sábado, 29 de abril de 2017

DESCOBRIMENTO, ACHAMENTO OU CULPA DO LULA?


Nesse mês de abril, em comemoração aos 517 anos de chegada de Cabral ao Brasil, o Blog apresenta as três versões para o fato, até hoje, um dos mais polêmicos de nossa história.


Versão 01: Uma poderosa esquadra é enviada para a rota já conhecida do contorno da África em direção ao oriente. Além da tripulação envolvendo 13 navios, sendo um de apoio levando água e mantimentos, a expedição era composta por militares, comerciantes e padres para dar início ao ambicioso plano de estabelecer negócios e estruturar monopólio na região produtora das especiarias. Durante a viagem, para evitar área de calmarias, o comandante Pedro Álvares Cabral determina um desvio para o oeste e durante a operação é surpreendido por uma tempestade. Resultado – a enorme expedição chega por acaso ao Brasil em 22 de abril de 1500. Um descobrimento norteado por amplas coincidências felizes.

Essa é a versão oficial, reproduzida nos livros de história até metade do século passado.


Versão 02: Em um acordo assinado por Portugal e Espanha em 1494, ficou acertado que toda a terra que viesse a ser descoberta à leste de uma linha imaginária traçada a 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde, seriam de Portugal, independente de quem chegasse ali primeiro. Portanto, mesmo antes de Cabral, o Brasil já seria de Portugal. Acontece que um ano antes do Tratado de Tordesilhas, houve uma proposta para estabelecer a mesma linha imaginária a 100 léguas de Cabo Verde (Bula Intercoetera), coisa que Portugal não aceitou exigindo empurrar essa linha imaginária mais para o oeste. Havia, portanto, o receio que a Espanha se sentisse ludibriada e a descoberta de terras naquelas longitudes provocassem um conflito entre ambas as nações. Dessa forma, o descobrimento do Brasil sem querer foi uma fraude e o que houve foi um “achamento” meramente oficial de algo que Portugal já sabia existir.

Essa é a versão mais considerada atualmente, de acordo com os poucos documentos possíveis, como o Diário de Bordo da expedição e pela lógica.


Versão 03: Essa versão da direita enviada ao Congresso através de MP afirma que o fidalgo decadente, mas adorado pela classe média, Pedro Álvares Cabral teve seu sublime trabalho patriótico sabotado por marinheiros petralhas ligados à CUT, que organizaram uma greve ilegal durante a expedição para sabotar os desejos de estabelecimento de monopólios e imperialismos, coisa que, todos sabem, a esquerda é profundamente contra. Por isso, os navios deram uma guinada para a esquerda (do ponto de vista de quem está olhando o mapa de cima) chegando acidentalmente ao Brasil em 1500. Como é de hábito dos esquerdistas, estes iniciaram a organização sindical dos índios. Além disso um ancestral de Lula defendeu a delimitação das terras indígenas, o que atrasou o progresso, fazendo com que a colonização propriamente dita começasse apenas 30 anos depois, com a chegada do coxinha Martim Afonso de Sousa.

Essa é a versão da Globo, Fiesp e defensores dos bons costumes e do ódio às esquerdas.



E você, caro leitor, qual versão prefere?




Prof. Péricles



sexta-feira, 28 de abril de 2017

VOCÊ TAMBÉM ESCREVE A HISTÓRIA


A greve geral, deflagrada no dia de hoje, é legítima e justa.

Também pode-se dizer que é tardia.

Tanta água já passou por essa ponte sem nenhuma reação das forças progressistas que, tem-se a impressão que estavam reféns de alguma letargia provocada pela descrença em si mesma.

Patos amarelos da Fiesp, bonecos agressivos ao ex-presidente e a presidente, campanhas difamatórias e provocativas sem resposta à altura talvez se explique pela falta de jeito da esquerda em estar no poder.

A greve, sempre foi vista como um instrumento válido da classe trabalhadora manifestar sua inconformidade e apresentar suas reivindicações.

No Brasil e no mundo sempre foi temida pelas classes dirigentes, especialmente a do tipo “Greve Geral”.

Na França, Inglaterra, Alemanha, Rússia, já mudou a história política dessas nações e de seus povos.

No Brasil ela estava desaparecida desde a chegada do PT ao poder em 2003, e manteve-se desaparecida em todo o episódio golpista que depôs a presidenta Dilma Rousseff.

Sim, houve aqui e acolá algumas manifestações de rua, principalmente os que diziam que não haveria golpe e haveria luta, mas greve no sentido real da palavra não.

A de hoje nos traz algum alento.

Vale o “antes tarde do que nunca”.

Uma das coisas mais engraçadas de se ver ou melhor, ouvir, é a reação da imprensa conservadora.

Por uma questão de imagem eles são obrigados a reconhecer nos microfones a legitimidade da greve como um instrumento que faz parte do jogo democrático.

Mas, por outro lado, é evidente o ranço contra o movimento, tanto que a cobertura dos fatos se restringe aos problemas de circulação, ônibus parados, metrô, etc. destacando que muitos trabalhadores estão parados porque não puderam chegar ao trabalho.

É uma forma evidente de diminuir o fato político.

O foco só muda quando ocorre algum episódio de violência quando então a postura é mostrar o ato sempre como vandalismo dos manifestantes.

O direito de ir e vir é sempre destacado, como se nosso povo pobre pudesse mesmo ir e vir quando e onde quisesse. 

Na verdade,o direito de ir e vir explorado pela imprensa está ligado à obrigação do trabalho e da produtividade. Não é, verdadeiramente uma preocupação com um direito democrático.

Mas e quanto à violência?

Óbvio que toda violência é lamentável, mas, é inegável que é uma ´possibilidade que o trabalhador e manifestante devem entender como possível.

Quem só participa de um movimento paradista se tiver garantias de que não haverá violência não entendeu direito do que está fazendo parte.

A violência policial no brasil é bem conhecida, e ânimos exaltados de quem luta por seus direitos algo que pode ser considerado normal.

A greve é bem-vinda, e você que participou dela entenda que isso também é participar da história. Sua consciência deve estar em paz com suas obrigações de cidadania e com o que poderá dizer aos netos um dia.

Espera-se que os congressistas sejam sensíveis às manifestações e cumpram seu papel de representantes da vontade do povo quando votarem os projetos polêmicos que ameaçam direitos conquistados e garantias do povo brasileiro.





Prof. Péricles

sábado, 22 de abril de 2017

EVOÉ DIONÍSIO


Nesses tempos vividos, tempos de surpresas e decepções, me pego às vezes pensando que a vilania e a mentira podem mais que as verdades.


E quando o desânimo estampa sua cara feia sobre as mais belas esperanças pareço ouvir a voz de Zeus gritando a Dionísio “Evoé, coragem meu filho”.


Dionísio era uma divindade que tinha tudo para ser rebelde e belicosa.


Sua mãe, a mortal Sêmele, morreu incinerada quando estava no sexto mês de gravidez e ele só não sucumbiu também porque seu pai, Zeus, terminou a gestação colocando as cinzas do feto na própria perna divina.


Passou toda a infância vivendo como um louco, errante, perseguido pelo ciúme diabólico de Hera, a terrível mulher de Zeus.


Mesmo quando recuperou a lucidez, já adulto, Dionísio continuou perseguido por inimigos declarados e secretos, mas venceu a todos usando a música e a alegria em vez das armas do ódio.

Dionísio descobriu como extrair o vinho da uva, foi o deus dos ébrios e dos ensandecidos. 


Sempre esteve ligado aos excessos, especialmente os excessos da paixão humana pelo sexo e pela bebida.


Um bebum divino.


Entre os romanos era conhecido como Baco e os bacanais, festas regadas a muito vinho e muito sexo eram inspiradas por ele e realizadas em sua homenagem.


Nesses tempos confusos em que pobres manifestam um conservadorismo capaz de fazer corar até os mais abastados do país, talvez, apenas Dionísio para nos fazer reagir com a paz ao incompreensível.

A doce loucura dos incompreendidos e dos que dançam músicas mudas aos ouvidos deve ser a trilha sonora desse drama vergonhoso em que o país está sendo loteado em fatias e vendido diante da pasmaceira geral de seu povo.

Quando não se vê um só dos milhões de beneficiados pelos programas sociais rugindo revoltas contra o fim desses mesmos programas, só com muita loucura permissiva e embriaguez para não ficar realmente louco.


Apenas Dionísio é capaz de compreender a embriaguez do intelecto e a vitória da insensatez.


Evoé Dionísio. 


Que os tambores falem mais alto do que as calúnias.



Prof. Péricles

quinta-feira, 20 de abril de 2017

O FIM DE UM CASAMENTO DE CONVENIÊNCIA



Londres iniciou no dia 05 desse mês o processo de ruptura com a União Europeia que colocará fim a mais de quatro décadas de um casamento dominado pelas questões econômicas.

"Desde 1973, foi uma relação utilitarista com o foco voltado para a dimensão econômica", disse Pauline Schnapper, professora de estudos da civilização britânica na Universidade de Sorbonne de Paris. "A dimensão sentimental foi quase inexistente", acrescentou, em declarações à AFP.

"Foi uma relação transacional", estimou, na mesma linha, Anand Menon, professor britânico de política europeia do King's College de Londres. "Consequentemente, o divórcio é bastante lógico".

O Reino Unido não quis se somar inicialmente ao projeto europeu, concebido após a Segunda Guerra Mundial em um espírito de reconciliação.

"Não nos sentíamos vulneráveis o bastante para nos somarmos", resumiu Menon. No fim, os britânicos ganharam a guerra, e se sentiam fortes com sua relação especial com os Estados Unidos e com o que restava de seu império.

Isso não significa que se opusessem ao projeto, lembrou John Springford, diretor de pesquisas do Centro para a Reforma Europeia, de Londres. Como prova disso há o discurso que Winston Churchill pronunciou em 1946, em Zurique, convocando a criação dos "Estados Unidos da Europa".

No início de 1960, a situação mudou: o crescimento econômico britânico estava abaixo do registrado por seus vizinhos franceses e alemães e o mercado comum se tornou mais atrativo.

Mas a adesão do Reino Unido não foi fácil. Sua primeira candidatura, em 1961, se deparou com o veto do presidente francês Charles de Gaulle, que via nos britânicos um Cavalo de Troia americano e questionava seu espírito europeu.

Depois de outro veto de De Gaulle, em 1967, o Reino Unido finalmente entrou na Comunidade Econômica Europeia em 1973. No entanto, a entrada coincidiu com o impacto da primeira crise do petróleo, e o impulso econômico esperado não ocorreu.

Em 1975, apenas dois anos depois de sua entrada, os britânicos celebraram o primeiro referendo sobre a Comunidade Econômica Europeia, no qual a permanência se impôs com um apoio de 67%.

Este resultado não acabou com as reticências, e é difícil lembrar algum político britânico que tenha defendido entusiasticamente os benefícios da adesão, além, talvez, de Tony Blair.

"Entrar tarde reforçou a sensação de mal-estar (...) de que havíamos nos unido a um clube moldado por outros", explicou Menon.

A primeira crise não demorou a aparecer. Em 1979, Londres se negou a participar do sistema monetário europeu em nome da soberania nacional e monetária.

E também se opôs a qualquer iniciativa para fortalecer a integração política, reforçando a impressão de que Londres tinha um pé dentro e um pé fora. Em 1985, também se negou a participar de Schengen – desaparecimento dos controles fronteiriços – e em 1993 do euro.

As reticências se cristalizaram no discurso de Margaret Thatcher de 1988 no qual ela rejeitou a ideia "de um superestado europeu".

Quatro anos antes, a líder conservadora havia obtido finalmente uma diminuição da contribuição britânica ao orçamento da UE ao famoso grito de "Devolvam meu dinheiro".

A desconfiança em relação a Bruxelas se acentuou em meados dos anos 90, com a criação do Ukip, o Partido para a Independência do Reino Unido, que defendia a saída da UE.

Seu êxito eleitoral, particularmente nas eleições europeias de 2014, levou o Partido Conservador, que já tinha seu próprio setor eurocético, a endurecer seu discurso.

A crise na Eurozona e a imigração europeia – que contribuiu para o crescimento do Reino Unido, lembrou Schnapper – radicalizaram o debate, levando o primeiro-ministro, David Cameron, a convocar o referendo de 23 de junho de 2016 que colocou o último prego no caixão de uma relação de conveniência.



Por Ouerdya Ait Abdelmalek


terça-feira, 18 de abril de 2017

NOTÍCIAS DE FIM DE SEMANA


Confesso que estou bastante confuso.

Dizem que os Estados Unidos detonaram no Afeganistão a “mãe de todas as bombas”, mas, bomba tem mãe? Deve ser uma peste intragável.

Além disso, todo mundo sabe que a mãe de todas as bombas é atuante no Brasil. Isso mesmo, made in Brasil, nada de Estados Unidos.

A MOAB dos americanos pode até arrasar alguns quarteirões, mas a nossa “Terceirização do Trabalho” arrasa é vidas e para sempre.

Se a bomba americana significa o fim do sossego do Estado islâmico, a Terceirização será o fim dos direitos dos trabalhadores brasileiros, duramente conquistados, sob sangue suor e lágrimas de muitos outros brasileiros.

Os americanos alegam que pouparam o mundo da explosão de uma bomba nuclear e por isso a Mãe de todas as bombas até representa boa vontade da parte deles.

Acredito, mas, por outro lado, aqui também está se evitando detonar a bomba máxima que é o fim da aposentadoria.

Se uma bomba atômica yanke pode representar a volta para os tempos das cavernas aqui a reforma da previdência pode significar a volta para a senzala de milhões de brasileiros.

O brasileiro mais consciente deve estar se sentindo como um passageiro de avião que está sendo derrubado deliberadamente por outros passageiros. Eles vão se espatifar e se dar mal, mas, caramba, todos que estão lá dentro também.

Isso tudo é uma grande loucura. Devo estar bebendo demais e tendo pesadelos.

Daqui a pouco o relógio vai berrar e eu vou despertar num Brasil governado pela Dilma. Um país referência internacional e respeitado por todos.

O golpe, o fim dos direitos e da dignidade foi só um sonho ruim.

Existem coisas que nos fazem sentir menores, ou menos humanos.

Nesse sábado (15/04), milhares de pessoas, homens, mulheres e crianças, acotovelavam-se numa área próxima de Aleppo, a segunda maior cidade da Síria. Elas esperavam o cumprimento de um acordo entre rebeldes e governo que, prometia retira-las da zona de conflito, levando-as para uma área mais distante e segura.

No meio da tarde um ônibus chegou ao local e estacionou próximo a um grupo maior de crianças, que, como é comum entre as crianças, estavam juntas ensaiando brincadeiras.

O ônibus, atraiu a atenção ainda mais quando comida, é, comida passou a ser vista pelas janelas atraindo os famintos como só os famintos conseguem entender.

Por volta das 15:30 hs. do horário local, quando já era grande o círculo de curiosos olhando para o interior do veículo, ele explodiu.

Após o barulho medonho, era possível ver um rastro de sangue e de corpos disformes.

A explosão matou pelo menos 126 pessoas, sendo, no mínimo, 68 crianças, segundo a correspondente da BBC no Oriente Médio.

Para a estatística do horror, são apenas mais alguns números. Parece que o mundo embruteceu de tal forma que não há mais sensibilidade em relação a essa gente massacrada por uma guerra que, antes mesmo de começar, já prometia ser cruel e prolongada.

Atrair crianças famintas com comida para depois mata-las em quantidade...

Coisas assim nos fazem sentir vergonha de ser humano.

Você não acha?



Prof. Péricles

domingo, 16 de abril de 2017

ENTRE GOLPES E VOTOS

A última semana foi turbulenta para a política sul-americana. Num curto espaço de três dias assistimos manifestantes atearem fogo contra o Congresso paraguaio, o Congresso ser fechado na Venezuela e a oposição, derrotada no Equador, exigir recontagem de votos com a abertura de um terceiro turno eleitoral. 

Infelizmente, esses não são casos isolados na América Latina, não são raios em dia de céu azul.

A mais recente onda de intervenções contra a soberania eleitoral na América Latina teve seu início em Honduras em 2009. Na ocasião, setores militares aliados ao poder judiciário não apenas destituíram o presidente legitimamente eleito do país, Manuel Zelaya. Como também o expulsaram do país. A Assembléia Geral das Nações Unidas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Organização dos Estados Americanos foram algumas das organizações internacionais que condenaram o golpe no país.

Em 2012 foi a vez do Paraguai passar por adversidades contra sua soberania eleitoral. Em um processo de impeachment que durou pouco mais de 24 horas. O presidente legítimo do país, Fernando Lugo, foi destituído.

O golpe foi considerado uma manobra de seu vice-presidente, Federico Franco, do Partido Liberal, que assumiu o país após a queda de Lugo, com apoio do conservador Partido Colorado. No caso paraguaio, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o Mercosul e a Unasul condenaram a destituição de Lugo como ato arbitrário que não seguiu o devido processo legal e o amplo direito de defesa.

No Brasil, foi em 2016 que a soberania eleitoral foi desrespeitada com o impeachment considerado ilegal de Dilma Rousseff. 

Assim como no Paraguai, também no Brasil a conspiração contra a presidenta legitimamente eleita partiu de uma aliança entre o principal partido de oposição, o PSDB, e o vice-presidente da república, Michel Temer.

A queda de Dilma teve início em 2014 quando o candidato presidencial do PSDB que foi derrotado, Aécio Neves, deu início a um terceiro turno eleitoral ao não reconhecer o resultado da eleição. No ano seguinte, o PSDB conseguiu o apoio do PMDB, partido do vice-presidente da república, para pedir a saída de Dilma. Em 2016 alcançaram seu objetivo, que foi considerado ilegal pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos.

Na Venezuela, país que há algum tempo vive uma instabilidade política e institucional, os três poderes não se entendem. 

O Judiciário exige que o Congresso não dê posse a alguns deputados. Mas o Congresso não respeita a decisão do Judiciário. Na queda de braço entre poderes, na última quarta-feira, falou mais alto o Judiciário, aliado ao poder Executivo de Nicolas Maduro. Como consequência, o Congresso foi fechado. Independentemente de quem esteja certo, o fato é que, na briga entre os poderes, quem perdeu foi a soberania eleitoral.

No Paraguai, a confusão foi tão séria quanto na Venezuela. O Partido Colorado, do atual presidente Horacio Cartes, costurou uma aliança com a Frente Guasu, do ex-presidente Fernando Lugo, para aprovar uma emenda constitucional que permita a reeleição no país. Por óbvio, a medida interessa tanto para Lugo quanto para Cartes. Quem não gostou foi o Partido Liberal do candidato de centro-direita, Efraín Alegre.

Mas a insatisfação não ficou apenas nos debates do parlamento. Militantes de seu partido simplesmente invadiram e atearam fogo ao Congresso em um completo desrespeito ao poder legislativo. Para piorar a situação, durante a confusão a polícia assassinou a principal liderança da juventude do Partido Liberal. O clima, portanto, não está nada tranquilo no país.

Já no Equador, o candidato do atual presidente Rafael Correa, Lenin Moreno, da Aliança País, venceu a eleição presidencial no último domingo contra o banqueiro Guillermo Lasso. Mas, assim como ocorreu no Brasil em 2014, o candidato derrotado exigiu a recontagem dos votos, dando início a um terceiro turno eleitoral no país.

Ainda que a recontagem mantenha Moreno como presidente do país, o fato é que há um clima pesado de polarização política no Equador, não apenas por Moreno ter vencido por uma margem apertada de 51% dos votos, mas também por sua base de apoio legislativo ter sido reduzida consideravelmente. Se Corrêa contava com 100 votos no Congresso contra 37 da oposição, agora Moreno terá somente 74 deputados contra 63 da oposição.

A próxima batalha eleitoral na América Latina será em Honduras, em novembro, onde Xiomara Castro, esposa do ex-presidente Manuel Zelaya, será candidata contra aqueles que lhe usurparam o poder.

Que o eleitorado tenha liberdade para eleger seus representantes e que estes permaneçam no cargo até que novas eleições ocorram é o mínimo que se espera de uma democracia liberal. Infelizmente, grandes interesses econômicos parecem não concordar com esse princípio na América Latina. Uma pena.



Por Theófilo Rodrigues, professor substituto do Departamento de Ciência Política da UFRJ, Mestre em ciência política pela UFF e doutor em ciências sociais pela PUC-Rio.