segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PRESSA, MUITA PRESSA



Dizem que o mundo feudal era lento e rural e que o capitalismo trouxe a dinâmica.

Então a Revolução industrial trouxe a pressa.

Temos pressa, talvez esse devesse ser o epitáfio de todos nós.

Temos pressa de crescer, de casar, de se formar na faculdade, de ganhar dinheiro.

Pressa de tudo e na correria da vida massificamos as coisas pra facilitar.

A isso chamamos rotina.

Rotina de marido/esposa, rotina de profissional, rotina de visitar os amigos e parentes.

Rotina de amar. Ama-se com pressa e com rotina até que o amor acabe, e nem ao menos percebemos quando.

De tanto viver em rotina, a vida se torna rotineira. As coisas sempre as mesmas, os horários sempre iguais.

A pressa de viver não nos permite olhar a paisagem e diante da chuva enxergamos apenas as gotas d1agua, pois não há tempo para entender sua essência.

Se o vento sopra na noite, pensamos na roupa para usar amanhã no trabalho. Não ouvimos sua poesia e não entendemos suas palavras. Certamente você sabe que o vento fala, não é?

Lembramos de tudo, do horário do ônibus, dos compromissos, da agenda. Só não lembramos de viver.

Na ânsia rotineira engolimos fins de semana com pressa e quase nos engasgamos esperando a segunda-feira.

Gastamos nossos dias jovens, nossos sonhos, nossos ideais até que nada sobre além do que a rotina permite ser.

Um bebê de 10 meses morreu, após ser esquecido pelo pai em um carro, no bairro de Água Limpa, em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro.

O pai, gerente de vendas Clóvis Mantila, deveria ter levado a filha Manuela para uma creche, mas esqueceu a criança no banco traseiro do carro, que ficou estacionado.

Ele chegou a ser detido, mas foi liberado após pagamento de fiança. A menina Manuella Mantila Sueth foi levada para o hospital, mas já chegou sem vida, com sinais de asfixia.

O pai contou na delegacia que se esqueceu da filha porque não tinha o hábito de levá-la à creche. Ele disse que só lembrou que havia esquecido do bebê no carro quando a mãe telefonou questionando a ausência de Manuella na creche.

O que aconteceu então foi uma quebra da rotina. Algo que não era rotineiro não foi registrado por Clóvis e sua mente simplesmente esqueceu a filha enquanto se ocupava do trabalho rotineiro. E trabalhou como sempre enquanto a filha morria.

Clóvis foi indiciado por homicídio culposo, mas, com certeza não haverá pena suficientemente dolorosa para provocar maior dor do que a que ele já deve estar sentindo e que carregará pelo resto de sua vida, pela morte causada por ele mesmo, da pequena Manuella.

Manuella morreu de pressa. Manuella foi vítima da rotina. Foi enterrada no cemitério Portal da Saudade.

Talvez esse seja o nome correto para nossa própria mortalha, porque, no fundo, no fundo, em algum lugar de alguma dobra da alma, entre horários de pico e bater de ponto, devemos ter saudade de nós mesmos, do tempo em que banho de chuva era um compromisso e pisar com pés descalços na terra era um prazer.

De um tempo pra não fazer nada e quando não havia pressa.

Prof. Péricles

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