Por Tarcísio Lage
Michel Temer está de parabéns. Ele conseguiu dar o golpe de mestre, sonho máximo de partidos fisiológicos, sem ideologia.
No Brasil o PMDB ocupa o pódio. Golpe sim!
Se o Brasil fosse um regime parlamentarista a destituição de Dilma – vá lá, o eufemismo é afastamento – teria sido a coisa mais normal do mundo. Nesse sistema quem não tem maioria no Parlamento cai sem apelação. Mas o Brasil é presidencialista, os cargos executivos com mandatos de quatro anos, todo mundo sabe, até criança de escola primária.
Claro, sempre há a possibilidade de impedimento desde que dentro de normas previstas na Constituição, mas que não foram observadas.
Durante a aprovação pela Câmara, dia 17 se abril, assistimos ao espetáculo grotesco de ver a maioria da Casa sem ter a mínima ideia do motivo jurídico do pedido do impedimento e deputados dedicando seus votos a filhos, vovozinhas e até sogrinhas.
No Senado, pelo menos, a farsa foi menos grotesca.
No entanto, Michel Temer, o mestre golpista, nem de longe agiu só encastelado no Jaburu. Teve cúmplices em praticamente todas as instituições, do STF a traidores nos ministérios, na Lava a Jato, no diabo a quatro.
Michel Temer está de parabéns. Ele conseguiu dar o golpe de mestre, sonho máximo de partidos fisiológicos, sem ideologia.
No Brasil o PMDB ocupa o pódio. Golpe sim!
Se o Brasil fosse um regime parlamentarista a destituição de Dilma – vá lá, o eufemismo é afastamento – teria sido a coisa mais normal do mundo. Nesse sistema quem não tem maioria no Parlamento cai sem apelação. Mas o Brasil é presidencialista, os cargos executivos com mandatos de quatro anos, todo mundo sabe, até criança de escola primária.
Claro, sempre há a possibilidade de impedimento desde que dentro de normas previstas na Constituição, mas que não foram observadas.
Durante a aprovação pela Câmara, dia 17 se abril, assistimos ao espetáculo grotesco de ver a maioria da Casa sem ter a mínima ideia do motivo jurídico do pedido do impedimento e deputados dedicando seus votos a filhos, vovozinhas e até sogrinhas.
No Senado, pelo menos, a farsa foi menos grotesca.
No entanto, Michel Temer, o mestre golpista, nem de longe agiu só encastelado no Jaburu. Teve cúmplices em praticamente todas as instituições, do STF a traidores nos ministérios, na Lava a Jato, no diabo a quatro.
Prometeu corte drástico nos ministérios, desistiu ao ver diminuído o poder de barganha de cargos e vacila ainda como comerciante sem escrúpulos ou de alguém que começou sua carreira política com Ademar de Barros.
É mais do que possível que soubesse da queda de Cunha depois do espetáculo deprimente da sessão do dia 17 e que o ministro Gilmar (acrescente o adjetivo mais apropriado) Mendes ia abrir processo contra Aécio Neves sobre graves suspeitas de falcatruas em Furnas. Toma lá, dá cá.
Mestre incontestável do golpe, da cartada decisiva, do xeque mate, Michel Temer é também não mais do que um instrumento de grupos nacionais e multinacionais interessados na mudança radical da política econômica brasileira.
O primeiro e mais urgente relaciona-se ao assédio constante das petroleiras pela privatização da Petrobras desde de que foi fundada em 1953 no bojo do movimento que tomou as ruas sob o lema “o petróleo é nosso”.
Não foi por nada que Temer nomeou Serra para o Ministério do Exterior, um sujeito que destoa até de seu próprio partido de tão entreguista que é. E não duvide: é bem provável que o preço do petróleo suba a medida que a privatização da Petrobrás se torne real. Certamente a Exxon e a Arábia Saudita vão deixar de segurar o barril a preço de banana.
O outro objetivo desse golpe é recolocar o Brasil total e cabalmente na área de influência dos Estados Unidos e do dito Ocidente.
Nesse caso, o Brasil é pouco mais do que um peão no jogo de xadrez dos países ocidentais contra os BRICS. É bom lembrar que o novo Banco de Desenvolvimento criado pela China. Rússia, India, Brasil e África do Sul tem o objetivo declarado de concorrer com o Banco Mundial, instrumento de dominação econômica comandadopelos EUA desde do fim da Segunda Guerra.
O golpe no Brasil ou o impedimento inconstitucional, se quiserem, pode ser uma revisão tática do grande capital em relação ao Brasil. Nesse sentido, é preciso deixar bem claro que a primeira eleição de Lula, em 2002, só foi possível porque o programa original do PT foi rasgado e substituído por outro social democrata e até certo ponto nacionalista.
Durante seu governo, Lula fez acordos com banqueiros e com parte do agronegócio para o desenvolvimento do etanol. Um risco calculado de perder (como perdeu) militantes mais à esquerda. Nasceu aí ressentimentos de muitas organizações de luta, como o MST, mas não suficientes para quebrar a aliança popular que sustentou o governo.
E, talvez, mais importante: beneficiado pelo avanço econômico (o Brasil chegou à posição de sexta economia do Planeta) o PT deu início à grande cartada de seu governo: a melhor distribuição da renda. Sair da vergonha onde grandes executivos ganhavam (e ganham ainda) salários equivalentes aos de seus colegas em Nova Iorque ou Paris, enquanto competia com o Haiti o primeiro lugar da pior distribuição da renda no mundo.
O bolsa família para tirar de imediato milhões da miséria e o aumento real do salário mínimo foram os grandes instrumentos. O capital financeiro ao calcular um bom aumento do mercado consumidor apoiou, mas sempre com um pé atrás, fiel a sua ideologia neoliberal do Estado mínimo.
Enfim, contornadas as arestas, dado o encaminhamento da contenção da miséria absoluta com as migalhas do bolsa família, tudo indica que o grande capital financeiro quebrou a aliança tática com o PT e agora está com Michel Temer do partido que faz qualquer jogada por mais suja que seja.
É o Brasil escancarando as portas para o neoliberalismo.
Tarcísio Lage, jornalista, escritor. As Tranças do Poder é seu último livro.
É mais do que possível que soubesse da queda de Cunha depois do espetáculo deprimente da sessão do dia 17 e que o ministro Gilmar (acrescente o adjetivo mais apropriado) Mendes ia abrir processo contra Aécio Neves sobre graves suspeitas de falcatruas em Furnas. Toma lá, dá cá.
Mestre incontestável do golpe, da cartada decisiva, do xeque mate, Michel Temer é também não mais do que um instrumento de grupos nacionais e multinacionais interessados na mudança radical da política econômica brasileira.
O primeiro e mais urgente relaciona-se ao assédio constante das petroleiras pela privatização da Petrobras desde de que foi fundada em 1953 no bojo do movimento que tomou as ruas sob o lema “o petróleo é nosso”.
Não foi por nada que Temer nomeou Serra para o Ministério do Exterior, um sujeito que destoa até de seu próprio partido de tão entreguista que é. E não duvide: é bem provável que o preço do petróleo suba a medida que a privatização da Petrobrás se torne real. Certamente a Exxon e a Arábia Saudita vão deixar de segurar o barril a preço de banana.
O outro objetivo desse golpe é recolocar o Brasil total e cabalmente na área de influência dos Estados Unidos e do dito Ocidente.
Nesse caso, o Brasil é pouco mais do que um peão no jogo de xadrez dos países ocidentais contra os BRICS. É bom lembrar que o novo Banco de Desenvolvimento criado pela China. Rússia, India, Brasil e África do Sul tem o objetivo declarado de concorrer com o Banco Mundial, instrumento de dominação econômica comandadopelos EUA desde do fim da Segunda Guerra.
O golpe no Brasil ou o impedimento inconstitucional, se quiserem, pode ser uma revisão tática do grande capital em relação ao Brasil. Nesse sentido, é preciso deixar bem claro que a primeira eleição de Lula, em 2002, só foi possível porque o programa original do PT foi rasgado e substituído por outro social democrata e até certo ponto nacionalista.
Durante seu governo, Lula fez acordos com banqueiros e com parte do agronegócio para o desenvolvimento do etanol. Um risco calculado de perder (como perdeu) militantes mais à esquerda. Nasceu aí ressentimentos de muitas organizações de luta, como o MST, mas não suficientes para quebrar a aliança popular que sustentou o governo.
E, talvez, mais importante: beneficiado pelo avanço econômico (o Brasil chegou à posição de sexta economia do Planeta) o PT deu início à grande cartada de seu governo: a melhor distribuição da renda. Sair da vergonha onde grandes executivos ganhavam (e ganham ainda) salários equivalentes aos de seus colegas em Nova Iorque ou Paris, enquanto competia com o Haiti o primeiro lugar da pior distribuição da renda no mundo.
O bolsa família para tirar de imediato milhões da miséria e o aumento real do salário mínimo foram os grandes instrumentos. O capital financeiro ao calcular um bom aumento do mercado consumidor apoiou, mas sempre com um pé atrás, fiel a sua ideologia neoliberal do Estado mínimo.
Enfim, contornadas as arestas, dado o encaminhamento da contenção da miséria absoluta com as migalhas do bolsa família, tudo indica que o grande capital financeiro quebrou a aliança tática com o PT e agora está com Michel Temer do partido que faz qualquer jogada por mais suja que seja.
É o Brasil escancarando as portas para o neoliberalismo.
Tarcísio Lage, jornalista, escritor. As Tranças do Poder é seu último livro.
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