sábado, 28 de dezembro de 2013

O MINOTAURO E NOSSOS LABIRINTOS




O grande Rei Minos teve que enfrentar seus irmãos para poder ter reconhecido seu direito sobre o trono de Creta. Mas, a briga foi feia, e num momento em que parecia que seria derrotado, prostrou-se ao solo e implorou ajuda ao deus Posseidon, o senhor dos mares.

O deus ouviu seu pedido e Minos venceu a guerra. Logo depois, numa noite de lua cheia, sai das entranhas do mar um touro, totalmente branco, extremamente belo, como ninguém jamais viu. A exigência de Posseidon à Minos, pela vitória, é que o rei sacrifique aquele touro de beleza indefinível em honra ao deus dos mares. Minos não consegue se libertar da admiração pelo touro branco e tenta enganar Posseidon sacrificando outro animal em seu lugar. Essa tentativa de ludibriar a divindade provocou profunda fúria do deus, como era próprio dos deuses gregos.

O castigo ao Reio Minos foi terrível. Posseidon pede ajuda à Afrodite, a deusa do amor, para que Pasífae, a esposa de Minos, se apaixone pelo touro vindo do mar e com ele tenha uma tórrida relação de amor. Para que isso fosse possível, a apaixonada Pasífae pede ao grande artesão Dédalo (pai de Ícaro, aquele que tentou voar até o sol), que lhe construa uma vaca de madeira, na qual ela se escondeu, para transar com o touro.

Dessa transa zooantropomórfica nasceu um monstrinho, com corpo de homem, porém, cabeça e cauda de touro, que será um dia chamado de Minotauro (o touro de Minos). Já o autor romano Ovídio, não tinha certeza de que partes eram humanas e quais eram de touro e no Renascimento, séculos depois, o Minotauro tem configuração inversa: corpo de touro e cabeça de homem.

Parsífae cuidou dele com todo o carinho de mãe durante a infância. Uma taça de vinho etrusca feita na primeira metade do século IV A.C.retrata cenas de uma terna mãe cuidando de seu filho aberração. Porém, com o natural crescimento ele foi se tornando cada vez mais feroz e assustador.

Sendo fruto de uma união sem similares, entre homem e animal selvagem, o Minotauro não tinha qualquer alimentação adequada na natureza, e, para sobreviver, era necessário devorar seres humanos para sobreviver.

Apavorado, Minos solicitou e Dédalos construiu, embaixo do palácio real, localizado na capital de Creta, Cnossos, um gigantesco labirinto para lá manter presa a fera.

O Labirinto de Cnossos sempre foi um dos objetivos mais procurados pela moderna arqueologia.

SegundoMichael Hogan, em seu livro“Cnossos, The Modern Antiquariun” de 2007, é possível identificar nas ruínas de Cnossos, mais de 1300 compartimentos dispostos semelhantes a um labirinto.

Pouco tempo depois Creta derrotou os atenienses, na época apenas em formação. Para estabelecer a paz o Rei de Creta exige que, todos os anos (segundo alguns relatos, a cada 9 anos), fossem enviados sete rapazes e sete moçasde Atenas (escolhidos por sorteio) para serem devorados pelo Minotauro.

Três anos após começarem os sacrifícios, Teseu, um jovem guerreiro, vai voluntariamente à Creta para matar o Minotauro. Ariadne, filha do Rei Minos apaixona-se perdidamente pelo jovem Teseu, e, para ajuda-lo entrega-lhe um novelo de lã na entrada do Labirinto. Teseu amarra uma ponta do novelo na parte interna da entrada e durante todo o caminho vai desenrolando o novelo. Sem esperar visitantes, o Minotauro é atacado por Teseu que usando a espada de seu pai, Egeu, assim, consegue matar a fera. O retorno para a saída será facilitado, bastando seguir o fio de novelo.

Infelizmente, pela demora de Teseu retornar, Egeu imagina que seu filho foi morto na luta e se suicida atirando-se ao mar que até hoje tem seu nome “Mar Egeu”.


Em outra versão, Teseu é filho não de Egeu, mas do próprio deus Posseidon e a Ariadne foi jogada no labirinto para ser devorada e para salva-la Teseu enfrenta e mata a fera. A ideia do novelo, entretanto, existe nas duas versões.

O mito do Minotauro foi um dos mais populares de todas as épocas da rica história grega e fascinava vivamente, especialmente os mais jovens.

A figura dos chifres sempre foram na antiguidade, e mesmo, na Idade M´dia, símbolo da virilidade masculina. O próprio demônio judaico-cristão tem chifres numa referência à sensualidade, ao apelo sexual que leva ao pecado e à queda do homem.

Em muitos relatos, a sedução e a virilidade masculina está representada com figuras com chifres como em alguns momentos o próprio Zeus em suas inumeráveis conquistas ou o deus Eolo ao cortejar Dejanira.

Em muitas imagens desse mito vemos, como sempre, a representação do próprio homem em seus desafios, medos e inseguranças, assim como em suas conquistas e vitórias.

O Minotauro é o “ser diferente” o excluído, aquele que não nasceu como os outros e muito menos foi amado e querido antes do nascimento.

Ainda hoje as sociedades humanas continuam discriminando suas crianças com síndrome de down, isolando hansenianos em leprosários apartados do convívio social e acorrentando seus loucos em manicômios de onde não se pode retornar e onde todas as esperanças são perdidas assim como os jovens condenados a serem devorados após percorrer um caminho sem fim e sem salvação.

Um Labirinto foi construído unicamente para exclui-lo, e continuamos hoje, construindo labirintos para outras exclusões.

Assim como foi com o Minotauro, esconde-se as misérias, os erros mais terríveis que assustam e lembram o quanto nosso mundo é frágil e a justiça um mito.

Ainda não houve uma sociedade humana sem seus minotauros.

Os Etruscos (povo que dominava a Península Itálica antes da ascensão de Roma) tinham uma visão bem mais humana do Minotauro, denotando até uma simpatia ao vê-lo, não como o touro aprisionado, mas como o homem rejeitado.

E, cada aspecto da vida humana e das opções que escolhemos para nossos procedimentos poderíamos incluir uma autocrítica sincera nos sentido de estabelecer se afinal, somos realmente humanos, ou se, ainda estamos mais próximos das feras.

Prof. Péricles

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