Pernambucano, ele nasceu em 4 de junho de 1898 na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, no nordeste semiárido e semiárida seria sua alma durante toda a vida.
Dizem que quando ele nasceu nenhuma ave do céu cantou em respeitoso silêncio, pelo nascimento de um Rei.
Sempre chamou a atenção seu estranho gosto pela leitura. Afinal, o que lê um menino condenado pela condição de pobre no sertão nordestino? Seria ele um feiticeiro? Teria poderes no olhar para juntar as letras e entender o que diziam?
Até os 21 anos de idade seus óculos eram citados como uma estravagância... “coisa de quem sabe ler”, cochichavam.
Naquelas terras onde o ódio deixa rastro no chão abrasado e onde a propriedade, por menor que seja, é dádiva e também tragédia por atrair a cobiça, sua família travava uma disputa angustiante com outras famílias locais, tidas como honradas.
Onde a Casa Grande dita as normas e a Senzala ainda vive nas almas, seu pai acabou morto em confronto com a polícia, a soldo das famílias honradas, em 1919.
Virgulino não teve tempo de chorar, pois no sertão a seca as vezes é nos olhos. Jurou vingança com a mesma serenidade com que virava uma página de seus livros.
E a vingança não tardou.
O jovem menino de pele queimada de sol, queimaria a bala, um a um os assassinos de seu pai. Não houve tocaia, armamento, bandoleiro ou suborno que aplacasse sua fúria. Da família rival sobreviveram apenas as mulheres e crianças, junto com os que nada tinham a ver com a pendenga.
Virou lenda. Mas teve que fugir.
Nos 19 anos seguintes (até os 40 anos de idade), o menino leitor se tornaria Lampião. Junto com seu bando viveria em nomadismo pelas estradas e picadas do sertão. Superando o sol impassível e os espinhos da caatinga perambulou pela pobreza de sete estados do Brasil, dos anos 20 e 30. Terra de abandonados e, miseráveis que não possuindo nem o direito de ter heróis de forma clandestina fariam daquele cangaceiro de pele rachada e pobre como eles mesmos, o seu herói, seu super-homem.
Lampião virou mito. Foi rei, mas, além disso, foi herói. Um herói transfigurado como fora Batista Campos no Pará ou Raimundo Jutai, o Cara Preta, no Maranhão, um século antes, no imaginário de um povo sofrido, só compreendido pelo carcará.
Foi um dos maiores estrategistas de combate do Brasil. Líder natural, disciplinador e leal a seus homens e seus juramentos, Lampião usou e abusou das táticas de guerrilha para desmoralizar o exército brasileiro.
Até os coronéis à ele se curvariam, e o próprio poder público o requereu para combater a Coluna Prestes, outro expoente da guerrilha.
Sua namorada, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, foi sua rainha. Assim como as demais mulheres do grupo, participou de muitas das ações do bando. Maria Bonita, Maria mulher, Maria como tantas Marias do Brasil.
Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Há ainda a informação controversa de que eles tiveram mais dois filhos: os gêmeos Ananias e Arlindo Gomes de Oliveira, mas nunca foi comprovada a veracidade da informação.
Calcula-se que por volta das 5:15 da manhã, do dia 28 de julho de 1938, quando despertavam para um novo dia, Lampião, Maria Bonita e seu bando foram covardemente massacrados pelos macacos (policiais), na fazenda de Angicos, no sertão de Sergipe. Não houve nenhuma possibilidade de resistência e quase todos morreram sem nem tocar em suas armas.
Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida (seria degolada, ainda viva).
Para os poderosos herdeiros das Casas Grandes nordestinas, Lampião foi o terror.
Para os historiadores é símbolo do chamado “Banditismo Social” característico da América Latina na primeira metade do século. Um banditismo que mistura questões de latifúndio com ausência do estado e situação de abandono nas camadas mais pobres.
Para o povo ele é apenas o Capitão Virgulino, o Lampião. Rebelde e Robin Hood. Mas sempre e simplesmente Virgulino, um pobre menino que sabia ler.
Prof. Péricles
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