sábado, 4 de abril de 2015

IXTAB



Na mitologia Maia, Ixtab era uma mulher jovem e sedutora. Cabelos longos, olhos profundos como um poço sem fim. A única pintura em sua face belíssima era um círculo negro. Corpo delineado com a força do desejo irresistível.

Mais do que desejada, era temida.

Vivia permanentemente escondida no céu, enforcada por uma corda de estrelas e de lá saía apenas para buscar pelas mãos, alguém em busca do fim através do suicídio.

Ixtab era a Deusa do Suicídio.

Era adorada pelos familiares de um suicida, pois, acompanhava a alma dos que assim morriam até o outro lado da existência. Era ela que se encarregava de explicar ao recém chegado, onde ele estava. Ele estava no seu reino onde apenas os suicidas viam seu rosto, com o círculo negro na face, a lembrar que morte e nascimento não passam de estágios diferentes de um mesmo círculo e que, portanto, sua existência (e suas dores e angústias) continuavam.

No dia 24 (terça-feira) o jovem copiloto da Germanwings, Andreas Lubitz, esperou o comandante do voo Barcelona-Dusseldorf ir no banheiro, para trancar a cabine do Airbus A320 que pilotavam.

Desde os atentados terroristas de 2001 nos Estados Unidos, as portas das aeronaves foram redesenhadas e tornaram-se intransponíveis, não sendo possível que alguém possa entrar na cabine sem que seja aberta pelo lado de dentro.

Em seguida, Andreas empinou o nariz do avião para baixo e iniciou um mergulho suicida que entra para a história da aviação como um dos mais dramáticos eventos já registrados.

Todos os 150 passageiros e tripulantes morreram com o choque da aeronave nos Alpes franceses.

O que se passava na cabeça e na alma desse suicida de apenas 28 anos, jamais saberemos.

Sabemos apenas que, o piloto tentou arrombar a porta inclusive com auxílio de um machado e que, os passageiros estavam cientes do que estavam acontecendo.

O mergulho foi breve em tempo, mas eterno em agonia de tantos que, não queriam morrer mas se viram arrastados a morte pelas mãos de Andreas, que decidiu por eles.

As caixas pretas (eram duas) não registram mas, com certeza, ao lado da poltrona do copiloto estava aquela jovem, bela, com um círculo negro no rosto, sorrindo e incentivando o desatinado ato do alemão.

Será que conversaram? Falaram de amor, de nascer ou morrer?

Foi ela que o recolheu nos Alpes e alçou novo voo em direção a eternidade.

Terá sido amor pela jovem que apenas os suicidas enxergam?

Na mitologia Maia, a bela Ixtab atraía rapazes para uma floresta densa e sem saída. Enfeitiçava-os com suas curvas perfeitas e seu seio alvo como a neve. Depois que os meninos estavam completamente apaixonados, ela desaparecia no topo de céu deixando-os eternamente perdidos, vagando pela floresta noturna que reproduzia com a luz da lua imagens irreais que apenas mentes alucinadas poderiam compreender.

Na floresta dos suicidas um novo morador, vindo dos céus e carregando as costas 149 vítimas, deve estar vagando em busca de respostas para seu louco mergulho nas rochas.

Mas, no Reino de Ixtab, as respostas se arrastam com os séculos, enquanto o silêncio das almas murmura nos Alpes.



Prof. Péricles

Um comentário:

Unknown disse...

Querido Péricles!!
Grande questionamento...Confesso que eu fiquei bem equivocada...
Muito bem fundamentado..e deixa muito para refletir...
Eis a questão:REFLEXÂO...
Parabéns!!
Sempre novidades.
Obrigada..amigo...