domingo, 11 de setembro de 2011

DÍVIDA PÚBLICA

Ultimamente estão escrevendo e falando muito sobre Dívida Pública.

Mas, você sabe o que é dívida pública?

A Dívida pública acontece quando todos os recursos arrecadados pelo Estado com impostos, não é suficiente para cobrir os gastos (do Estado) com as políticas públicas que incluem saúde, obras, aposentadorias, entre outras.

Então, para cumprir suas metas, o governo assume dívidas. É parecido com o orçamento doméstico: se não temos dinheiro para fazer uma reforma na casa, podemos pedir emprestado ao banco.

Essas dívidas são contraídas por meio de emissão de títulos públicos. O título é uma garantia de que o valor investido naquele país (emprestado) por bancos, empresas, particulares ou outro estado, será ressarcido com juros.

Em algumas circunstâncias, o endividamento pode atingir o patamar previsto no orçamento. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos. Os gastos militares com as guerras do Iraque e do Afeganistão, somados à crise financeira de 2008, fizeram com que o limite (US$ 14,3 trilhões ou cerca de R$ 22,2 trilhões), fosse atingido em 16 de maio. Uma manobra do Executivo permitiu estender esse prazo-limite para 2 de agosto, mas algo precisava ser feito.

Então, tivemos os debates no Congresso.

O Partido Democrata, do Presidente, defende que, para conter o déficit público é necessário cortar os gastos de guerra, e talvez aumentar os impostos.

O Partido Republicano, que é oposição ao presidente, mas tem a maioria no Congresso é contra o aumento dos impostos e defende o corte nos gastos públicos (saúde, aposentadoria, etc.).

Agora, preste atenção como está sendo tratado esse assunto pela mídia nacional. De repente as dívidas dos estados tornaram-se as explicações únicas para a crise financeira internacional. Não é o sistema capitalista que atravessa uma crise estrutural – é a dívida do estado.

Provavelmente a idéia seja desviar o foco da necessária reforma fiscal (no Brasil os mais ricos pagam muito menos do que deveriam) e culpar os custos com aposentadoria e saúde (o Brasil possui um dos melhores sistemas mundiais, que inclui saúde universal e aposentarias e pensões para grupos antes esquecidos como o trabalhador rural e empregada doméstica, mas claro, que isso tem preço).

Ou seja, a culpa da crise é a dívida. Mas não a dívida com guerras, com negociatas e favorecimentos, mas a dívida com o povo (a pública).

Não são as falências fraudulentas, as especulações irresponsáveis, os investimentos e trocas de favores os responsáveis pelas dificuldades atuais. São os benefícios, na maioria de um salário mínimo, os medicamentos gratuítos, as pensões...essas são as causas da crise.

Entendeu?

Não concorda? Então, observe os noticiários e depois me diga.

Prof. Péricles

MARCHAS E MARCHANTES

As passeatas promovidas, inicialmente em redes sociais (?), e depois com hora e trajeto intensamente divulgados pela mídia, chamaram a atenção nos últimos dias.

Inicialmente, todo mundo é contra a corrupção. Qual cidadão brasileiro a defenderia?

Fazer passeata contra a corrupção é como fazer passeata contra o câncer. Bonitinho, mas inócuo.

Mas, junto com a aparente unanimidade de um movimento assim constituído, podemos ter inúmeras segundas intenções, que, claro, é próprio da política e da politicagem.

O maior perigo de movimentos assim são seus desdobramenos conforme o interesse de quem os organiza.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento que nasceu dessa forma.

Auto denominando-se defensores da moral e dos bons costumes elegeram o governo do presidente João Goulart o responsável pela secular corrupção brasileira. De passagem, e não menos ímpeto, acusaram o presidente e seus auxiliares de comunistas. Assim, os defensores da moral uniram a corrupção à ideologia e a um governo. Tornaram-se proprietários puritanos da moral exigindo um golpe que derrubasse o poder constituído e salvasse a família brasileira.

A marcha, promovida pelas mulheres mineiras e que depois se alastrou por vários estados, clamou pelo golpe militar de 64. Segundo muitos foi ela que fez optar pelo golpe até militares que, inicialmente, eram contra ele, como o General Castelo Branco.

Pois deu-se o golpe e a corrupção não desapareceu.

Seguiram-se 20 anos de trevas e autoritarismo. Foram-se os antigos corruptos e novos tomaram seu lugar. Aliás, esse é o procedimento de todas as ditaduras: afastar os corruptos inimigos e colocar no lugar os corruptos amigos.

Não se pode partidarizar a corrupção. Ela é tão antiga quanto o Brasil e mais global do que o sistema financeiro. Não se pode permitir essa partidarização, pois isso é burro, injusto e desconhece a história do Brasil.

Na verdade, a corrupção começa na própria forma com que nosso sistema político está organizado, principalmente, nas questões de financiamento das campanhas eleitorais. É aí que os conchavos, acordos e alianças de interesses fazem nascer compromissos que mais tarde realimentarão o processo da corrupção.

Em vez de passeatas vazias deveríamos sair às ruas exigindo uma reforma política profunda, que torne absolutamente claro os investimentos de campanha. Que criasse o sistema unicameral extinguindo o senado que nunca serviu pra nada maior em nosso país já que nunca fomos realmente uma federação. Isso, por si só já traria um controle relativo que atualmente é impossível.

Em vez de passeatas contra o óbvio faria melhor o cidadão brasileiro sair às ruas quando elementos de um partido ameaçassem a presidenta de uma derrota no Congresso se continuasse a “limpa” em seu ministério.

Além disso, deveríamos trabalhar solução desse problema da corrupção no mesmo lugar onde nascem todos os nossos problemas e suas soluções: o nosso íntimo.
Não podemos exigir um sistema político e uma máquina administrativa menos corrupta enquanto nós mesmos não nos reformarmos no exercício da cidadania.

Não pode um povo que fura fila, que estaciona em fila dupla, que burla a Lei sempre que possível, que busca vantagem em tudo, que oferece propina à autoridade para obter vantagens, querer um congresso límpido como um coral de anjos.

Na verdade, cada congresso espelha fielmente seu próprio povo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

AJUDA HUMANITÁRIA NA LÍBIA

Mas, era preciso tanta ajuda humanitária assim?

Segundo a própria OTAN, nos últimos cinco meses foram realizadas 20.121 missões aéreas, incluindo 7.597 bombardeios.

Esqueceram de anunciar o número de pessoas mortas nesses ataques, incluindo civis, homens, mulheres e crianças, mas nem tudo pode ser perfeito nesses serviços de informações, oras. Detalhes, apenas detalhes...

Para a OTAN foi uma festa. Criada em 1949 no auge da crise de Berlim, ela
jamais entrou em operação real durante a “Guerra Fria”. E depois que a Guerra Fria acabou seus generais devem ter pensado “Oh Shit... o que fazemos com todo esse arsenal com data de validade tão próxima? (sim, porque o progresso da tecnologia de matar é muito rápido e em pouco tempo as armas estão ultrapassadas).

Uma parte eles despejaram na Sérvia durante a crise do Kosovo nos anos 90. Outra parte nessas guerrinhas menores e aborrecidas. E agora... que maravilha...um país inteirinho para bombardear e poder gastar suas ogivas para justificar a fabricação e compra de novo lote, pois é disso que vivem os industriais da guerra, é nisso que reside o lucro da morte.

Ok baby, entre a ajuda humanitária e o Ditador Kadafi existe o povo líbio, tudo bem. Mas quem liga pra isso? É um povinho terceiro-mundista de crianças remelentas e de gente com turbante na cabeça.

A nossa mídia cuida disso divulgando baboseiras de heroísmo e solidariedade dos europeus e americanos bonzinhos executando seu papel de polícia do mundo e perseguindo mais um bandido (o da moda é o Kadafi já que o Sadan e o Osama sacanearam e morreram).

Toda a infra-estrutura da Líbia está destruída. Colégios, hospitais, hidrelétricas, aeroportos, estradas, tubulações. Um país que não tinha desemprego, cujo governo pagava os estudos de seus jovens, de qualquer classe social, e que nos últimos 30 anos diminuiu drasticamente as distâncias entre ricos e miseráveis agora não terá dinheiro nem para sua mortalha.

Em breve arderá em chamas e se contorcerá em lutas de clãs rivais. Os fundamentalistas do norte já avisaram que não aceitam o governo do leste e assim eles compram mais armas e vão se matando e morrendo crianças remelentas e gente de turbante em cenas exibidas pelas TVs ocidentais arrancando suspiros de piedade hipócrita.

“Você viu no telejornal de ontem? Pobres crianças... fiquei tão chocado...”

Mas... não se aflijam queridos líbios. As construtoras e indústrias petrolíferas do ocidente estão aí para mais uma ajuda humanitária. Agora reconstruindo o país que eles mesmos destruíram (claro que tudo pago pelo novo governo livre e democrático, lógico). Também irão explorar e exportar seu petróleo, e eles são tão bacanas que vão descontar o valor do produto da imensa dívida que o país assumiu com a OTAN para obter sua ajuda militar, quer dizer, humanitária.

A mídia mais uma vez fez o favor de nos dizer pra quem torcer e o que pensar.

Podemos dormir tranqüilos aqui na terra tupiniquim já que não precisamos da ajuda da OTAN.

Quantos aos mortos... não são problema nosso, e, por favor, troque de canal pra mim.

Prof. Péricles

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

O governo federal está mobilizando suas forças para conseguir aprovar até o fim deste mês o projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade. O esforço é capitaneado pelo ministro da Defesa, Celso Amorim. Nos últimos dias ele fez várias ligações para os líderes dos partidos de oposição na Câmara pedindo apoio à proposta.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também está em campo. Ex-deputado, com trânsito fácil no meio parlamentar, ele já se reuniu com os líderes do PSDB, DEM, PPS e PV. A presidente Dilma Rousseff, que na sexta-feira, na abertura do Congresso do PT, prometeu à militância que a comissão será instalada, também mobilizou a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para o trabalho de vencer resistências à proposta.

O objetivo é aprovar o projeto por meio de um acordo entre líderes partidários, em caráter de urgência. A votação ocorreria numa sessão extraordinária, convocada especialmente para isso. Na conversa com a oposição, a maior preocupação dos três ministros é deixar claro que a comissão não terá caráter revanchista, nem abrirá debates sobre uma possível revisão da Lei da Anistia.

O governo diz entender que o assunto se encerrou no ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) negou à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o pedido para que policiais e militares acusados de violações de direitos humanos nos anos da ditadura fossem excluídos da anistia. Na avaliação da corte, eles também foram beneficiados pela lei de 1979.

"A comissão terá apenas preocupações históricas, de esclarecimento de fatos ocorridos naquele período", afirma José Genoino, assessor especial do ministro da Defesa. "Não
existem preocupações revanchistas nem punitivas."

Agência Estado
Publicação: 04/09/2011 10:54 Atualização: 04/09/2011 14:26

domingo, 28 de agosto de 2011

BRASIL MENOS CATÓLICO EM 20 ANOS

O Brasil pode deixar de ser o país mais católico do mundo nos próximos 20 anos, de acordo com o Novo Mapa das Religiões, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

“É um ritmo forte de transformação. As mudanças que aconteceram em 100 anos agora estão acontecendo em dez [anos]. Se continuar essa perda de 1 ponto de porcentagem [de católicos] por ano, em 20 anos você teria menos de metade da população”, calcula Marcelo Neri, coordenador do levantamento.

O relatório mostra que atualmente o percentual de mulheres católicas (71,3%) é menor do que o de homens (75,3%). “Acima de tudo, acho que seja a chamada revolução feminina. Poucas coisas mudaram mais no cotidiano das pessoas do que questões como trabalho e anticoncepção entre as mulheres. O fato é que, embora as mulheres sejam bem mais religiosas do que os homens, elas são menos católicas, talvez por uma questão de afinidade”, disse Neri.

O Novo Mapa das Religiões revela que o sexo feminino representa a maioria entre adeptos de 23 das 25 religiões listadas como as mais populares pela pesquisa, como a católica, a evangélica pentecostal, a evangélica tradicional, a espírita kardecista, a luterana e a umbanda. Segundo o documento, enquanto os homens abandonaram crenças, elas mudaram de religião. “O catolicismo, o candomblé e o budismo são religiões masculinas. Todas as outras são basicamente femininas”, acrescentou o coordenador.

Outro dado do levantamento é que a taxa de catolicismo no Nordeste é a mais alta do Brasil (74%) e no Sudeste é a mais baixa (64%). “No entanto, no Nordeste [a taxa] tem crescido em velocidade 2,5 vezes maior do que no Sudeste”, ressaltou o coordenador da pesquisa.

Entre os estados, o Piauí é o que concentra o maior número de católicos. Na outra ponta, está Roraima, com a menor população adepta ao catolicismo e que também apresenta a menor religiosidade.

O catolicismo está mais presente entre os mais ricos, da classe AB (69,07%), e entre os mais pobres, da classe E (72,76%).

Entre as outras religiões, os evangélicos tradicionais estão concentrados, principalmente, nas classes AB (8,35%) e C (8,72%), reduzindo a participação nas camadas mais baixas, chegando a representar 4,69% da classe E.

Seitas espíritas e espiritualistas representam 5,52% da população na classe AB. Entre as faixas de renda, a classe E foi a que se mostrou como a menos religiosa de todas (7,72% não têm religião).

“Religiões orientais e afro-brasileiras estão mais presentes no topo [considerando a renda]. Quanto mais a renda aumenta, existe mais diversidade religiosa. Nos últimos anos no Brasil, houve uma queda acelerada do catolicismo, mas não em direção aos evangélicos pentecostais, como nas chamadas décadas perdidas, e mais em direção aos evangélicos tradicionais e todas as religiões alternativas ao catolicismo e aos grupos evangélicos”,


Novo Mapa das Religiões, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV):
http://www.fgv.br/cps/religiao/
http://www.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JÂNIO QUADROS, 50 ANOS DA RENÚNCIA

Jânio Quadros não se limita ao hilário. Sua atuação na história do Brasil está muito mais para o trágico do que para o cômico.

Mais que tudo isso, uma lição. Um exemplo. Uma história contada e recontada que deveria nos servir de alerta e reflexão.

Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil com uma votação extraordinária, verdadeiro fenômeno eleitoral.

Naqueles tempos de fervura (desde o suicídio de Vargas em 1954 pairava sobre o país a sombra de um golpe, tentando os conspiradores até mesmo impedir a posse de JK), pela primeira vez as forças conservadoras chegavam ao poder. Pela primeira vez alguém apoiado pela UDN (União Democrática Nacional, anti-getulista e anti-comunista) chegava lá.

Mas o que fizera a direita para vencer com mais de 6 milhões de votos derrotando forças identificadas com Getúlio, encarnadas na figura honrada do Mal. Teixeira Lott?

Apresentaram propostas, durante a campanha eleitoral, de desenvolvimento e geração de emprego? Defenderam medidas de ajustes diminuindo as enormes distâncias sociais que separavam brasileiros? Propuseram um modelo de sociedade mais justa?

Não. As propostas de Jânio e seu alto comando, da UDN e de Carlos Lacerda, eram vazias como um porongo.

Então, por que a vitória estrondosa?

Porque usaram o mais seguro dos caminhos até os corações da maioria dos brasileiros: o discurso moralista e conservador. A identificação de Jânio como o homem que combateria a corrupção, que varreria a roubalheira, que defenderia a moral e a família brasileira, ameaçada pelos comunistas, esses “seres ateus, que odeiam os valores da família, os valores cristãos”.

Quando faltam argumentos, o anticomunismo tupiniquim se apodera da corrupção como algo recente e exclusivo às ações de seus adversários políticos.

Reparem que, pouca coisa mudou em relação ao último candidato derrotado para a Presidência, José Serra, que em desespero para evitar uma derrota ainda no primeiro turno, usou o discurso do bem (ele era o bem) contra sua oponente acusando-a de defender o aborto ou de ser a madrinha política de uma ministra que permitira o tráfico de influência em seu ministério.

Interessante notar como um povo que não conhece sua história repete os erros do passado e cai no mesmo truque dos estelionatários eleitorais.

Mostrando um Jânio de terno amorrotado, que comia sanduíches de mortadela tirados do próprio bolso, que mostrava uma vassoura como símbolo de limpeza contra a corrupção, a direita fez de Jânio Quadros um mito. Uma figura singular, pura, do povo, combatendo os monstros da corrupção e do mal.

Eleito, Jânio levou o Brasil para mares repletos de tempestades e em sete meses confundiu, iludiu, se perdeu e perdeu o país, pois acima de tudo, lhe faltavam idéias e ideais.

Ao renunciar em 25 agosto de 1961 jogou o país na mais grave crise de sua história, não ocorrendo uma guerra civil por detalhes muito pequenos.



Jânio Quadros faleceu em 1992, aos 75 anos. Dizem que, antes de fechar os olhos, segredou a um sobrinho que este teria sido seu maior erro em toda vida.

Para nós, hoje, ao atingirmos 50 anos da renúncia, seria importante se, em sua celebração nos comprometêssemos a nunca mais permitir que o falso moralismo oportunista prevaleça sobre a razão.