domingo, 6 de março de 2016

O IMPÉRIO DA OPINIÃO


Por Sheila Sacks.

O noticiário dos blogueiros nas redes sociais é olhado com desconfiança.

Na série de TV americana Good Wife, ambientada nos tribunais de Chicago, uma das magistradas possui determinada característica que desarma os bacharéis que recorrem à sua jurisdição. Dependendo do viés interpretativo adotado pelos advogados de defesa ou de acusação em relação ao tema em julgamento, a juíza interrompe a argumentação com o bordão “na sua opinião”, sinalizando aos contendores e aos membros do júri que o raciocínio expresso pelo profissional em questão representa um ponto de vista pessoal e não necessariamente uma visão verdadeira ou correta dos fatos em exame.
Diferente dos tribunais, cujos parâmetros legais dificultam e restringem eventuais manipulações na construção de um raciocínio, a imprensa é um campo aberto a observações pessoais especulativas pela própria natureza de seu serviço voltado à livre difusão da informação e por extensão ao livre exercício da opinião. 
Ainda que o comentário afronte conceitos éticos e apresente visões distorcidas da realidade, o jornal lhe confere visibilidade e, essencialmente, o crédito da confiabilidade.
O historiador americano Christopher Lash (1932-1994), crítico dos processos de disseminação da informação no mundo globalizado, teve essa percepção ao enunciar em seu livro “Cultura do Narcisismo” (de 1979), que “para algo ser aceito como real, basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável”.
Consulta divulgada pelo Ibope, em dezembro de 2014, apontou que 58% dos entrevistados confiam “muito ou sempre nos jornais impressos”, percentual superior a outros meios de comunicação como televisão, rádio e internet.
Em relação às novas mídias, a pesquisa indicou que 71% dos entrevistados confiam pouco ou nada nas notícias veiculadas pelas redes sociais. O percentual de desconfiança chegou a 69% em relação aos blogs e 67% no que se refere aos sites.
Entre os vários itens pesquisados, ficou patente que o jornal é o meio de comunicação que recebe maior nível de atenção exclusiva, ou seja, metade dos leitores não faz nenhuma outra atividade durante a sua leitura.
Com a credibilidade em alta, aumenta naturalmente a responsabilidade daqueles que dispõem de espaços em jornais para emitir, formar e direcionar opiniões.
Sabe-se que o texto opinativo visa o assentimento às ideias, teorias e juízos apresentados, e que cabe ao leitor a nem sempre fácil tarefa de separar o que se enquadra efetivamente no real daquilo que se configura em um ideário de aparências e enganos.
No livro “A arte de argumentar”, o professor Bernard Meyer da Universidade de Rouen, na França, destaca que a argumentação age basicamente sobre os indivíduos e não sobre conceitos como o da verdade. E explica: “Ela (a argumentação) não procura determinar se uma tese é verdadeira ou falsa, mas influenciar outra pessoa, logo, ela nunca será automática ou obrigatoriamente aceitável, como o é a demonstração matemática.” De acordo com Meyer, a argumentação é bem sucedida quando convence o destinatário e não, como muitos pensam, atinge a verdade.
Na última década, ampliando a influência subjetiva das páginas opinativas que interferem na formação e avaliação da realidade, a imprensa vem agregando a esse plantel de profissionais de jornalismo uma plêiade de personalidades do mundo artístico, aparentemente em prol da diversidade de ideias e conceitos que balizam a liberdade de expressão nas democracias.
Se antes, cineastas, compositores, músicos e outros astros populares “bons de escrita” se expressavam nos suplementos de cultura ou “segundo caderno” sobre a sua arte, agora migraram para as páginas reservadas à prática e observação jornalísticas das cenas político-sociais, concorrendo em igualdade de espaço e mérito com os textos do “pessoal da casa”. O cineasta Cacá Diegues e os compositores Nelson Motta e Aldir Blanc, por exemplo, ocupam regularmente as páginas de opinião de “O Globo”, emitindo conceitos, análises, avaliações e críticas sobre temas que envolvem políticos, diretrizes de governo, relações internacionais etc.
A seu favor, os próprios currículos festejados pela imprensa e a admiração dos leitores-fãs, dois referenciais de peso a embasar pontos de vista individuais e impositivos que caracterizam “a superioridade bem informada” conceituada pelo filósofo e sociólogo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969).
Na obra “Minima Moralia: reflexões a partir da vida lesada” (1951), Adorno então em seu exílio nos Estados Unidos chama a atenção para a responsabilidade que deve prevalecer entre a elite formadora de opinião – “os inteligentes” – quando se propõe a expressar suas ideias e opiniões valendo-se de um meio de comunicação de massa. “Nenhum pensamento é imune à comunicação e proferi-lo no lugar errado e por meio de entendimento errado é suficiente para solapar sua verdade”, escreveu.
Para o professor de Ciências da Comunicação da Universidade Nova Lisboa, João Pissarra Esteves, aqueles que têm acesso à mídia estão investidos de um poder extraordinário, “porque impõem a sua própria realidade perante os outros, de acordo com os seus valores e interesses próprios” (“A Ética da Comunicação e os Media Modernos”, de 1998).
Maior contundência mostra o autor de “Nossa Cultura ou o que restou dela” (2005), o psiquiatra e escritor inglês Theodore Dabrymple, de 65 anos, um implacável analista da sociedade globalizada com uma dezena de livros publicados. Ele credita aos artistas, diretores de cinema, romancistas, dramaturgos, jornalistas e até cantores populares – além de economistas e filósofos sociais – o poder de indução e controle das sociedades. “São eles os legisladores invisíveis do mundo e devemos prestar muita atenção àquilo que dizem e como dizem”, assinala no prefácio do livro.
Sobra ao leitor consciente, diante de certas leituras nitidamente comprometidas com dogmas ideológicos, a desagradável sensação de impotência diante da leitura de textos bem articulados, produzidos por uma elite inteligente respaldada por veículos de comunicação de grande tiragem e influência social. 
Nesse caso soa perfeita a observação do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 89 anos, quando afirma que “nunca fomos tão livres e tão incapazes para mudar as coisas”.

Sheila Sacks, jornalista formada pela PUC-RJ sempre trabalhou em assessoria de imprensa.Tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total. Desde 2009 mantém o blog “Viajantes do tempo”.


sábado, 5 de março de 2016

A HISTÓRIA DAS SARDINHAS




Era uma vez... um cardume de sardinhas.

Num contexto mais amplo as sardinhas tinham a função de alimentar os tubarões.

E assim era, o tempo todo desde que os tubarões haviam descoberto as águas das sardinhas.

Haviam eleições para escolher a líder do cardume, mas, toda vez que aparecia uma sardinha de baixo, que ousasse questionar a ordem da cadeia alimentar era combatida pelas sardinhas de cima e as sardinhas do meio.

As sardinhas de cima eram as que viviam melhor já que, por estarem acima recebiam alguns afagos e eram poupadas pelos tubarões que preferiam mergulhar nas águas mais profundas, as vezes até no pré-sal.

As sardinhas da faixa média achavam que um dia seriam sardinhas de cima (as sardinhas de cima riam em segredo das coitadas) e desprezavam as sardinhas de baixo, as quais se achavam superiores.

As sardinhas do meio acabavam na barriga dos tubarões igual as sardinhas de baixo, porém, se achavam superiores e mais espertas.

Para manter essa ideia, havia, entre as sardinhas, as sardinhas vendidas.

Sardinhas vendidas eram sócias dos tubarões no Globo todo, mas isso era segredo, e passavam a vida transmitindo as notícias do que acontecia lá na superfície e dentro do cardume, distorcendo essas notícias de modo que, as sardinhas do meio e até as sardinhas de baixo, pensavam justamente o que as vendidas queriam.

Havia sardinhas que estudavam a história do cardume, mas, ninguém as ouvia e diziam que não sabiam de nada.

Havia sardinhas que formavam grupos de pensamentos sardinhescos populares, mas eram tachados de comunistas comedores de ostrinhas, e ninguém as ouvia.

Um dia, uma estrela do mar fez parceria com as sardinhas mais de baixo e uma Lula passou a liderar o cardume.

Graças a isso a vida melhorou, principalmente das sardinhas que eram preferencialmente devoradas ainda na infância.

Houve ódios e ranger de dentes quando as sardinhas do meio viram filhos das sardinhas de baixo nadando nas mesmas águas.

Mas, as sardinhas de baixo e as do meio que apoiavam a Lula eram maioria e passaram a ganhar todas as eleições do cardume.

Então,tudo se fez e todas as alianças se criaram para derrubar a estrela.

“Nesse mundo, o mundo dos seres Marinhos, quem manda somos nós” bradaram as sardinhas vendidas, cara de lata, que davam as notícias.

O que acontecerá com o cardume, com a Lula e com a estrela?

Não sei.

Essa história ainda está acontecendo e é você que contará o final.





Prof. Péricles

quinta-feira, 3 de março de 2016

MAD MAX: A ESTRADA DA FÚRIA É NO BRASIL

Brasil, em algum momento do futuro.

Olhos perdidos no nada buscam entender seu tempo.

Nosso herói sobreviveu a ultima epidemia provocada por mosquitos, que matou toda sua família.

Milhões de outras pessoas morreram já que não tinham dinheiro para pagar hospitais nem planos privados de saúde.

O SUS existiu mesmo um dia ou era uma lenda?

Esgotado, na saída do hospital privado e pago, procura lembrar como tudo começou.

Sim, pensa nosso heróis, foi na grande vitória dos coxinhas.

Agora lembrava bem...

Depois de uma enorme farsa montada pela mídia em parceria com a ala asiática da Polícia federal e membros do judiciário, a presidenta foi afastada.

Seu vice ficou de mau e nada fez para ajuda-la.

Pobre Presidenta, tão tolinha, acreditava em democracia.

Seu substituto natural e ex-presidente, foi atado a uma teia de acusações que inviabilizaram sua candidatura.

Não importava se acusações tivessem fundamento. Podiam ser míseros pedalinhos, tudo era usado para desvirtuar a candidatura dele.

Ao mesmo tempo desviava-se a atenção de milhões e milhões roubados pelos amigos da mídia e das companhias americanas.

Oh God! Como fomos tão cegos!

No poder, o tirânico ex-presidente do congresso deu o golpe final na democracia, e se declarou imperador, Coxinha I enquanto a primeira dama recebia o título de sobrecoxa.

O pré-sal foi entregue por alguns pilas (a moeda gaúcha foi adotada como moeda nacional) e a Petrobras trocada por um posto de gasolina da Shell em Caxias.

Os bancos da Suíça receberam dupla cidadania.

Numa festa apresentada por Fábio Júnior e Regina Duarte com músicas de Lobão, transmitida ao vivo pela maior rede de televisão e de audiência obrigatória pela nova ditadura, um ex-sociólogo recebeu o título de príncipe de acordo com sua insaciável vaidade.

O tucano virou a ave nacional e por determinação do Coxinha Supremo todos tiveram que colocar um globo na manga de suas camisas.

As saudações “Eil” usada pelos nazistas ou “anauê” pelos integralistas foram substituídas por “plim-plim” quando coxinhas se encontravam ou saudavam seus líderes

Sim, nosso herói lembrava bem...

Lembrava das festas do 4 de julho que substituíram o 7 de setembro e eram comemoradas com marcha dos estudantes pelas ruas do Brasil.

Lembrava dos campos de reeducação no interior do Araguaia onde a juventude aprendia inglês e era forçada a frequentar cursos intitulados de “revoltados on line” e “vem pra rua” onde sofriam lavagem cerebral e viravam umas bestas.

Shits! Quanto horror!

Ele nem sabia o que era pior...

Seria, talvez, os mandamentos da NIB (Nova Igreja Brasileira) que pregava que lésbicas, gays, índios e negros iriam para o inferno e o estado deveria dar um empurrãozinho?

Ou os discursos dos Bolssonaristas, membros de uma poderosa organização que pretendia enviar para campos de concentração e extermínio todos aqueles que fossem de esquerda ou tivessem um petista em sua árvore genealógica?

Nosso herói não sabia, mas uma coisa ele tinha certeza... aquilo tudo havia sido apenas o começo da grande tragédia que se abateu sobre os brasileiros, mas agora, chegara a hora de virar o jogo.



(continua)


Prof. Péricles

terça-feira, 1 de março de 2016

COMO AS MULHERES DOMINARAM O MUNDO



Por Luís Fernando Veríssimo


Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.

- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho...

Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira.

Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo.

- E aí, papai?

- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite", eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "O regime".

- E vocês? Não perceberam nada?

- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior:

Continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem.

- Aí, veio o golpe mundial?!?

- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente...

- Como era mesmo o nome dele?

- William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo...

- Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue...

- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona...

- Pai, conta mais...

- Bem filho... O resto você já sabe.

Instituíram o Robô "Troca-Pneu" como equipamento obrigatório de todos os carros...

A Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho...

E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...

- TPM???

- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... E quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear...

- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...

- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...




Luis Fernando Verissimo
Filho de Érico Veríssimo, Luis Fernando Veríssimo é escritor e jornalista gaúcho, infelizmente, colorado.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

SONHOS E SAUDADES


Numa noite intranquila em que o sono chegou apenas em hora distante da madrugada, o sonho se fez e nele, ela apareceu.

O mesmo sorriso acolhedor e olhos irrequietos e grandes como querendo enxergar além do que é visível.

Bela, no seu jeito singelo de uma beleza sem escândalos.

- Oi guria... você está linda, como sempre.

- É a vantagem de estar morta amor. A gente fica viva na memória de quem fica assim como era, sem envelhecer.

A mesma inteligência irônica e provocativa.

- Já você me parece muito abatido...

- É a desvantagem de estar vivo, respondi, a gente envelhece.

Rimos, nós dois.

Depois o silêncio e com ele o meu medo dela desaparecer dos meus sonhos, pois sabia que estava sonhando.

- Por onde tu andas menina?

- Por aí, disse ela ficando séria. Entre uma estrela e outra, pulando entre as cores que não existem nas aquarelas, pensando nas coisas feitas e principalmente nas que foram deixadas de fazer... e você?

- Por aí, entre dias marcados na folhinha, clics de teclados e trabalhos que não bastam.

Acho que ela não gostou de minha resposta.

- Morfeu, sei muito bem que tu faz o que é possível e ninguém poderá te pedir mais do que isso... o possível.

- Mas talvez seja pouco. Não é raro se estabelecer o desânimo. Acho que me falta talento.

Sabe guria doida, tu não deverias ter morrido por eles. Hoje te chamam de terrorista e glorificam gente que esteve no lado do terror e...

-Mas eu não morri por eles, Morfeu. Eu lutei por mim. E não me importa o que digam, importa as razões que estão no meu coração.

Novo silêncio.

Um silêncio que se faz no sonho é mais completo e distante.

- Valeu a pena, perguntei, quase envergonhado.

- Da luta, não. Da forma, talvez. Mas, nem sempre somos nós que escrevemos o nosso próprio destino.

Sorrindo para disfarçar a minha dor, perguntei:

- Tu dá aula de história para os anjos?

Ela também sorriu. “Tu continuas o mesmo, brincando sempre que está nervoso”.

Ela se moveu e percebi que se distanciava, tentei de alguma forma segui-la, mas não consegui.

Ainda ouvi um “estou indo” antes de abrir a boca para dizer qualquer coisa, mas quando dei por mim olhava a parede vazia, levemente iluminada pela luz da luz.

Virei para o lado e arrumei o travesseiro.

Essa é uma vantagem de estar vivo... entre sonhos e saudades podemos sonhar de novo.



Prof. Péricles


sábado, 27 de fevereiro de 2016

O SHORTINHO DAS EVAS DO ANCHIETA

A sociedade judaico-cristã forjada no ocidente a partir, especialmente, dos séculos III e IV alterou profundamente a visão que se tinha sobre o sexo no período anterior, da cultura helênica.

Foi construída em cima do medo, da ideia de que somos fracos diante das tentações e que quando cedemos à essas tentações cometemos pecados.

Todo pecado possuí seus agentes causadores (seus demônios) e suas vítimas.

Como a sociedade judaico-cristã é fruto do patriarcalismo latino somado ao patriarcalismo judeu, determinou-se que, o agente causador do sexo pecador é a mulher e a vítima, o homem.

Nessa visão tudo começa na fraqueza, na natureza perversa (Eva que iludiu Adão) e na provocação feminina.

As mulheres, diabólicas, provocam o olhar dos homens que, coitadinhos, não conseguindo se controlar, cometem os maiores desatinos.

O estupro, o abandono da família e da esposa, as paixões arrasadoras teriam origem, na provocação da mulher e na inocência masculina.

Oras, essa argumentação consciente, ou inconsciente, reforça a dominação do homem numa sociedade sempre ameaçada pela sedução diabólica das filhas de Eva.

Na sua gênese, portanto, está o machismo e a necessidade de submeter para não competir e que justifica toda violência contra a mulher.

Na Antiguidade (nem tão antiga assim) a prostituta era bem remunerada e elogiada no privado, mas condenada à morte, geralmente sob apedrejamento, no público.

A sociedade machista é montada sob a hipocrisia. Você pode transar com todas desde que não seja descoberto, ou reconhecido.

As mesmas mãos que acariciavam no isolamento jogavam as pedras quando em grupo.

Ainda ontem substituímos as pedras pela fogueira e mais recentemente a fogueira pelas balas dos revólveres e mais recentemente ainda, as balas pela condenação moral.

"Coma todas meu filho, mas jamais seja descoberto e se o for negue pois o que é a palavra de uma mulher diante da palavra de um homem?"

Apesar de toda evolução da cidadania burguesa ainda definimos os homens como vítimas e as mulheres como as culpadas.

Algo tão absurdo como culpar a presa e não o caçador pelo crime ambiental da caçada. Quem manda ela ter a carne tão gostosa quando acompanhada de batatas e ainda por cima caminhar livre nas matas expondo suas costeletas...

Por isso, a polêmica do shortinho no Colégio Anchieta, aqui de Porto Alegre, nada tem a ver com o shortinho propriamente dito, mas com o objeto e o olhar.

Onde está o descontrole, no shortinho ou no olhar dos meninos?

Onde está a origem dos abusos, no objeto ou no olhar?

É uma questão que transcende o shortinho pois poderíamos transportar essas dúvidas para inúmeros outros fatos geradores dos mesmos questionamentos.

Mulheres pioneiras no uso de minissaias em Porto Alegre foram encurraladas na rua da Praia e foi necessário a intervenção da polícia que... prendeu as moças.

Leila Diniz respondeu a processo por ousar mostrar a barrigona de oito meses de gravidez desnuda na praia.

Pobres homens ameaçados por essas diabólicas mulheres.

O instinto sexual dos coitadinhos é incontrolável elas sim, as mulheres, são abusadoras.

Eles são inocentes pois foram provocados e são impotentes diante do próprio instinto.

Esse posicionamento está tão consolidado no inconsciente coletivo ocidental que até mulheres e gente bem nutrida de ensino formal repete a argumentação hipócrita.

Geralmente as mesmas que demonizam os muçulmanos e suas burcas e abusos contra suas mulheres.

Pobre de nós que crescemos tão pouco mas nos achamos tanto.

Que o Colégio Anchieta não perca essa grande oportunidade de, reconhecendo a verdadeira extensão do que está em jogo, demonstre sua seriedade como instituição e compromisso com a cidadania.

Um brinde às meninas do Anchieta e sua luta pelo exercício pleno da cidadania.

Elas são maravilhosas e representam milhões de outras mulheres na luta contra outros “shortinhos proibidos” como as que são agredidas pelos maridos no silêncio dos lares ou as que exercendo as mesmas funções ainda recebem salários menores que os homens.



Prof. Péricles













quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

OS IMORTAIS DO FACEBOOK



Por Sheila Sacks,

Qualquer que seja a forma de imortalidade que o futuro nos reserve – holograma ou avatar, cura ou clonagem, já existe uma da qual dispomos hoje mesmo: a permanência nas redes sociais, uma forma de vida virtual póstuma que a bem da verdade deixa o defunto tão gelado quanto já estava, mas de certa forma deposita uma cópia dele na nuvem, para consolo dos seus seres queridos, ou pelo menos dos amigos de Facebook.

Por mentira que pareça, o Facebook não tem nem dez anos, mas 30 milhões de usuários seus já morreram, seguindo esse fatídico costume de todas as coisas biológicas neste vale de lágrimas.

Esse é, portanto, o número de almas que andam penando pelo lado escuro da rede social de Mark Zuckerberg.

Não é raro, por exemplo, que lhe chegue um pedido de amizade de um morto, o que pode levá-lo a certa, digamos, inquietação filosófica.

O Facebook, aliás, oferece a possibilidade de criar uma conta em homenagem a usuários que já nos deixaram, e há sites como o espanhol Duelia.org que se dedicam exclusivamente a esse tipo de coisa.

Outras empresas, como o Grupo Mémora permitem compilar o legado digital do finado, o que pode acabar sendo pavoroso, ao menos em certos casos. Felizmente, há outras firmas, como a Postumer.com, que se empenham em fazer justamente o contrário: eliminar as contas do morto e apagar sua passagem por este mundo, para começar do zero em outro.

Apesar de tudo isso, os enterros, cremações e funerais continuam sendo tão reais como antes da invenção do transístor, embora nem por isso permaneçam imunes aos avanços tecnológicos.

Um terço dos participantes de enterros, por exemplo, tira selfies no cemitério, e muitos deles postam a foto no Instagram sem nem esperar o caixão baixar, segundo um estudo com 2.700 pessoas encomendado pela funerária britânica Perfect Choice Funerals.

Não se sabe ao certo por que a empresa quis fazer a pesquisa; talvez cogite alugar paus de selfie na hora em que o cortejo fúnebre aparece. Nessas horas difíceis, afinal, sempre há quem esqueça o seu em casa.

Que diferença faz um selfie ao lado disso tudo?

Ou, ampliando o foco da pergunta: o que há de realmente novo no luto do mundo contemporâneo? Será que a ciência e a tecnologia nos oferecem alguma forma nova, ainda que metafórica, de imortalidade? E, se não, oferecerão algum dia?

Com relação à primeira pergunta, sobre a situação atual, o Facebook, os blogs e demais sites dedicadas ao luto e à memória estão estendendo à população geral o que até agora era privilégio de grandes escritores, memorialistas e outras celebridades: a imortalidade conferida pela obra.

O problema é que, a despeito do que digam padres, metafísicos e livros de autoajuda, a morte não é um assunto religioso, metafísico ou psicanalítico, e sim algo tão concreto quanto a própria vida, que é feita de coisas que se deterioram, se degeneram e se desintegram.

Existem poucos princípios tão gerais como esse. Todos entendemos perfeitamente a morte, desde que seja a morte dos outros. Nossa incapacidade de aceitar a nossa, e de viver tranquilamente até que ela chegue, não é senão uma consequência de como é difícil entender a ideia de não ser.

A clonagem nos tornará imortais? Não, pelo amor de Deus. Um clone não é senão um irmão gêmeo, só que vive mais tarde. E, vendo um casal de gêmeos, ninguém acha que se um deles morrer irá sobreviver no outro. São duas pessoas, extremamente parecidas, mas duas.

Então, não será possível descarregar a estrutura cerebral de alguém, incluídas todas as suas experiências e lembranças, em algum tipo de suporte físico ou informático? Pois com certeza sim, porém o resultado não será você, e sim outra coisa que se parecerá em tudo com você, mas será outra coisa. Melhor esquecermos a ideia de sermos imortais.

Se cada um de nós deixar uma página no Facebook, não haverá ninguém para lê-las, e continuaremos sozinhos e ignorados durante uma eternidade de silício, um infinito interminável, uma nada como qualquer outro, um tédio.




Sheila Sacks, jornalista formada pela PUC-RJ sempre trabalhou em assessoria de imprensa.Tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A ILUSÃO DE FAZER PARTE


Quando os Estados Nacionais começaram a surgir, a partir do século XII, a idéia era: a existência de um território demarcado, um povo com alguma identidade cultural nesse território e um governo centralizado, que governasse para todos.

Essa era a proposta contra o decadente mundo feudal, das guerras intermináveis, das pestes sem controle e da fome.

Mas, para que isso funcionasse foi preciso criar uma ilusão.

A ilusão era que todos fariam parte do mesmo jeito, do Estado Nacional.

Ou melhor, todos seriam iguais aos olhos do Rei.

E funcionou.

O Estado Nacional era um estado aristocrático (dos nobres) montado em cima do absolutismo real (o rei era um nobre) e na parceria desse rei com a nobreza.

Povo e burguesia (não confundam os dois) ficaram num patamar abaixo.

A burguesia não se iludiu, porém, aceitou o jogo que naquele momento histórico lhe favorecia, pois era preferível o despotismo do o rei único do que o poder esfarelado e compartilhado por vários nobres.

Já o povo, esse sim, foi iludido.

Homens das letras como Jean Bodin e Jacques Boissue foram fundamentais para a criação dessa ilusão divulgando idéias de “direito divino” do rei.

Como questionar a autoridade do Rei sem questionar a vontade de Deus?

Dessa forma, o pobre era submetido às piores privações e obrigações (como pagar impostos enquanto os ricos não pagavam) porque acreditavam fazer parte dos interesses do rei.

Eram infelizes tanto quanto seus avós no feudalismo, mas faziam parte.

Pobres até ganharam um nome bonitinho... súditos. Todos, independente da classe social, eram súditos do Rei.

Mas, as relações burguesia e rei se deterioraram com o tempo e chegou o momento, nos séculos XVII e XVIII, que a burguesia resolveu assumir o poder, nascendo, o estado burguês.

As Revoluções Inglesas e a Revolução Francesa fazem parte desse momento.

Movimentos encantadores de luta pela liberdade e igualdade, na verdade, ápice da ilusão de fazer parte.

Forjou-se a idéia de que o povo (e não a burguesia) assumia o poder cortando a cabeça do rei tirano.

Iluministas como Rosseau e Voltaire deram vida a conceitos como “igualdade” no caldeirão que deu origem ao sistema mais discriminador de todos os tempos, o capitalismo.

Todos os homens são iguais perante a Lei, ilusão.

Os governos devem governar visando o bem comum.

Ilusão.

Igualdade, liberdade, fraternidade.

Ilusões.

A democracia burguesa é um castelo de cartas marcadas.

Nenhum sistema excluiu mais do que o capitalismo.

A liberdade foi apenas do investimento já que o Rei absolutista perdeu o poder de decidir sobre economia.

Já a igualdade foi só da concorrência liberal.

O mundo é dos espertos dizia minha filósofa vó.

Quem pode mais chora menos, diz a cultura popular.

A corrupção dos outros não é a minha, diz a consciência amestrada que reflete o fazer parte sem fazer parte.

Talvez esse faz de conta seja o início da explicação necessária para se entender porque mais de 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, ou porque 20% da população sofre de depressão crônica, ou porque milhões se drogam e morrem numa outra forma de suicídio.

Diante de uma realidade que enquanto submete milhões à condições miseráveis mantém os privilégios de poucos, que discrimina e exclui com enorme facilidade, resta a pergunta difícil, mas inevitável:

Afinal, fazemos parte do que?





Prof. Péricles

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A NECESSIDADE DE FAZER PARTE


O ser humano é um ser gregário, um animal social.

Seu instinto de sobrevivência o obrigou desde o início das eras a conviver em bandos como forma de superar o medo e suas próprias limitações.

Animal acanhado, lento tanto na terra como na água, desajeitado para subir nas árvores, mais fraco até do que um chipanzé, pouco enxerga e ouve mal.

Parecia uma sacanagem da natureza e candidato natural ao extermínio.

Mas, a capacidade de raciocinar, mesmo primitiva e insipiente, somada ao instinto de sobrevivência o fez grupal, e dessa união surgiu a força para prosseguir, não virar jantar e, ao contrário, tornar-se o maior predador da face da Terra.

Porém, viver em grupo tem seu preço.

Ao viver em grupo ele ganha muito, mas também perde.

Talvez, sua maior perda seja a sua liberdade natural, radical e plena, assumindo a liberdade relativa que o viver em grupo lhe permite.

Ingenuamente alguns dizem que são livres. Não o são. São relativamente livres em função direta com as leis que regulam sua vida.

Outro preço caro a ser pago é a rebeldia, o sentimento de inutilidade ou de insuficiência, já que, em essência, a inteligência o torna questionador.

Nenhuma formiga obreira jamais parou pra pensar se é justo o trabalho que faz para o bem do formigueiro.

Nenhum zangão, até hoje, botou as mãozinhas na cintura e perguntou se ele é apenas um objeto sexual.

Os animais irracionais gregários, como abelhas, formigas, cupins, pinguins, elefantes, etc. não raciocinam, não possuem consciência, muito menos simpatias ou antipatias. Vivem e apenas vivem, multiplicam-se e morrem.

Outro problema a destacar é que o homem não gosta nem confia nos outros homens.

O homem se suporta, mas não se gosta.

Uma prova? O casamento e o surgimento da família.

A família se origina na união de apenas duas pessoas e é a tentativa humana de criar um grupo privado e suportável dentro do grupão social e insuportável.

Também foi aqui que surgiu o machismo, pois é onde o homem pode exerce seu poder, aquele mesmo que lhe é negado no grupão e impor a autoridade que lá fora não tem.

Mas, voltando ao grande grupo, essa característica gregária da espécie cria a sensação de que o que importa é “fazer parte”.

As maiores dores humanas nascem do sentimento de não “fazer parte”.

A solidão é o sentimento de não fazer parte de nada.

A paixão é a tentativa de fazer parte das necessidades do outro.

As drogas nascem também disso tudo.

O dependente químico geralmente se vê como um estranho no ninho.

Quanto mais o grupo o rejeita, critica e abomina mais ele deixa de fazer parte.

Para o dependente químico o grande grupo vai progressivamente perdendo seu encanto e ele sente-se no céu da liberdade, enquanto na fase inicial do consumo da droga, e no inferno da solidão e da morte, na fase final da dependência.

É por isso que o tratamento para a maior parte de nossas doenças sociais como drogas, preconceito e ódio é a política de inclusão e não a exclusão ou repressão.

O que o homem mais teme não é a morte, é a rejeição.

Ser rejeitado é o oposto do “fazer parte”.





Prof. Péricles

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A INCÔMODA PRESENÇA DOS INDÍGENAS NO BRASIL


Por José Ribamar Bessa Freire

O assassinato do bebê Kaingang é um entre os muitos cometidos contra os indígenas

Embora estarrecidos, temos de admitir que pertencemos à mesma família humana do jovem que degolou o bebé Kaingang de dois anos na rodoviária de Imbituba (SC).

Compartilhamos, envergonhados, a mesma identidade nacional do suspeito do crime, Matheus Silveira, o Teto, 23 anos, que está preso.

Já para a Polícia, esse é apenas o caso de um “usuário de drogas, que sofre de distúrbios mentais“. Será?

O delegado ouviu familiares e ex-colegas do Colégio Caic. Não concluiu o inquérito, mas já adiantou não ter visto conotação racista no crime, embora admita que o assassino estava “incomodado com a presença dos indígenas no local“.

Parece legítimo ir além do fato policial ou do diagnóstico médico e indagar a origem de tal incômodo. Para isso, convém identificar o lugar do índio na sociedade nacional, na visão do brasileiro médio, o que é definido na fala e no silêncio, nas ações e omissões de entidades como escola, mídia, museu, família, igreja, partidos políticos, associações de classe, tribunais, polícia, monumentos e até nas comemorações que definem o que deve ser lembrado ou esquecido.

A presença incômoda do índio não é só na rodoviária, mas no âmbito nacional.

Isso foi explicitado, em 1900, pelo presidente da Comissão do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, o engenheiro Paulo de Frontin. No discurso oficial de abertura, ele falou como representante da nação:

“O Brasil não é o índio; os selvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas majestosas florestas e em nada diferem dos seus ascendentes de 400 anos atrás; não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los”.

Não houve qualquer contestação à proposta anunciada diante do cardeal que celebrou missa campal na Praia do Russell. Afinal, sem índios, suas terras ficam disponíveis no mercado.

O Estado neobrasileiro assumia desta forma, a política colonial que originou no continente americano a “maior catástrofe demográfica da história da humanidade”, segundo os demógrafos da Escola de Berkeley, que calculam em 10 milhões a população indígena, em 1500, no território que é hoje o Brasil.

No primeiro século de colonização houve 90% de despovoamento, segundo W. Borah, com refinados métodos de análise.

Uma carta, de 5 de janeiro de 1654, do vigário do Pará, cônego Manoel Teixeira, de 70 anos, escrita no leito de morte, calcula que “mais de dois milhões de índios de mais de quatrocentas aldeias” foram extintos “a trabalho e a ferro”. Seu autor confessa “grandes injustiças e crueldades contra os índios“, povoações incendiadas, “tirando-os de suas terras com enganos”.

Como qualquer documento histórico, este deve ser submetido à crítica, mas não pode ser ignorado, como querem os que o acusam de “vitimismo” ou de “fantasioso”.

Pesquisa do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) avaliou o papel da escola, da mídia e de outras instituições na imagem que os brasileiros têm dos índios.

Foram mais de 200 entrevistas com pessoas que nunca visitaram uma aldeia, mas têm opinião firme sobre o lugar dos índios no Brasil. Para um deles, com curso universitário concluído, os índios são “preguiçosos”, “bêbados”, “entrave para o progresso”, “um câncer que deve ser extirpado do Brasil”.

O curioso é que essa imagem não coincide com a da própria mãe do entrevistado, dona de casa com apenas o ensino fundamental.

Algumas respostas nos permitiram verificar que o preconceito se manifesta, talvez com mais força, naquelas pessoas com escolaridade avançada, que tem mais acesso à mídia. Se isso se confirma, quanto mais escola e mais mídia, maior é o preconceito.

Esse é um dado a ser pensado no momento em que se discute a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e se pretende abrir uma brecha para a história indígena, tradicionalmente ausente da escola.

Uma oposição histérica berra na mídia: – E a Mesopotâmia? E o Egito? – como se fossem temas incompatíveis.

O silêncio cúmplice da escola e de parte da mídia evidencia que o discurso de Paulo de Frontin continua sustentando ideologicamente a virulência.

No confronto entre os que não podem esquecer e os que não querem lembrar, é preciso construir “outro tipo de memória”, como quer Boaventura Santos.



José Ribamar Bessa Freire, professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio).



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA


Numa das mais sensacionais passagens bíblicas, Jesus é confrontado por seus inimigos com relação à observação dos costumes e tradições de seu povo.

Diante de um considerável público, uma mulher acusada de adúltera e prática de prostituição é levada até ele. O pregador é questionado sobre ser  correta ou incorreta a aplicação da pena de morte por apedrejamento.

Todos conhecem o final da história.

Sem se abalar Jesus concorda com a execução, desde que tivesse coragem de atirar a primeira pedra aquele que jamais tivesse errado.

Segundo os evangelistas, um a um, os “ávidos por justiça” foram jogando suas pedras ao chão e se retirando cabisbaixos.

Por fim Jesus libera a mulher e pede que ela se cuide.

Essa belíssima história (segundo alguns acrescentada aos evangelhos apenas no século IV ou V) apresenta inúmeros pontos para reflexão.

O principal deles é de que existe uma relação direta entre a aplicação da justiça e a condição moral de quem a exige, seja indivíduo ou coletivo.

Aplicando essa moral aos tempos modernos, especialmente à questão política do Brasil seremos obrigados a concluir que poucos poderiam atirar a primeira pedra.

Todos costumam lamentar as consequências, mas poucos sejam pessoas ou instituições podem jogar a primeira pedra nos artífices do golpe militar, por exemplo.

O STF foi do “lavo as mãos” à cumplicidade.

A mídia, em ampla maioria, não só não usou seu enorme poder para defender a democracia como ainda apoiou e, de certa forma, exigiu que o golpe fosse dado, além de calar sobre o arbítrio e a violência que se seguiu.

O cidadão comum preferiu fazer de conta que o problema não era dele, pois que, ao cidadão “de bem” bastaria cumprir suas obrigações e tocar sua vida adiante.

Algo muito parecido ocorre com a questão da corrupção, atualmente.

Falsos escandalizados (como falsos eram os que utilizavam os serviços das prostitutas no privado e depois defendiam suas execuções em público) clamam contra a corrupção como se ela tivesse aparecido só agora, como uma grande novidade.

Acusam políticos, partidos, autoridades, o clima e o carnaval, a chuva, e negam sua contribuição para o caos, como se fossem alheios as causas.

Clamam por justiça como se não fizessem parte do jogo.

De forma hipócrita, boa parte de nossa população e a mídia “esquece” que a corrupção é tão antiga quanto o próprio Brasil.

Portugal era conhecido no século XVI como o Estado mais corrupto da Europa e esse mesmo Estado colonizou o Brasil fiel às suas próprias condições éticas.

A construção de Salvador, primeira capital do Brasil, inaugurada em 1549, custou mais que o dobro do que o Rei tinha calculado inicialmente, culpa do superfaturamento, desvio de verbas e outras diabruras.

D. Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil e poderosa voz política nos nossos primeiros anos, veio pra cá porque o Papa simplesmente não sabia mais como controlar seus atos corruptos.

Duarte da Costa segundo governador-geral do Brasil foi preso ao colocar os pés em terra na volta para Portugal, acusado de inúmeros ilícitos aqui na colônia.

Corrompemos os índios para roubar suas terras, os africanos para que vendessem seus iguais como escravos, e muitos imigrantes trazidos para a atividade agrícola como meeiros, mas submetidos a uma situação de quase escravidão.

Negociamos nas sombras para destruir um país, o Paraguai, e repartir seus despojos, no século XIX, da mesma forma que corrompemos o presidente da Bolívia para se apoderar do Acre no início do século XX.

O voto de cabresto, os currais eleitorais, o voto de mortos, foram usados à exaustão por décadas.

Recebemos dinheiro ilícito do contribuinte norte-americano para construir Volta Redonda e deixamos ricos os militares da ditadura paraguaia para construir Itaipu se apoderando de uma energia barata e sacaneando a Argentina.

O brasileiro médio se indigna quando alguém tenta corromper sua filha, mas, tenta corromper as filhas dos outros o tempo todo.

Vota em corrupto e depois faz caras e bocas como se o congresso fosse eleito por alienígenas.

Se diz malandro e acredita no “jeitinho brasileiro” quando isso lhe interessa.

Não, de forma alguma se está a defender a corrupção.

Todo ato corrupto é violento de alguma forma e injusto por natureza.

Jamais se fará do ilícito um ato lícito.

Toda corrupção deve ser castigada, mas toda corrupção, mesmo, não só a do outro.

Para começar deveríamos questionar é, quem afinal, pode realmente jogar a primeira pedra?

O combate à corrupção, da mesma maneira que o mestre propôs ao combate à prostituição de seu tempo, se dá pela transformação íntima de cada um e da superação de suas fraquezas, muito mais do que pela repressão e o dedo em riste que aponta para o outro.

Antes de qualquer coisa devemos combater a nossa própria corrupção.



Prof. Péricles

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A ASSOMBRAÇÃO BERNIE SANDERS


Por José Inácio Werneck


Ele está para completar 75 anos, é meio careca e o que resta de seus cabelos brancos está sempre despenteado, é um pouco curvado, usa óculos, é um judeu casado com uma católica, diz não ser “particularmente religioso”, admira o Papa Francisco, seu pai era um imigrante pobre da Polônia, sua mãe nasceu nos Estados Unidos filha também de imigrantes pobres, um da Rússia e outro da Polônia, tem um irmão que emigrou para a Inglaterra e virou político lá, viveu em um kibutz em Israel mas opõe-se à política do Primeiro-Ministro israelense Benjamim Netanyahu, foi desde o início contra a invasão do Iraque, defende o direito ao divórcio e ao casamento gay, declara-se socialista – e atrai multidões a seus comícios.

Este é Bernie Sanders, o homem que vem povoando os pesadelos de Hillary Clinton na campanha das primárias democráticas para a eleição presidencial dos Estados Unidos, no próximo mês de novembro.

O fenômeno Bernie Sanders entre os democratas explica-se um pouco como o fenômeno Donald Trump entre os republicanos: ambos passam, a seu modo, uma imagem de autenticidade que falta a seus concorrentes nos dois partidos.

Trump é um bilionário que resolveu explorar os sentimentos menos generosos do povo americano – e encontrou eco entre um eleitorado esmagadoramente branco e carregado de preconceitos contra imigrantes hispânicos, negros, muçulmanos e outras minorias raciais ou religiosas.

Sanders apela para os sentimentos mais generosos do povo americano.

Ele foi criado no bairro de Brooklyn, na cidade de Nova York, mudou-se para o estado de Vermont, de tradições liberais, e lá fez carreira política, primeiro como prefeito, depois deputado e por fim senador. Um senador independente, nem afiliado ao Partido Democrata nem ao Partido Republicano, mas com uma história de votos sempre alinhados com os democratas.

Ele não se filiou ao Partido Democrata, embora agora queira ser seu candidato, porque na verdade se considerava e ainda se considera um socialista.

Não um socialista do tipo “o petróleo é nosso”, mas socialista, como ele mesmo explica, porque nos Estados Unidos há instituições sociais, como o Social Security, Medicare e Medicaid, que precisam ser defendidas do constante ataque da direita representada pelo Partido Republicano.

Um socialista porque defende o Plano de Saúde implantado pelo Presidente Barack Obama, conhecido como Obamacare, e que, mais, quer aprimorá-lo, transformando-o em um National Health Service – Assistência Médica governamental – como existe no Reino Unido, Dinamarca e outros países europeus.

Mais: Bernie Sanders quer educação universitária gratuita, garantida pelo governo.

Nada disto poderá acontecer se os bilionários nos Estados Unidos não passarem a pagar mais impostos.

É contra os bilionários, aqueles a quem ele chama de 1%, que se desenvolve a campanha de Bernie Sanders.

Poucos acreditavam que ele pudesse ser escolhido como o candidato democrata. Agora há quem julgue isto possível, embora tal opinião seja ainda minoria entre os comentaristas políticos.

O argumento sempre apresentado contra Bernie Sanders é que, se ele viesse a ser eleito, nada poderia realizar, pois bateria de frente com uma Câmara de Deputados e um Senado dominado pelos republicanos.

A isto Bernie Sanders responde que, se for eleito, será em consequência de uma “revolução política” que alterará também a composição da Câmara e do Senado e, mesmo que não a altere, terá enviado uma “mensagem” que os republicanos serão obrigados a aceitar, embora a contragosto.

O fato é que, com uma regularidade espantosa, Bernie Sanders vem arrastando multidões de 20 e 30 mil pessoas a seus comícios por todo o país – algo com que Hillary Clinton nem ousa sonhar.

Hillary, franca favorita a ser escolhida a candidata democrata em 2008, encontrou um obstáculo inesperado e irresistível num filho de um imigrante pobre, de cor negra, chamado Barack Obama.

Agora, ainda em sua tentativa de ser a primeira mulher a ser eleita para a presidência dos Estados Unidos, encontra também um obstáculo inesperado em outro filho de imigrante pobre. Não de cor negra, mas judeu.

Os Estados Unidos nunca tinham eleito um presidente negro e nunca elegeram um presidente judeu.

Será Sanders tão irresistível para Hillary quanto Obama foi?



José Inácio Werneck, jornalista e escritor, é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O MAIOR JORNALISTA BRASILEIRO

Cipriano Barata


Por Appólo Natali


Um jornalista baiano é, até hoje, considerado exemplo de independência dentro da profissão.

Tanto ele como seu implacável perseguidor, D. Pedro I, morreram em 1838, um aqui, outro na Europa.

Ao final da vida tormentosa dos dois, se D. Pedro I tivesse alguma coisa ainda a dizer, diria: dominei-o com 11 anos de masmorras e uma prisão perpétua.

Foi assim: no tempo em que era crime não se ajoelhar e beijar as mãos do imperador, o baiano virou-lhe as costas durante sua visita à masmorra, o que lhe valeu a pena de prisão perpétua.

O baiano defendia o fim da tortura praticada por bagatela pelos dominadores e exigia a abolição de seus instrumentos.

E se tivesse ainda alguma coisa a dizer, o que diria o baiano? Eu o derrubei do trono, tirano – chamava-o de tirano – depois da minha libertação fui à Bahia como emissário da conjura pela Abdicação.

Uma das primeiras lideranças políticas de amplitude nacional que se forjou no imediato período pré e pós-Independência, ele foi, na Colônia, no Império e na Regência, temido, prestigiado e perseguido líder, incansável e intransigente combatente da opressão lusitana.

Incendiou a Bahia com a guerra de guerrilha para expulsar os portugueses da Província, então dominada pelas forças do brutal general Madeira.

Foi ativista e participante de históricas revoltas regionais que se espalharam pelo Brasil contra a tirania portuguesa, durante a Colônia, Império e Regência.

Proclamava-se um liberal que açoita a tirania e defende a pátria.

Sempre acusado de pregar a Republica. Há 200 anos defendia eleições diretas para os presidentes das províncias. A abolição dos escravos, que aconteceu em 1888, ele a queria para 1860.

Um dos fundadores do jornalismo político no Brasil.

Deputado pelo Brasil nas Cortes, em Lisboa, sustentou com valentia verbal e física a causa da liberdade. 

Atracou-se e derrubou um marechal português no plenário durante defesa que fazia dos interesses brasileiros e do direito de cidadania dos escravos. O Marechal rolou pelas escadas. Fugiu para a Inglaterra.

O baiano indignou-se com a afirmação do padre Diogo Feijó, Regente de um governo forte e centralizador, de que o brasileiro não foi feito para a desordem, que o seu natural é o da tranquilidade. Esse termo docilidade aplicado aos brasileiros, disse o baiano, é como dizer brasileiro ovelha mansa, que trabalha como burro para pagar tributos em benefício dos satélites do governo.

Era médico. E jornalista.

Em meio aos ferros de tortura e insetos peçonhentos, nas várias masmorras inundadas, fétidas, sem ar e calor abrazador onde era aprisionado, o baiano editava seus jornais e distribuía para todo o Brasil.

Dizem que com a ajuda de sociedades secretas que almejavam a Independência.

Sentinela da Liberdade era o título de seu jornal, com o nome do Forte ou masmorra onde estava preso e o brado: Alerta!

Em 9 de abril de 1823, uma quarta-feira, nasceu o número 1, Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, Alerta!

O último Sentinela, do total de 66 exemplares que editou, saiu em dezembro de 1835, em Recife.

Foram doze anos do denominado jornalismo do cárcere, como é conhecida sua atuação como jornalista.

O médico Bezerra de Menezes, nome sempre citado pelos espíritas hoje, dirigiu um Sentinela da Liberdade, no Rio de Janeiro. 

Exilados publicaram em 1825, na Inglaterra, o Sentinela da Liberdade na Guarita de Londres, como suplemento do Sunday Time.

Não receberei anúncios sobre venda de escravos porque minha gazeta não é leilão nem capitão do mato, ironizava.

O historiador Pedro Calmon o vê como um dos grandes seres que passaram pela Terra. Disse dele o historiador Nelson Werneck Sodré, que poucos fizeram tanto pela nossa Independência quanto esse baiano que, ainda no Brasil Colônia, já conheceria as amarguras do cárcere por sonhar com nossa liberdade política.

Sentinela da Liberdade foi uma epopéia da imprensa brasileira, um dos momentos supremos da vida da imprensa brasileira, um dos marcos na luta pela nossa liberdade, diz Sodré.

Para intimidar os dominadores daquele Brasil cativo, muitos escreviam nas portas de suas casas: Barata.

Quem, além de Cypriano Jozé Barata de Almeida (era com “z” que se escrevia), pode ser considerado o maior jornalista brasileiro de todos os tempos?





Apollo Natali foi o primeiro redator da antiga Agência Estado, foi redator da Rádio Eldorado, do Estadão e do antigo Jornal da Tarde.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

PARA QUEM TORCER?


Final de ano tem eleições nos Estados Unidos, ou, no Império como diria o coxinha mais ardente.

É bem verdade que desde o governo Lula, quando o Brasil buscou novas parcerias, a influência direta dessa nação sobre nós tem diminuído. Ainda assim, não tem como negar o impacto que a escolha do presidente do país que possuí 22% do PIB mundial tem sobre o Brasil e sobre todos os países do mundo.

Assim, uma pergunta que se destaca é: nós que não participamos, só assistimos, devemos torcer pra quem?

Vejamos.

O sistema eleitoral americano é curioso e diferente de tudo que conhecemos aqui no Brasil.

É presidencialista, mas, por ser uma confederação, a eleição não é direta, uma vez que é decidida por um colégio eleitoral, onde cada estado, de acordo com a extensão e população tem direito a um número determinado de votos.

Os eleitores de cada estado votam diretamente (em 08 de novembro) e, a maioria dos votos desses eleitores determina para quem vão os votos do estado.

É a soma dos votos de todos os estados que decide o novo presidente.

Confuso? Você ainda não viu nada.

O sistema eleitoral, urna, cédulas, etc. de cada estado é próprio e pode ser bastante diverso um dos outros.

Uma zona.

Dois partidos políticos disputam a presidência, embora existam mais de 20 partidos legalmente inscritos, alguns com importância apenas regional.

Portanto, em teoria, o sistema eleitoral é pluripartidário, mas, na prática, bipartidário.

Os dois partidos que realmente decidem são, o Partido Republicano (o elefante) e o Partido Democrata (o jumento).

Os dois partidos são conservadores, tipo Partido Liberal e Partido Conservador no Brasil Império ou PMDB e PSDB nos tempos atuais, mas, algumas sutis diferenças existem.

O Partido Republicano é o mais conservador. Suas propostas estão sempre de acordo com os valores mais tradicionais desse país ligados à religiosidade protestante, predominância de elementos brancos e sionistas e total oposição às ideias mais liberais como legalização do aborto ou universalização da saúde.

O Partido Democrata, também conservador, adquiriu ao longo do tempo ares mais democráticos, principalmente devido à necessidade de ser um contraponto ao conservadorismo do Partido Republicano.

Antes das eleições presidenciais, ocorre uma eleição talvez mais espetacular ainda, as chamada prévias, quando diferentes candidatos dos dois partidos, disputam a indicação para ser o nome do partido na eleição “quente”.

Esse ano o Partido Republicano apresenta como nome mais forte o milionário e polêmico Donald Trump. Um dos homens mais ricos dos Estados Unidos, Trump tem se destacado por atrair obre si um ar demagogo e populista de uma personagem que não teme a polêmica nem tem papas na língua.

Não fosse tão nocivo aos nossos interesses e aos interesses da paz mundial seria o candidato mais “engraçado” que faria que muitos torcessem por sua vitória.

O Partido Democrata apresenta duas candidaturas realmente interessantes.

De um lado Hilary Clinton, esposa do ex-presidente Bill Clinton e que, em caso de vitória será a primeira mulher presidente dos EUA (substituindo o primeiro presidente negro).

Mas a candidatura mais espetacular, sem dúvida é a de seu adversário, Bernie Sanders.

Sanders sempre se destacou pela crítica ao capitalismo selvagem tendo sempre, como prefeito e senador, feito de seu discurso uma prática. Ele representa uma visão chamada por lá de “socialista” (não confundir com marxista).

Bernie Sanders tem recebido inflamado apoio dos imigrantes, das mulheres e, surpreendentemente dos jovens (Sanders já tem mais de 70 anos).

Parece ser a coisa nova, a proposta real de mudanças numa potência que não consegue mais esconder sua decadência e o empobrecimento de boa parte de sua população.

Bernie Sanders do Partido Democrata, o candidato dos mais pobres e de Michel Moorer, talvez mereça também a nossa torcida.



Prof. Péricles







sábado, 6 de fevereiro de 2016

ATÉ AS PEDRAS PODEM CHORAR

Nióbio



Niobe era filha de Tântalo (aquele, do suplício) e Dione. Portanto, neta de Zeus.

Teve 14 filhos (sete homens e sete mulheres) e representava o mito da fertilidade feminina, na antiguidade, uma grande virtude.

Além de fértil, Níobe era também bastante estúpida, pois ousou ofender em público a Leto, amante de seu avô Zeus, que com ele tivera dois filhos: o deus Apolo e a deusa Artêmis.

Leto era muito querida, símbolo da humildade e modéstia, representava “a outra” e era perseguida pela esposa de Zeus, a terrível e ciumenta deusa Hera.

Pois o povo da polis de Tebas organizou uma grande homenagem a Leto, e Níobe que era a rainha da cidade, se ofendeu, e dessa forma ofendeu Leto: entre várias coisas lembrou que ela tinha 14 filhos enquanto Leto tinha só dois, suprema humilhação entre as mulheres gregas.

O final desse mito foi tenebroso.

Apolo e Artêmis, ambos arqueiros, mataram todos os 14 filhos de Níobe a flechadas, como vingança pelo insulto à sua mãe.

Níobe se recolheu a um esconderijo distante dos olhos humanos e passou a chorar dia e noite pela perda dos filhos. Chorou tanto, e tão intensamente, que o vovô Zeus se compadeceu de sua dor e a transformou numa rocha, mas ela ainda chorava a perda dos filhos, vertendo água constantemente.

Descoberto em 1801 pelo inglês Charles Hatchett, o Nióbio, o mais leve dos metais refratários, é utilizado principalmente em ligas ferrosas (tão poderoso que é utilizado na escala de 100 gramas para cada tonelada de ferro), criando aços bastante resistentes que são utilizadas em tubos de gasodutos, motores de aeroplanos, propulsão de foguetes e em outros chamados supercondutores, além de soldagem, indústria nuclear, eletrônica, lentes óticas, tomógrafos, etc.

É o número 41 da Tabela Periódica.

É uma rocha que verte humidade constantemente.

Dá para dizer que é um produto brasileiro já que 99% das reservas do mundo estão no Brasil.

Sua importância hoje para a indústria mundial é vital, comparável a importância do petróleo.

Segundo relatos vazados pelo Wikileaks, o governo americano caracteriza o Nióbio como um recurso estratégico e imprescindível aos planos americanos. Além disso, outros países e consultorias especializadas incluem o metal na lista de elementos em situação crítica ou ameaçada.

O Brasil exporta a preço de banana 70 mil toneladas desse produto por ano, mas poderia exportar milhões.

Por que se vende uma das maiores riquezas do mundo a preço de banana?

Uma riqueza imensurável favorecendo apenas meia dúzia de pessoas sombrias.

E você aí achando que o interesse dos Estados Unidos aqui era só o pré-sal...

E sem entender porque governos nacionalistas e progressistas preocupam tanto os gringos e seus sócios aqui dentro...

Um verdadeiro crime contra o povo brasileiro..

Diante do entreguismo interesseiro e da falta de patriotismo, nos ensinam os gregos, até as pedras podem chorar... como as mães saudosas.







Prof. péricles

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

OVNIS, UM ASSUNTO CADA VEZ MAIS SÉRIO



Por Sheila Sacks

Em maio de 2013, a BBC News veiculou matéria sobre um tema que a mídia em geral ignora ou enfoca de forma folclórica talvez por entendê-lo fantasioso. Tratava-se de uma ocorrência relacionada à aparição de ufos (unidentified flying objects) ou ovnis (objetos voadores não identificados ou discos voadores), termos utilizados no Brasil.

A notícia comentava o relatório da firma britânica UK Airprox Board, especializada em segurança de voos e incidentes aéreos, que analisou um episódio acontecido em 2 de dezembro de 2012, quando um avião de passageiros por pouco não colidiu com um objeto não identificado.

O avião em questão, um Airbus A320, preparava-se para aterrissar no Aeroporto Internacional de Glasgow, na Escócia, quando o piloto e os tripulantes viram um objeto à frente aparecer repentinamente e passar embaixo da aeronave, a uns dez segundos de distância, segundo o comandante. Porém, o radar não teria detectado nenhum tipo de aeroplano naquele momento, e imediatamente após o incidente foi iniciada uma busca na região sem resultados.

Em um trecho da conversa registrada entre o controlador de voo, na torre de monitoramento, e o piloto do avião, logo após a passagem do objeto, este afirma “não ter certeza do que é (o objeto)”, e acrescenta que “sem dúvida é bem grande, e é azul e amarelo”.

A investigação não conseguiu determinar o tipo de objeto descrito, apesar de descartar a possibilidade de ser outra aeronave ou um balão meteorológico.

No seu parecer final, a UK Airprox Board admitiu que as fontes de vigilância disponíveis não obtiveram êxito em rastrear nenhuma atividade que correspondesse àquela narrada pelo piloto do A320, ainda que as condições meteorológicas fossem consideradas favoráveis para a observação.

Esse seria mais um entre milhares de incidentes aéreos não conclusivos ou mal explicados que a mídia se exime em apurar mais profundamente, limitando-se apenas a reportá-lo.

Desde 2003, o governo britânico vem disponibilizando ao público e à mídia documentos ufológicos – antes catalogados sob a rubrica de secretos e ultrassecretos – que podem ser consultados em seu Arquivo Nacional (The National Archives – TNA). Esse acesso foi ampliado a partir de 2008 com a incorporação de novos arquivos, agora também disponíveis na internet.

Um desses relatos ficou conhecido como o caso Roswell inglês, em alusão ao famoso incidente ufológico que teria ocorrido em 1947, na cidade de Roswell, no noroeste dos Estados Unidos (estado do Novo México) envolvendo a queda de um ovni, fato negado pelas autoridades militares americanas.

Na Inglaterra, no início do governo de Margaret Thatcher, na década de 1980, o “avistamento” de “luzes inexplicáveis” pairando sobre a Floresta Rendlesham – de acordo com o memorando de 13 de janeiro de 1981, assinado pelo subcomandante da base da Força Aérea Britânica (Royal Air Force – RAF) de Bentwaters, tenente-coronel Charles Halt – também foi considerado “não significativo para a Defesa”. O incidente que envolveu “avistamentos” de ovnis se estendeu por quatro dias, em dezembro de 1980, e foi presenciado por dezenas de militares.

Em 1997, durante uma festa de caridade em Londres, Thatcher teve um encontro casual com a jornalista e ufóloga inglesa Georgina Bruni (1947-2008), e proferiu uma frase que intrigou a jornalista. Diante da pergunta sobre o fenômeno dos ovnis e de sua tecnologia avançada, Thatcher teria respondido: “Você não pode dizer as pessoas” (You can’t tell the people).

Outra liberação de documentos ufológicos bastante aguardada por estudiosos desses fenômenos, mas ignorada pela mídia, viria da parte de Julian Assange e de seu site Wikileaks. Em um deles, enviado da embaixada dos EUA em Gana, na África, a Washington, em novembro de 1973, há o registro de como o espaço aéreo havia sido violado por ovnis, os quais se afirmavam não corresponderiam a aeronaves comerciais convencionais.

Assange permanece asilado na embaixada do Equador em Londres desde junho de 2012 e um de seus mais importantes informantes, o soldado norte-americano Bradley Manning, analista de inteligência, foi condenado a 35 anos de prisão nos EUA.

A pré-candidata do Partido Democrata à eleição presidencial americana de novembro de 2016, Hillary Clinton, afirmou que vai investigar o fenômeno dos ovnis se for eleita. ”Eu vou chegar ao âmago da questão”, assegurou. Ela deu a declaração ao repórter do jornal “The Conway Dayle Sun” que publicou a matéria no final de 2015 (30 de dezembro).

A ex-primeira dama dos EUA lembrou que em 2007, Bill Clinton então presidente havia dito que os ovnis eram o assunto número um dos pedidos de informações de documentos oficiais formulados pelos cidadãos americanos. “Penso que já fomos visitados”, disse ela na reportagem.

Hillary contou que se eleita, pretende criar um grupo especial para investigar a Área 51, uma base militar secreta no estado de Novo México suspeita de abrigar alienígenas e restos de uma nave que teria caído em Roswell.

Por aqui, um encontro inédito reuniu ufólogos e representantes do Ministério da Defesa, em Brasília, em abril de 2013, onde se determinou que todos os documentos sobre o assunto sob a responsabilidade do Exército, Marinha e Aeronáutica fossem tornados públicos, como estabelece a Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011).

A disposição do governo foi comemorada pelo ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO, presente ao encontro, que classificou a reunião de “histórica e sem precedentes em todo o mundo”.

Além da promessa de manter um canal de comunicação permanente com os estudiosos dos fenômenos ufológicos, os militares que participaram da reunião revelaram que o maior número de requerimentos de informações ao órgão, a partir da regulamentação da LAI, em 16 de maio de 2012, tinha os ovnis como ponto de interesse, uma surpresa para os próprios ufólogos.

Porém, passados quase dois anos desse encontro a expectativa positiva dos ufólogos brasileiros não se efetivou. Isso porque a disponibilização de documentos sigilosos sobre operações militares envolvendo “avistamentos” de ovnis esbarrou em obstáculos como documentos destruídos e pastas ainda classificadas de secretas.



Sheila Sacks, jornalista formada pela PUC-RJ sempre trabalhou em assessoria de imprensa.Tem artigos publicados nos sites Observatório da Imprensa e Rio Total