sábado, 13 de junho de 2015

A MAIOR CAUSA MORTIS



As cenas de guerra nos chocam. São imagens dramáticas de bombardeios e disparos de artilharia, seguido de imagens de destruição e de mortes brutais.

Imagens dramáticas de regiões inteiras atingidas por furacões, enchentes, tsunamis e outras tragédias naturais. São tantas mortes.

Na contabilidade das tragédias naturais ou não, os números de vítimas sempre nos impressionam.

O que pouco imaginam é que, na verdade, bem perto de cada um de nós, outra causa demanda mais vítimas do que todas as guerras e todas as tragédias naturais juntas.

Segundo uma estimativa da Organização Mundial da Saúde, 883 mil pessoas se matam no mundo a cada ano enquanto todos os mortos em guerras, vítimas de homicídios e desastres naturais somados tiram em torno de 669 mil vidas por ano.

O suicídio é a maior de todas as causas mortis.

Nesse mundo onde ter é mais importante que ser, o suicídio é o alerta permanente de que dinheiro não traz felicidade, a paz pode ser apenas aparente e que, nenhuma tragédia natural é mais devastadora do que as tragédias silenciosas e individuais.

“Esse é o fim da história” disse Francis Fukuyama um, ardoroso defensor do neoliberalismo, “o capitalismo venceu e a civilização marcha rumo a felicidade prometida”. Isso posto ainda na década de 80 pós derrocada do modelo socialista da União Soviética.

Mas, a felicidade não veio, o Paraíso continua perdido e nunca tantos deram fim a própria vida.

A Universidade de Oxford estudou os efeitos da crise econômica global, que começou em 2008, sobre as taxas de suicídio nos EUA, no Canadá e na Europa. Em todos os casos, elas apresentaram crescimento: de 4,8%, 4,5% e 6,5%, respectivamente.

Antes mesmo da crise os suicídios no mundo já vinham aumentando (o número global de casos cresceu 60% desde a década de 1970), mas agora assumiram um ritmo mais intenso.

E não é só a crise a causa da aceleração. Calcula-se que em 2010, pela primeira vez na história do mundo, a maior parte da população passou a viver em cidades, onde, a pressão pelo sucesso é maior, onde a guerra das aparências é infinitamente maior.

Grandes cidades coloridas e barulhentas. Reino secreto da solidão.

Nunca fomos tantos. A população do planeta ultrapassou 7 bilhões de almas, mas nunca, fomos tão sós. Segundo um estudo feito nos EUA, 40% dos adultos se consideram solitários (o dobro da década de 1980).

A crise da família e das relações sociais, parecem contribuir para o crescimento da depressão (o mal do século). "Quanto maiores os laços sociais em uma cultura, menores as taxas de suicídio", afirmam os psiquiatras.

Algo está errado, terrivelmente errado num mundo onde 10% da população sofre de alcoolismo, 20% sofre de depressão crônica e quase 900 mil pessoas tiram a própria vida por ano.

O capitalismo jamais conseguiu construir uma sociedade justa e a história, definitivamente não acabou, caro Fukuyama, e não acabará enquanto existirem sonhos de construir sobre as ruínas humanas, um mundo melhor.

Mesmo diante da fartura de informações, redes sociais e amizades virtuais, o homem ainda caminha sozinho e cada novo caso de suícídio é um atestado de incompetência do homem na construção um mundo mais justo e fraterno.

Dói demais a ausência de si mesmo nas esperanças prometidas e nunca realizadas.

Talvez a história esteja só começando e ela só termine realmente, num final feliz, o dia que o amor superar o egoísmo e a maior causa mortis deixe de ser a falta de esperança.


Prof. Péricles


Fontes:
- Revista Superinteressante 338 de outubro/2014
- Organização Mundial da Saúde.
- Economic suicides in the Great Recession in Europe and North America, Aaron - Reeves e outros.

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