Após 67 anos de monarquia, a República brasileira foi proclamada em 15 de novembro de 1889, a partir de um golpe de estado promovido pelo exército.
Portanto, nesse 15 de novembro de 2016 ela está fazendo aniversário de 127 anos.
Costuma se dizer que o Estado tem 3 elementos que são básicos em sua constituição: um território definido e reconhecido, um povo com identidade cultural e um governo centralizado que o represente.
Em assim considerando, a grosso modo, como andou a saúde do estado nacional brasileiro no período republicano?
Bem, o território nacional além de reconhecido se ampliou, com a anexação do Acre durante o governo do Presidente Rodrigues Alves. O mar territorial foi ousadamente ampliado para 200 milhas pela Ditadura militar e, excluindo-se supostos torpedeamentos nazistas à navios mercantes brasileiros, não tivemos nenhuma ameaça real à nossa integralidade territorial.
Com relação ao governo centralizado que o represente, tivemos alguns abalos, mas, externamente sempre houve o reconhecimento por parte das nações estrangeiras de nossa soberania.
O Brasil foi o único país que enviou tropas para a Europa na segunda guerra mundial, abalizou vários tratados e protocolos internacionais e, infelizmente, mesmo nos negros anos da ditadura militar sempre teve seu governo reconhecido lá fora.
Já, o terceiro elemento definidor dessa equação que forma o estado não andou nada bem.
Fruto de uma colonização elitista e exploradora e de período monárquico que manteve a escravidão, uma das principais cicatrizes de nossa história, tivemos a formação de uma das sociedades mais conservadoras e excludentes do continente.
Diferentemente dos Estados Unidos, nossa classe média não enriqueceu e nem poderia, já que as políticas nacionais, em geral, visaram o bem financeiro das classes mais abastadas. No entanto, cristalizou-se nessa classe média o sentimento de estranha e falsa superioridade sobre os mais desvalidos.
É uma classe média que mesmo sem possuir terras é contra a reforma agrária, mesmo sem possuir escravos é avessa aos interesses históricos dos trabalhadores e, mesmo sem nunca estar de fato no poder, é mais reacionária do que se realmente o poder fosse seu.
Apenas nos últimos anos, a partir das políticas afirmativas, a população negra pode ter melhores condições de acesso ao ensino superior e isso, teve um peso enorme contra o governo que as criou.
Estupefatos assistimos o desenvolvimento crescente de um ódio, por parte das classes médias, às políticas que diminuíram as diferenças sociais que, beira, o fanatismo.
País da hipocrisia, no Brasil “não existe racismo” mas nele habita um dos povos mais racistas de nosso tempo. É tolerante, mas defende medidas medievais contra a diversidade de gênero. É pacífico, mas possuí uma das polícias que mais matam no mundo e gente capaz de defender a pena de morte como solução dos problemas da violência além de glorificar personagens de discurso fascista. Um Brasil de todos, mas com o poder nas mãos de meia dúzia.
Somos um povo de quase 200 milhões de pessoas, mas, definitivamente ainda não somos uma nação.
Vivenciamos absurdos como o fato de 10% da população concentrar mais de 60% da renda nacional. Ou ainda de saber que enquanto o 1% da parcela mais rica da nossa sociedade é tão rica como os abastados dos países mais desenvolvidos, nossos mais pobres são tão pobres como os mais carentes de Serra Leoa ou da República Democrática do Congo.
Então, ao chegar o calendário à mais um 15 de novembro, nos falta motivos para comemorar e sobram causas de reflexão.
Para onde vamos, afinal? Que Brasil estamos construindo para nossos filhos e netos?
Nos últimos tempos, as máscaras que, historicamente escondiam o ranço reacionário, caíram. O Brasil do “todos juntos vamos, pra frente Brasil” está cada vez mais dividido e, as pequenas feridas sociais ameaçam tornarem-se fraturas expostas.
E, num momento tão grave, se chega a conclusão que o que mais nos ameaça, o que mais assusta, não são perigos contra nossa soberania ou segurança territorial, nem mesmo qualquer menosprezo internacional contra nossos governantes. O que ameaça mesmo, o estado brasileiro, é a insensata segregação e intolerância racial e social.
Que o 15 de novembro seja um momento de reflexão que busque a união de todos os brasileiros, que só será possível com o fim dos elementos reacionários que a impedem.
Definitivamente, se nosso povo sofre e é mantido distante do banquete, nossa pátria sofre e não tem motivos para estar em festa.
Prof. Péricles