sábado, 4 de abril de 2015
A SEPULTURA DE JESUS
por Liszt Rangel
Quando se trata de sondar os mistérios que envolvem a morte de Jesus, qualquer pesquisador terá que responder a uma difícil pergunta: Onde ele teria sido sepultado?
Primeiramente, quero esclarecer que, atualmente, são três os lugares em Jerusalém que reivindicam o reconhecimento daquele que seria o local exato do sepultamento de Jesus.
O mais antigo e famoso é o que se encontra na intimidade da Igreja do Santo Sepulcro. Este é conhecido como o túmulo católico de Jesus. A localização do Santo Sepulcro se deu sob as ruínas do templo construído em homenagem à Vênus, quando da reconstrução feita em Jerusalém por ordem do imperador Adriano, no século II.
No século IV, ao se converter ao cristianismo, Helena, mãe do imperador Constantino, recebeu indicações de cristãos e judeus que ali seria o lugar da crucificação e ressurreição, encontrando-se também a suposta catacumba cedida por José de Arimateia para o sepultamento de Jesus. A megalomaníaca Helena acabou com qualquer possibilidade de preservação do material arqueológico, ao mandar construir sobre o local, uma colossal Igreja, como fez também em outras regiões apontadas como cenários do Cristianismo Primitivo.
Além de uma suposta pedra onde o corpo de Jesus teria sido deitado, em outra parte da Igreja, há nichos cavados na rocha que foram usados para abrigar sepulcros judaicos que datam do século I d.C, o que, para alguns estudiosos, são boas evidências arqueológicas que podem dar sustentação ao fato de que Jesus foi enterrado ali.
Por outro lado, a geografia do local não é muito coincidente com a da narrativa encontrada no evangelho atribuído a João. Entretanto, a Igreja do Santo Sepulcro recebe milhões de cristãos, incluindo doentes de vária ordem que para lá se dirigem na esperança de serem beneficiados de alguma forma. Ela foi dividida entre cristãos católicos romanos, sírios, gregos ortodoxos, etíopes e armênios.
Sobre a referida pedra que foi usada para a limpeza e preparação do corpo de Jesus, pessoas do mundo inteiro se curvam sobre ela para beijá-la, chorar, fazer orações, e esfregam fotos de pessoas doentes, enfim... Todas querem conseguir algo miraculoso através da fé, ou simplesmente desejam participar da terrível história da crucificação.
O outro lugar, conhecido como a tumba do jardim, é considerado como o sepulcro protestante de Jesus. Estive também neste agradável lugar, e após ter feito algumas entrevistas com administradores do local, deu para perceber que nem eles estão convictos de que aquele elevado rochoso teria abrigado o corpo de Jesus. O local é inspirador, e o silêncio, ao contrário da perturbação do Santo Sepulcro, motiva o recolhimento e a oração.
Geograficamente, trata-se de uma colina facilmente encontrada a 260m, saindo de Jerusalém pelo portão de Damasco, e está a uma altura de 15m, apresentando buracos nas rochas que trazem características semelhantes as de um crânio. Além disso, apresenta um jardim ao lado dos sepulcros, o que o torna muito parecido com o que é descrito no evangelho de João. O grupo do general britânico, Gordon, que descobriu o lugar, chegou a conclusão de que ali era também um local muito usado para apedrejamento pelos judeus. Posteriormente, em escavações realizadas, encontraram restos de ossos humanos e também pregos romanos, indicando um possível lugar de crucificação durante o período da dominação na Judeia. A tumba do Jardim ou colina do Gólgota por ficar fora dos muros de Jerusalém, recebe mais um crédito para ser aceita como o lugar da sepultura, porém os defensores do sepulcro católico, alegam que apesar da atual Igreja do Santo Sepulcro situar-se dentro da cidade de Jerusalém, na época em que Jesus morreu, aquele sepulcro também ficava fora dos muros da cidade.
O fato do sepultamento ter sido feito fora dos muros de Jerusalém, reflete a tradição judaica que obrigava que aqueles que foram considerados marginais não maculassem o terreno sagrado da cidade. Eis o porquê dos grupos protestantes e católicos defenderem a tese de que ambos os sepulcros estavam fora dos muros da cidade santa.
Em 1980, outra sepultura foi descoberta no bairro de Talpiot, nos arredores de Jerusalém. Em 2006, os estudos arqueológicos em torno dos dez ossuários encontrados em Talpiot, revelaram que eles são realmente do século I, e as inscrições trazem os nomes de Mariamne Mara, que seria Maria Madalena, Miriam, a possível Maria, mãe de Jesus, Yehoshú'a bar Yussef, reconhecido como Jesus filho de José, e os nomes de Yehuda bar Yehoshú'a, ou seja, Judas, filho de Jesus e Matya, que foi traduzido como Mateus.
Apesar da empolgação do jornalista judeu, Simcha Jacobovici, que exige para si a descoberta do túmulo de Jesus, os arqueólogos e historiadores de Israel não aceitam estes túmulos como sendo o da família de José. Segundo eles, esses nomes eram comuns em Jerusalém e além do mais a família de Jesus era da Galileia e não há motivos para que suas catacumbas fossem encontradas na Judeia.
Em verdade, até agora não há provas definitivas acerca do corpo de Jesus. Seu sumiço continua fazendo parte de mais um mistério que envolve a sua história. O que temos são prováveis locais com suas respectivas evidências históricas, e que são relacionadas com as narrativas dos evangelhos.
Para os cristãos, ele ascendeu aos céus com corpo e tudo, o que explicaria o desaparecimento de seus restos mortais. Esta crença torna-se mais um problema na fé dos cristãos, pois caso o corpo de Jesus venha a ser encontrado, isto abalará profundamente o Cristianismo, pois ele foi estruturado na morte e na ressurreição de Cristo.
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