sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FRASES DE UM ANO AMARGO - 02


Por Ayrton Centeno, Jornalista



Completamos agora, a coleção de frases que o jornalista nos apresenta como as de maior destaque do terrível ano de 2016.


16) “Não temos justiça, temos Gilmar Mendes, Celso de Mello e coisas assim.” (Jornalista Mino Carta, descrevendo o Judiciário no Brasil)



17) "Estamos em tempos excepcionais”. (Juiz Sérgio Moro, procurando justificar o excesso de prisões na Lava-Jato)



18) “Eu estou protegendo você, seu filho da puta!” (Ciro Gomes advertindo integrante de grupo que fazia alarido pedindo o golpe. Referia-se ao fato de que se sabe como começa um golpe mas não como e quando ele termina)



19) “Globo é a praga principal do Brasil". (Jornalista norte-americano Glenn Greenwald, vencedor do Prêmio Pulitzer, no twitter)



20) “É um bufão reacionário contra o direito do trabalho, um escravocrata”. (Ex-ministro Miguel Rossetto sobre Gilmar Mendes, depois que o ministro do STF criticou a “hiperproteção do trabalhador” no Brasil e acusou o Tribunal Superior do Trabalho (TST) de “má vontade” com o patronato)



21) “O PSDB é a UDN atual. (...). É um partido elitista, dependente e colonialista”. (Fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, Luis Carlos Bresser Pereira)



22) “Querem me excluir do PMDB porque não sou ladrão”. (Senador Roberto Requião, do PMDB, no twitter)



23) “Deve-se aos grupos de mídia não apenas a deposição de uma presidente eleita, como o agravamento inédito da crise, a apologia do ódio e a subversão das notícias”. (Jornalista Luis Nassif)



24) “Ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável”. (Presidente do Senado, Renan Calheiros, falando sobre Dilma em conversa gravada com Sérgio Machado)



25) “É um governo reacionário, retrógrado e gagá”. (Ex-ministro de FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, discorrendo sobre a gestão Temer)



26) “Hitler massacrou três milhões de judeus. Agora há aqui três milhões de viciados. Eu gostaria de massacrá-los todos”. (Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, o mesmo que chamou Obama e o Papa Francisco de “filhos da puta”)



27) "Nós precisamos do aquecimento global!" (Donald Trump, presidente eleito dos EUA, argumentando que o conceito de aquecimento global foi criado “por e para os chineses” para que a indústria manufatureira americana não seja competitiva)



28) “Quem não tem (dinheiro) não faz universidade”. (Nelson Marquezelli, deputado do PTB, defendendo a “PEC da Morte” e seus cortes na educação. Seus filhos, como acrescentou, vão fazer universidade porque podem pagá-la).



29) “Vocês estão aqui representando o Estado, e eu convido vocês a olhar a mão de vocês. A mão de vocês está suja com o sangue de Lucas. Não só do Lucas como de todos os adolescentes que são vítimas disso”. (Estudante Ana Júlia Ribeiro, 15 anos, discursando na Assembléia Legislativa/PR defendendo as ocupações de escolas e acusando os deputados pela morte de um colega e pela tragédia da educação brasileira).



30) “São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam". (Papa Francisco)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O LODO, O POVO E A RUA



Por Saul Leblon


No Brasil dos anos 80, como agora depois do golpe, a discussão sobre o país e o seu desenvolvimento estava interditada.

A crise da dívida externa reprimia o debate nacional, servindo de escudo ao monólogo midiático que invocava o arrocho como fatalidade.

O Brasil era uma conta que não fechava.

Entre a ditadura agonizante e a ganância dos credores - que queriam raspar o tacho antes de entregar a rapadura - a economia esfarelava.

Soa familiar?

Embora os termos da equação sejam distintos, o jogral de hoje é semelhante, com consequências correlatas.

O dinheiro organizado ordena a danação.

Um sinônimo para dinheiro organizado é banco. Ou pátria rentista.

Ramificações locais e planetária decorrentes da supremacia que a riqueza financeira exerce no nosso tempo, dão a ela o poder inexcedível de coagir e chantagear.

Nos anos 80, era preciso espremer a nação para pagar os credores.

A referência era o FMI e suas cartas de intenção.

A PEC 55 é a carta de intenção dos dias que correm.

Nela se detalha a determinação de pagar os rentistas da dívida pública às custas do resto da nação.

Institutos de pesquisas, universidades, jornalistas e partidos adestrados nessa missão cuidavam lá, como cuidam agora, de reproduzir diariamente a sentença que reduzia todas as demais prioridades de um Estado ao valor zero.

Exceto uma: garantir os juros aos bancos e credores.

Um sistema político esgotado acoplado a uma bomba de sucção financeira implacável garroteava o pescoço brasileiro.

Dessa mistura ácida nasceu a ‘década perdida’ que engordou credores e murchou a sociedade, tornando-o ainda mais desigual para sua gente.

O golpe promete ir além.

O que se anuncia agora é a necessidade de duas décadas perdidas.

O prazo foi inscrito na PEC 55 para debulhar a Carta Cidadã, atropelar o pacto social de 1988, triturar a CLT, extirpar direitos e conquistas como estorvo e assegurar a salvaguarda dos mercados e rentistas.

Há uma diferença importante nas semelhanças da mecânica.

Nos anos 80 havia um encadeamento de rupturas internacionais que soprava na mesma direção do sufoco interno.

Foi preciso um gigantesco esforço de mobilização de rua para afrontar o duplo torniquete.

A soberania das nações e o Estado do Bem Estar Social perdiam espaço na vida dos povos.

Em 1978, Deng Xiaoping abriria a China à interação com o mercado capitalista.

Era uma ruptura geopolítica.

A gigantesca demografia chinesa que reúne 20% da humanidade credenciava-se como o principal polo de atração de capitais e compressão de custos trabalhistas e industriais em todo o planeta.

A guinada redefiniria a geografia das cadeias industriais, globalizando-as, bem como os fluxos do investimento, de tecnologia e do comércio mundial.

Quebrava-se o circuito que fazia da produção, do consumo, do emprego, dos preços, do lucro e dos salários uma equação pactuada e gerida no escopo da soberania nacional.

Um ano depois, em 1979, Margareth Thatcher adicionaria salmoura a esse lombo chicoteado.

Recém eleita, a ‘Dama de Ferro’ forjava seu epíteto em guerra implacável contra os sindicatos para consolidar o modelo do Estado mínimo neoliberal, com desregulação trabalhistas e financeira.

Do outro lado do Atlântico, Paul Volcker assumia a presidência do Fed , o BC dos EUA.

Em meses, enquanto Thatcher criava o manual anti-trabalhista e Deng inaugurava uma oficina de baixo custo, Volcker daria um cavalo de pau altista nas taxas de juros norte-americanas.

A espiral ascendente garantiria para os EUA a oceânica oferta de petrodólares acumulados pelo choques de 1973 e 79 e quebraria um a um os países endividados, entre eles o Brasil.

Em 1980, com a chegada de Reagan à Casa Branca, a geringonça neoliberal reforçou a fuselagem e decolou para rapinar e mastigar a ordem velha ao seu redor.

Desprovido de um arcabouço político para resistir, o Brasil foi atropelado e pisoteado.

Entre os anos 70 e 90, o país desembolsou cerca de US$ 280 bilhões em juros e amortizações aos credores externos.

Pior, nos anos 90, sob o comando tucano, fez uma interpretação pueril da avalanche em marcha da globalização neoliberal.

Ancorado na teoria do ‘desenvolvimento dependente’, trazida pelo sociólogo ao poder, dobrou-se complacente às exigências do FMI.

Não renegociou com soberania o gargalo da dívida e ainda abdicou de proteger e renovar a industrialização brasileira.

O populismo do câmbio forte (paridade Real/dólar) permitia importar da oficina asiática a manufatura que aqui morria.

À corrosão financeira sobrepôs-se, assim, uma ferrugem estrutural até hoje não revertida, cuja devastação silenciosa na estrutura da sociedade explica, por exemplo, o fenômeno Trump nos EUA e a ressurgência da ultra direita na Europa.

Desindustrialização é também desinvestimento, desemprego, declínio de polo irradiador de produtividade e inovação, míngua de excedente econômico para expandir infraestrutura, direitos sociais e cidadania.

O martírio imposto agora ao país em nome do ajuste fiscal reproduz em outra chave a mesma lógica dos anos 80, ordenada por interesses correlatos, com um upgrade de sucateamento industrial que pode selar o obsoletismo nacional nesse esfera.

A revogação do conteúdo nacional no pré-sal, com a renúncia ao derradeiro impulso tecnológico capaz de engatar a economia à quarta revolução industrial (a da precisão e integração digital de cadeias e processos ) desenha esse crepúsculo sem volta.

Uma dissonância importante ocorre agora no plano externo.

Como nos anos 80, assiste-se também a uma ruptura no horizonte internacional, mas com sinal invertido, o que expõe a natureza anacrônica da restauração neoliberal brasileira.

Trump não é um Roosevelt de topete.

Mas tudo o que ele simboliza, atrai e ameaça desenha uma rota de colisão com a restauração neoliberal tardia abraçada pelo golpe.

Trump é a resposta do extremismo conservador ao esgotamento do establishment neoliberal, em meio ao vácuo de alternativas num campo progressista colonizado pela religião dos livres mercados.

O anseio por igualdade, emprego, futuro, direitos, segurança, identidade é um enredo à procura de um projeto .

Trump ocupa o nada entre o velho e o novo. Seu protecionismo (quer taxar em 45% a manufatura chinesa), a promessa de investir US$ 1 trilhão em obras --e a consequente alta dos juros que isso encerra, estraçalham a ilusão golpista de reditar , em uma encruzilhada de mecânica parecida com a dos 80, mas de natureza distinta, a panaceia privatizante e dependente dos 90.

O risco de se insistir no mesmo projeto em uma ordem global de natureza distinta adverte também o campo progressista.

Amortecido na última década pelo superciclo de commodities e juros baixos, o conflito social reemerge agora enrijecido, em uma disputa ainda mais politizada, com uma direita ascendente, pelo comando do desenvolvimento e a destinação dos recursos fiscais.

A luta pelas Diretas e pela Constituinte nos anos 80 logrou à sociedade brasileira um espaço de legitimidade para crescer e expandir direitos, a contrapelo da ascensão neoliberal, que estendeu seu fôlego até quase o final do ciclo de governos do PT –com um saldo de ganhos e perdas sabido.

Ir para a rua hoje, ocupar praças, escolas, locais de trabalho tem a mesma importância que a luta pelas Diretas e pela Carta Cidadã teve em 1984 e 1988.

Trata-se de quebrar a rigidez das circunstâncias econômicas com o peso dos interesses históricos da maioria da população.

A ferramenta organizativa capaz de fazer isso hoje no Brasil chama-se frente ampla.

A rua é o seu canteiro de obras. É nela que o lodo golpista pode ser drenado para dar passagem a um novo ciclo de desenvolvimento.







segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

OS DONOS DA MORAL


A moral é mutável e temporal.

Muita coisa que hoje é imoral um dia já foi moralmente correto, e vice e versa.

O que direciona esse frágil conceito de moral é, basicamente, a economia e não, como imagina a maioria, a religião.

Aquilo que se considera a moral imutável e perfeita, na verdade é apenas o espelho de seu tempo, de sua economia e das relações sociais.

É assim que o casamento sem compromissos legais que, considerado correto nas sociedades helênicas, tornou-se uma imoralidade nas sociedades cristãs já que, a hereditariedade dos bens, nas sociedades cristãs fortaleceu a própria dominação do privado em relação ao coletivo.

Mais ou menos como a homossexualidade que, na antiguidade clássica era aceitável e até estimulada, tornou-se pecado mortal nas sociedades judaicas-cristãs.

Por ser temporal a moral também possui características geográficas, isso é, dentro do mesmo tempo, em lugares diferentes, os conceitos do que seja ou não moral podem variar radicalmente.

O aborto, a pena de morte e a eutanásia, atualmente considerados crimes em alguns lugares são legalmente permitidos em outros.

Diante desse rápido raciocínio, e sem maiores aprofundamentos, salta aos olhos uma realidade prática: o que é ou não moral é extremamente relativo e subjetivo.

Entretanto existem pessoas que se consideram luminares da moralidade.

Essas pessoas não aceitam de forma lógica a possibilidade de enxergar questões polêmicas um pouco além das suas próprias convicções.

Se o problema fosse apenas esse não haveria maiores danos pois tratar-se-ia apenas de questões pessoais, de dificuldade de alguns para aceitar o contraditório e a opinião alheia, mas a questão é muito mais grave que isso.

Na verdade, pessoas assim acabam provocando e alimentando prejuízos sociais muito maiores ao se arvorarem donos da moral (e dos bons costumes), senhores da verdade e bastiões do comportamento alheio.

São os reacionários que se julgam vigilantes do que seja correto.

Fazem oposição irracional ao que seja oposto às suas próprias ideias, adulam conceitos que discriminam e, acabam tornando-se agentes do ódio e da intolerância.

Os donos da verdade e da moral tornam-se carrascos insensíveis daqueles que não vivem ou enxergam a vida como eles mesmos enxergam.

Foram essas pessoas que ainda ontem isolavam leprosos em verdadeiros infernos de horror condenando os enfermos à morte pela solidão.

Foram pessoas assim que jogaram gays, lésbicas e deficientes físicos nos campos de concentração nazistas.

Déspotas do comportamento dos outros, são esses os críticos dos muçulmanos que apedrejam as mulheres do islã, mas que, há pouco tempo aplaudiam a morte pela fogueira da Inquisição das mulheres do mundo cristão.

Carimbadores de rótulos, censores das mães solteiras e das “mulheres sem marido”.

Os donos da verdade e da moral se acreditam vetores da vontade divina e isso amplia o rastro de ódio por onde passam porque juntam fanatismo ao conservadorismo.

Dedo em riste são ávidos em condenar sem olhar para si mesmos. Muitos apedrejam prostitutas, as mesmas que buscam avidamente no anonimato da noite. Ou que instigam seus filhos a “comerem todas” mas querem matar a tiros os namorados cabeludos que consideram indignos de suas filhas.

Não é de se admirar, portanto, que as marchas da “Família com deus pela Liberdade” estejam de volta às ruas brasileiras, se bem que, na verdade, jamais tenham se afastado delas.

Nem que um golpe de corruptos tenha tido sucesso em derrubar uma presidente honesta que representava trabalhadores, que Trump seja eleito e que o Brasil tenha se transformado numa fauna de patinhos de borracha e batidas insanas de panelas.

Ou que hajam eleitores de representantes da intransigência no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos.

Isso é uma velha e conhecida história que apenas se repete e perpetua.

E dessa forma, mais uma vez se evidencia que, aos defensores de valores humanistas como a liberdade e a tolerância, reste como única opção a união em defesa desses valores que são universais e não esmaecem com o tempo nem se alteram pela geografia.

Ao contrário dos que buscam tolher o comportamento, os que prezam a democracia, a inclusão e o direito à diferença praticam a solidariedade e o perdão, lições que os mestres do amor jamais cansaram de ensinar.

Contra os donos da moral, os conservadores e reacionários as mais poderosas armas serão sempre a educação, o exemplo, a força do voto e a razão.

E, se parar para pensar, talvez se conclua que a única coisa realmente imoral, seja a arrogância dos hipócritas.




Prof. Péricles

sábado, 3 de dezembro de 2016

FRASES DE UM ANO AMARGO - 01

Por Ayrton Centeno


O jornalista destaca as 30 frases mais significativas de 2016 e o Blog as reproduz aqui em duas partes. Como toda lista sempre há espaço para polêmicas e o leitor poderá usa-la como inspiração para a sua própria lista.

O que não falta é material, num ano em que se disse tanta estupidez e talvez, só a ironia para salvar nossa saúde mental.

1) “Nunca vi um Supremo tão merda”. (Ex-senador do PSDB, Sérgio Machado, em conversa gravada com o então ministro Romero Jucá)

2) “Com uma base militar na Venezuela, Putin estará a um passo de atacar o Brasil. Estão rindo? Pois eu estou falando sério” (Advogada Janaína Paschoal, autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff no twitter, prevendo um ataque russo. Antes pediu a Temer para “libertar a Venezuela de Maduro”)

3) “Eu nunca cuidei dos pobres. Eu não sou São Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que eu tentei carregar um pobre no meu carro eu vomitei por causa do cheiro”. (Rafael Greca, do PMN, candidato eleito prefeito de Curitiba, num momento Justo Veríssimo)

4) “Muito obrigado, Presidente! Eu quero visitá-lo logo na Argentina”. (Temer falando com um hermano radialista pensando que era o presidente Maurício Macri)

5) “Gostosa”. (Ministro Geddel Vieira Lima respondendo à pergunta no twitter sobre qual era a sensação de assumir o poder sem voto popular)

6) "Tenho muita alegria de ser golpista ao lado de ministros como Carmen Lucia, como Antonio Dias Toffoli, e todos aqueles que declararam que o impeachment é constitucional". (Senadora Ana Amélia, do PP gaúcho considerando que estaria blindada ao invocar o STF mas sem saber que a corte referendou o golpe de 1964)

7) “Será que o jornal americano também está na folha dos companheiros?” (Colunista de Época, Guilherme Fiúza, desconfiando que The New York Times, que denunciou o golpe no Brasil, fora comprado pelo PT)

8) “O dever das pessoas de bem é boicotar Aquarius”. (Blogueiro de Veja, Reinaldo Azevedo, atacando o filme brasileiro cujo elenco denunciou o golpe em Cannes. Sua frase foi usada pelo diretor Kléber Mendonça justamente para promover Aquarius)

9) "Meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão". (Deputada Raquel Muniz, do PSD, ao votar pelo impeachment de Dilma, elogiando o marido prefeito no interior mineiro. No dia seguinte, o marido foi preso sob acusação de corrupção)

10) “Para mim, que gente assim sejam as próximas vítimas, que sejam eles a sangrar e deixar suas famílias enterradas”. (Radialista Alexandre Fetter, da rádio Atlântida, do grupo RBS, sugerindo que, por criticarem abusos policiais, jornalistas ou formadores de opinião e seus familiares deveriam ser alvos dos criminosos)

11) “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”. (Novamente Sérgio Machado conversando com Jucá sobre os políticos com o rabo preso na Operação Lava-Jato)

12) “Os caras (ministros do Supremo) dizem 'ó, só tem condições de sem ela (Dilma). Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca”. (Romero Jucá na mesma conversa sobre tirar Dilma para travar a Lava-Jato)

13) “Essa porra desse governo nem começou, não sabe se comunicar e já faz a reforma sem consultar ninguém”. (Apresentador Faustão, da Globo, criticando o governo que sua emissora – e ele próprio – ajudaram a inventar)

14) “Tinham prova, pegaram o avião, viram a cocaína, mas não tinham convicção, aí liberaram”. (Lula, cutucando o MPF e a PF ao trazer à cena o estranhíssimo caso do helicóptero da família do senador Zezé Perrela (PTB/MG), apreendido com meia tonelada de pasta de cocaína. Os donos saíram ilesos do flagrante...)

15) “Não houve massacre. Houve legítima defesa”. (Desembargador Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça paulista, ao pedir, como relator, a absolvição dos 73 policiais responsáveis pelo massacre do Carandiru, em São Paulo. Na chacina, morreram 111 presos, dos quais 90,4% com tiros na cabeça e pescoço, indício clássico de execução).



Ayrton Centeno, Jornalista



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

NINFAS, SONHOS E DESÂNIMOS



Tentando fugir dessa panela de pressão em que se transformou o Brasil, com golpes e golpistas, provocações fascistas e pedidos de retorno da Ditadura Militar, ele foi procurar sossego numa área verdejante na periferia de cidade.


Sentado num toco de árvore, jogando pedrinhas nas águas do rio, dele se aproximou, de repente, uma ninfa.


Ninfas para os gregos antigos, eram espécies de espíritos da natureza. Seres que habitavam florestas e campos, montes e vales, costas marinhas e rios, enfim, preenchiam os espaços naturais.


Nada de ter medo que as ninfas eram de boas... normalmente.


Aliás uma das traduções da palavra “ninfa” era noiva e isso, tanto pode acalmar os ânimos como trazer desespero.


A ninfa que surgiu em sua frente era uma Dríade, espírito que habita as florestas.


Chegou fumando uma erva estranha e gingando as cadeiras cheia de male molejo.


Trajava apenas uns trapos de seda que mal cobriam seu corpo escultural.


Como todo homem decidido e guapo, ele ficou parado de boca aberta e pensando em sexo...


Abrindo seus lábios tentadores e rubizados ela disse “que houve, está fugindo da bronca? ”


Bronca? Balbuciou abobalhado...


Sim, do “Fora Temer”, da PEC 241 ou 55, dos juízes parciais e suas equipes amestradas?


Por alguns instantes os pensamentos sobre sexo esvaneceram e ele tomado de repentina melancolia respondeu: “pois é... as vezes dá vontade de fugir”.


A Dríade franziu o cenho e colocando um dedo a frente dos lábios murmurou “na na ni na não... nada disso, o desânimo é para os fracos, a luta continua companheiro”.


O pobre já estava pronto para replicar quando materializa-se diante dele, um novo vulto, uma Náiade, ninfa das águas doces.


Deixe o pobre homem em paz sua Dríade provocadora, falou a recém-chegada. Não vê que ele está mais pra urubu do que pra louro?


E as duas, começaram uma discussão que encheu a floresta de gritos estridentes e xingamentos.


Ninfas são assim, competitivas e ciumentas.


Algum tempo depois as duas lembraram do homem que as olhava, ainda sentado no toco da árvore com uma cara de “dãããããã”... e aproveitando o súbito silêncio ele perguntou “e sexo não rola”.


- Não disse a dupla em uníssono. Só depois que o Temer cair... trate de participar do bom combate.


E sumiram tão misteriosamente como apareceram deixando no ar o cheiro de erva estranha.


E o pobre homem ficou lá pensando que já não existem ninfas como antigamente, se valia à pena antecipar o pagamento de IPTU e que não é bom comer demais à noite para não sonhar com ninfas, sexo e “fora Temer”.



Prof. Péricles





segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O HOMEM QUE VOTOU NO TRUMP



Por João Marcos Aurore Romão



Quem é este homem que votou no Donald Trump?


Sim eu o vejo na Rússia, na Hungria, na Alemanha, na Polônia, na Argentina, nos EUA, no Brasil, e para onde eu olhar, é um homem, em geral precarizado no mundo do trabalho, que perdeu todos os direitos que possuía ao perder o trabalho seguro que tinha.


Este homem que rumina toda tarde diante da televisão, com uma cerveja ao lado, destila no saco um ódio, a todos os vizinhos, mexicanos, muçulmanos, negros, estrangeiros, mulheres, gays, que ele imagina, terem ocupado o seu lugar e serem as causas de sua desgraça e perda, do poder que tinha em um mundo em ordem, num passado distante.


Este é o homem que sai nas ruas da Alemanha contra refugiados.


Este é o homem que na Rússia sai na rua para espancar gays.


Este é o homem que nos EUA destila o ódio contra todo o resto do mundo que não mais reconhece a sua supremacia imperial americana.


Este é o homem que aplaude os esquadrões da morte no Brasil e nas Filipinas.


Este homem frustrado e ressentido descobriu o voto.


Descobriu o mesmo voto que os lutadores pelos direitos civis descobriram na década de sessenta.


O voto agora mudou de mão.


O voto voltou de volta para as mãos dos homens, que tinham a supremacia da voz antes dos movimentos de libertações dos diferentes do mundo.


Me preparava para ir ver o mar.


No ponto de ônibus da minha esquina está impossível chegar.


O tiroteio discriminatório recomeçou.


Creio, que mesmo sem tiroteios, como um homem negro, também não sairia de casa hoje na Flórida, nem em um bairro pobre da Saxônia.


Este homem ressentido e cheio de ódio, acaba de ser fortalecido em cada esquina do mundo.


Os dois caveirões que vejo pela fresta de minha janela, só confirmam este poder da morte do vizinho, que acaba de ser elevado ao poder mundial.


Vale xingar a mãe e cuspir na cara.



João Marcos Aurore Romão, jornalista, sociólogo e ativista pela Anistia, pelos direitos humanos e do movimento negro década de 70. Coordenador da Rede Rádio Mamaterra Brasil Alemanha. Coordenador da iniciativa Sos Racismo Brasil.