domingo, 9 de dezembro de 2012
O CÉU É UMA FESTA
No dia 5 de dezembro último, na espaçosa e bem cuidada área da recepção do jardim celestial, todos queriam saber de que se tratava aquela enorme reunião. Só gente boa. Almas puras e corações sem susto.
A festa foi organizada pelo “Cavaleiro da Esperança”, Luiz Carlos Prestes e Olga Prestes, auxiliados pelo baiano Jorge Amado junto com a esposa Zélia e outras almas atéias.
Karl Heinrich Marx e Frederich Engels mantinham-se sempre juntos. Marx trazia um calhamaço de papéis debaixo do braço e viam-se na capa, tratar da analise do sistema da capitalista no Paraíso Celeste e insinuações da revolução que acabaria com a divisão em classes anjos, arcanjos, serafins e querubins. E já iniciava o manifesto comunista: “Trabalhadores de todo o céu, uni-vos”...
Kautsky unia-se Lenin e caminhavam com passos firmes, abraçados com Mao e Erneto Che Guevara, acompanhado de perto de Carlos Marighella. Afanasiev mais ouvia do que falava.
Ouvi uma voz vindo lá do fundo que dizia: “Esses velhos comunistas tinham muita resistência em falar sobre suas vidas, mas não é possível entender a História sem conhecer os militantes comunistas de todo o mundo”
E acompanhavam o entusiasta Juscelino, contemporâneos brasileiros João Goulart, Miguel Arrais, Armando Ziller, Temperani Pereira, Darci Ribeiro, Raul Riff, Waldir Pires, Brizola, Clodsmith Riani, Hercules Correa, Dante Pelacani, Samuel Wainer, Francisco Mangabeira, José Jofily, Celso Furtado, Caio Prado Junior, Marechal Osvino Ferreir Alves, Josué de Castro, João Pinheiro Neto, Djalma Maranhão, Roberto Morena, Amauri Silva, Neiva Moreira, Ferro Costa, Francisco Julião, Pelópidas Silveira, Bocayuva Cunha, Adão Pereira Nunes, Eloy Dutra, Marco Antonio, João Amazonas, Maurício Grabois, Max da Costa Santos, Roland Corbisier, José Aparecido de Oliveira, Rubens Paiva, Florestan Fernandes, Paulo de Tarso e outros que não identifiquei na hora.
Hobsbawn, ainda em fase de adaptação, acabara de chegar no dia 1º de outubro deste ano, ajeitava os óculos e falava de seu projeto de escrever “Era da eternidade”.
Sempre próximos, Ho Chi Min, Kim Il-sung e tentava pronunciar algumas palavras em português, para saudar o novo hóspede.
Allende trazia entre outros e outras, Neruda, Vitor e Violeta Parra, Mercedes Sosa, a turma de “Los imarenhos e convidou até Peron e Evita Peron que disseram que não perderia nunca esta oportunidade de estar com este grande homem.
Numa outra ala, sorriam juntos Astrogildo Pereira, Agildo Barata, Graciliano Ramos e Saramago, num portunhol de fazer gosto aos moradores da fronteira do Brasil com o Uruguai.
Franz Fanon lembrava para os presentes os rápidos contatos quando Niemeyer esteve pela primeira na Argélia, quando Fano, escrevia “Os condenados da Terra”, e lutava na Frente de Libertação Nacional.
O céu – hoje - é uma festa! Só festa e alegria.
Anuncia-se a chegada do arquiteto brasileiro que pretende mudar completamente a arquitetura celestial e acabar com a mesmice que ali impera. Oscar Niemeyer chega com a experiência de 105 anos mudando a paisagem de todo o mundo. Agora veio para mudar, também, o céu. Pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, na certa revolucionará a paisagem tradicional do céu.
E o céu também. Observem. É esperar para ver que infinitas obras ali farão o Mestre.
Para esta solenidade, pedi aos meus dois irmãos que lá revivem, o Vercy e o Vécio, para me representaram, junto ao Oscar Niemeyer. Mas, me aguardem. Não chegarei para essa grande festa de dezembro, mas ainda teremos muito que festejar: Fidel Castro prepara a viagem e quer uma festa de arromba com salsa, rumba e samba.
Pretende reunir o que há de melhor com base no “Buena Vista Social Club" e os mejores de Cuba: Compay Segundo, Celina & Reutilio, Ibrahim Ferrer, Silvio Rodriguez, Ernesto Lecuona, Pablo Milanes, Omara Portuondo, César Portillo de la Luz e Chucho Valdes.
Penso que seria uma excelente oportunidade para encontrar tanta gente boa. E todos reuniram-se para exaltar a memória do grande arquiteto e combatente comunista de tantas décadas, de mais de um século.
Claro que a multidão movimentava frenética e alegremente e me deixou sem registrar presença de muitas pessoas interessantes que compareceram ao grande evento celestial que há muito não se via.
Verly, 05-12-12
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
O GÊNIO DAS CURVAS
A regra geralmente prepondera sobre o inusitado.
As paralelas percorrem o universo até o infinito, lado a lado sem jamais se tocarem. E previsível e monótono.
O mais fácil sempre é o conforto. O de sempre, pois, apresentam resultados já conhecidos e esperados.
Filósofos gastaram suas vidas demonstrando a lógica matemática dos sólidos, as regras perfeitas dos ângulos e o que esperar de cada combinação aritmética.
O mais fácil é esperar pelo estabelecimento dessas fórmulas lógicas e viver como as paralelas, na certeza da previsibilidade infinita.
Por isso, o novo assusta. O pioneiro encanta, embora invejosos se apressem em dizer que tudo é muito simples, esquecendo que o simples antes da primeira vez, não havia sido tentado.
A linha reta é a mais séria de todas as formas.
Não admite brincadeiras, é soturna, sóbria e sem rodeios.
A linha reta não transgride à sua função, não permite soberba ou devaneios, é sólida e completa.
Já a curva é uma transgressão.
No seu molejo ela brinca no espaço, seduz a qualquer sobriedade, pinta e borda, vai e vem.
Enquanto a reta é homem, a curva é mulher.
A curva é incoerência que faz sentido ao mundo das formalidades. É devassidão, é conquista e desafio. A curva é sorriso.
A arquitetura antes de Oscar Niemeyer era reta.
Retratava a conquista e o poder.
Era econômica, prática e dura.
Oscar Niemeyer brincou com as formas, introduziu as curvas e inventou a leveza arquitetônica. Fez rir o mundo sombrio das construções.
Foi o novo. O Imprevisível. Trouxe a expectativa do resultado.
Com ele as paralelas finalmente se tocavam e o infinito era logo ali.
Inédito, pioneiro, gênio.
É claro que teve sorte, como todos os gênios.
Assim como Colombo teve a sorte de receber três naus para realizar seus sonhos, Niemeyer teve uma cidade inteirinha para construir. E, como criança num quarto cheio de brinquedos, ele brincou e brincou até se empanturrar, fazendo prédios, monumentos, igrejas e tudo o mais que faz parte de uma cidade a ser feita a partir de seus desenhos no papel. Enquanto algumas crianças brincavam de montar seus fortes ele os construiu.
Oscar Niemeyer foi o maior brincalhão da arquitetura.
Ele partiu levando consigo seus 104 anos de vida plenamente vivida e deve agora estar envolvido em outros projetos.
Repare bem, pode reparar se acha que estou mentindo.
Erga os olhos pro céu e confira se desde ontem, as nuvens não estão mais curvas, mais belas, e mais engraçadas.
Oscar Niemeyer morreu às 21:55 hs. de quarta-feira, 05 de dezembro de 2012, 10 dias antes de completar 105 anos. Foi o arquiteto que recebeu do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a missão de construir Brasília em sua arquitetura. Era comunista militante do PCB, amigo de Luis Carlos Prestes. Teve que se exilar do país durante a Ditadura Militar. É reconhecido no mundo inteiro como um dos maiores gênios da arquitetura moderna mundial.
A esse grande brasileiro nós lançamos um beijo no ar, e temos certeza que, após algumas voltas e piruetas, entre algumas leves curvas, ele chegará ao seu destino.
Prof. Péricles
CAMINHOS PERIGOSOS
Um artigo de Wladimir Pomar
À medida que o tempo passa, vão ficando evidentes contradições mais agudas na situação política brasileira. Por um lado, o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma aparecem como favoritos para as eleições presidenciais de 2014. Por outro, na economia, na sociedade e na política se acumulam evidências de que os detentores do poder econômico, dos meios de comunicação e do aparato de Estado estão manobrando com o propósito de reverter a situação em que se encontram.
A queda, mesmo insignificante, da taxa de juros; o aumento, mesmo incompleto, do emprego formal; a redução, mesmo leve, das taxas de eletricidade; o esforço, mesmo parcial, para reduzir os custos das obras públicas; a decisão, mais firme, de combater a corrupção política, através da extinção do financiamento privado das campanhas eleitorais, tudo isso parece haver acendido a luz vermelha nos círculos ideológicos mais influentes daqueles reais detentores do poder, fazendo-os procurar caminhos que lhes permitam acabar com a experiência, mesmo apenas levemente reformista, de governos centrais dirigidos pelo petismo.
O primeiro e mais relevante desses caminhos, consiste naquilo que alguns autores estão chamando de judicialização da política, e eu prefiro chamar de criminalização da política e da ação dos partidos. A política e os partidos passam a ser julgados não mais pelo povo, mas por juízes que, no chamado processo do mensalão, se arrogaram o direito de mudar a natureza do crime cometido, desdenhar provas, atropelar a Constituição e os procedimentos legais instituídos e se colocar acima dos demais poderes republicanos. E se alguém pensa que o STF se contentará em dar um exemplo apenas com esse julgamento, talvez se engane redondamente. Tudo indica que o poder judiciário, sob a tutela da alta corte, se empenhará em substituir o Congresso com normas e leis que intensifiquem a criminalização da política e a paralisia do governo dirigido pelo PT, através do levantamento de novos casos de corrupção, reais ou forjados, que envolvam o ex-presidente Lula, a presidenta Dilma e o PT.
O segundo caminho vem consistindo na multiplicação das derrotas do governo na Câmara e no Senado, derrotas infligidas principalmente por parcelas dos partidos que constituem a base do próprio governo, a exemplo do Código Florestal e da divisão dos royalties do pré-sal. Com a assunção do PMDB à presidência das duas casas do Congresso, cresce a possibilidade de que tais derrotas se intensifiquem, a não ser que Dilma se curve às exigências dos aliados, a exemplo do que já vem ocorrendo na aceitação passiva e na assimilação de que há uma nova classe média no país, que merece atenção prioritária do governo.
O terceiro caminho consiste na paralisia ou redução significativa dos investimentos privados, a pretexto da crise internacional, do alto custo dos salários, da alta carga de impostos, ou de outros motivos secundários, nenhum deles sendo relacionados à redução dos lucros máximos que o poder de monopólio garantia para as grandes corporações financeiras, industriais, agrícolas e comerciais. Como a elevação dos investimentos, especialmente na infraestrutura, indústria e agricultura de alimentos, é a chave para o crescimento e para a geração de empregos, embora alguns setores do governo não deem a atenção devida a isso, as previsões de crescimento de 3% a 4%, em 2013, podem ser frustradas.
O quarto caminho parece consistir em revigorar a insegurança pública, através de chacinas descontroladas, quase certamente realizadas como ação diversionista para ocultar disputas internas nas polícias locais, associação com milícias e traficantes e outras correntes da criminalidade. O que traz à tona a contradição entre as taxas de desemprego oficiais e a grande massa populacional, sem acesso à educação e à qualificação profissional, incapaz de procurar emprego e cuja única opção consiste em servir como soldados do tráfico e do crime. Os casos de explosão de insegurança pública em São Paulo e em Santa Catarina talvez não sejam os únicos, nem os últimos.
Esses caminhos parecem desligados ou disparatados. No entanto, quem se der ao trabalho de acompanhar a pauta do Partido da Grande Mídia pode concluir que eles estão intimamente relacionados, na perspectiva de corroer pelas beiras, e também por dentro, a experiência de governo do PT, de modo a fazer que ele desabe por seus próprios erros. Talvez não seja por acaso que, nos últimos tempos, tenham se multiplicado as publicações da A Arte da Guerra, de Sun Zi, o mestre dessa arte de vencer a guerra induzindo o inimigo a cair em armadilhas, desgastar-se e ser levado à derrota, sem necessidade de travar qualquer batalha decisiva.
Nesse sentido, os promotores da criminalização da política estão provocando o PT a cair na armadilha de realizar uma defesa aberta dos réus julgados pelo STF, de modo a associá-lo umbilicalmente à suposta compra de votos de parlamentares e abrir canais para envolver o ex-presidente Lula e o partido, como um todo, na mesma teia que lhes permitiu julgar e condenar vários dirigentes do partido e aliados. Na verdade, talvez a melhor defesa dos condenados consista numa tática de ataque aberto, público, constante e intenso ao sistema eleitoral de financiamento privado das campanhas eleitorais, no qual o caixa dois é recorrente e não há qualquer indício de repúdio efetivo a ele pela Justiça.
Nessas condições, o PT se encontra numa encruzilhada. Ou sai da defensiva com uma tática correta, ou se arrisca a soçobrar. O mesmo diz respeito a ele e ao governo Dilma quanto à economia e à conjuntura política. O PT e seus membros no governo precisam discutir, em conjunto, os problemas estruturais que emperram o desenvolvimento econômico e social no ritmo que a maior parte da sociedade necessita, a exemplo do poder de monopólio de um grupo de corporações empresariais sobre o conjunto da economia, dos gargalos que impedem o crescimento dos investimentos e dos empregos da grande massa da população que está fora do mercado de trabalho e dos aspectos macroeconômicos que incidem negativamente sobre a economia. Ou não terão nada a dizer para as camadas populares e médias da população, nem para mobilizá-las para as mudanças, mesmo as capitalistas, que só serão realizadas se a burguesia sentir que PT e governo possuem um apoio social firme e explícito, e que este apoio pretende avançar nas reformas democráticas e populares.
Quando se confirmou a vitória de Dilma, em 2010, todos sabíamos que seu governo seria, ao mesmo tempo, continuidade do governo e com novas mudanças baseadas no que havia sido conquistado. Os caminhos para essa mudanças estão se tornando cada vez mais perigosos, mas o maior perigo consiste em não enfrentá-los.
Por Wladimir Pomar, no Correio da Cidadania
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
PRESSA, MUITA PRESSA
Dizem que o mundo feudal era lento e rural e que o capitalismo trouxe a dinâmica.
Então a Revolução industrial trouxe a pressa.
Temos pressa, talvez esse devesse ser o epitáfio de todos nós.
Temos pressa de crescer, de casar, de se formar na faculdade, de ganhar dinheiro.
Pressa de tudo e na correria da vida massificamos as coisas pra facilitar.
A isso chamamos rotina.
Rotina de marido/esposa, rotina de profissional, rotina de visitar os amigos e parentes.
Rotina de amar. Ama-se com pressa e com rotina até que o amor acabe, e nem ao menos percebemos quando.
De tanto viver em rotina, a vida se torna rotineira. As coisas sempre as mesmas, os horários sempre iguais.
A pressa de viver não nos permite olhar a paisagem e diante da chuva enxergamos apenas as gotas d1agua, pois não há tempo para entender sua essência.
Se o vento sopra na noite, pensamos na roupa para usar amanhã no trabalho. Não ouvimos sua poesia e não entendemos suas palavras. Certamente você sabe que o vento fala, não é?
Lembramos de tudo, do horário do ônibus, dos compromissos, da agenda. Só não lembramos de viver.
Na ânsia rotineira engolimos fins de semana com pressa e quase nos engasgamos esperando a segunda-feira.
Gastamos nossos dias jovens, nossos sonhos, nossos ideais até que nada sobre além do que a rotina permite ser.
Um bebê de 10 meses morreu, após ser esquecido pelo pai em um carro, no bairro de Água Limpa, em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro.
O pai, gerente de vendas Clóvis Mantila, deveria ter levado a filha Manuela para uma creche, mas esqueceu a criança no banco traseiro do carro, que ficou estacionado.
Ele chegou a ser detido, mas foi liberado após pagamento de fiança. A menina Manuella Mantila Sueth foi levada para o hospital, mas já chegou sem vida, com sinais de asfixia.
O pai contou na delegacia que se esqueceu da filha porque não tinha o hábito de levá-la à creche. Ele disse que só lembrou que havia esquecido do bebê no carro quando a mãe telefonou questionando a ausência de Manuella na creche.
O que aconteceu então foi uma quebra da rotina. Algo que não era rotineiro não foi registrado por Clóvis e sua mente simplesmente esqueceu a filha enquanto se ocupava do trabalho rotineiro. E trabalhou como sempre enquanto a filha morria.
Clóvis foi indiciado por homicídio culposo, mas, com certeza não haverá pena suficientemente dolorosa para provocar maior dor do que a que ele já deve estar sentindo e que carregará pelo resto de sua vida, pela morte causada por ele mesmo, da pequena Manuella.
Manuella morreu de pressa. Manuella foi vítima da rotina. Foi enterrada no cemitério Portal da Saudade.
Talvez esse seja o nome correto para nossa própria mortalha, porque, no fundo, no fundo, em algum lugar de alguma dobra da alma, entre horários de pico e bater de ponto, devemos ter saudade de nós mesmos, do tempo em que banho de chuva era um compromisso e pisar com pés descalços na terra era um prazer.
De um tempo pra não fazer nada e quando não havia pressa.
Prof. Péricles
sábado, 1 de dezembro de 2012
HISTORIADORES
A recente aprovação do projeto de regulamentação da profissão de historiador no Senado Federal, no último dia 7, tem gerado algumas controvérsias que, do nosso ponto de vista, derivam de certas incompreensões e até mesmo do desconhecimento do texto do projeto.
Alguns têm alegado que a regulamentação conduzirá ao cerceamento da liberdade de expressão daqueles que, mesmo não sendo historiadores de formação, escrevem sobre o passado. Neste sentido, citam, inclusive, nomes de grandes intelectuais que produziram e continuam produzindo verdadeiros clássicos da historiografia brasileira.
Outros afirmam que a necessidade de formação específica levará à falta de professores de história no ensino fundamental, já que hoje muitos ministrantes desta disciplina realizaram outros cursos de graduação, como pedagogia, ciências sociais e filosofia.
Sobre o primeiro argumento contra o projeto, ele só é manifestado por quem não conhece o seu teor. Em nenhum momento foi proposto que historiadores profissionais tenham exclusividade na formulação e divulgação de narrativas históricas.
Jornalistas, cientistas sociais, diplomatas, juristas, economistas e todos os cidadãos poderão continuar a produzir conhecimento histórico - e esperamos que isso aconteça, pois só a partir de perspectivas diferentes e multidisciplinares conseguiremos fazer avançar a historiografia brasileira que, por sinal, é bastante consistente e tem grande reconhecimento internacional.
Além disso, advogar esta exclusividade aos historiadores profissionais seria atentar contra as liberdades democráticas, o que não é o caso aqui. Prova disso é que o projeto foi apoiado por todas as lideranças partidárias do Senado, demonstrando que ele não tem um viés político-partidário específico.
Quanto ao segundo argumento, defendemos sim que os professores de história realizem alguma etapa de sua formação em história (na graduação ou na pós-graduação), já que acreditamos que nossos alunos do ensino básico devem ter o direito de aprender com docentes qualificados e possuidores de conhecimentos e habilidades específicas nas áreas que lecionam.
Isso não é desmerecer professores de outras disciplinas, mas reconhecer que cada campo disciplinar implica a aquisição de saberes específicos, mesmo que em diálogo com outros âmbitos de conhecimento. (No caso dos professores de história, por exemplo, a atenção às múltiplas temporalidades, a crítica e a interpretação dos documentos, a atualização historiográfica, a atenção às relações entre história acadêmica e história ensinada etc.).
De qualquer forma, esta especialização do corpo docente não se dará de uma hora para outra. Afinal, a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação prevê que, quando não há professores formados nas disciplinas específicas, devem ser aproveitados professores com outras formações e só, em último caso, professor sem nenhuma formação.
Isso não impede, contudo, que, a médio e longo prazo, continuemos lutando pela qualificação e especialização de nossos professores, sem deixar de estimular, é claro, o saudável diálogo interdisciplinar.
Ou seja, o projeto não veda a ninguém o direito de escrever sobre história nem pretende impor de uma hora para outra a especialização a todos os docentes. Apenas quer assegurar a presença de historiadores profissionais em espaços dedicados ao ensino e à pesquisa científica em história, para que esses possam, em colaboração com outros estudiosos, contribuir para o avanço da área.
Paulo Paim é senador pelo PT-RS, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado e autor do projeto de lei citado no artigo.
Fonte: Jornal da Ciência
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
PERIGOS DA URNA ELETRÔNICA
“Quem vota não decide coisa alguma. Quem conta os votos decide tudo”
Joseph Stalin
Se Stalin disse ou não disse, não posso garantir. A frase virou folclore. Para que alguma eleição signifique alguma coisa, os que contam os votos têm de ter mais respeito pela integridade da democracia, do que ânsia de poder.
Dos tempos de Stalin até hoje, a tecnologia mudou. Com máquinas de votar eletrônicas, que não deixam marcas impressas e são programadas por programas proprietários, o resultado de uma eleição pode ser decidido de véspera. Os que controlam o programa podem programar as máquinas para elegerem (as máquinas, não os eleitores) o candidato que o programador deseje eleger. As máquinas eletrônicas de votar não são transparentes. Quando se vota em máquina eletrônica, não se sabe em quem se está votando: só a máquina sabe.
Os mesmos que podem roubar a eleição podem facilmente meter “especialistas” nas televisões, que se porão a explicar que a divergência entre as pesquisas de boca de urna e os votos contados está “na margem de erro”, ou “não tem significado estatístico” ou, então, aconteceu porque as pesquisas de boca de urna ouviram mais (ou menos) mulheres, ou mais (ou menos) uma ou outra minoria racial ou mais (ou menos) membros de um ou do outro partido.
Em artigo fascinante para Harper’s Magazine (26/10/2012), Victoria Collier observa que, com o advento da moderna tecnologia “emergiu todo um bravo novo mundo de falcatruas eleitorais”.
A velha fraude de urnas era localizada e de curto alcance. As máquinas eletrônicas, hoje, permitem fraudar eleições em escala estadual e nacional. Além disso, em votações eletrônicas não há urnas cheias de votos a serem encontradas em fundos de quintal na Louisiana. Com programas proprietários, os proprietários dos programas decidem: a contagem dos votos indicará o número previsto no programa proprietário.
As duas primeiras eleições presidenciais nos EUA no século 21 têm história vergonhosa. A vitória de George W. Bush sobre Al Gore foi decidida pelos Republicanos na Suprema Corte dos EUA, que mandaram suspender a recontagem de votos na Florida.
Em 2004, George W. Bush venceu na contagem de votos, embora as pesquisas de boca de urna indicassem vitória de John Kerry.
A era do roubo eletrônico de votos, diz Collier, “começou com Chuck Hagel, milionário desconhecido que concorreu a uma cadeira no Senado, por Nebraska, em 1996. Hegel começou muito atrás, na disputa com o popular governador Democrata, eleito dois anos antes por uma avalanche de votos. Três dias antes das eleições, contudo, o jornal Omaha World-Herald mostrou eleição apertadíssima, com 47% dos eleitores preferindo cada um dos candidatos. David Moore, então editor-gerente do Instituto Gallup, disse ao jornal que Não é possível prever o resultado”.
A vitória de Hagel na eleição geral, sempre referida como “uma reviravolta”, garantiu a cadeira no Senado aos Republicanos, pela primeira vez em 18 anos.
Poucos norte-americanos sabiam, até poucos dias antes das eleições, que Hagel fora presidente da empresa fornecedora das urnas eletrônicas que, a seguir, estariam contando votos para ele mesmo: a Election Systems & Software (então chamada American Information Systems). Hagel deixou a empresa duas semanas antes de declarar-se candidato. Mas não se desfez de milhões de dólares em ações do McCarthy Group, grupo proprietário da empresa ES&S. E Michael McCarthy, fundador da empresa parceira, trabalhava como tesoureiro de campanha de Hagel.
Quando a Suprema Corte Republicana impediu a recontagem de votos na Florida e decidiu a eleição entre George W. Bush e Al Gore nas eleições presidenciais em 2000, a resposta dos Democratas foi não protestar, para não abalar a confiança dos norte-americanos na democracia. John Kerry também aceitou e calou em 2004, apesar da vasta diferença entre as pesquisas de boca de urna e os votos acumulados em meio eletrônico. Mas como os norte-americanos poderemos confiar na democracia, se nem há votos para ver e contar e a eleição não é transparente?
Vejam só! Por todo o planeta, transações de trilhões de dólares acontecem diariamente, e raramente há algum problema. Se se pode contar dinheiro onlineaté os centavos, claro que se podem contar votos online. O único problema é que há interesses políticos gigantescos “programados” em cada urna ou máquina de votar eletrônica.
Em 2005, a Comissão Federal para Reforma Eleitoral não partidária, concluiu que a integridade das eleições estava comprometida pela ação de quem controlou a programação. A propriedade privada da tecnologia de votação é absolutamente incompatível com eleições transparentes.
País sem eleições transparentes é país sem democracia.
Paul Craig Roberts – Institute for Political Economy
“U.S. Elections: Will the Dead Vote and Voting Machines be Hacked?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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