quarta-feira, 11 de outubro de 2017

BURROS E PERVERSOS


O planeta Terra possui mais de 7 bilhões de habitantes. Muita gente, mas, não se iluda, não é de todos.


Analisando sua história dá pra ver claramente que os donos do planeta são de dois tipos: os burros e os perversos.


Burros e perversos, eis os donos do orbe.


Os burros dividem-se em vários subgrupos, mas, em geral são aqueles que não pensam exatamente no todo, mas em tudo que possa ser seu. São de natureza oportunista e egoísta.


Esforçados, os burros sabem que por luz própria não chegarão a patamares mais elevados, por isso, invejam os talentosos enquanto trabalham em dobro contra os que pensam, a quem, realmente temem.


Pensar é algo subversivo no mundo dos burros.


Enquanto isso o pessoal do talento achando que ao natural chegará um dia ao seu lugar ao sol, invariavelmente perdem tempo e espaços, declinam e terminam a vida rancorosos, se achando injustiçados por se perceberem melhores do que os que governam suas vidas.


Tipo Stálin e Trotsky. Stálin era burro, sem luz ideológica própria, Trotsky, genial. Trotsky ficou esperando a história lhe fazer justiça enquanto Stálin fazia alianças na calada da noite, no partido. No fim, veja quem comandou a Rússia por 30 anos e escreveu as páginas da revolução (o stalinismo, burro e violento, claro).


Os perversos também se dividem em vários subgrupos, mas o que predomina em todos eles é a esperteza.


Buscam o alto da pirâmide e não importando os obstáculos, invariavelmente atingem seus objetivos. Usam os burros que contentam-se com pouco e a preguiça dos talentosos. Dissimulam sentimentos e ideais que não possuem, mentem, enganam, iludem, manipulam, mas, sim, chegam lá.


Assim, por exemplo, os perversos não permitem qualquer alteração da estrutura fundiária injusta e imoral e os burros, que não possuem nem um grão de terra os apoiam. Os perversos são contra programas sociais, pois querem todos os recursos para seus fins, e os burros batem panelas. Os perversos são corruptos históricos, mas usam a corrupção para atacar seus inimigos, e os burros aplaudem golpes.


A Terra é governada por eles, os burros e os perversos.


Se você não é burro, nem perverso, é um viajante. Está aqui de visita e nada mais.


Nem tente mudar a casa que não é sua. Burros e perversos não permitirão arrumações. Irão te rotular ideologicamente e ridicularizar tuas utopias.


Em terra de burros e perversos sonhar é perigoso, tome cuidado. Eles irão ferir seus sonhos.


Alguns visitantes iluminados tentaram arrumar a casa e despossui-la dos burros e perversos.


Sócrates, Jesus, Gandhi, Martin Luther King, Mandela, Giordano Bruno e outros, ousaram desafiar o poder constituído, mas, nem é preciso dizer como reagiram os burros e os perversos, não é mesmo?


Por isso, não estressa. Sabemos que a verdadeira partida ainda está para ser jogada. Mas não aqui.


Siga seu rumo e espalhe o amor, procure fazer o bem e ser feliz. Mas, sem ilusões.


A não ser que você seja um burro ou um perverso.


Nesse caso, sinta-se em casa.




Prof. Péricles

terça-feira, 10 de outubro de 2017

ALLENDE, EL PIJE

De acordo com seus amigos, "El Pije" (elegante), como Allende era conhecido, já
discutia política aos 15 anos com a malícia de um veterano. Seus primeiros
contatos com essa atividade aconteceram no colégio, quando conheceu o anarquista italiano Juan Demarchi, que lhe indicava leituras.


Allende estudou medicina na Universidade do Chile e, em 1927, foi eleito
presidente do Centro de Alunos. Em 1933, foi um dos fundadores do Partido
Socialista Chileno, dele fazendo parte até 1946. Em 1937, foi eleito deputado e, dois anos depois, nomeado ministro da Saúde, função que exerceu até 1942. No ano seguinte, assumiu a direção do partido. Em 1945, foi eleito senador, cargo que ocupou durante 25 anos.


Salvador Allende perdeu por três vezes as eleições presidenciais, em 1952, 1958 e 1964, mas conseguiu eleger-se presidente do Chile em 1970, como candidato de uma coligação de esquerda, a Unidade Popular. Assim, entrou para a história da política mundial como o primeiro marxista a chegar ao poder através das urnas.


Allende assumiu a presidência no dia 3 de novembro de 1970 e durante seu governo nacionalizou as minas de cobre, a principal riqueza do país. Além disso, passou as minas de carvão e os serviços de telefonia para o controle do Estado, aumentou a intervenção nos bancos e fez a reforma agrária, desapropriando grandes extensões de terras improdutivas e entregando-as aos camponeses.


Desde que assumiu o poder, Allende tinha em mente o projeto de construir um "caminho chileno para o socialismo". A adoção dessa linha socialista por Allende, implementada durante seus três anos de permanência no poder, além de gerar a oposição dos democrata-cristãos direitistas, de causar um verdadeiro pânico na maioria da classe média chilena,
que passou a sabotar sua economia, paralisando-a, quase totalmente, em 1973, provocou sua indisposição com a esquerda radical chilena, como o MIR, que pugnava pela tomada do poder pela força, e criou antipatia com uma parte
importante do efetivo militar chileno, cujos chefes sempre foram treinados e doutrinados nas academias militares dos Estados Unidos. Allende denunciou em vão, nas Nações Unidas, as tentativas norte-americanas de desestabilização do Chile.


A situação econômica tornou-se catastrófica. Os investimentos privados do Chile caíram e o desemprego aumentou velozmente. A população se revoltou e passou a protestar em manifestações turbulentas com a paralisação dos transportes e do comércio e com inúmeros atentados, que provocaram apagões e danificaram pontes e oleodutos.


Apesar das graves dificuldades econômicas, a Unidade Popular obteve 43% dos votos nas eleições de 1973. Em junho desse mesmo ano, porém, ocorreu uma frustrada tentativa de golpe de Estado. Três meses depois, no dia 11 de
setembro, o governo de Allende foi derrubado pelo exército, liderado pelo general Augusto Pinochet.


Allende faleceu resistindo ao ataque, às 14:15 desse dia.


Aos 65 anos, Allende tornou-se uma das primeiras vítimas da ditadura militar chilena, que durou 17 anos e deixou pelo menos trinta mil mortos ou desaparecidos.


VÁRIOS AUTORES

sábado, 7 de outubro de 2017

O JORNALISTA ERA ESPIÃO


Por Sheila Sacks

Nascido na Alemanha do após guerra, Wilhelm Dietl era um jornalista experiente e respeitado, com vários livros no currículo, quando em 2005 descobriu-se que ele havia sido um agente do Serviço de Inteligência Federal (BDN, na sigla em alemão) por mais de uma década.


Especialista em geopolítica do Oriente Médio, autor de reportagens investigativas em zonas de conflito, notadamente em países como Irã, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Líbia, Líbano, Israel, Egito e Síria, Dietl contava com espaços preciosos para as sua matérias em importantes veículos de comunicação, como os semanários “Stern” e “Focus”.


Mas tudo mudou quando seu nome apareceu em um relatório do BDN como sendo o de um espião remunerado de codinome “Dali” que exerceu a função de informante do órgão no período de 1982 a 1993.


Dietl sempre negou que espionava ou fornecia informações contra os seus colegas de profissão, apesar de admitir que por onze anos foi um agente pago do serviço secreto alemão. Ganhava mil marcos (cerca de 500 euros) por relatório de dez páginas, além de ter as suas passagens aéreas e as diárias de hotéis pagas a cada missão, que podia ser em Paris, entrevistando o presidente deposto da Argélia, Ahmed Ben Bella (1918-2012), ou em Damasco, conversando com o ministro de Defesa da Síria, Mustafa Tlass, que exerceu o cargo de 1972 a 2004.


Ele afirma que no início hesitou, mas que depois concordou com a proposta, imaginando que estaria servindo ao país.


O trabalho como jornalista funcionou como excelente cobertura, segundo Dietl, facilitando o seu acesso às informações e às pessoas, como no caso do jornalista sírio Louis Fares, amigo pessoal do presidente Hafez al-Assad (1930-2000). O político sírio que governou o país por quase 30 anos, pai do atual presidente Bashar al-Assad, enviou Fares em missões clandestinas à França e Dietl dá a entender que essa amizade e de outras fontes sírias lhe renderam importantes documentos sigilosos, os quais enviava para seus contatos na Alemanha.


Durante o período em que foi agente secreto, Dietl amealhou o equivalente a 600 mil marcos. Quando se desligou do BDN por divergências com o órgão, ele conta que até sentiu alívio, pois admite que estava com os “nervos em frangalhos”. Ele se reunia com terroristas, comandantes militares, representantes de serviços de inteligência e políticos na condição de correspondente, com a incumbência de escrever reportagens sobre os acontecimentos no Oriente Médio.


No início de 1982, chegou a ser detido pelas forças de segurança sírias na cidade de Hama, ao norte de Damasco, durante os sangrentos confrontos com o grupo da Irmandade Muçulmana, que se rebelou contra o governo central. Mas conseguiu escapar mostrando a seus interrogadores a gravação da entrevista que teve com o ministro de Informações do país e mentindo acerca de um suposto encontro agendado com o presidente Hafez Assad (que não pode ser checado porque o serviço de telefonia estava interrompido).


“Estou orgulhoso do que fiz”, declara Dietl. “Não tenho que pedir desculpas. Eu agi acreditando em valores e ideais; denunciei terroristas perigosos, abortando operações e salvando vidas humanas.”


No Brasil, o jornalista Claudio Tognolli, diretor-fundador da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), professor da USP e autor de livros polêmicos (‘Mídia, Máfia e Rock and Roll – 50 anos a mil’; ‘Assassinato de reputações’, entre outros) é incisivo ao traduzir o envolvimento do jornalismo com o ambiente da inteligência e espionagem. “Todo mundo que cobre inteligência tem algum amigo que trabalhou ou trabalha para a CIA ou para a KGB.”


Ano passado, “O Globo” publicou uma reportagem investigativa do jornalista José Casado acerca da conexão islâmica no Cone Sul que prima pelos detalhes das informações. A matéria reconta os preparativos para os atentados à embaixada de Israel em Buenos Aires e ao prédio da Amia (Associação Mutual Israelita da Argentina), em 1992 e 1994. Casado expõe a fragilidade de atuação dos órgãos governamentais na Tríplice Fronteira e “a relutância dos governos da América do Sul em admitir a possibilidade de conexão regional com a novidade do terrorismo político-religioso em escala global” (“A Conexão Brasil no Extremismo Islâmico”, em 13/07/2014).


Um texto extraordinário, de leitura imperdível, melhor do que qualquer relatório “confidencial” da CIA, reforçando a sensação de que a linha de demarcação entre o jornalismo e a espionagem é uma questão de opinião.



Sheila Sacks, jornalista formada pela PUC-RJ tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total. Desde 2009 mantém o blog “Viajantes do tempo”.

domingo, 1 de outubro de 2017

SILÊNCIO, MUXOXO E GAGUEJOS



O domingo de sol, ao menos aqui no Rio, pode ser a desculpa.


Mas a grande maioria dos comentaristas políticos da grande mídia está em silêncio, depois de uma quinzena em que decretou que “agora, Lula acabou”.


E vem o Datafolha e mostra o “defunto” não apenas vivo como esbanjando saúde, com taxas de crescimento eleitoral mais do que vigorosas.


Os demais candidatos, candidatos a candidato e factoides pararam ou até retrocederam um pouquinho.


Não apenas isso: a tão brandida como intransponível rejeição a Lula cai seguidamente e, nas simulações de 2° turno.


Os poucos que falam algo – aquele site que, por uma questão sanitária evito citar o nome – chama de “esquizofrênica” a pesquisa da Folha, enquanto os datafolhistas oficiais culpam os pobres pelo favoritismo do “monstro”.


Os partidos convencionais – ou o que resta deles – estão baratinados.


Como estão baratinados os dois partidos mais importantes do Brasil: a mídia e o PC, Partido de Curitiba.


A semana é de arranjar novas revelações “sensacionais” que tentam a, ao menos na aparência, evitar que o “duro de matar” do Lula seja o assunto de botequim.


Vão, como se vê, insistir na tática que levou a estre quadro, para eles, apavorante.


E Lula vai, ao contrário, retomar sua programação de viagens, apostando no contato direto com a população, que é o canal que não lhe podem – ainda – fechar. E passa a uma fase mais propositiva, dentro em pouco, com a apresentação de projetos e metas para arrancar o Brasil da crise.


Ao contrário da pancadaria, que seguirá sendo a pauta burra da direita, que visivelmente já enjoou a população e perdeu grande parte da credibilidade.


Enquanto isso, o país segue sua trilha de lama, com a revelação continuada das podridões de Moro e os esquemas sujíssimos do Ministério Público na montagem das delações seletivas.


E, distantes dos nossos olhos, prepara-se no Tribunal Regional Federal a “eleição” de quem não pode ser presidente do Brasil.


Como no retorno de Getúlio, só pensam na máxima de Carlos Lacerda de que Lula não pode ser candidato, porque se for, vencerá e se vencer governará.



Por Fernando Brito


sábado, 30 de setembro de 2017

D. PEDRO II E O QUADRO MALDITO


Sacanearam o jovem D. Pedro II.


Agentes políticos brasileiros, encarregados de achar uma noiva para o imperador, enviaram pra ele uma pintura de uma morena gatíssima, com uma linda paisagem de Nápoles ao fundo. O guri se apaixonou.


Depois de inúmeros preparativos oficiais para o casamento, a noiva, finalmente chegou no Brasil.


Pobre D. Pedro, só então percebeu que a bela da foto não tinha muito a ver com a original de carne e osso. Uma mulher relativamente, feia.


Bateu até depressão, mas, compromissos de estado não podiam ser cancelados assim, e teve que encarar o casamento com Teresa Cristina.


D. Pedro II jamais gostou realmente da esposa. Deve ter passado o resto da vida amaldiçoando a inspiração de pintores de retratos.


Entretanto ele se apaixonou cegamente por uma mulher que, apesar de nobre, jamais poderia ser sua imperatriz: Luísa Margarida Portugal e Barros, a condessa de Barral.


Foram 34 anos de intensa paixão.


Luisinha era magra, elegante, refinadamente educada, não era exatamente, bonita, mas era encantadora e sensual.


Conheceram-se na Bahia quando ela se aproximou das duas filhas do imperador, Isabel e Leopoldina. Foi aia das meninas ensinando um pouco de francês e etiqueta.


Com ela ele podia conversar sobre qualquer assunto, principalmente sobre artes, livros, teatro e ciências já que a moça foi criada na França, era bem informada e curtia os prazeres do conhecimento.


Mas não apenas esses prazeres.


Ao que parece D. Pedro II sentia ciúmes de Luísa, uma faceta totalmente desconhecida do homem que governou o Brasil por mais tempo.


Morreram no mesmo ano, 1891. Ela em janeiro, ele em dezembro. Ambos moravam em Paris e, ao que parece, o caso sobreviveu ao exílio e ao tempo. Ela morreu com 74 anos e ele com 65.


O Imperador do Brasil teve uma vida pública, discreta e sem escândalos, mas, uma vida amorosa, totalmente clandestina.


De onde podemos concluir que até mesmo os mais espertos quebram a cara quando se deixam levar pelas aparências.


Maldito quadro!




Prof. Péricles

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

MINHA AMIGA IMPERATRIZ


Ela chamava atenção não apenas por seu porte físico avantajado, mulher alta e farta, como também pela forma de caminhar, de pés descalços como se calçasse um sapato de salto muito alto.


Moradora de rua, eu a chamava de Imperatriz.


Dizia ser neta do imperador D. Pedro II do Brasil e, quando em surto, agitava uma amassada folha de papel em branco, dizendo ser sua certidão de nascimento como prova de sua origem imperial.


Aproximava-me sempre que possível isso é, quando não estava alucinada ou embriagada. Conversamos muito, lado a lado na calçada.


Queria entender por que, na mente enlouquecida de uma pessoa, aparentemente tão simples, a fantasia era ser neta de D. Pedro II.


Não tinha conhecimentos de história muito maiores do que a média das pessoas mas revelava conhecimento incomum sobre a família imperial.


Jamais morou no Rio de Janeiro, mas dizia ter nascido em Petrópolis.


Numa de nossas primeiras conversas eu sorri e disse “claro, você é filha da Princesa Isabel não é?”.


Para meu espanto, serenamente ela respondeu não, da outra filha, a Leopoldina.


Leopoldina Teresa Francisca de Bragança e Bourbon foi a segunda filha de D. Pedro II e a segunda na linha de sucessão ao trono. Morreu prematuramente com apenas 23 anos, em 1871 e, que se saiba, teve apenas dois filhos homens.


Conversamos muito tempo, por muitos anos espaçados.


Dizia ter tido uma infância de princesa e perdido seus títulos quando foi proclamada a “maldita” república (ela sempre cuspia quando falava república).


Contava de suas viagens por todo o país que nunca lhe fez uma só reverência. Não frequentou salões da corte, nem viajou ao exterior embora quisesse muito conhecer Nápoles, terra de sua vó D. Teresa Cristina (informação absolutamente correta).


“Minha vó era uma mulher silenciosa porque sofria. Ela sabia que meu avô D. Pedro não a amava e gostava de outra”.


Sempre senti uma profunda admiração por sua loucura e jamais consegui compreender sua origem.


Se imaginar bela, rica ou esposa de um artista famoso é para as comuns.


Minha amiga sonhava ser neta de um imperador deposto e esquecido e filha de uma princesa que sequer era herdeira ao trono.


Quando soube de sua morte, senti a profunda tristeza de um súdito abandonado.


Até hoje, me pego imaginando se lá pelas estrelas mais afastadas do firmamento, aquelas exiladas do lado nobre do céu, ela não estará com seus trajes de gala do século XIX, finalmente calçando sapatos altos que sempre imaginou calçar, dançando, feliz, uma valsa de Strauss, num salão repleto de luz e reconhecimento.


Fecho os olhos e a imagino imponente, com um sorriso discreto, permitido à nobreza.


Descanse em paz Sua Alteza.


A Imperatriz das calçadas, finalmente chegou aos céus.



Prof. Péricles