornal Nacional. O maior produto vendido pelos donos do Brasil aos incautos que ainda acham que esses circos são reais. Não têm a ver com Arrelia ou Pimentinha, palhaços de muito caráter e seriedade.

O circo da pilantragem é no duro mesmo um circo de tragédias e essas tragédias se abatem sobre o povo brasileiro que segundo o imortal João Ubaldo Ribeiro ainda é o culpado de tudo.

A corrupção é só uma conseqüência do modelo político e econômico. Esse é o fato gerador. Esses são os donos do circo.




Laerte Braga é jornalista em Juiz de Fora/MG

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