quarta-feira, 22 de junho de 2016

O RISCO É HILLARY PERDER


Por José Inácio Werneck


Há pouco mais de um ano era quase certo que a disputa pela presidência dos Estados Unidos seria entre membros de duas ilustres dinastias: Jeb Bush, pelos republicanos, e Hillary Clinton, pelos democratas.

Jeb Bush cedo sucumbiu, esmagado pelo terrível legado da Guerra do Iraque, deixado por seu irmão George, e pelo apelido de “Low Energy Jeb” que lhe foi dado por Donald Trump.

Hillary Clinton porém está próxima de conquistar a indicação pelo Partido Democrático.

Seu adversário será exatamente Donald Trump que, ao anunciar sua candidatura, era considerado pouco mais do que uma figura cômica, quase um palhaço, famoso por sua insaciável sede de publicidade, por seu programa The Apprentice e pela ridícula campanha em que insistia que o presidente Barack Obama tinha nascido no Quênia.

A escolha de Hillary Clinton era considerada quase uma “coroação”, pois não haveria entre os democratas um candidato que pudesse superá-la.

Mas o senador por Vermont, Bernie Sanders, que não pertence ao Partido Democrático, apresentou-se como independente em suas primárias e conseguiu o que parecia impossível, pois lutava contra a máquina do partido: endureceu a campanha contra Hillary Clinton.

Hillary ganhará a escolha na convenção, mas sua eleição à presidência, que parecia certa, é agora uma grande dúvida: as pesquisas de opinião apontam um empate virtual entre ela e Donald Trump e a tendência é para o crescimento deste.

A eleição de Trump, boquirroto, demagogo, irresponsável e fascitóide, seria ou será uma tragédia para os Estados Unidos e para o mundo: todas as suas promessas (ou ameaças), como uma guerra comercial contra a China, o muro na fronteira mexicana (com a conta enviada ao governo do país vizinho), a proibição da entrada de muçulmanos no país, a promessa de reativar as poluentes minas de carvão, a ameaça de usar bombas atômicas, são irresponsáveis – além de provavelmente irrealizáveis.

É difícil acreditar que um país adiantado como os Estados Unidos possa eleger uma pessoa como Trump, mas Hitler e Mussolini, em suas épocas, também conquistaram imensa popularidade na Alemanha e na Itália.

O problema de Hillary Clinton, porém não é Trump, é ela mesma, Hillary.

A cada dia que passa as pesquisas de opinião revelam que mais e mais eleitores desconfiam de seu caráter.

Hillary é cada vez mais uma pessoa vista como pouco confiável, capaz de mentiras e tergiversações que vão desde negócios duvidosos ao tempo em que seu marido Bill era governador de Arkansas e depois presidente dos Estados Unidos, até os tempos atuais, com suas palestras secretas para os banqueiros de Wall Street, em troca de 11 milhões de dólares, aos e-mails em seu provedor particular enquanto foi Secretária de Estado de Barack Obama.

Mesmo o eleitorado feminino confia pouco em Hillary Clinton, achando que ela sempre foi conivente, omissa e até cúmplice (pelo menos cúmplice a posteriori), encobrindo as conhecidas aventuras extraconjugais de seu marido e culpando as parceiras.

Em suma, como ela demonstrou ao apoiar George W. Bush em sua decisão de invadir o Iraque (enquanto Bernie Sanders e Barack Obama se opunham), a impressão geral é de que Hillary toma posições com base em um único critério: o que ela julga mais conveniente para sua carreira.

No caso da invasão do Iraque, ela não queria ficar fora do que achava seria uma “marcha triunfal” dos americanos no país.

A história provou que foi um erro colossal.

Por isto muita gente não votará em favor de Hillary Clinton no próximo mês de novembro: sufragará o nome de Hillary Clinton como único jeito de votar contra Donald Trump.

Assim está a eleição no país mais rico do mundo: entre um pilantra e uma oportunista.

Dos males, o menor.

Resta saber se será o suficiente para dar a vitória aos democratas.



José Inácio Werneck, jornalista e escritor é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.



Nenhum comentário: