segunda-feira, 10 de outubro de 2016
O PAÍS DO PASSADO
por Mino Carta
O governo acaba de lançar uma campanha publicitária à sombra do lema “Vamos tirar o Brasil do vermelho”. Campanha maciça e longa, para a alegria da mídia nativa.
O slogan seria da lavra do secretário-executivo dos Programas de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, e sutilmente teria duplo sentido: de um lado indicaria a determinação de executar um plano de ajuste fiscal feroz, do outro afirmaria o propósito de liquidar de vez a esquerda vermelha.
Lembrei-me do tempo em que se acreditava na presença, atrás de cada esquina, de devoradores de criancinhas.
Neste Brasil primário dos dias de hoje, pretensamente atuais e assim mesmo tão vetustos, multiplicam-se os cidadãos altamente habilitados a acreditar em lorotas, sobretudo entre os moradores dos chamados bairros nobres, que de nobre nada têm.
O resultado das eleições municipais prova, também e felizmente, a existência de alguns, honrosos núcleos de resistência aos vencedores do golpe mais reacionário da história do País.
Salta aos olhos, porém, a impossibilidade de maiores ameaças à tranquilidade da casa-grande, quando tantos, inúmeros, relegados à senzala votam no senhor da chibata...
No meu livro O Brasil, lançado em 2013, me ponho ousadamente a contar como o primogênito do senhor da casa-grande se torna herdeiro do pai conforme as leis medievais, enquanto o irmão rejeitado e revoltado, Caim da situação, passa a se dizer de esquerda, para arrepiar a família, amigos e apaniguados.
Falta-lhe a crença entre o fígado e a alma, falta-lhe, sobretudo, a convicção da urgência de acabar com a senzala.
No meu entendimento, é o que explica muito do fracasso da esquerda brasileira, sem contar o comportamento de alguns, saídos da senzala, e ainda assim dispostos a concessões e compromissos, quando não candidatos e inquilinos da mansão nobiliar.
Há figuras de excelente fé em certos redutos que o governo define como vermelhos, mas são exceções, fenômenos escassos. De todo modo, resistentes e autênticos são aqueles que não traíram as palavras de ordem iniciais, bem ao contrário de inúmeros traidores. Aludo a resistentes como, por exemplo, os irmãos Gomes no Ceará, ou Marcelo Freixo, no Rio. Exemplos, insisto, porque há outros, velhos combatentes sempre alertas.
Sobra a percepção inexorável: houvesse uma esquerda forte, vermelho-carmesim, os cidadãos em boa saúde mental de um país infeliz, embora destinado à felicidade, surgido para ser potência e agora de volta à condição de colônia, estariam a celebrar outro desfecho de uma eleição que sela a vitória do golpe e garante a continuidade do plano celerado que até hoje o guia.
O big-bang está na eleição de Lula à Presidência, clamor tão ensurdecedor a ponto de não ser ouvido, mas daí se difundiu para alcançar o diapasão mais elevado a partir da segunda eleição de Dilma Rousseff.
Agora vibra nos nossos ouvidos, mas para o partido de Lula é tarde.
Se sair do vermelho significa acabar de uma vez por todas com maiores riscos para o sossego da casa-grande, suponho que o momento seja favorável ao atraso ardorosamente buscado pela reação nativa, mesmo porque os ventos vindos do norte neoliberal por ora sopram a favor.
Já se significa sair da crise econômica, aqueles cidadãos acima citados fiquem precavidos. Sair do vermelho, para o governo Temer e quantos o sustentam, é simplesmente vender o Brasil. Como será provado.
Confirma-se a normalidade da demência.
E eis que me cai nas mãos a gravura acima, obra de um retratista da casa-grande, um certo Debret, realista e, portanto, impiedoso. E perfeito até hoje.
À mesa, toscos, vulgares donos da casa, caricaturas de uma aristocracia de fancaria.
Compostos, dignos, os escravos.
sábado, 8 de outubro de 2016
MUITO MAIS VELHOS
Existem coisas que nos tornam mais velhos.
A primeira transa, por exemplo. Ou a primeira desilusão amorosa.
Ou a primeira perda de um ente querido.
São coisas inerentes à nossa existência e que nos fazem mais experientes, mais otimistas ou pessimistas, mais esperançosos ou céticos, nos fazem enfim, mais “velhos”.
Há coisas que nos fazem mais felizes e outras, mas sombrios, para o resto de nossas vidas.
Nesse contexto é impossível não concluir que esse golpe mesquinho e perverso de que fomos vítimas e testemunhas, nos tornou, a todos os vertebrados, mais velhos.
Nunca mais poderemos ver certas instituições como já vimos antes.
Nunca mais acreditaremos no sistema como a mesma ingenuidade que já tivemos.
Nunca mais veremos a polícia federal como aliada do bem contra o mal.
Ou o Judiciário como a ordem neutra e apartidária pronta para estabelecer a justiça;
O golpe, esse golpe covarde, além de nos deixar mais velhos nos deixou menos crentes.
Como acreditar que a justiça sempre vence, que o bem supera a vilania e que os bandidos sempre perdem no final, depois de assistir a mais torpe perseguição pública que esse país já promoveu, atingir todos os seus objetivos?
Estamos todos menos crianças.
E mais sofridos pois é impossível perder tudo isso sem muita dor.
De tal forma que, mesmo se amanhã, um milagre de junções improváveis de forças, recolocasse tudo no seu devido lugar, Dilma na presidência e os cães nas casinhas, ainda assim, não seríamos mais os mesmos.
E na verdade, nunca mais seremos os mesmos.
Como depois da primeira transa ou da primeira desilusão amorosa.
Para aqueles que não se deixam alienar o ano de 2016 durou um século.
As futuras gerações entenderão os acontecimentos, pois esse é o papel da história, mas jamais entenderão a nossa velhice precoce, pois isso a gente sente, não se explica.
Sim, estamos todos, mais amargos e muito mais velhos.
Prof. Péricles
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
OMM SETI E A SAUDADE DO EGITO PERDIDO
Múmia de Seti I |
Dorothy revela onde estão os Jardins |
Em 1907 a pequena Dorothy, de apenas 3 anos de idade, sofreu uma terrível queda num lance de escadas. Tão terrível que o médico temeu por sua vida. A criança sobreviveu, mas, a partir desse dia passou a ter sonhos recorrentes e perturbadores sobre um grande prédio com colunas e jardins
Alguns meses depois, já com quatro anos, visitou com os pais o museu britânico, em Londres (Dorothy e seus pais moravam em Blackheath, na Inglaterra). Ao chegar à seção egípcia começou a beijar freneticamente os pés das estátuas e por fim parou em frente à vitrine de uma múmia. Após minutos, constrangidos, os pais tentaram retirá-la do lugar, mas Dorothy se agarrou ao móvel expositor e gritou “Deixe-me aqui com minha gente! ”.
Dorothy Louise Eady tornou-se uma das mais populares egiptólogas do mundo.
Durante toda a vida afirmou já ter vivido na Era Faraônica na cidade de Abidos.
Aos 29 anos casou-se com Abdel Maquib e passou a morar no Egito. Tiveram apenas um filho a quem deu o nome de Seti, passando a ser conhecida como “Omm Seti” (a mãe de Seti) como era hábito no Egito antigo.
Era comum, nessa época, levantar durante a madrugada e escrever em hieróglifos, que, segundo ela, eram ditados por um espírito chamado Hor-Rá.
Em 70 páginas escritas em hieróglifos, Hor-Rá relata que ela foi Bentreshyt, uma mulher que faleceu muito jovem quando se preparava para ser sacerdotisa no templo do Faraó Seti I.
Após 20 anos de trabalhos egiptólogos, finalmente conheceu a cidade de Abidos.
Ao chegar foi diretamente para o Templo de Seti, onde passou toda a noite acendendo incensos e rezando para as divindades egípcias.
Acabou abandonada pelo marido e pelo próprio filho que julgavam não ter espaço na vida de Dorothy,
Normalmente os arqueólogos, profissionais extremamente ligados a fatos e comprovações científicas, não dariam importância para a extravagante história de Eady. O problema é que ela deu inúmeras informações baseada nas suas “memórias” que simplesmente se mostraram corretas. Por exemplo:
Todos os arqueólogos procuravam o jardim do templo de Seti I e ela disse apenas “Lembro-me de que o antigo jardim estava aqui”. Eles cavaram onde ela apontou, e o jardim estava de fato lá.
Além disso afirmou que embaixo do Templo de Seti I em Abidos existiria uma câmara mortuária secreta, apontando a mesma com exatidão.
Dorothy ainda afirmou que a tumba de Nefertiti teria sido edificada próxima a de Tutankhamon fato, até então, desconhecido.
Mundialmente reconhecida por suas afirmações de uma vida entre os Egípcios antigos na corte de Seti I, Omm Seti escreveu vários artigos e livros detalhando com cores vivas o dia a dia desse povo extraordinário. Como se vestiam, falavam, as cores de suas ruas etc.
Morreu em 1981, aos 77 anos, com sua “memória de vida passada” cada vez mais detalhista.
E você, acredita que Dorothy Louise Eady é uma comprovação acerca das múltiplas existências e encarnações?
Que os deuses do Nilo orientem tua resposta.
Prof. Péricles
terça-feira, 4 de outubro de 2016
DIRETAS JÁ, OUTRA VEZ
Por Val Carvalho
Passados 32 anos dos grandes comícios das Diretas Já!, a maior mobilização popular que o país já viu, essa bandeira volta a empolgar a resistência democrática nas ruas do país. Por que, depois de tanto tempo, essa bandeira continua mobilizando o povo?
As esquerdas brasileiras, historicamente, não conseguiram elevar a consciência democrática do povo para além da defesa de eleições diretas para presidente. De fato, a eleição de presidentes nacionalistas ou de esquerda foi o caminho concreto que o povo trilhou para conquistar seus direitos
Nesse processo histórico, podemos mencionar a eleição de Vargas em 1950, a de JK em 1955 e a eleição do vice Goulart junto com o demagogo direitista Jânio Quadros, em 1960.
O golpe da implantação do parlamentarismo, depois da renúncia de Jânio em agosto de 1961, foi derrotado em janeiro de 1963 num plebiscito onde o povo votou majoritariamente pela volta do presidencialismo. Em novo plebiscito realizado em 1993, o povo voltou a apoiar amplamente o presidencialismo contra o parlamentarismo – o regime dos sonhos de uma direita sem votos.
Em 1984, após vinte anos de ditadura militar, o povo sai nas ruas com o movimento pelas Diretas-Já, e que levou à derrota do regime um ano mais tarde. Mas nas primeiras eleições diretas para presidente, em 1989, a base popular elege um “coronel” de Alagoas no lugar de Lula. Faltou-lhes para isso a conexão histórica com as lutas do passado e necessária experiência democrática para usar o voto direto como arma de classe.
O povo teve que passar pela experiência desastrosa de Collor, do impeachment deste, e dos governos excludentes de FHC para poder ver em Lula a retomada de sua luta histórica. A partir da eleição de Lula em 2002, não mais o abandonou, e reelegeu Lula e Dilma por mais três mandatos.
Mas, se os treze anos de governo petista foram plenos de conquistas sociais, não o foram de educação política das massas, o que as deixou a mercê das manipulações do monopólio midiático da direita.
Desse modo, o novo golpe das elites reacionárias enfrentou um governo sem defesas e um povo com baixo nível de organização.
Em decorrência disso, ao enfrentar o golpe e lutar contra a extinção de seus direitos, esse povo não vê outro caminho senão trilhar novamente a luta pela conquista de eleições direitas para presidente.
É a luta que corresponde ao nível de consciência política das amplas massas e a única maneira de se avaliar a correção de uma palavra de ordem.
Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.
domingo, 2 de outubro de 2016
JOGO OBSCENO
A democracia foi a maior invenção da aristocracia para iludir os pobres e excluídos.
Criada e mantida para dar a impressão que todos, pobres e ricos, têm igual peso no jogo político do estado.
Um regime reverenciado como o que mais prima pela liberdade e igualdade entre as pessoas e onde a vontade da maioria sempre prevalece.
Doce engano.
O voto, por exemplo, não é em si um instrumento de democracia enquanto não houver igualdade de acesso ao conhecimento entre os que votam. O mal informado vota contra seus próprios interesses e isso desfaz o seu poder igualitário.
As decisões das urnas sempre são respeitadas quando os poderosos ganham.
No Brasil, em especial, sempre que um resultado ameaça fazer fugir das mãos da Casa Grande às decisões é atacado e vilipendiado até a exaustão.
Getúlio Vargas nunca foi de esquerda, mas bastou se aproximar das lideranças sindicais e trabalhistas para ser perseguido de tal forma que foi levado ao suicídio.
Jango, jamais foi comunista, mas foi de tal forma estigmatizado que até hoje sobrevive a ideia de que era um perigoso agente de Moscou. E o crime de Jango? Apoiar a realização de reformas básicas que eram modernizantes, mas, de forma alguma revolucionárias.
Os governos do PT, Lula e Dilma, foram favoráveis ao capital. Poucas vezes os capitalistas brasileiros ganharam tanto dinheiro. Por outro lado, não avançaram em nenhuma reforma estrutural popular como promover a reforma agrária, por exemplo. Mesmo assim, foram considerados ameaças a partir do momento que acumularam vitórias eleitorais e simpatia popular com seus programas sociais.
A democracia é uma grande mentira desde o nascimento quando homens como Péricles promoveram reformas que facilitaram apenas à nova aristocracia que surgia em Atenas e não aos mais pobres da polis.
Ou quando levaram ao poder no século XVIII a burguesia francesa mantendo os pobres distantes do poder ao mesmo tempo que prometiam igualdade, liberdade e fraternidade.
Liberdade sim, mas liberdade burguesa.
Você jamais vencerá um inimigo agindo como amador em terreno que ele é profissional.
As classes trabalhadoras do Brasil dificilmente chegarão algum dia ao poder de fato jogando esse jogo obsceno da “democracia brasileira”.
Prof. Péricles
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
O VICE TRAIDOR E O TRIUNFO DA VERDADE
Contam que, certa vez, um sheik caiu em desgraça e perdeu o poder para seu vice traidor. Para piorar ele foi a julgamento acusado de traição contra seu próprio povo e se condenado a pena era a execução por enforcamento, mas, se absolvido recuperaria o poder.
O sheik defendeu-se acusando o vice traidor (que era realmente o culpado) e o julgamento foi feito em cima de ambas as acusações, o sheik acusava o vice traidor e o vice traído acusava o Sheik.
O julgamento de cartas marcadas ia se desdobrando cada vez pior para o sheik já que não havia provas contra ele, mas muita convicção, quando o juiz (cadi, entre os árabes) que estava mancomunado com o vice traidor, quis dar uma de justo e entrar para a história como imparcial.
Disse o juiz que Alá todo poderoso era infinitamente justo e por isso, ele iria colocar os nomes do sheik e do vice em tirinhas de papel diferentes e o próprio sheik iria “sortear” o nome do criminoso.
E assim foi feito, o nome de cada um foi escrito em papéis separados pelo próprio juiz corrupto, que depois de devidamente dobrados foram levados ao sheik, numa bandeija, no banco dos réus para que ele mesmo escolhesse o papel que apontaria o nome do culpado. Alá seria clemente e justo e moveria a sua mão.
Intimamente os golpistas sorriam, pois, o juiz escrevera o nome do sheik em ambos os papéis e, portanto, independentemente de sua escolha o nome sorteado seria o dele.
A plateia em suspense assistia a tudo convocada como testemunha sem nem desconfiar do truque do juiz. Mas o sheik sim, sabia que qualquer das tirinhas que escolhesse, teria o seu nome.
Então o sheik levou a mão até um dos papelotes e o escolheu, mas, num gesto inesperado, o engoliu.
Maior sururu na plateia.
E disse o sheik ao público, “fiz a minha escolha e a única maneira de saber o nome que ele continha é abrir o papelote que sobrou.
Obviamente, o papelote lá estava escrito o nome do sheik de onde se deduziu que a folha que apontava o culpado e fora engolida por ele era o nome do vice traidor.
O sheik recuperou o poder e o vice traidor foi enforcado.
Às vezes a única forma de derrotar os espertos é sendo mais esperto que eles e partindo também para os truques, deixando a forma polida de lado.
Está faltando esperteza da esquerda nesse golpismo medíocre da direita.
Lula deveria fazer algo parecido quando acusado por um cadi inescrupuloso capaz de escrever seu nome como culpado, mesmo sem provas, nos dois papéis e deixar de investigar o nome dos outros, mesmo sendo estes, várias vezes delatados.
Prof. Péricles
Prof. Péricles
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