quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DILMA E DUNGA, SALVE-SE QUEM PUDER



Por Laerte Braga


Aumenta na esquerda o descontentamento com a presidente Dilma.

Um dos maiores jogadores de futebol em todos os tempos, o meia Gérson, campeão do mundo em 1970, cérebro de uma equipe magistral, já no final de sua carreira, jogando no clube do seu coração, o Fluminense Futebol Clube, no intervalo de uma partida contra o América, à época uma grande equipe, perdendo de dois a zero, depois de fumar seu cigarrinho no banheiro, foi ouvir as instruções do técnico Duque.

Duque explicou como “virar” o jogo, traçou as coordenadas para o primeiro gol, o gol de empate e o terceiro, que seria o da virada. Do seu canto e com seu jeito, Gérson disparou – “você já combinou com o técnico deles?” Risos disfarçados e a despeito de todo o empenho do time do Fluminense, o jogo foi ganho pelo América.

O time de Dilma Roussef não tem nenhum Gérson. Mas dois trombadores. Joaquim Levy e Nélson Barbosa, respectivamente na Fazenda e no Planejamento, o que no futebol seria equivalente ao meio de campo. Jânio de Freitas é um dos grandes jornalistas brasileiros. E independente. Chama a dupla de “criadores de problemas”.

Permito-me incluir entre eles, o arrogante e incompetente Aluísio Mercadante. Zagueiro que só dá de bico. Com licença de Pinheiro, que nunca perdeu um pênalti e só batia de bico. Jogava no Fluminense e foi titular da seleção na copa de 1954.

Quando tudo parecia marchar para um alívio nas pressões contra o gol do governo Dilma, o vice-presidente Michel Temer, sabotado por Mercadante (quer ser o candidato em 2018), se afasta da coordenação política, deixa um rombo sem tamanho no time e ainda ameaça levar boa parte dos jogadores, os do PMDB, para a oposição. Vai anunciar se sim ou se não em setembro.

E Eduardo Cunha, corrupto com assento na presidência da Câmara dos Deputados, denunciado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, por falcatruas no ofício que exerce, além do uso indevido do nome de Deus para receber propinas, dá uma suspirada, um gesto de alívio e a despeito de todo o bombardeio contra si, sobrevive. Aos trancos e barrancos, mas forte, no velho esquema de chantagens, extorsões, etc.

Aí vem Dilma e manda a bola nas arquibancadas. Anuncia a extinção de Ministérios e Secretarias. Jogada armada por Joaquim Levy. O pretexto de economizar recursos, reduzir cargos comissionados, a aparente moralidade do anúncio, é para inglês ver. No caso os brasileiros.. Deve achar, como no célebre Fla versus Flu, da Lagoa, que a bola demora a voltar. Hoje são várias as bolas disponíveis, o esquema não funciona.

No caso, perdendo de dez a zero, é mais prudente seguir o conselho daquele técnico aos seus jogadores – “arrecua os harfies que é pra evitar a tragédia”. A conta dessa confusão tática vem toda para os trabalhadores brasileiros. E até a primeira parcela do décimo terceiro de aposentados e pensionistas vai ser dividida em duas, fato inédito nos últimos nove anos. Decisão de Levy, que Dilma engoliu depois de ter anunciado que iria pagar em setembro.

Faz uma espécie de mea culpa ao dizer que demorou a perceber a crise. Mas percebeu, depois de reeleita.

Martin Francisco Lafaiete Andrada, advogado nas horas vagas e técnico de futebol, foi campeão com o Atlético de Madri, Espanha, inventando o 4-2-4 e evoluindo para o 4-4-2. Era descendente do “patriarca da independência”.

Zezé Moreira, técnico da seleção em 1954, com vários títulos e caráter acima de qualquer prova, como Martin Francisco, se contrapõe ao pesado sistema de marcação homem a homem e cria a marcação por zona.

Feola esboça o 4-3-3- e Zagalo, que o provara na prática nas copas de 1958 e 1962, o transforma em realidade na copa do tri, a de 1970.

Oto Glória levou Portugal a um terceiro lugar na copa de 1966 e até Iustrich inventou a tal “cavadinha”. Nem falo de Carlos Alberto Parreira, um fora de série nessas artes.

Há uma crise quase que absoluta no futebol brasileiro. O técnico é Dunga, um turrão que adora mediocridades. Mas Dilma criou uma nova tática, na política – o salve-se quem puder. Como nas melhores peladas de domingo.

Impedimento? Uma quebra da normalidade democrática e incompetência por si só não é justificativa. Mas Dilma está fazendo o possível e o impossível para ficar na banheira.

Ela própria anula seus gols. Seu assistente Mercadante? Busca a bola nas redes e coloca no meio do campo para reinicio do jogo. Está pior que o sete a um de Luís Felipe Scolari.



Laerte Braga, jornalista, trabalhou no Diário Mercantil e no Diário da Tarde de Juiz de Fora, para os Diários Associados e pela agência Meridional (primeira grande agência de notícias do Brasil) e também dos Diários e Emissoras Associadas. Escreve semanalmente para o Diário Liberdade.

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