quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
COLÉGIO ELEITORAL, A LOUCURA AMERICANA
Por José Inácio Werneck
Os americanos gostam de proclamar que seu país é “excepcional”. Pode ser verdade, mas é necessário acrescentar que exceções podem ser boas ou ruins.
Uma exceção ruim dos Estados Unidos é o aloprado sistema do Colégio Eleitoral.
Pela segunda vez em 16 anos teremos um cidadão que recebeu menos votos assumindo a Presidência da República.
O primeiro caso foi com Al Gore, no ano 2000. Ele ganhou a eleição no voto popular mas perdeu no Colégio Eleitoral para George W. Bush.
O que é o Colégio Eleitoral? É um sistema em que, quando um candidato ganha mais votos em um Estado (por exemplo, Flórida) os “electors” daquele Estado mais tarde (semanas mais tarde) dão a ele os seus votos.
O número de votos varia de Estado para Estado e na verdade começou como um pérfido sistema para dar aos estados do Sul (os da antiga Confederação, estados escravocratas) um número grande de votos no Colégio Eleitoral.
Para isto, os negros residindo naqueles estados, mesmo os escravos que não tinham direito a voto, eram computados como “3/5 de um homem”. Não eram um ser humano completo, apenas 3/5, para efeito eleitoral.
Na eleição perdida por Al Gore o resultado foi ainda mais escandaloso porque tudo indica que, na verdade, Al Gore ganhou a eleição na Flórida, mas, no tapetão da Suprema Corte, onde havia mais juízes republicados do que democratas, George W. Bush foi considerado o vencedor.
Agora, na eleição do mês de novembro passado, Hillary Clinton teve 2,8 milhões de votos mais do que Donald Trump, mas, por causa do pérfido sistema do Colégio Eleitoral, Donald Trump foi oficialmente indicado como o novo presidente dos Estados Unidos (tomará posse em 20 de janeiro).
Quem é Donald Trump? Um vigarista, mentiroso, racista, xenófobo, misógino e demagogo.
A péssima impressão que se tinha dele antes da eleição só fez aumentar nos últimos dias, pois vem indicando pessoas absolutamente desqualificadas para os postos importantes de sua administração.
Para o Departamento de Energia, vai nomear Rick Perry, antigo candidato presidencial que havia prometido… fechar o Departamento de Energia, mas, num debate em primária presidencial, em 2008, não conseguiu sequer lembrar seu nome.
Para o Departamento de Proteção ao Meio-Ambiente, Trump nomeará Scott Pruitt, um político de Oklahoma que é famoso como testa de ferro de empresas petrolíferas e quer romper o Acordo Climático de Paris.
Para a Secretaria de Defesa vai um general da reserva apelidado “cachorro louco”.
Como embaixador em Israel, um cidadão que considera os judeus favoráveis a um acordo com os palestinos “nazistas”.
Para a Secretaria de Estado, o “chairman” e executivo chefe da Exxon Mobil, Rex Tillerson, cujo interesse maior é negociar acordos petrolíferos com a Rússia, onde sua empresa tem direitos de exploração em 64 milhões de acres.
Para a Secretaria do Trabalho, Andrew Puzder, inimigo declarado da legislação trabalhista e dos sindicatos.
Trump continua a dar declarações totalmente insensatas e parece a caminho de um choque frontal com a China, por dizer que vai restabelecer relações diplomáticas com Taiwan.
É este homem, Donald Trump, que o Colégio Eleitoral consagrou Presidente dos Estados Unidos, embora tenha perdido por larga margem a votação popular.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
O IMPÉRIO DAS ELITES
O maior império da antiguidade, o Império Romano, agonizou antes da queda final. Uma agonia que durou cerca de três séculos.
Apesar de ter o mundo inteiro interessado em sua queda, não foi nenhum inimigo externo que o derrubou. Não foram os povos “bárbaros” como eles chamavam os germânicos, uma nova arma ou um gênio militar. O que derrubou o maior de todos os impérios foram suas próprias contradições.
Roma adotou uma religião alienígena, do oriente, que fazia sucesso entre seu povo, a religião cristã. Negociou com lideranças inimigas. Subornou generais estrangeiros. Fortaleceu os limes com aliados de última hora e até mesmo dividiu o próprio império acreditando que seria mais fácil defender e preservar dois impérios menores.
Os políticos romanos fizeram tudo o que acharam possível fazer. Só esqueceram de olhar para dentro do próprio Império. Se assim o fizessem talvez percebessem que a causa de sua decadência estava na sua própria estrutura escravagista e na imensidão de miseráveis que construía em torno de um pequeno núcleo de privilegiados.
Ao não enfrentar suas mazelas tentou deter uma avalanche com meias-medidas.
Outros grandes impérios deram o mesmo exemplo.
A falta de humildade somada à fome insaciável de poder e manutenção de privilégios, construíram ao longo da história, sepulturas de povos e de líderes que só olhavam para fora, para o inimigo externo, nunca para suas próprias deficiências.
A história deveria ser a conselheira dos governantes, mas não é.
No Brasil, o núcleo de privilegiados que tomaram o estado como sua propriedade encastelam-se dentro de um mundo surreal.
Quando Getúlio Vargas aproximou-se das causas operárias reagiram com a soberba de quem não aceita vizinhos pobres em sua esfera mítica. Tanto infernizaram a vida do líder populista que acabou com o suicídio do presidente.
Antes mesmo de retornar a segurança de suas muradas de privilégios, porém, um novo “ataque” externo tirou o sono da casta de bem-nascidos do Brasil, com o fenômeno João Goulart e suas reformas de base.
Ao invés de olhar para si mesma e perceber as enormes contradições num país que cada vez mais se industrializava e se politizava, a casta reagiu novamente com a força do império. Chamou os militares e o golpe de 1964 desbancou Jango, o “bárbaro” e trouxe mais 20 anos de calmaria aparente para esses eleitos da fortuna.
Mas o fim da ditadura traria com forças redobradas as esperanças dos mais humildes, principalmente depois da enorme popularidade da Campanha Diretas-Já e da promulgação da Constituição Cidadã de 1988.
O império dos eleitos temia por sua sobrevivência e usando sua mais potente arma, a mídia, que fora tão útil na deposição/morte de Getúlio e de Jango, criou uma mentira e elegeu um presidente amigo em 1989.
Outros mitos viriam, como um presidente sociólogo, teórico esquerdista nos velhos tempos e o Plano Real.
O que o império não entendeu e continua não entendendo é que esses mitos televisivos são eficientes para empurrar as crises para debaixo do tapete, mas são ineficazes para trazer a paz que almejam, sendo que a paz que almejam é manter seus privilégios sem que a esquerda e seus molambos ameaçem tomar o poder.
Lula deveria ser o choque de realidade, fosse nossas elites minimamente capazes de ler nas massas populares o desejo de mudanças.
Os programas sociais, os estímulos a distribuição de renda soaram para essas elites como o grito dos Hunos deve ter soado aos ouvidos romanos. O início do fim. Do cataclismo. E isso, simplesmente porque a elite brasileira, uma das mais reacionárias do mundo continua vendo pobre e melhorias sociais como algo inimigo, contrário ao seu mundo.
O golpe parlamentar contra Dilma não demonstra que a guerra acabou, ao contrário, deixa claro que a paz está cada vez mais distante.
Tomar o poder do qual sentiam tanta saudade não resolve seus problemas. O uso da truculência tem prazo de validade
O que fazer com um presidente pífio que não consegue obter uma popularidade que chegue a dois dígitos? Como angariar popularidade com medidas neoliberais?
Como enganar a população trazendo notícias de desenvolvimento econômico se a crise, a mesma que já era difícil nos tempos de Dilma, ameaça ficar pior a partir do protecionismo republicano de Trump?
A elite brasileira faria melhor se olhasse para si mesma, mas parece que, humildade é algo que os poderosos do Brasil continuam desconhecendo, assim como desconheceram que a causa da instabilidade da monarquia era, que ironia, a manutenção das estruturas escravagistas.
Prof. Péricles
domingo, 1 de janeiro de 2017
DO BRASIL E SEUS HERÓIS
Por Alberto Dines
Enquanto um via suborno e aviltamento, o outro ironizava sobre a ” doçura” do
Diplomata Calero que não entendeu o espírito de como se faz política em Brasília.
Calero negou-se a aceitar o projeto estapafúrdio da vaquejada como cultura e da maracutaia como forma de fazer política. Na suíte do caso, Temer teria enquadrado Calero, o caso acabou respingando no presidente, mas Calero saiu, Geddel ficou — só não aguentou a pressão, agora da população inteira, e uma semana depois pediu “exoneração do honroso cargo”. Tarde. Na mesma denúncia de propina nas páginas que destrincham a falência do Rio, vem a explicação de uma simples “oxigenação “.
Na mesma revolta da população inteira que inclui canto de servidores revoltados com trechos de Carmina Burana de Carl Orff e Carmen de Bizet diante da Assembléia Legislativa do Rio, a declaração de Sergio Cabral, “estou com a consciência limpa, indignado com acusações “. Neste Brasil grande cabe tudo, Caixa Dois por um lado e pressa para descriminalizar o que é crime.
Esta semana Temer montou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social alegando que assumiu um Brasil com déficits de verdade e muito ilusionismo contábil. Garantiu “entramos na era da lucidez”. Na mesma edição, Temer qualificava então o escândalo Calero-Geddel de “um acidente” menor.
O mesmo ex-governador do Rio, Antônio Garotinho, que ia levar ”um bombom Garoto” para Sérgio Cabral quando o desafeto fosse preso, acabou em Bangu, junto com Cabral. Antes, tentou oferecer R$ 5 milhões para não ser preso e apresentou um diploma universitário duvidoso para escapar do xilindró.
Um bombom, um acarajé, um kibe, bacalhau, propina não. ” Fumar um charuto”, “tomar um vinho”, assim o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, marcava encontros com os operadores para receber contratos malocados.
O ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto cunhou como ”pixuleco” aquilo que Carlinhos Cachoeira preferia denominar ”assistência social”. Luís Rogério Gonçalves Magalhães em conversa com Wagner Garcia, preso em Bangu, preferiu noticiar três dias antes a prisão de Cabral assim, “entregou a rapadura com raspas de limão”. Já Cabral preferia negociar propinas com a Andrade Gutierrez utilizando nome de mulher, Nelma de Sá Saraca, em alusão à histórica secretária d’O Pasquim, tabloide fundado entre outros pelo Sergio Cabral pai, criador do musical Sassaricando.
A era é a do esquecimento, Sergio Cabral não sabe como pagou as joias da mulher em dinheiro vivo, algumas no valor de R$100 mil. Sua mulher não sabe como R$ 10 milhões foram parar na sua conta. A era é a do deslumbramento, da ostentação, do triplex em Guarujá que é de ninguém, de mais uma delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral dizendo que o ex-presidente Lula, que não sabia de nada, tinha ” conhecimento absoluto “. E todo Congresso, que diz não temer nada, tremendo diante do acordo de delação dos 80 executivos da Odebrecht, empreiteira que mantinha um departamento de propina para suprir as demandas e agora pode atingir 130 políticos.
A era é a da pós-verdade, do virtual que não é real, da anti-humanidade de Donald Trump respingando temores nos ilegais brasileiros. A era é a do nacionalismo, da ultradireita antissemita, racista, xenófoba, homofóbica, neonazista ganhando espaço no mundo. A era é a da pós Petrobrás, empresa das mais poderosas do mundo, transformada na mais endividada do planeta com 132 bilhões de dólares. E é ainda o pré-sal, os royalties do pré sal que vão saldar parte do endividamento dos estados.
Na era da “lucidez ” que é a dos reality shows, devem se suceder as operações Calicut, My Way, Nessum Dorma, Caça-Fantasma, Resta Um e uma nação que segue atônita com verdades partidas, em busca de seus heróis– ou pelo menos de políticos éticos –, e de um espelho que não reflita a face de uma pós-verdade tão mentirosa.
Alberto Dines é jornalista, escritor e cofundador do Observatório da Imprensa.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
PODEMOS MUDAR O MUNDO
Quando crianças somos cheios de fantasias e sonhos. Criamos amigos imaginários e monstros embaixo da cama. Brincamos com tudo e tudo se transforma em brinquedo, seja uma bola de meia ou uma caixinha de fósforos que vira um carrinho de fórmula 1.
Quando adolescentes, nossas fantasias se alteram, mas não nos abandonam.
Quando adolescentes, nossas fantasias se alteram, mas não nos abandonam.
Junto aos amigos e brinquedos imaginários somamos sonhos com pessoas reais que gostaríamos que fossem como queríamos que fossem e não como realmente são.
Mas, chega um momento, sem data específica para cada um de nós, em que as fantasias escasseiam e a maioria dos sonhos acabam. Um mergulho frio na realidade da vida. Dizem que é quando nos tornamos adultos, mas desconfio que seja quando nos tornamos tristes.
De muitas maneiras 2016 representou o fim de sonhos de muita gente.
Em especial, 2016 representou o fim do sonho de um tipo de esquerda representado pelo PT forjado na crença de que os programas sociais, por sua abrangência e virtude seriam suficientes para manter o poder. Terrível despertar de quem achava que fosse possível governar sendo aliado da banda mais podre da política brasileira. O PT descobriu que não se entra num chiqueiro sem se sujar.
Também foi o fim da crença de grande parte dos brasileiros de que a democracia depois de tantas quedas estivesse suficientemente madura para superar os perigos do golpismo.
A queda de Dilma foi a queda de milhões de joãos e Marias. Caímos junto com Dilma após um longo percurso de farsa onde uma mulher inocente e sem crimes foi condenada.
Em 2016 de alguma maneira, nosso país por inteiro despertou de algo, ou, pelo menos se viu envolto numa realidade até então não muito bem identificada.
Nunca tantos se revelaram tão reacionários e a hipocrisia até virou moda. Piadas racistas e machistas incentivadas pela intolerância tornaram-se dura realidade, agressiva e cruel.
Assim como quando jovens descobrimos que nosso melhor amigo não é tão amigo assim, descobrimos que nosso judiciário não é tão imparcial como imaginávamos.
A Lei Maria da Penha completou 10 anos, mas não tem como festejar se as mulheres continuam sendo agredidas e massacradas todos os dias e em todos os cantos do Brasil.
Um Tribunal de São Paulo decidiu que os 111 fantasmas de Carandiru, continuarão insepultos ao determinar a anulação dos julgamentos anteriores que punia os responsáveis.
No mundo inteiro o fascismo cresceu, tomou forma e trouxe consigo todos os medos que julgávamos enterrados para sempre.
Trump ganhou nos Estados Unidos e a extrema direita cresceu em vários países da Europa.
Mal podemos festejar com o espetacular Papa Francisco e a canonização da Santa dos pobres, madre Tereza de Calcutá diante de tanta pressa das notícias ruins.
Ficamos mais afastados da humanidade e próximos da animalidade em Orlando, onde 50 pessoas de uma boate LGBT foi morta e 53 foram feridos no pior atentado homofóbico desse tipo nos Estados Unidos, um país farto em atentados em escolas e faculdades.
De várias maneiras nos afastamos mais da unidade, criando novas fronteiras.
Depois de 50 anos de guerra o povo colombiano parece que se acostumou, e rejeitou um acordo de paz com as FARC.
Os britânicos decidiram, em referendo dar adeus à União Europeia.
E, acredite, o comandante Fidel que acostumamos pensar que fosse eterno, morreu, e foi ocupar seu lugar na história.
Se não dá para dizer que despertamos da inocência, já que nossa inocência não sobreviveu a outros golpes como o de 1964, dá para afirmar que acordamos no inferno das incertezas.
Há algo profundamente errado acontecendo no Brasil e no mundo.
Sobram conformidades e faltam escândalos diante das grandes e pequenas tragédias do nosso dia a dia. Será que perdemos a capacidade de indignação?
Mas sobram algumas certezas e entre elas, diante da intolerância e violência de um lado e do desejo de igualdade e fraternidade do outro, podemos ter a certeza de estar no lado certo.
Por isso, você aí, que anda cabisbaixo se sentindo derrotado. Você que anda indignado querendo que egoístas e fascistas divirtam-se com o butim que a crédula e invigilante sociedade brasileira permitiu, você, não pode fraquejar.
Você precisa resistir em defesa dos seus valores e da dignidade humana.
Você precisa ser a voz dos que não podem se expressar e os corações dos que deixaram de acreditar.
Você pode pensar que é pequeno e que não tem influência, mas está errado.
Nós somos capazes de mudar o mundo, mudando uma só consciência.
Somos capazes de fazer o mundo melhor fortalecendo uma só esperança.
Não desista. 2017 está aí e a luta está só começando.
Do seu jeito, em seu trabalho, entre amigos e parentes, com a namorada, debatendo com o marido, corrigindo informações distorcidas, incomodando os que não querem pensar na besteira que apoiaram e no perigo que nos ronda, faça você a sua parte.
Ela é grandiosa, acredite... os grandes incêndios começam sempre com pequenas chamas.
Feliz 2017 a todos os nossos queridos leitores do Blog. Foi uma enorme alegria poder contar com a presença de vocês em nossos textos.
Estaremos juntos no ano que inicia.
Boa luta!
Prof. Péricles
Mas, chega um momento, sem data específica para cada um de nós, em que as fantasias escasseiam e a maioria dos sonhos acabam. Um mergulho frio na realidade da vida. Dizem que é quando nos tornamos adultos, mas desconfio que seja quando nos tornamos tristes.
De muitas maneiras 2016 representou o fim de sonhos de muita gente.
Em especial, 2016 representou o fim do sonho de um tipo de esquerda representado pelo PT forjado na crença de que os programas sociais, por sua abrangência e virtude seriam suficientes para manter o poder. Terrível despertar de quem achava que fosse possível governar sendo aliado da banda mais podre da política brasileira. O PT descobriu que não se entra num chiqueiro sem se sujar.
Também foi o fim da crença de grande parte dos brasileiros de que a democracia depois de tantas quedas estivesse suficientemente madura para superar os perigos do golpismo.
A queda de Dilma foi a queda de milhões de joãos e Marias. Caímos junto com Dilma após um longo percurso de farsa onde uma mulher inocente e sem crimes foi condenada.
Em 2016 de alguma maneira, nosso país por inteiro despertou de algo, ou, pelo menos se viu envolto numa realidade até então não muito bem identificada.
Nunca tantos se revelaram tão reacionários e a hipocrisia até virou moda. Piadas racistas e machistas incentivadas pela intolerância tornaram-se dura realidade, agressiva e cruel.
Assim como quando jovens descobrimos que nosso melhor amigo não é tão amigo assim, descobrimos que nosso judiciário não é tão imparcial como imaginávamos.
A Lei Maria da Penha completou 10 anos, mas não tem como festejar se as mulheres continuam sendo agredidas e massacradas todos os dias e em todos os cantos do Brasil.
Um Tribunal de São Paulo decidiu que os 111 fantasmas de Carandiru, continuarão insepultos ao determinar a anulação dos julgamentos anteriores que punia os responsáveis.
No mundo inteiro o fascismo cresceu, tomou forma e trouxe consigo todos os medos que julgávamos enterrados para sempre.
Trump ganhou nos Estados Unidos e a extrema direita cresceu em vários países da Europa.
Mal podemos festejar com o espetacular Papa Francisco e a canonização da Santa dos pobres, madre Tereza de Calcutá diante de tanta pressa das notícias ruins.
Ficamos mais afastados da humanidade e próximos da animalidade em Orlando, onde 50 pessoas de uma boate LGBT foi morta e 53 foram feridos no pior atentado homofóbico desse tipo nos Estados Unidos, um país farto em atentados em escolas e faculdades.
De várias maneiras nos afastamos mais da unidade, criando novas fronteiras.
Depois de 50 anos de guerra o povo colombiano parece que se acostumou, e rejeitou um acordo de paz com as FARC.
Os britânicos decidiram, em referendo dar adeus à União Europeia.
E, acredite, o comandante Fidel que acostumamos pensar que fosse eterno, morreu, e foi ocupar seu lugar na história.
Se não dá para dizer que despertamos da inocência, já que nossa inocência não sobreviveu a outros golpes como o de 1964, dá para afirmar que acordamos no inferno das incertezas.
Há algo profundamente errado acontecendo no Brasil e no mundo.
Sobram conformidades e faltam escândalos diante das grandes e pequenas tragédias do nosso dia a dia. Será que perdemos a capacidade de indignação?
Mas sobram algumas certezas e entre elas, diante da intolerância e violência de um lado e do desejo de igualdade e fraternidade do outro, podemos ter a certeza de estar no lado certo.
Por isso, você aí, que anda cabisbaixo se sentindo derrotado. Você que anda indignado querendo que egoístas e fascistas divirtam-se com o butim que a crédula e invigilante sociedade brasileira permitiu, você, não pode fraquejar.
Você precisa resistir em defesa dos seus valores e da dignidade humana.
Você precisa ser a voz dos que não podem se expressar e os corações dos que deixaram de acreditar.
Você pode pensar que é pequeno e que não tem influência, mas está errado.
Nós somos capazes de mudar o mundo, mudando uma só consciência.
Somos capazes de fazer o mundo melhor fortalecendo uma só esperança.
Não desista. 2017 está aí e a luta está só começando.
Do seu jeito, em seu trabalho, entre amigos e parentes, com a namorada, debatendo com o marido, corrigindo informações distorcidas, incomodando os que não querem pensar na besteira que apoiaram e no perigo que nos ronda, faça você a sua parte.
Ela é grandiosa, acredite... os grandes incêndios começam sempre com pequenas chamas.
Feliz 2017 a todos os nossos queridos leitores do Blog. Foi uma enorme alegria poder contar com a presença de vocês em nossos textos.
Estaremos juntos no ano que inicia.
Boa luta!
Prof. Péricles
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
TEMPOS DE FÚRIA
por Fernando Pacheco
Há datas que entram para a história como símbolos da abertura de novo ciclo. O 14 de julho de 1789, o outubro de 1917, entre outros, são dias que se cristalizaram em nossas memórias pelo ineditismo de seus fatos, ainda que não fossem a consolidação de seus processos históricos.
Quando as ruínas das torres do World Trade Center ainda ardiam em chamas na noite do dia 11 de setembro de 2001, tornou-se popular entre os analistas de política internacional a ideia de que ali começava o século XXI.
Há datas que entram para a história como símbolos da abertura de novo ciclo. O 14 de julho de 1789, o outubro de 1917, entre outros, são dias que se cristalizaram em nossas memórias pelo ineditismo de seus fatos, ainda que não fossem a consolidação de seus processos históricos.
Quando as ruínas das torres do World Trade Center ainda ardiam em chamas na noite do dia 11 de setembro de 2001, tornou-se popular entre os analistas de política internacional a ideia de que ali começava o século XXI.
O ano de 2016 parece, agora, melhor candidato a ponto de partida de uma nova jornada histórica.
No espaço de um ano, assistimos a sucessivas ondas sociais e políticas a desafiar as análises e desmoralizar permanentemente quaisquer teorias de “fim da história”. Vimos o surgimento de um ambiente político marcado pela flutuação em tempo real da opinião pública, catalisada pelos algoritmos das grandes redes sociais.
E, assim, as insatisfações desaguaram em fúria, e escreveram enredos históricos antes impensáveis, dando origem a coisas como o Brexit, a eleição de Trump, o golpe parlamentar no Brasil, a vitória de François Fillon nas primárias na UMP na França, e o crescimento do partido nacionalista Alternative fur Deutschland nas eleições estaduais na Alemanha.
O balanço do ano é que a direita tradicional, o conservadorismo e um novo nacionalismo ampliaram seus terrenos, enquanto as esquerdas e as teses de internacionalização e integração econômica assistem atônitas às derrotas que acumulam.
As ondas bruscas que abalaram corporações, governos, partidos e convicções neste ano trouxeram mais dúvidas do que certezas para o futuro do mundo.
Há pouca semanas para o dia da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, analistas lutam contra as imensas dificuldades de traçar previsões sobre um resultado eleitoral que parecia fantasioso e impossível.
Incerteza e dúvidas são as palavras mais comuns entre os principais editorialistas e formadores de opinião americanos.
No espaço de um ano, assistimos a sucessivas ondas sociais e políticas a desafiar as análises e desmoralizar permanentemente quaisquer teorias de “fim da história”. Vimos o surgimento de um ambiente político marcado pela flutuação em tempo real da opinião pública, catalisada pelos algoritmos das grandes redes sociais.
E, assim, as insatisfações desaguaram em fúria, e escreveram enredos históricos antes impensáveis, dando origem a coisas como o Brexit, a eleição de Trump, o golpe parlamentar no Brasil, a vitória de François Fillon nas primárias na UMP na França, e o crescimento do partido nacionalista Alternative fur Deutschland nas eleições estaduais na Alemanha.
O balanço do ano é que a direita tradicional, o conservadorismo e um novo nacionalismo ampliaram seus terrenos, enquanto as esquerdas e as teses de internacionalização e integração econômica assistem atônitas às derrotas que acumulam.
As ondas bruscas que abalaram corporações, governos, partidos e convicções neste ano trouxeram mais dúvidas do que certezas para o futuro do mundo.
Há pouca semanas para o dia da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, analistas lutam contra as imensas dificuldades de traçar previsões sobre um resultado eleitoral que parecia fantasioso e impossível.
Incerteza e dúvidas são as palavras mais comuns entre os principais editorialistas e formadores de opinião americanos.
Um dos poucos que acertaram o resultado eleitoral, o documentarista Michael Moore, adiciona mais incerteza sobre o futuro dos EUA ao dizer que ainda não sabemos quem tomará posse no dia 20 de janeiro, já que o resultado do colégio eleitoral poderá ser alterado por delegados infiéis às decisões de seus estados, fato que não ocorre desde 1824.
Já no Brexit, o novo governo conservador, instalado com o único propósito de tornar concreta a decisão do referendo, segue a pedir mais prazos para romper os laços com a Europa. Os acessos de fúria e insubmissão de uma opinião movida a likes produziram consequências que atingem interesses de amplo espectro, de corporações multinacionais a partidos progressistas, e tal convergência, em vez de representar sólido triunfo, pode ser a origem de fragilidades e dúvidas.
Invertendo o ângulo pelo qual se veem os fenômenos e a examinar os processos que deram origem às ondas de 2016, os vencedores podem ter mais preocupações do que comemorações. A crise generalizada da representação democrática e a inquietação de largos segmentos da população com os resultados e as soluções encontradas para a crise de 2008 indicam que a impaciência não foi aplacada.
Trump talvez seja o exemplo mais caricato dessa nova lógica, ao dar declarações conflitantes e moldar uma base oscilante para sua agenda política, moldada a partir da lista de trending topics de sua conta no Twitter. A estratégia é eficaz para passar pelo portal do processo eleitoral, mas será suficiente para sustentar um projeto de longo prazo?
Hoje o mundo digital é mais real que virtual, mas ainda assim a política ainda não é uma tela de smartphone, em que um deslizar de dedos faz desaparecer as verdades de 15 minutos atrás.
Em uma entrevista logo após o resultado do referendo, um vitorioso parlamentar Nigel Farage gaguejava ao dizer que o dinheiro que o Reino Unido destinava para a União Europeia talvez não pudesse ser revertido em futuro próximo para o Sistema Nacional de Saúde. Tal medida havia sido um dos principais motes da campanha do Brexit, da qual Farage foi o principal porta-voz. De julho para cá, seu partido perdeu 30% dos seus filiados.
Nos EUA, ainda resta duvidosa a capacidade de Trump de recriar os empregos fabris nos estados que lhe deram a vitória, pois a maioria das avaliações entendem que, mesmo que uma parte dos postos de trabalho tenha sido exportada, a grande maioria foi vitimada pela mais recente revolução tecnológica nos segmentos manufatureiros.
Aqui, o novo governo brasileiro, que inverteu a agenda política eleita pelo voto, adiou a promessa de crescimento para o último trimestre do ano que vem. Até lá, muito arrocho, medidas impopulares e hordas de políticos envolvidos em denúncias de corrupção. E a impaciência e a fúria latentes.
Tais realidades não implicam que os tempos das direitas serão necessariamente curtos. Por outro lado, há espaço para que forças progressistas recuperem o diálogo com a opinião pública.
Primeiro, é preciso parar de apontar para os outros, e começar a encarar os problemas internos. Seria positivo ver a esquerda brasileira parar de cobrar os que foram às ruas pelo impeachment, e passar a dialogar com as críticas a corrupção e a insatisfação com o estado de coisas da economia que levaram àqueles protestos.
Assim como seria excelente ver o Partido Democrata americano explicar porque ignorou a diretriz política de Barack Obama que dizia “Não façam coisas estúpidas” e permitiu que um sistema distorcido de superdelegados elegesse uma candidata vinculada ao establishment, quando o público exigia a antítese.
Os progressistas europeus poderiam retraçar um projeto de Europa integrada que incluísse os trabalhadores e preservasse direitos. Tais primeiros passos permitiriam que vozes progressistas recuperem o tempo de tela perdido nas timelines mundo afora.
Voltar a ser ouvido é apenas ponto de chegada e não de partida. Exige-se da esquerda e do campo progressista resposta para as grandes questões. A saída para crise de 2008 foi suficiente para reduzir desemprego em alguns países, mas a desigualdade social só se amplia (2016 também foi o ano que em que o 1% mais rico concentrou mais riqueza do que os demais 99%, segundo a Oxfam).
A insatisfação com o desaparecimento de empregos fabris resultante de substituições tecnológicas não foi aplacada pelas soluções de pós-emprego, tais como as panaceias do empreendedorismo e das indústrias criativas.
O multiculturalismo parece não ter sido suficiente para conciliar a vida em sociedades multiétnicas e preservar a laicidade do Estado em diversos países. O multilateralismo falhou na sua missão fundamental de promover a paz, tendo a Síria como prova cabal de seu insucesso.
Ideias novas que possam responder a essas difíceis questões talvez sejam a saída para que 2016 não tenha sido o marco de uma nova era conservadora, mas sim um importante recomeço para as forças que acreditam na construção de um novo mundo mais justo, tolerante e solidário.
Fernando Pacheco é economista e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).
Já no Brexit, o novo governo conservador, instalado com o único propósito de tornar concreta a decisão do referendo, segue a pedir mais prazos para romper os laços com a Europa. Os acessos de fúria e insubmissão de uma opinião movida a likes produziram consequências que atingem interesses de amplo espectro, de corporações multinacionais a partidos progressistas, e tal convergência, em vez de representar sólido triunfo, pode ser a origem de fragilidades e dúvidas.
Invertendo o ângulo pelo qual se veem os fenômenos e a examinar os processos que deram origem às ondas de 2016, os vencedores podem ter mais preocupações do que comemorações. A crise generalizada da representação democrática e a inquietação de largos segmentos da população com os resultados e as soluções encontradas para a crise de 2008 indicam que a impaciência não foi aplacada.
Trump talvez seja o exemplo mais caricato dessa nova lógica, ao dar declarações conflitantes e moldar uma base oscilante para sua agenda política, moldada a partir da lista de trending topics de sua conta no Twitter. A estratégia é eficaz para passar pelo portal do processo eleitoral, mas será suficiente para sustentar um projeto de longo prazo?
Hoje o mundo digital é mais real que virtual, mas ainda assim a política ainda não é uma tela de smartphone, em que um deslizar de dedos faz desaparecer as verdades de 15 minutos atrás.
Em uma entrevista logo após o resultado do referendo, um vitorioso parlamentar Nigel Farage gaguejava ao dizer que o dinheiro que o Reino Unido destinava para a União Europeia talvez não pudesse ser revertido em futuro próximo para o Sistema Nacional de Saúde. Tal medida havia sido um dos principais motes da campanha do Brexit, da qual Farage foi o principal porta-voz. De julho para cá, seu partido perdeu 30% dos seus filiados.
Nos EUA, ainda resta duvidosa a capacidade de Trump de recriar os empregos fabris nos estados que lhe deram a vitória, pois a maioria das avaliações entendem que, mesmo que uma parte dos postos de trabalho tenha sido exportada, a grande maioria foi vitimada pela mais recente revolução tecnológica nos segmentos manufatureiros.
Aqui, o novo governo brasileiro, que inverteu a agenda política eleita pelo voto, adiou a promessa de crescimento para o último trimestre do ano que vem. Até lá, muito arrocho, medidas impopulares e hordas de políticos envolvidos em denúncias de corrupção. E a impaciência e a fúria latentes.
Tais realidades não implicam que os tempos das direitas serão necessariamente curtos. Por outro lado, há espaço para que forças progressistas recuperem o diálogo com a opinião pública.
Primeiro, é preciso parar de apontar para os outros, e começar a encarar os problemas internos. Seria positivo ver a esquerda brasileira parar de cobrar os que foram às ruas pelo impeachment, e passar a dialogar com as críticas a corrupção e a insatisfação com o estado de coisas da economia que levaram àqueles protestos.
Assim como seria excelente ver o Partido Democrata americano explicar porque ignorou a diretriz política de Barack Obama que dizia “Não façam coisas estúpidas” e permitiu que um sistema distorcido de superdelegados elegesse uma candidata vinculada ao establishment, quando o público exigia a antítese.
Os progressistas europeus poderiam retraçar um projeto de Europa integrada que incluísse os trabalhadores e preservasse direitos. Tais primeiros passos permitiriam que vozes progressistas recuperem o tempo de tela perdido nas timelines mundo afora.
Voltar a ser ouvido é apenas ponto de chegada e não de partida. Exige-se da esquerda e do campo progressista resposta para as grandes questões. A saída para crise de 2008 foi suficiente para reduzir desemprego em alguns países, mas a desigualdade social só se amplia (2016 também foi o ano que em que o 1% mais rico concentrou mais riqueza do que os demais 99%, segundo a Oxfam).
A insatisfação com o desaparecimento de empregos fabris resultante de substituições tecnológicas não foi aplacada pelas soluções de pós-emprego, tais como as panaceias do empreendedorismo e das indústrias criativas.
O multiculturalismo parece não ter sido suficiente para conciliar a vida em sociedades multiétnicas e preservar a laicidade do Estado em diversos países. O multilateralismo falhou na sua missão fundamental de promover a paz, tendo a Síria como prova cabal de seu insucesso.
Ideias novas que possam responder a essas difíceis questões talvez sejam a saída para que 2016 não tenha sido o marco de uma nova era conservadora, mas sim um importante recomeço para as forças que acreditam na construção de um novo mundo mais justo, tolerante e solidário.
Fernando Pacheco é economista e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).
domingo, 25 de dezembro de 2016
O MUNDO DE HADES
No início da criação dos mundos, em determinado momento, os três filhos de Cronos, Poseidon, Zeus e Hades, viram-se diante de um dilema: que área infinita da manifestação divina cada um deles deveria governar?
Como nenhum deles teve uma ideia melhor, resolveram pelo simples e eficiente sorteio.
Juntaram três pequenos gravetos de tamanhos diferentes que foram escondidos na mão fechada de Zeus. Hades e Poseidon, escolheram aleatoriamente um gravetinho cada um, que, a mão fechada, não permitia ver o tamanho.
Segundo os gregos, o grande sortudo foi Zeus que, ficando com o graveto maior tornou-se governador da Terra e de todos os seres vivos que vivem nela. Seria o deus mais bajulado e querido, senhor de todos os homens e pai de muitos outros deuses.
Poseidon não se deu tão bem, mas não podia se queixar, afinal, seria o senhor de todos os mares e oceanos. Todas as criaturas vivas das águas marinhas lhe deveriam obediência e reinaria absoluto e incontestável no seu mundo.
Quem se deu mal mesmo foi Hades que, ao ficar com o graveto menor tornou-se deus do reino dos mortos, senhor dos infernos e de todas as criaturas danadas e das sombras. Os gregos detestavam a ideia da morte por isso Hades seria um Deus muito mais temido do que amado.
Se até mesmo para os seres supremos, imortais e infinitamente poderosos, a sorte é caprichosa e decisiva, podendo sorrir mais para uns do que para outros, imagine para nós, simples mortais.
Mas, nem sempre quem tem sorte percebe que a teve e os benefícios de certas escolhas ou situações só serão completamente conhecidos muito mais tarde, assim como a falta de sorte pode enganar muita gente.
Os golpistas não sortearam, mas ratearam de acordo com as conveniências, seus nacos de poder após o vergonhoso golpe que engendraram no Brasil.
Alguns deles pensaram ter muita sorte pela situação ter chegado ao que chegou no dia 31 de agosto desse ano, quando Dilma Roussef foi definitivamente afastada pelo senado.
O próprio vice que, jamais seria eleito presidente, deve ter se achado com muita sorte por ganhar dois anos inteirinhos e um país para brincar de presidente.
“Ganhei o Olimpo”, talvez tenha imaginado.
Mas, como já nos avisavam os gregos, o tempo é o senhor da razão.
Nem terminou ainda 2016 e já se percebe no ar que alguns não tiveram tanta sorte assim.
Toda ação provoca reação e achamos que sabemos como começam as vilanias, golpes e traições, mas ninguém sabe como acabam.
Muitos que se imaginavam seguros contra investigações inconvenientes foram surpreendidos na sequência inevitável dos incêndios criados para outros fins.
Alguns, percebendo que o caixa vazio é frio e sinistro, começam a duvidar da eficácia em seus negócios dos resultados de toda essa confusão criada ou apoiada por eles.
Provavelmente o vice-presidente diante das nuvens cada vez mais negras no horizonte e percebendo que apoios absolutos são momentâneos e podem sumir com a rapidez de uma crise provocada pelo dólar, esteja pensando que, achando ter conquistado o Olimpo esteja agora abraçado com o inferno, sendo muito mais temido do que amado.
E as similaridades não são poucas, entre homens e deuses.
Os senhores do Olimpo, dos oceanos e dos infernos, eram egoístas, arrogantes e autoritários.
Exigiam serem reconhecidos por seu poder e adoravam bajulação.
Dizem que muitos senhores hoje banhados pelas luzes da mídia generosa também mavegam nas mesmas emoções.
Os deuses, muitas vezes movidos pela paixão ou inebriados pela idolatria cometiam injustiças das quais até mesmo, se orgulhavam.
Parece que no nosso mundo, também.
Mas, tudo passa, e se até os deuses envelhecem, juízes e oráculos também perderão seu fulgor diante das dificuldades e mais uma vez será impossível cobrir o sol com a peneira para sempre.
Não se sabe se um dia o Brasil será algo parecido com o Olimpo de Zeus, mas, com certeza, atualmente, se parece muito com o traiçoeiro mundo de Hades.
Prof. Péricles
Poseidon não se deu tão bem, mas não podia se queixar, afinal, seria o senhor de todos os mares e oceanos. Todas as criaturas vivas das águas marinhas lhe deveriam obediência e reinaria absoluto e incontestável no seu mundo.
Quem se deu mal mesmo foi Hades que, ao ficar com o graveto menor tornou-se deus do reino dos mortos, senhor dos infernos e de todas as criaturas danadas e das sombras. Os gregos detestavam a ideia da morte por isso Hades seria um Deus muito mais temido do que amado.
Se até mesmo para os seres supremos, imortais e infinitamente poderosos, a sorte é caprichosa e decisiva, podendo sorrir mais para uns do que para outros, imagine para nós, simples mortais.
Mas, nem sempre quem tem sorte percebe que a teve e os benefícios de certas escolhas ou situações só serão completamente conhecidos muito mais tarde, assim como a falta de sorte pode enganar muita gente.
Os golpistas não sortearam, mas ratearam de acordo com as conveniências, seus nacos de poder após o vergonhoso golpe que engendraram no Brasil.
Alguns deles pensaram ter muita sorte pela situação ter chegado ao que chegou no dia 31 de agosto desse ano, quando Dilma Roussef foi definitivamente afastada pelo senado.
O próprio vice que, jamais seria eleito presidente, deve ter se achado com muita sorte por ganhar dois anos inteirinhos e um país para brincar de presidente.
“Ganhei o Olimpo”, talvez tenha imaginado.
Mas, como já nos avisavam os gregos, o tempo é o senhor da razão.
Nem terminou ainda 2016 e já se percebe no ar que alguns não tiveram tanta sorte assim.
Toda ação provoca reação e achamos que sabemos como começam as vilanias, golpes e traições, mas ninguém sabe como acabam.
Muitos que se imaginavam seguros contra investigações inconvenientes foram surpreendidos na sequência inevitável dos incêndios criados para outros fins.
Alguns, percebendo que o caixa vazio é frio e sinistro, começam a duvidar da eficácia em seus negócios dos resultados de toda essa confusão criada ou apoiada por eles.
Provavelmente o vice-presidente diante das nuvens cada vez mais negras no horizonte e percebendo que apoios absolutos são momentâneos e podem sumir com a rapidez de uma crise provocada pelo dólar, esteja pensando que, achando ter conquistado o Olimpo esteja agora abraçado com o inferno, sendo muito mais temido do que amado.
E as similaridades não são poucas, entre homens e deuses.
Os senhores do Olimpo, dos oceanos e dos infernos, eram egoístas, arrogantes e autoritários.
Exigiam serem reconhecidos por seu poder e adoravam bajulação.
Dizem que muitos senhores hoje banhados pelas luzes da mídia generosa também mavegam nas mesmas emoções.
Os deuses, muitas vezes movidos pela paixão ou inebriados pela idolatria cometiam injustiças das quais até mesmo, se orgulhavam.
Parece que no nosso mundo, também.
Mas, tudo passa, e se até os deuses envelhecem, juízes e oráculos também perderão seu fulgor diante das dificuldades e mais uma vez será impossível cobrir o sol com a peneira para sempre.
Não se sabe se um dia o Brasil será algo parecido com o Olimpo de Zeus, mas, com certeza, atualmente, se parece muito com o traiçoeiro mundo de Hades.
Prof. Péricles
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
CONSPIRAÇÃO DO NATAL
Podemos aceitar que na marcha dos anos vamos perdendo as ilusões. As cores ficam menos coloridas e a gente fala menos com amigos imaginários.
Dá pra acreditar que a maturidade nos dê aquele olhar enfadonho de quem acha que já viu tudo, mas, francamente, o que está acontecendo como natal?
Pelo menos em Porto Alegre quase não se vê mais, decorações natalinas nas ruas.
Para onde foram as luzinhas coloridas e piscantes? E a cara sorridente do papai Noel? Pior, por onde andam aquelas crianças que o amavam ou temiam?
Até daquelas musiquinhas irritantes e sempre as mesmas, sentimos falta.
Alguém tem que explicar o que aconteceu com a festa pré-natalina.
As coisas estão tão estranhas que temos até medo de desejar feliz natal para alguém e receber em resposta um “hã?”.
Nem precisa ser tanto quanto naquele ano em que foi promovido um concurso para a melhor decoração natalina e Porto Alegre inteira se tornou um imenso e lindo presépio. Realmente não precisa tanto, mas, que tenha algo.
O espírito de natal, que jamais esteve presente no comércio intenso de presentes, resistia nas luzinhas azuis, verdes, vermelhas, amarelas, que piscavam em torno de pinheiros, às vezes acompanhadas de bonequinhos representativos do nascimento de Jesus, estrela de Belém, etc.
Se a decoração de natal sumir corre-se o risco do próprio natal desaparecer.
Alguém tem que esclarecer o que está acontecendo.
Está tudo muito estranho, as cidades mais indiferentes e carrancudas.
Culpa do PT? Da Dilma? Lula?
Ou será uma conspiração dos americanos para nos deixar velhos antes do tempo?
Quem sabe?
Prof. Péricles
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
TEMER E OS INCAUTOS
Por Mário Augusto Jakobskind
O presidente golpista Michel Temer a cada dia que passa se supera em matéria de enganação e discursos que objetivam atemorizar quem não reza por sua cartilha e impor goela adentro do povo medidas que se voltam contra a maioria do próprio povo. Para isso agora ele conta no Senado com a colaboração de Romero Jucá como o líder deste governo usurpador e ilegítimo.
Temer fala para o mercado e prevê que a economia vai melhorar e já tenta mostrar atualmente com indicadores nesse sentido.
Temer de alguma forma faz lembrar o atual presidente argentino Maurício Macri, que no início de sua gestão falava mais ou menos a mesma coisa que Temer neste momento. O que previa Macri não está ocorrendo, muito pelo contrário, e alguns analistas receiam que possa acontecer a mesma coisa que sucedeu com o presidente Fernando de La Rua, que depois de quebrar a Argentina teve de fugir de helicóptero da sede do governo para não ser apanhado pelo povo enfurecido.
Temer neste momento ainda conta com o apoio irrestrito da maior parte dos jornalões e telejornalões, que fazem questão de apresentá-lo como uma espécie de “salvador da pátria”. Mas só que o tempo corre e o Brasil não está se “recuperando” como prevê Temer e seus seguidores, entre os quais Romero Jucá, que tenta de tudo para aprovação da PEC 55, conhecida também como PEC da morte, inclusive afirmando o absurdo que se trata de uma medida “para salvar o Brasil”.
Como se não bastassem todos esses discursos para enganar incautos, Temer ainda por cima investe contra os jovens estudantes que ocupam escolas para manifestar sua indignação contra as medidas adotadas pelo governo golpista. Temer revela inclusive desconhecimento total sobre os estudantes ao afirmar que “nem sabem o que é uma PEC” ou algo do gênero.
Temer imagina que está lidando com o seu rebanho peemedebista que o apoia em todas as circunstâncias. O presidente se considera um predestinado que tem uma missão a cumprir. E pelo que se pode depreender de sua “ponte para o futuro”, que tenta enfiar goela adentro do povo brasileiro, o seu projeto visa fortalecer os ricos para os tornarem ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres.
Está cada dia mais cristalino o papel que Temer está cumprindo, por enquanto com o apoio do PSDB, o mesmo partido que na gestão de FHC fez o que fez para o Brasil e foi derrotado nas urnas quatro vezes seguidas. Mas como no voto não conseguiram executaram outra estratégia para tomar o poder, não se importando com a forma para alcançar o objetivo.
O tempo agora vai dizer ao povo o que acontecerá ao Brasil se o projeto Temer-PMDB/PSDB conseguir ir até o fim. O PSDB pressiona Temer para fazer tudo ainda mais rápido e já chega a ameaçar que se não o fizer poderá perder o cargo por alguém indicado numa eleição indireta, a partir de janeiro para cumprir o resto do mandato até 1 de janeiro de 2019.
E por incrível que pareça já se começa a especular alguns nomes, entre os quais, o de Fernando Henrique Cardoso, o preferido da família Clinton. Mas se Cardoso por acaso der para trás podem convocar outro do gênero, inclusive já se cogitando o nome de Nelson Jobim, a figura patética que quando ocupava o cargo de Ministro da Defesa aparecida em público com a fantasia da farda militar.
Mesmo sendo do PMDB, Jobim em tempo algum se recusou a fazer sempre o jogo do PSDB. Por isso é um dos nomes já surgidos para seguir com rapidez a entrega do país às multinacionais, no mesmo diapasão feito por FHC nos anos 90 em suas duas gestões.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor. Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançados no Rio de Janeiro.
domingo, 18 de dezembro de 2016
A BANALIZAÇÃO DA MENTIRA
Leiam o que tem a dizer o deputado Jean Wyllis sobre a absurda campanha fascista no Congresso que tenta atingir seu mandato...
por Jean Wyllys
Eu poderia falar, como a Universidade de Oxford o fez, em "pós-verdade", conceito interessante quando se trata de política nas redes sociais. Contudo, para ser direto, prefiro falar de mentira. Porque disso se trata.
A família Bolsonaro usou, outra vez mais, uma mentira para me difamar; e seus aliados – o deputado Alberto Fraga e o ex-corregedor da Câmara, Carlos Manato, também aliados do agora preso Eduardo Cunha – a apresentaram como "prova" para representar contra mim no Conselho de Ética, pedindo a cassação ou suspensão do meu mandato.
Porém, dessa vez, a Polícia Civil desmascarou, por meio de perícia incontestável, a mentira.
Vou explicar brevemente a que mentira me refiro.
No dia da votação do impeachment da presidenta eleita, quando chegou a minha vez de votar, os deputados favoráveis ao golpe contra Dilma Rousseff (entre eles, os Bolsonaro) começaram a me vaiar e insultar com injúrias homofóbicas que ninguém merece ouvir, mas que eu, por ser homossexual assumido, estou acostumado a ouvir desde criança.
Ao longo dos últimos seis anos, ouvi os insultos homofóbicos de Bolsonaro dia após dia nos corredores, nas comissões e no plenário da Câmara dos Deputados, e nunca devolvi os insultos e nem agi com violência; jamais havia perdido a compostura por causa disso.
Naquele dia, porém, em meio à jornada mais tensa que vivi no parlamento desde que estou deputado, depois de ter ouvido Bolsonaro, minutos antes, homenagear o torturador Brilhante Ustra, as injúrias homofóbicas contra mim acabaram com a minha paciência e, numa reação humana, provocada pela indignação, cuspi em direção a ele.
Não neguei depois, como o fez o filho dele, que também me cuspiu, mas, depois, gravou um vídeo em que afirma jamais ter cuspido em alguém – porque não sabia que seu cuspe fora filmado. Eu não minto, eu sempre falo a verdade.
Se alguém tivesse me perguntado, uma semana antes, se eu seria capaz de cuspir em alguém, eu teria respondido que não. E não estaria mentindo. Não é assim que eu ajo; diferentemente do deputado Bolsonaro, que, além de mentir, já deu um soco no senador Randolfe; empurrou a deputada Maria do Rosário e disse que só não a estupraria porque, segundo ele, "é feia"; agrediu a senadora Marinor Brito; insultou uma jornalista do SBT durante uma entrevista; gritou para um grupo de jovens, numa audiência pública na Câmara, expressões como “teu pai está dando o cu e você gosta de dar o cu também”.
Eu poderia falar, como a Universidade de Oxford o fez, em "pós-verdade", conceito interessante quando se trata de política nas redes sociais. Contudo, para ser direto, prefiro falar de mentira. Porque disso se trata.
A família Bolsonaro usou, outra vez mais, uma mentira para me difamar; e seus aliados – o deputado Alberto Fraga e o ex-corregedor da Câmara, Carlos Manato, também aliados do agora preso Eduardo Cunha – a apresentaram como "prova" para representar contra mim no Conselho de Ética, pedindo a cassação ou suspensão do meu mandato.
Porém, dessa vez, a Polícia Civil desmascarou, por meio de perícia incontestável, a mentira.
Vou explicar brevemente a que mentira me refiro.
No dia da votação do impeachment da presidenta eleita, quando chegou a minha vez de votar, os deputados favoráveis ao golpe contra Dilma Rousseff (entre eles, os Bolsonaro) começaram a me vaiar e insultar com injúrias homofóbicas que ninguém merece ouvir, mas que eu, por ser homossexual assumido, estou acostumado a ouvir desde criança.
Ao longo dos últimos seis anos, ouvi os insultos homofóbicos de Bolsonaro dia após dia nos corredores, nas comissões e no plenário da Câmara dos Deputados, e nunca devolvi os insultos e nem agi com violência; jamais havia perdido a compostura por causa disso.
Naquele dia, porém, em meio à jornada mais tensa que vivi no parlamento desde que estou deputado, depois de ter ouvido Bolsonaro, minutos antes, homenagear o torturador Brilhante Ustra, as injúrias homofóbicas contra mim acabaram com a minha paciência e, numa reação humana, provocada pela indignação, cuspi em direção a ele.
Não neguei depois, como o fez o filho dele, que também me cuspiu, mas, depois, gravou um vídeo em que afirma jamais ter cuspido em alguém – porque não sabia que seu cuspe fora filmado. Eu não minto, eu sempre falo a verdade.
Se alguém tivesse me perguntado, uma semana antes, se eu seria capaz de cuspir em alguém, eu teria respondido que não. E não estaria mentindo. Não é assim que eu ajo; diferentemente do deputado Bolsonaro, que, além de mentir, já deu um soco no senador Randolfe; empurrou a deputada Maria do Rosário e disse que só não a estupraria porque, segundo ele, "é feia"; agrediu a senadora Marinor Brito; insultou uma jornalista do SBT durante uma entrevista; gritou para um grupo de jovens, numa audiência pública na Câmara, expressões como “teu pai está dando o cu e você gosta de dar o cu também”.
Quase todos os dias recebo ameaças de morte vindas de seguidores desse deputado.
Diferentemente dessas pessoas e de seu mentor, a quem chamam de "Bolsomito", eu sou uma pessoa que faz política com conhecimentos, argumentos e ideias. Jamais agredi fisicamente outras pessoas (agredi verbalmente apenas como reação) e nunca me envolvi em brigas corporais. Porém, por ser humano, minha paciência tem limites. E, naquele dia, pela primeira vez, eu reagi. Espero que seja a última, porque espero que essa situação nunca mais se repita.
Foi isso que eu disse ao deputado Chico Alencar quando ele me perguntou o que tinha acontecido: "Eu cuspi na cara do Bolsonaro, Chico". A conversa foi filmada de longe, não dá para ouvir, mas a leitura labial permite entender. Eduardo Bolsonaro publicou uma versão deturpada desse vídeo com a legenda: "Eu vou cuspir", sugerindo que eu tinha premeditado o cuspe.
O vídeo deturpado foi apresentado pelo deputado Fraga e pelo ex-corregedor Manato como "prova" contra mim. O presidente da Casa, Rodrigo Maia, em que pese ser meu adversário político, foi honesto e republicano e quis arquivar a representação, mas Manato e os aliados de Cunha na mesa diretora derrotaram Maia numa votação e enviaram o caso com o vídeo falso para o Conselho de Ética.
Chico foi chamado para depor e disse que o vídeo era uma fraude. Eu fui chamado para depor e disse que o vídeo era uma fraude. Mas Jair Bolsonaro, o pai do falsificador, afirmou em seu depoimento que o vídeo era autêntico. Mentiu.
Agora, a Polícia Civil entregou ao Conselho de Ética uma perícia que prova sem sombra de dúvidas que o vídeo foi deturpado e que, na verdade, ele foi filmado depois da cusparada e a minha fala, exatamente como eu disse, foi: "Eu cuspi". Ficou provado que foi forjado um vídeo falso para me difamar para usá-lo contra mim no Conselho de Ética.
O que me assusta é a naturalidade com que convivemos com a mentira no parlamento e na política. Como se fosse normal. Agora que a Polícia Civil provou que o vídeo é falso, eu espero que o Conselho de Ética arquive essa absurda representação contra mim, mas, mesmo assim, quem me devolve o tempo perdido, a difamação sofrida, os danos, o sofrimento?
Outros homossexuais destacados em diferentes épocas foram vítimas desse expediente. Mentiras foram fabricadas contra eles para assassinar suas reputações, ou até para assassinar eles mesmos. Oscar Wilde, Alan Turing, Harvey Milk, Ângela Davis.
Não pretendo me comparar a eles, embora eles tenham sido inspiradores para mim no que diz respeito a lutar contra a opressão e pela justiça. Não pretendo ser nem ser visto como herói. Busco em meu cotidiano mostrar que sou um homem de hábitos comuns, ando nas ruas, vou ao supermercado, bares, frequento lugares de sociabilidade gay, como saunas e clubes, justamente para não criar em torno de mim uma área mítica.
Contudo, sou muito determinado em dar um sentido positivo à minha existência, em fazer, desta, um meio de defender a liberdade, a igualdade de oportunidade, a diversidade e a justiça.
Diferentemente dessas pessoas e de seu mentor, a quem chamam de "Bolsomito", eu sou uma pessoa que faz política com conhecimentos, argumentos e ideias. Jamais agredi fisicamente outras pessoas (agredi verbalmente apenas como reação) e nunca me envolvi em brigas corporais. Porém, por ser humano, minha paciência tem limites. E, naquele dia, pela primeira vez, eu reagi. Espero que seja a última, porque espero que essa situação nunca mais se repita.
Foi isso que eu disse ao deputado Chico Alencar quando ele me perguntou o que tinha acontecido: "Eu cuspi na cara do Bolsonaro, Chico". A conversa foi filmada de longe, não dá para ouvir, mas a leitura labial permite entender. Eduardo Bolsonaro publicou uma versão deturpada desse vídeo com a legenda: "Eu vou cuspir", sugerindo que eu tinha premeditado o cuspe.
O vídeo deturpado foi apresentado pelo deputado Fraga e pelo ex-corregedor Manato como "prova" contra mim. O presidente da Casa, Rodrigo Maia, em que pese ser meu adversário político, foi honesto e republicano e quis arquivar a representação, mas Manato e os aliados de Cunha na mesa diretora derrotaram Maia numa votação e enviaram o caso com o vídeo falso para o Conselho de Ética.
Chico foi chamado para depor e disse que o vídeo era uma fraude. Eu fui chamado para depor e disse que o vídeo era uma fraude. Mas Jair Bolsonaro, o pai do falsificador, afirmou em seu depoimento que o vídeo era autêntico. Mentiu.
Agora, a Polícia Civil entregou ao Conselho de Ética uma perícia que prova sem sombra de dúvidas que o vídeo foi deturpado e que, na verdade, ele foi filmado depois da cusparada e a minha fala, exatamente como eu disse, foi: "Eu cuspi". Ficou provado que foi forjado um vídeo falso para me difamar para usá-lo contra mim no Conselho de Ética.
O que me assusta é a naturalidade com que convivemos com a mentira no parlamento e na política. Como se fosse normal. Agora que a Polícia Civil provou que o vídeo é falso, eu espero que o Conselho de Ética arquive essa absurda representação contra mim, mas, mesmo assim, quem me devolve o tempo perdido, a difamação sofrida, os danos, o sofrimento?
Outros homossexuais destacados em diferentes épocas foram vítimas desse expediente. Mentiras foram fabricadas contra eles para assassinar suas reputações, ou até para assassinar eles mesmos. Oscar Wilde, Alan Turing, Harvey Milk, Ângela Davis.
Não pretendo me comparar a eles, embora eles tenham sido inspiradores para mim no que diz respeito a lutar contra a opressão e pela justiça. Não pretendo ser nem ser visto como herói. Busco em meu cotidiano mostrar que sou um homem de hábitos comuns, ando nas ruas, vou ao supermercado, bares, frequento lugares de sociabilidade gay, como saunas e clubes, justamente para não criar em torno de mim uma área mítica.
Contudo, sou muito determinado em dar um sentido positivo à minha existência, em fazer, desta, um meio de defender a liberdade, a igualdade de oportunidade, a diversidade e a justiça.
sábado, 17 de dezembro de 2016
AFINAL, O QUE É O AUTISMO?
Por Gladstone Barbosa Alves
Autismo é uma diferença neurológica. Pessoas autistas podem apresentar comportamentos “atípicos” em três áreas e formas distintas: interação social, comunicação e interesses restritos ou comportamentos repetitivos.
Autistas se diferenciam de não autistas na maneira como experimentam o mundo e na maneira como aprendem e se desenvolvem a partir dessas experiências. Assim, o autismo pode resultar em diferenças mensuráveis na percepção, atenção, memória, inteligência, etc.
O desenvolvimento de uma criança autista difere do que é considerado padrão para não autistas.
O autismo também pode resultar na presença de habilidades pouco frequentes na população em geral. No entanto, o padrão de habilidades especiais e dificuldades que é característico do indivíduo autista pode conduzí-lo a diversos problemas, uma vez que suas necessidades e comportamentos atípicos distinguem-se do que a sociedade considera “normal” ou esperado.
O autismo não é uma doença, nem pode ser reduzido a um conjunto de comportamentos.
O autismo não é uma doença, nem pode ser reduzido a um conjunto de comportamentos.
A organização neurológica e o perfil cognitivo de um autista não é mais nem menos válido do que a organização neurológica e perfil cognitivo de um não autista. De fato, ambos são capazes de se desenvolver, aprender e alcançar objetivos, embora possivelmente o farão de formas distintas e recorrendo a tipos diferentes de auxílio ao longo do caminho.
Comparado a não autistas, um autista pode apresentar maior avanço ou facilidades em algumas áreas e maior atraso ou dificuldades em outras. Por exemplo, um não autista pode precisar de um nível significativo de apoio para desenvolver habilidades ou absorver conteúdos com os quais um autista encontra grande facilidade, e ter facilidade com conteúdos que o autista terá dificuldade para absorver.
Quando um indivíduo não autista consegue se desenvolver, com base na oferta dos recursos apropriados às suas necessidades típicas, nós não dizemos (para descrever a ele e à sua situação) que “o tratamento foi um sucesso” ou que ele se “recuperou” ou ainda que o seu não-autismo tornou-se “menos severo”. Do mesmo modo, ao descrever o desenvolvimento de um autista, devemos evitar o uso de expressões que sejam desinformadoras e prejudiciais a esse indivíduo.
Autistas são conscientes do que ocorre em seus entornos, ainda que nem sempre sejam capazes de demonstrar ou responder de forma típica.
Comparado a não autistas, um autista pode apresentar maior avanço ou facilidades em algumas áreas e maior atraso ou dificuldades em outras. Por exemplo, um não autista pode precisar de um nível significativo de apoio para desenvolver habilidades ou absorver conteúdos com os quais um autista encontra grande facilidade, e ter facilidade com conteúdos que o autista terá dificuldade para absorver.
Quando um indivíduo não autista consegue se desenvolver, com base na oferta dos recursos apropriados às suas necessidades típicas, nós não dizemos (para descrever a ele e à sua situação) que “o tratamento foi um sucesso” ou que ele se “recuperou” ou ainda que o seu não-autismo tornou-se “menos severo”. Do mesmo modo, ao descrever o desenvolvimento de um autista, devemos evitar o uso de expressões que sejam desinformadoras e prejudiciais a esse indivíduo.
Autistas são conscientes do que ocorre em seus entornos, ainda que nem sempre sejam capazes de demonstrar ou responder de forma típica.
Em certas situações, o indivíduo pode até mesmo não conseguir, em absoluto, comunicar o que está sentindo ou pensando. No entanto, isso não reflete incapacidade ou indisposição para se comunicar.
Autistas querem se comunicar e podem fazer isso sempre que forem oferecidos contextos nos quais essa comunicação é de fato possível e existe disposição dos interlocutores para reagir a ela (assim como em qualquer outra situação, comunicação com um autista não é um monólogo de um ou de outro). Isso não difere das necessidades típicas de não autistas, exceto pelo fato de que a esses são oferecidos os contextos adequados em frequência muito maior.
Autistas tendem a ser distinguidos entre si de acordo com a “intensidade” aparente com que suas características se apresentam. No entanto, é importante notar como essas apresentações podem variar, para um mesmo indivíduo, às vezes ao longo de curtos períodos de tempo, influenciadas pelos diferentes contextos a que o autista é submetido ao longo de um dia, semana ou mês.
A intensidade com que uma característica autística se evidencia em uma criança não está relacionada à sua inteligência ou às suas potenciais realizações como pessoa adulta. No entanto, o preconceito que a sociedade direciona à essas características pode fazer com que indivíduos em que essas características são mais evidentes sejam (incorretamente) considerados incapazes de aprender, se comunicar e de tomar decisões sobre suas próprias vidas.
Gladstone Barbosa Alves, mestre em Engenharia Elétrica pela UFMG, é pai de um casal de crianças autistas e ele mesmo diagnosticado com autismo. É vice-presidente do Instituto Superação, uma organização sem fins lucrativos baseada em Belo Horizonte que trabalha com a promoção de políticas públicas voltados para indivíduos autistas.
Autistas querem se comunicar e podem fazer isso sempre que forem oferecidos contextos nos quais essa comunicação é de fato possível e existe disposição dos interlocutores para reagir a ela (assim como em qualquer outra situação, comunicação com um autista não é um monólogo de um ou de outro). Isso não difere das necessidades típicas de não autistas, exceto pelo fato de que a esses são oferecidos os contextos adequados em frequência muito maior.
Autistas tendem a ser distinguidos entre si de acordo com a “intensidade” aparente com que suas características se apresentam. No entanto, é importante notar como essas apresentações podem variar, para um mesmo indivíduo, às vezes ao longo de curtos períodos de tempo, influenciadas pelos diferentes contextos a que o autista é submetido ao longo de um dia, semana ou mês.
A intensidade com que uma característica autística se evidencia em uma criança não está relacionada à sua inteligência ou às suas potenciais realizações como pessoa adulta. No entanto, o preconceito que a sociedade direciona à essas características pode fazer com que indivíduos em que essas características são mais evidentes sejam (incorretamente) considerados incapazes de aprender, se comunicar e de tomar decisões sobre suas próprias vidas.
Gladstone Barbosa Alves, mestre em Engenharia Elétrica pela UFMG, é pai de um casal de crianças autistas e ele mesmo diagnosticado com autismo. É vice-presidente do Instituto Superação, uma organização sem fins lucrativos baseada em Belo Horizonte que trabalha com a promoção de políticas públicas voltados para indivíduos autistas.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
OS DEUSES AINDA VIVEM
A mitologia não é uma coleção de obras ficcionais, por mais bela que pareça.
A mitologia fala do próprio homem, enquanto espécie capaz de refletir sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.
Quando os gregos narravam as aventuras de seus deuses e heróis, interpretavam ao próprio homem, sua história, seus medos, afetos, características.
Quem de nós não tem um pouco dos ciúmes de Hera? Ou dos desejos de Afrodite e mesmo, da ambição pelo poder de Zeus?
Quem de nós já não pretendeu entender a aparente insignificância da vida e o que vem depois da morte? Ou por que o amor sorri para alguns mas nega seu sorriso para outros?
Os deuses gregos, seus heróis, semideuses, ninfas, sereias e criaturas imaginárias de mil cabeças, mil amores, nada mais são do que a própria representação do homem, seus medos e esperanças.
Por isso, passada a perplexidade do primeiro contato e o riso irônico dos mais apressados, a mitologia clássica nos traz uma profunda admiração por sua forma de entender o mundo numa época em que a tecnologia apenas engatinhava no uso da metalurgia, a comunicação se dava na velocidade dos passos e o comércio não ia além dos espaços mais próximos.
Para os gregos o homem era a síntese do que havia de mais extraordinário e brilhante. O homem é deus pois os deuses são homens, em suas qualidades e defeitos.
Na dinâmica histórica, a mitologia clássica foi substituída por outras mitologias.
Só que, enquanto a mitologia clássica buscava entender a humanidade e sua essência principalmente em seus desejos de liberdade e de expressão, as demais mitologias que vieram substitui-la buscaram dominar esses desejos e justificar essa dominação e o predomínio de alguns homens sobre os demais homens, não na relação do merecimento pela bravura, mas, pela dominação econômica a partir da hegemonia dos privilegiados sobre as massas.
A mitologia judaico-cristã trouxe o mito do pecado, consequentemente do castigo (o inferno) e da eleição aos céus daqueles que fossem mais obedientes a um Deus único, que na verdade só era compreendido pela classe sacerdotal (a Igreja) e que, maleável nos Concílios que criaram o cristianismo e elegeu evangelhos aboliu a rebeldia privilegiando a vontade dos poderosos.
Um homem criativo, livre e capaz representado na mitologia clássica foi rotulado de pecador e restrito à mitologia pagã, execrada e destruída pelos novos mitos do Papa e sua hierarquia de bispos e anjos, e de um governo aliado a ela.
Já a mitologia da Revolução industrial, manteve o mito do homem perverso e danado que deve ser salvo pela obediência, e acrescentou o mito do trabalho como única forma de dignificar sua caminhada até o céu e a aceitação da miséria da maioria e da propriedade privada de alguns como qualidades inerentes aos eleitos.
A flauta de Pã foi substituída pelo apito da fábrica e a arte natural do ser humano transformada em mais uma mercadoria a ser embalada e vendida conforme são todos os outros valores também transformados em mercadoria.
Nesse sentido vivenciamos tempos de sub-mitologias em que, muito mais do que criações temos substituições. Tempos em que, por exemplo, o Oráculo de Delfos foi substituído pelas verdades televisivas, incontestáveis a um grande número de pessoas que repassaram à mídia o exercício tão estimulado pelos gregos de... pensar.
A mitologia moderna supervaloriza o poder tecnológico e da rapidez da informação, a competitividade entre os seres e o mito do homem realizado a partir das aquisições materiais que provém seu conforto e seu supérfluo.
É o mito do homem bem-sucedido e vitorioso, num mundo tão fictício como o dos titãs, em que todos teriam as mesmas condições de serem bem-sucedidos e vitoriosos, bastando para isso o talento do trabalho.
Porém, apesar dessas “virtudes” predominarem no imaginário do homem moderno, os valores preconizados pela mitologia clássica não foram totalmente destruídos, ao contrário, persistem vivendo em algum lugar da sua psique.
Paulatinamente o homem moderno foi descobrindo que a mitologia do consumo não o faz mais feliz, nem mais livre ou sonhador. A mitologia do consumo, na verdade, o faz mais obeso, deprimido, solitário e mentiroso para consigo mesmo.
O homem moderno sonha em se dar bem, mas algo nele ainda sonha em ser feliz e suspeita que a felicidade e se dar bem não sejam exatamente a mesma coisa e a mitologia clássica, sua ninfas, deuses e heróis ainda pulsa em algum lugar de sua alma.
Assim é que, apesar do desamor dos mitos atuais e da entrega de seu destino ao poder do supérfluo ainda existe dentro de cada um o desejo de ser livre, de ser criativo e de criar a própria arte, como um sopro da flauta de Pã.
Talvez fosse esse o destino histórico das ideias socializantes do marxismo e humanizantes do anarquismo, que se apresentaram como oposição ao individualismo do capital, mas foram abortadas pelo poder tacanho da cobiça humana de déspotas como Stalin, Hitler e presidentes Iankes.
Mas Zeus, Dionísio, Afrodite e todos os deuses e criaturas mitológicas ainda estão lá, dentro de cada um de nós, pois eles não morrem, simplesmente porque os mitos somos nós.
E isso, talvez seja apenas o que nos reste de esperança num mundo melhor e num homem verdadeiramente feliz, numa sociedade mais justa.
Em algum lugar do nosso tempo, que não se mede nas horas, Afrodite ainda seduz, Apolo fascina, Dionísio embriaga e Posseidon repousa seu olhar sobre a imensidão dos oceanos.
Prof. Péricles
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
POR UM DÓLAR FURADO
Por Mauro Santayana
No final da década de 1980, embarcando em um vôo da Lufthansa - não havia lugar nos aviões da Varig naquele dia - do Rio de Janeiro para a Alemanha, tive o dissabor de ser revistado, no tubo que levava à aeronave (tecnicamente já território alemão, assim como o próprio avião) por policiais germânicos, que examinavam criteriosa e ostensivamente os passageiros brasileiros ou latino-americanos, e deixavam passar os outros, principalmente quando se tratava de europeus ou de pessoas de sua própria nacionalidade.
Indignado com a cara de pau dos sujeitos, e, principalmente com a do governo da Alemanha Ocidental, desembarquei em Frankfurt e telefonei imediatamente para o então Ministro da Justiça, Fernando Lyra, a quem conhecia, e com quem convivia, desde a luta pela redemocratização, a quem sugeri que fizéssemos o mesmo, colocando uma equipe de agentes da Polícia Federal revistando os passageiros que embarcassem no Rio e em São Paulo em aviões da Varig com destino à Alemanha, e que o fizessem apenas com os alemães, deixando passar, incólumes, os brasileiros e os de outras nacionalidades.
Em menos de uma semana, quando voltei ao Brasil, os corpulentos gringos haviam desaparecido, com certeza chamados de volta a seu país, o que nos deu direito de fazer o mesmo, dispensando a equipe da Polícia Federal de continuar revistando os passageiros alemães dos aviões da Varig.
A sutileza, na diplomacia, às vezes dispensa a papelada e os comunicados oficiais. Tivemos a oportunidade de lembrar a eles, nesse episódio, dois velhos ditados que os alemães atribuem à sua própria lavra: "das billige ist immer das teuerste", a de que o barato acaba saindo sempre mais caro, e "taten sagen mehr als worte", o de que as ações valem mais que as palavras.
Esta longa introdução vem ao caso, a propósito da absurda, para não dizer, imbecil, retomada da decisão de se isentar, unilateralmente, de vistos, países ditos "desenvolvidos", na sequência da também estúpida isenção “temporária” - que já sabíamos que não seria temporária - desses vistos por ocasião da Olimpíada de 2016, pelo governo Dilma - contra a qual nos posicionamos à época - sem a exigência de reciprocidade.
Em reunião no Palácio do Planalto, com a presença de quatro ministérios, o governo atual já teria aprovado a prorrogação da medida, com a isenção de vistos para australianos, japoneses, canadenses e, claro, norte-americanos; e, burramente - em uma decisão que não esconde o patético viés ideológico - resolvido deixar de fora a China por causa do "risco migratório", embora nossas fronteiras sejam uma peneira por onde entra e sai, a seu bel prazer, gente do mundo inteiro, especialmente chineses que podem ser vistos em qualquer esquina, dos caixas dos restaurantes de quilo aos shoppings populares de artigos contrabandeados.
Assim, continuaremos com os imigrantes, que na maioria são gente honrada e trabalhadora, mas que não gastam à tripa forra, e deixaremos de receber os riquíssimos turistas chineses, que, além de deter quase a metade das reservas internacionais do mundo, gastaram, no exterior, no ano passado, mais que os turistas norte-americanos, japoneses, australianos e canadenses, somados.
Vê-se bem que os ministros que aprovaram a medida nunca tiveram as filhas adolescentes - nesse caso, brancas e de classe média, o que não pode atribuir ao racismo esse problema - barradas em aeroportos norte-americanos e enviadas para abrigos, como ocorreu recentemente com Anna Stéfane Radeck, de 16 anos, ou com Liliana Matte, de 17, que ficaram dias presas no aeroporto de Miami, embora estivessem ambas com autorização de viagem dos pais e todos os documentos necessários.
Ou, quem sabe, nunca ouviram falar do adolescente Roger Thomé Trindade, de 15 anos, morto por espancamento, em um parque de Miami, também há poucos dias, por um grupo de adolescentes norte-americanos, aparentemente pelo simples fato de ser brasileiro.
Ou do jovem Roberto Curti, assassinado pela polícia australiana, com sucessivos tiros de taser, em 2012.
Ou da senhora Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos, barrada no aeroporto de Barajas, na Espanha, e mantida detida em suas instalações durante dias, porque não tinha uma "carta de apresentação" embora estivesse em companhia da neta, residente naquele país, que foi um dos quase 3.000 compatriotas impedidos de entrar na Espanha, também em 2012, número que quase foi alcançado no ano passado.
Ou do compositor e músico Guinga, um dos maiores violonistas brasileiros, que perdeu dois dentes em Madrid, também no aeroporto de Barajas, ao ser agredido por um policial da imigração espanhola.
Qual seria a opinião desses cidadãos, ou dessas famílias, caso fossem consultadas, sobre a concessão unilateral de vistos, pelo Brasil, sem nenhuma espécie de reciprocidade, para estrangeiros?
O Ministro do Turismo pode alegar que a Espanha não será beneficiada pela medida, já que não se exige visto de espanhóis, por reciprocidade, assim como de outros países da União Europeia.
Mas com que moral poderemos responder à altura, exigindo de turistas espanhóis, também com base no princípio da reciprocidade, os mesmos documentos e as mesmas regras que a Espanha e outros países exigem dos nossos cidadãos, como a comprovação de dinheiro, carta de apresentação e reserva antecipada de hotéis, se, no caso dos Estados Unidos e de países satélites anglo-saxões, como a Austrália, será permitida a entrada em nossas fronteiras sem que nos permitam fazer o mesmo nas suas como se eles estivessem entrando e saindo de sua própria casa, sem nos dar nenhum respeito ou satisfação?
O que vamos fazer quando um piloto de avião comercial dos EUA, como ocorreu com um comandante da American Airlines em 2004, levantar o dedo em riste, ao segurar seu número de identificação, para agentes da Polícia Federal, na hora de tirar uma foto obrigatória, em reciprocidade a exigências semelhantes a cidadãos brasileiros em aeroportos dos EUA?
Abaixar as calças e mostrar o traseiro, para "insultar", segundo os curiosos hábitos norteamericanos, quem estiver nos ofendendo?
Mesmo que fôssemos o país mais miserável do mundo, e estivéssemos devendo bilhões aos Estados Unidos - quando o que ocorre é exatamente o contrário - se trataria de inaceitável abdicação da soberania nacional, em troca de algumas centenas de milhares de dólares a mais no faturamento do mercado turístico, em um mundo em que países como a China, a Rússia, e a Índia, nossos sócios no BRICS, defendem com unha e dentes, de forma altaneira e independente, as suas posições, no campo econômico e no geopolítico, sendo impensável que adotassem semelhante medida no trato com o Japão ou com os Estados Unidos.
O sr. Michel Temer precisa tomar cuidado para não passar à história como uma espécie de Carlos Menem, outro presidente latino-americano descendente de árabes, que perdeu todo o senso de ridículo no afã de se submeter, pública e despudoradamente, aos Estados Unidos.
No seu governo, ficou famosa a frase de seu Ministro das Relações Exteriores, Guido di Tella, que - para histórica vergonha da terra de Rosas, de Guevara e de Perón - disse que a Argentina estava a ponto de estabelecer "relações carnais" com os Estados Unidos, sem que ninguém precisasse recorrer ao Kama-Sutra para adivinhar em que posição estava aceitando, entusiasticamente, se colocar, naquela ocasião, o país andino.
Até mesmo nos governos militares, radicalmente anti-comunistas, o Brasil sempre procurou preservar um mínimo de dignidade e de autonomia no seu relacionamento com nosso vizinho do norte do hemisfério, estabelecendo a política do "pragmatismo responsável" e desafiando com firmeza, sempre que necessário, a vontade de Washington.
Não foi outro o caso, por exemplo, do reconhecimento do governo marxista de Angola, do MPLA; da aproximação com os países árabes, principalmente o Iraque de Saddam Hussein; e da assinatura do tratado nuclear com a Alemanha.
Decidida pelo governo, a medida depende, agora, da aprovação de mudanças no Estatuto do Estrangeiro, que terão que ser feitas pelo Congresso, que deverá, se houver dignidade e hombridade suficientes, votar pela sua rejeição, com a ajuda de órgãos conhecidos pelo seu patriotismo, como a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Um pouco menos de pressa na abjeta reverência aos gringos e um mínimo de dignidade e de vergonha na cara, são como uma boa canja de galinha ou uma suculenta sopa de rabo de canguru, que pode ser encontrada em certos restaurantes de Melbourne, nunca fizeram mal a ninguém, principalmente quando se trata, aos olhos do mundo, de nossas relações com outras nações.
domingo, 11 de dezembro de 2016
OS DEZ MANDAMENTOS DOS COXINHAS
Então, depois de lançar as pragas contra os programas sociais e os governos populares, o Golpista, ao som de batidas de panela, viajou até sua Canaã (Estados Unidos) e ao retornar trazia as sagradas tábuas da Lei que divulgou a seu povo.
1º “Não terás outros deuses diante do Patinho de Borracha e outros líderes além do Grande Juiz imparcial que sorri ao lado de delatados. ”
2º “Não farás para ti imagem diferente daquela divulgada pela Veja ou Isto É. Não te encurvarás diante da verdade se ela não estiver de acordo com a ideia de que a culpa é do PT”.
3º “Não tomarás o nome da Globo em vão; porque a Globo não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão. ”
4º “Lembra-te do dia do domingo, para o santificar. É quando verás o Faustão e o Fantástico para saber o que deve ser dito a partir da segunda-feira. ”
5º “Honra a teu patrão e os senhores da Casa Grande, para que se prolonguem os teus dias na senzala. ”
6º “Não matarás os posts mentirosos divulgados na rede. Eles devem crescer e se multiplicar. ”
7º “Não adulterarás de forma que seja descoberto. Somos representantes da moral e essas coisas só se admite se for bem escondidinho”
8º “Não furtarás de outros fiéis que não seja da tua Igreja pois todos devem ter sua reserva de mercado. ”
9º “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo se for coxinha, mas, se te convocarem a testemunhar contra a esquerda, a verdade não vem ao caso”.
10º “Não cobiçarás a casa do teu próximo que mora em Miami. Cada filho do senhor tem seu espaço e o teu é de capacho. Quem almeja igualdade com seu senhor é comunista e será maldito. ”
E assim, o povo coxinha seguiu sua peregrinação na história conforme os santos desígnios do STF, da mídia golpista e da nova Gestapo.
Amém.
Prof. Péricles
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
FRASES DE UM ANO AMARGO - 02
Por Ayrton Centeno, Jornalista
Completamos agora, a coleção de frases que o jornalista nos apresenta como as de maior destaque do terrível ano de 2016.
16) “Não temos justiça, temos Gilmar Mendes, Celso de Mello e coisas assim.” (Jornalista Mino Carta, descrevendo o Judiciário no Brasil)
17) "Estamos em tempos excepcionais”. (Juiz Sérgio Moro, procurando justificar o excesso de prisões na Lava-Jato)
18) “Eu estou protegendo você, seu filho da puta!” (Ciro Gomes advertindo integrante de grupo que fazia alarido pedindo o golpe. Referia-se ao fato de que se sabe como começa um golpe mas não como e quando ele termina)
19) “Globo é a praga principal do Brasil". (Jornalista norte-americano Glenn Greenwald, vencedor do Prêmio Pulitzer, no twitter)
20) “É um bufão reacionário contra o direito do trabalho, um escravocrata”. (Ex-ministro Miguel Rossetto sobre Gilmar Mendes, depois que o ministro do STF criticou a “hiperproteção do trabalhador” no Brasil e acusou o Tribunal Superior do Trabalho (TST) de “má vontade” com o patronato)
21) “O PSDB é a UDN atual. (...). É um partido elitista, dependente e colonialista”. (Fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, Luis Carlos Bresser Pereira)
22) “Querem me excluir do PMDB porque não sou ladrão”. (Senador Roberto Requião, do PMDB, no twitter)
23) “Deve-se aos grupos de mídia não apenas a deposição de uma presidente eleita, como o agravamento inédito da crise, a apologia do ódio e a subversão das notícias”. (Jornalista Luis Nassif)
24) “Ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável”. (Presidente do Senado, Renan Calheiros, falando sobre Dilma em conversa gravada com Sérgio Machado)
25) “É um governo reacionário, retrógrado e gagá”. (Ex-ministro de FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, discorrendo sobre a gestão Temer)
26) “Hitler massacrou três milhões de judeus. Agora há aqui três milhões de viciados. Eu gostaria de massacrá-los todos”. (Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, o mesmo que chamou Obama e o Papa Francisco de “filhos da puta”)
27) "Nós precisamos do aquecimento global!" (Donald Trump, presidente eleito dos EUA, argumentando que o conceito de aquecimento global foi criado “por e para os chineses” para que a indústria manufatureira americana não seja competitiva)
28) “Quem não tem (dinheiro) não faz universidade”. (Nelson Marquezelli, deputado do PTB, defendendo a “PEC da Morte” e seus cortes na educação. Seus filhos, como acrescentou, vão fazer universidade porque podem pagá-la).
29) “Vocês estão aqui representando o Estado, e eu convido vocês a olhar a mão de vocês. A mão de vocês está suja com o sangue de Lucas. Não só do Lucas como de todos os adolescentes que são vítimas disso”. (Estudante Ana Júlia Ribeiro, 15 anos, discursando na Assembléia Legislativa/PR defendendo as ocupações de escolas e acusando os deputados pela morte de um colega e pela tragédia da educação brasileira).
30) “São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam". (Papa Francisco)
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
O LODO, O POVO E A RUA
Por Saul Leblon
No Brasil dos anos 80, como agora depois do golpe, a discussão sobre o país e o seu desenvolvimento estava interditada.
A crise da dívida externa reprimia o debate nacional, servindo de escudo ao monólogo midiático que invocava o arrocho como fatalidade.
O Brasil era uma conta que não fechava.
Entre a ditadura agonizante e a ganância dos credores - que queriam raspar o tacho antes de entregar a rapadura - a economia esfarelava.
Soa familiar?
Embora os termos da equação sejam distintos, o jogral de hoje é semelhante, com consequências correlatas.
O dinheiro organizado ordena a danação.
Um sinônimo para dinheiro organizado é banco. Ou pátria rentista.
Ramificações locais e planetária decorrentes da supremacia que a riqueza financeira exerce no nosso tempo, dão a ela o poder inexcedível de coagir e chantagear.
Nos anos 80, era preciso espremer a nação para pagar os credores.
A referência era o FMI e suas cartas de intenção.
A PEC 55 é a carta de intenção dos dias que correm.
Nela se detalha a determinação de pagar os rentistas da dívida pública às custas do resto da nação.
Institutos de pesquisas, universidades, jornalistas e partidos adestrados nessa missão cuidavam lá, como cuidam agora, de reproduzir diariamente a sentença que reduzia todas as demais prioridades de um Estado ao valor zero.
Exceto uma: garantir os juros aos bancos e credores.
Um sistema político esgotado acoplado a uma bomba de sucção financeira implacável garroteava o pescoço brasileiro.
Dessa mistura ácida nasceu a ‘década perdida’ que engordou credores e murchou a sociedade, tornando-o ainda mais desigual para sua gente.
O golpe promete ir além.
O que se anuncia agora é a necessidade de duas décadas perdidas.
O prazo foi inscrito na PEC 55 para debulhar a Carta Cidadã, atropelar o pacto social de 1988, triturar a CLT, extirpar direitos e conquistas como estorvo e assegurar a salvaguarda dos mercados e rentistas.
Há uma diferença importante nas semelhanças da mecânica.
Nos anos 80 havia um encadeamento de rupturas internacionais que soprava na mesma direção do sufoco interno.
Foi preciso um gigantesco esforço de mobilização de rua para afrontar o duplo torniquete.
A soberania das nações e o Estado do Bem Estar Social perdiam espaço na vida dos povos.
Em 1978, Deng Xiaoping abriria a China à interação com o mercado capitalista.
Era uma ruptura geopolítica.
A gigantesca demografia chinesa que reúne 20% da humanidade credenciava-se como o principal polo de atração de capitais e compressão de custos trabalhistas e industriais em todo o planeta.
A guinada redefiniria a geografia das cadeias industriais, globalizando-as, bem como os fluxos do investimento, de tecnologia e do comércio mundial.
Quebrava-se o circuito que fazia da produção, do consumo, do emprego, dos preços, do lucro e dos salários uma equação pactuada e gerida no escopo da soberania nacional.
Um ano depois, em 1979, Margareth Thatcher adicionaria salmoura a esse lombo chicoteado.
Recém eleita, a ‘Dama de Ferro’ forjava seu epíteto em guerra implacável contra os sindicatos para consolidar o modelo do Estado mínimo neoliberal, com desregulação trabalhistas e financeira.
Do outro lado do Atlântico, Paul Volcker assumia a presidência do Fed , o BC dos EUA.
Em meses, enquanto Thatcher criava o manual anti-trabalhista e Deng inaugurava uma oficina de baixo custo, Volcker daria um cavalo de pau altista nas taxas de juros norte-americanas.
A espiral ascendente garantiria para os EUA a oceânica oferta de petrodólares acumulados pelo choques de 1973 e 79 e quebraria um a um os países endividados, entre eles o Brasil.
Em 1980, com a chegada de Reagan à Casa Branca, a geringonça neoliberal reforçou a fuselagem e decolou para rapinar e mastigar a ordem velha ao seu redor.
Desprovido de um arcabouço político para resistir, o Brasil foi atropelado e pisoteado.
Entre os anos 70 e 90, o país desembolsou cerca de US$ 280 bilhões em juros e amortizações aos credores externos.
Pior, nos anos 90, sob o comando tucano, fez uma interpretação pueril da avalanche em marcha da globalização neoliberal.
Ancorado na teoria do ‘desenvolvimento dependente’, trazida pelo sociólogo ao poder, dobrou-se complacente às exigências do FMI.
Não renegociou com soberania o gargalo da dívida e ainda abdicou de proteger e renovar a industrialização brasileira.
O populismo do câmbio forte (paridade Real/dólar) permitia importar da oficina asiática a manufatura que aqui morria.
À corrosão financeira sobrepôs-se, assim, uma ferrugem estrutural até hoje não revertida, cuja devastação silenciosa na estrutura da sociedade explica, por exemplo, o fenômeno Trump nos EUA e a ressurgência da ultra direita na Europa.
Desindustrialização é também desinvestimento, desemprego, declínio de polo irradiador de produtividade e inovação, míngua de excedente econômico para expandir infraestrutura, direitos sociais e cidadania.
O martírio imposto agora ao país em nome do ajuste fiscal reproduz em outra chave a mesma lógica dos anos 80, ordenada por interesses correlatos, com um upgrade de sucateamento industrial que pode selar o obsoletismo nacional nesse esfera.
A revogação do conteúdo nacional no pré-sal, com a renúncia ao derradeiro impulso tecnológico capaz de engatar a economia à quarta revolução industrial (a da precisão e integração digital de cadeias e processos ) desenha esse crepúsculo sem volta.
Uma dissonância importante ocorre agora no plano externo.
Como nos anos 80, assiste-se também a uma ruptura no horizonte internacional, mas com sinal invertido, o que expõe a natureza anacrônica da restauração neoliberal brasileira.
Trump não é um Roosevelt de topete.
Mas tudo o que ele simboliza, atrai e ameaça desenha uma rota de colisão com a restauração neoliberal tardia abraçada pelo golpe.
Trump é a resposta do extremismo conservador ao esgotamento do establishment neoliberal, em meio ao vácuo de alternativas num campo progressista colonizado pela religião dos livres mercados.
O anseio por igualdade, emprego, futuro, direitos, segurança, identidade é um enredo à procura de um projeto .
Trump ocupa o nada entre o velho e o novo. Seu protecionismo (quer taxar em 45% a manufatura chinesa), a promessa de investir US$ 1 trilhão em obras --e a consequente alta dos juros que isso encerra, estraçalham a ilusão golpista de reditar , em uma encruzilhada de mecânica parecida com a dos 80, mas de natureza distinta, a panaceia privatizante e dependente dos 90.
O risco de se insistir no mesmo projeto em uma ordem global de natureza distinta adverte também o campo progressista.
Amortecido na última década pelo superciclo de commodities e juros baixos, o conflito social reemerge agora enrijecido, em uma disputa ainda mais politizada, com uma direita ascendente, pelo comando do desenvolvimento e a destinação dos recursos fiscais.
A luta pelas Diretas e pela Constituinte nos anos 80 logrou à sociedade brasileira um espaço de legitimidade para crescer e expandir direitos, a contrapelo da ascensão neoliberal, que estendeu seu fôlego até quase o final do ciclo de governos do PT –com um saldo de ganhos e perdas sabido.
Ir para a rua hoje, ocupar praças, escolas, locais de trabalho tem a mesma importância que a luta pelas Diretas e pela Carta Cidadã teve em 1984 e 1988.
Trata-se de quebrar a rigidez das circunstâncias econômicas com o peso dos interesses históricos da maioria da população.
A ferramenta organizativa capaz de fazer isso hoje no Brasil chama-se frente ampla.
A rua é o seu canteiro de obras. É nela que o lodo golpista pode ser drenado para dar passagem a um novo ciclo de desenvolvimento.
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