domingo, 26 de abril de 2015

TRAGÉDIA NO MEDITERRÂNEO


De onde vem esses corpos que boiam nas águas como peixes mortos, inchados?

De onde surgem tantas manchas escuras nas águas. De todos os tamanhos e idades, homens, mulheres, velhos, crianças?

Mais de 900 mortos em naufrágio nas águas frias do Mediterrâneo, na noite de 20 de abril.

Pensem nas crianças que mesmo nas maiores dificuldades buscam por brinquedos no uso da imaginação que liberta. Estão mortos como seus sonhos.

Como previam os piores pesadelos de seus pais.

De onde vem tantos mortos? Tantos corpos em vão?

Eles vêm da África. Fugindo das guerras. Fugindo da fome.

Buscam na Europa algum tipo de esperança.

Enfrentam viagens impossíveis, em barcos velhos e ilegais.

Balançam com a fúria das ondas e o rangido do casco é como música macabra.

Mesmo com todos os perigos, enrolam seus trapos, abraçam suas crianças e partem.

Diz Netuno, o Deus dos mares, que a maior da ironia é que causa e consequência habitam na mesma geografia.

Mais de dois séculos de colonização violenta e arbitrária, espoliando na condição de metrópole povos pacíficos e indefesos, fizeram da Europa a causa de toda dor.

Foi a Europa, não Deus ou o destino que jogaram esses milhões de sombras, nas águas frias do Mediterrâneo.

As autoridades italianas disseram que o pior desastre com migrantes no Mediterrâneo, que causou a morte de cerca de 900 pessoas culpa do capitão e à sobrelotação do navio. Disseram que o barco colidiu com um cargueiro de bandeira portuguesa, e que após a colisão a imperícia do comandante e o pânico generalizado condenou a nau a um fim inevitável no fundo do Mediterrâneo.

As autoridades europeias, lideradas pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) querem criar uma política que represente uma reação mais humana ao êxodo de pessoas que viajam pelo mar da África e da Ásia para a Europa sem piorar a crise estimulando mais pessoas a partirem.

Mas, ainda ontem uma operação naval italiana no sul do Mediterrâneo, conhecida como “Mare Nostrum”, foi cancelada por causa do custo e da oposição interna aos resgates marítimos, que poderiam encorajar a imigração.

Mentem as autoridades. Mentem os bem trajados âncoras televisivos. Mentem todos aqueles que sonegam a verdadeira informação: a culpa da tragédia é da Europa que como vampiro sugou as riquezas e as esperanças dos povos dominados.

Omitem que batem as portas na cara dos imigrantes que, atualmente só encontram socorro nos portos da Itália.

Isso não começou hoje. É um pesadelo fomentado pela violência de dois séculos.

Netuno sabe. A Europa sabe.

Perguntem a ela nas noites sem lua, quantos corpos já engoliu.

Prof. Péricles


Nenhum comentário: