quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JÂNIO QUADROS, 50 ANOS DA RENÚNCIA

Jânio Quadros não se limita ao hilário. Sua atuação na história do Brasil está muito mais para o trágico do que para o cômico.

Mais que tudo isso, uma lição. Um exemplo. Uma história contada e recontada que deveria nos servir de alerta e reflexão.

Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil com uma votação extraordinária, verdadeiro fenômeno eleitoral.

Naqueles tempos de fervura (desde o suicídio de Vargas em 1954 pairava sobre o país a sombra de um golpe, tentando os conspiradores até mesmo impedir a posse de JK), pela primeira vez as forças conservadoras chegavam ao poder. Pela primeira vez alguém apoiado pela UDN (União Democrática Nacional, anti-getulista e anti-comunista) chegava lá.

Mas o que fizera a direita para vencer com mais de 6 milhões de votos derrotando forças identificadas com Getúlio, encarnadas na figura honrada do Mal. Teixeira Lott?

Apresentaram propostas, durante a campanha eleitoral, de desenvolvimento e geração de emprego? Defenderam medidas de ajustes diminuindo as enormes distâncias sociais que separavam brasileiros? Propuseram um modelo de sociedade mais justa?

Não. As propostas de Jânio e seu alto comando, da UDN e de Carlos Lacerda, eram vazias como um porongo.

Então, por que a vitória estrondosa?

Porque usaram o mais seguro dos caminhos até os corações da maioria dos brasileiros: o discurso moralista e conservador. A identificação de Jânio como o homem que combateria a corrupção, que varreria a roubalheira, que defenderia a moral e a família brasileira, ameaçada pelos comunistas, esses “seres ateus, que odeiam os valores da família, os valores cristãos”.

Quando faltam argumentos, o anticomunismo tupiniquim se apodera da corrupção como algo recente e exclusivo às ações de seus adversários políticos.

Reparem que, pouca coisa mudou em relação ao último candidato derrotado para a Presidência, José Serra, que em desespero para evitar uma derrota ainda no primeiro turno, usou o discurso do bem (ele era o bem) contra sua oponente acusando-a de defender o aborto ou de ser a madrinha política de uma ministra que permitira o tráfico de influência em seu ministério.

Interessante notar como um povo que não conhece sua história repete os erros do passado e cai no mesmo truque dos estelionatários eleitorais.

Mostrando um Jânio de terno amorrotado, que comia sanduíches de mortadela tirados do próprio bolso, que mostrava uma vassoura como símbolo de limpeza contra a corrupção, a direita fez de Jânio Quadros um mito. Uma figura singular, pura, do povo, combatendo os monstros da corrupção e do mal.

Eleito, Jânio levou o Brasil para mares repletos de tempestades e em sete meses confundiu, iludiu, se perdeu e perdeu o país, pois acima de tudo, lhe faltavam idéias e ideais.

Ao renunciar em 25 agosto de 1961 jogou o país na mais grave crise de sua história, não ocorrendo uma guerra civil por detalhes muito pequenos.



Jânio Quadros faleceu em 1992, aos 75 anos. Dizem que, antes de fechar os olhos, segredou a um sobrinho que este teria sido seu maior erro em toda vida.

Para nós, hoje, ao atingirmos 50 anos da renúncia, seria importante se, em sua celebração nos comprometêssemos a nunca mais permitir que o falso moralismo oportunista prevaleça sobre a razão.

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