sábado, 16 de abril de 2016

LIÇÕES DA MÚLTIPLA CRISE BRASILEIRA

Leonardo Boff

Por Leonardo Boff


Primeira lição: o tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim como é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includente, justo e sustentável.

Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iniqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.

Terceira lição: prevalência do capital social sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente e faze-lo um consumidor, mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.

Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.

Quinta lição: a reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí mais para garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.

Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e proativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.

Oitava lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão, mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das artes, das mulheres, das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.

Nona lição: O caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista. Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais da população a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social.

Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.


Leonardo Boff, é articulista e escritor




sexta-feira, 15 de abril de 2016

A CULPA NÃO É DO DIABO


O ser humano adora culpar terceiros pelos seus infortúnios.

É mais agradável pensar que errou por culpa de alguém. Que bebeu porque o diabo “atentou”. Que sua vida está uma porcaria por causa do pai ou da mãe, ou da esposa, esposo, filhos, enfim, por culpa de alguém, não sua.

A culpa terceirizada é a salvação da lavoura de muitas consciências.

O que seria das Igrejas que se anunciam como a redenção das criaturas se não existisse o diabo para levar a culpa de tudo, desde unha encravada até por bater na esposa?

É bom e confortável se sentir vítima e não o responsável por suas dores.

Talvez, por isso, o exercício da democracia assuste tanta gente na mesma proporção que a ditadura agrade a outros.

O voto que escolhe diretamente seu representante tira boa parte da desculpa do “não tenho nada a ver com isso” e é sempre melhor ter um ditador que diga o que fazer do que construir com trabalho a própria cidadania.

Construir cansa, melhor receber já pronto, é mais confortável.

Foram raros os eleitores do Color depois do impeachment. Ninguém teve culpa, os votos brotaram nas urnas por mágica de Houdine, ou melhor, por efeito especial da Globo, sim, a Globo foi a única culpada, pronto.

A falta de conhecimento leva às pessoas a terceirizar suas dores, mas a falta de caráter esconde suas escolhas.

Se o golpe tiver sucesso e derrubar Dilma Rousseff, o Brasil em breve, mas bota breve nisso, entrará num círculo maluco de horrores.

Não, não haverá nada além do que já se conhece: neoliberalismo, entreguismo, desemprego, dívida, perda de direitos trabalhistas, proteção ao capital privado, desdém ao capital e ao patrimônio público.

Só que dessa vez a encrenca será maior. E isso porque o povo mais humilde, aquele que mais ganhou nesses 14 anos, não aceitará perder o que conquistou.

Dizia Buda que uma consciência que se expande nunca mais aceita retornar ao tamanho original.

As conquistas sociais e a ampliação da consciência de seus direitos políticos também.

Na década de 70 lutando contra a Ditadura, o PC do B (o verdadeiro) organizou sua Guerrilha no Araguaia justamente por ser um dos lugares mais miseráveis, abandonados e alienados do Brasil.

A Guerrilha foi derrotada e quase todos os guerrilheiros assassinados, mas desde então (e a Guerrilha se encerrou em 1972) até hoje o Araguaia é um centro permanente de tensões pois os sem-terra e os pequenos agricultores daquela região nunca mais aceitaram o cabresto como antes.

Quando começar o desmonte (que não será imediatamente, mas logo e por etapas) dos programas sociais o bicho vai pegar.

É provável que essa história não termine sem dores e corpos sem vida, não apenas por lutas mas também por desespero.

Mas, uma certeza podemos ter: ninguém terá culpa. Ninguém assumirá sua identidade coxinha. Foi a Globo e só a Globo, plim-plim.

Ninguém baterá no peito para exclamar “eu lutei contra a ordem democrática e vibrei no virtual e no real com a posse de Michel Temer”.

“Eu fui um dos milhões de Eduardo Cunha”.

Por que?

Porque é mais tolerável ocultar suas responsabilidades e apontar o dedo para outros.

Por isso ninguém aqui no Rio Grande do Sul ainda levantou a mão publicamente para se chamar de ameba por eleger um político sem propostas e sem ideias para governar o estado.

Ninguém disse num bate papo com os amigos, fazendo cara de intelectual “eu acreditei que o importante era tirar os petralhas”, "eu achei graça com a piada do Tumelero"

Enquanto os trabalhadores sofrem com salários parcelados a horda de eleitores anti-PT suspira e faz de conta que não vê pois, para muitos, quando não se vê o sofrimento dos outros ele não existe.

O problema não é a falta de conhecimento, é o conhecimento distorcido pelo ódio e pela vaidade.

A responsabilidade é mais profunda e coletiva.

É do caráter egoísta, mesquinho e invejoso das criaturas, especialmente das que não aceitam o crescimento daqueles que julgam inferiores.

"Onde já se viu negros, gays, lésbicas e índios nos olhando em pé de igualdade?"

É dos inconformados por pobre ter filhos no mesmo colégio de seus filhos e receberem 70, 80 reais de auxílio, que, pela revolta provocada, deve abalar profundamente a economia dos "revoltados".

Dos que odeiam que os mais esquecidos agora tenham médicos que os atendam e se preocupem com eles.

O motivo mais escondido de todo esse drama é que, o ser humano é patético quando permite que seu ódio por tudo aquilo que pode dar certo, justifique sua pequenez de pensamento e de atitudes.

Os mesmo seres patéticos que um dia dirão que "a culpa não foi minha... foi do diabo que tomou conta do Brasil" enquanto se postam, hipocritamente, a rezar para que todos sejam felizes.

Prof. Péricles















quinta-feira, 14 de abril de 2016

SOMBRAS QUE NOS PERSEGUEM



Com seu jeito simples mas, ao mesmo tempo, profundo de analisar a realidade, Leonardo Boff nos lembra as sombras de nosso passado que insistem em estar presente na crise atual.





Por Leonardo Boff


A primeira sombra é nosso passado colonial.

Todo processo colonialista é violento. Implica invadir terras, submeter os povos, obriga-los a falar a língua do invasor, assumir as formas políticas do outro e submeter-se totalmente a ele. A consequência no inconsciente coletivo do povo dominado: sempre baixar a cabeça e levado a pensar que somente o que é estrangeiro é bom.

A segunda sombra foi o genocídio indígena.

Eram mais de 4 milhões. Os massacres de Mem de Sá em 31 de maio de 1580 que liquidou com os Tupiniquim da Capitania de Ilhéus e pior ainda, a guerra declarada oficialmente por D.João VI em 13 de maio de 1808 que dizimou os Botocudos (Krenak) no vale do Rio Doce manchará para sempre a memória nacional. Consequência: temos dificuldade de conviver com o diferente, entendendo-o como desigual. O índio não é ainda considerado plenamente “gente”, por isso suas terras são tomadas, muitos são assassinados e para não morrerem, se suicidam. Há uma tradição de intolerância.

A terceira sombra, a mais nefasta de todas, foi a escravidão.

Entre 4-5 milhões foram trazidos de África como “peças” a serem negociadas no mercado para servirem nos engenhos ou nas cidades como escravos. Negamos-lhes humanidade e seus lamentos sob a chibata chegam ainda hoje ao céu. Criou-se a instituição da Casa Grande e da Senzala. Gilberto Freyre deixou claro que não se trata apenas de uma formação social patriarcal, mas de uma estrutura mental que penetrou nos comportamentos das classes senhoriais e depois dominantes. Consequência: não precisamos respeitar o outro; ela está aí para nos servir. Se lhe pagamos salario é caridade e não direito. Predominou o autoritarismo; o privilégio substitui o direito e criou-se um estado para servir os interesses dos poderosos e não ao bem de todos e uma complicada burocracia que afasta o povo.

Uma sociedade montada sobre a injustiça social nunca criará uma coesão interna que lhe permitirá um salto rumo a formas mais civilizadas de convivência. Aqui imperou sempre um capitalismo selvagem que nunca logrou-se civilizá-lo. Mas depois de muitas dificuldades e derrotas, conseguiu-se um avanço: a irrupção de todo tipo de movimentos sociais que se articularam entre si. Nasceu uma força social poderosa que desembocou numa força político-partidária. O Partido dos Trabalhadores e outros afins, nasceram deste esforço titânico, sempre vigiados, satanizados, perseguidos e alguns presos e mortos.

A coligação de partidos hegemonizados pelo PT conseguiu chegar ao poder central. Fez-se o que nunca foi pensado e feito antes: conferir centralidade ao pobre e ao marginalizado. Em função deles se organizaram, como cunhas no sistema dominante, políticas sociais que permitiram a milhões saírem da miséria e terem os benefícios mínimos da cidadania e da dignidade.

Mas uma quarta sombra obnubila uma realidade que parecia tão promissora: a corrupção.

Seria hipocrisia negar que corrupção sempre houve entre nós em todas as esferas. Basta lembrar os discursos contundentes e memoráveis de Ruy Barbosa no Parlamento. Setores importantes do PT se deixaram morder pela mosca azul do poder e se corromperam. Isso jamais poderia ter acontecido, dado os propósitos iniciais do partido. Devem ser julgados e punidos.

A justiça focou-se quase só neles e mostrou-se muitas vezes parcial e com clara vontade persecutória. Os vazamentos ilegais forneceram munição à imprensa oposicionista e aos grupos que sempre dominaram a cena política e que agora querem voltar ao poder com um projeto velhista, neoliberal e insensível à injustiça social. Estes conseguiram mobilizar multidões, conclamando o impedimento da Presidenta Dilma, mesmo sem suficiente fundamento legal como afirmam notáveis juristas.

Nunca fui filiado ao PT. Mas apesar de seus erros, a causa que defende será sempre válida: fazer uma política integradora dos excluídos e humanizar nossas relações sociais para tornar menos malvada a nossa sociedade.



Leonardo Boff escreveu: Que Brasil queremos, Vozes 2000.



terça-feira, 12 de abril de 2016

MACARTHISMO À BRASILEIRA


No início da década de 50 os Estados Unidos viviam à beira de um ataque dos nervos.

No final da década anterior a União Soviética testara com sucesso sua primeira bomba atômica, a China tornara-se comunista e a influência norte-americana no mundo parecia definhar.

Portanto, a Guerra Fria estava muito quente e os ânimos exaltados.

É nesse cenário que, em fevereiro de 1950, surge a figura sinistra de um senador.

Joseph Raymond McCarthy, senador do Wisconcin pelo Partido Republicano, era membro de uma praticante família católica e tinha 41 anos. Antes de se eleger senador exerceu, por sete anos a função de juiz de Direito.

De fevereiro de 1950 quando acusa o Departamento de Defesa norte-americano de estar infiltrado por agentes comunistas a maio de 1954 quando caiu em desgraça junto ao Presidente Eisenhower por atacar o secretário do Exército, Joseph MacCarthy seria figura diária na mídia norte-americana, tendo, ao que parece, adorado a notoriedade que adquiriu como presidente do Comitê de Atividades Antiamericanas (HUAC).

Acusou de praticar atividades antiamericanas e convocou para depor no Comitê que liderava centenas de pessoas, principalmente funcionários públicos, trabalhadores da indústria do entretenimento, educadores e sindicalistas.

Muitos foram demitidos, execrados, ridicularizados e humilhado mesmo sem haver qualquer materialidade nas acusações.

Esse período nefasto na história dos Estados Unidos é chamado de MacCarthismo e definido como um período de caça as bruxas pelo seu contexto de incentivar a delação, pois, alguém que se dizia simpatizante arrependido do comunismo só era perdoado se delatasse outros membros simpatizantes.

Entre muitos injustiçados por acusações levianas, destaca-se Charles Chaplin que acabaria se mudando para a Suiça, para nunca mais voltar.

O Macarthismo durou até 1957 mesmo ano em que o tenebroso senador senador morreu, aos 49 anos, em 2 de maior, vítima de cirrose.

Para ele, acostumado a brincar com a vida alheia e a se julgar Deus, a perda de notoriedade, a distância dos holofotes e sumiço dos puxa-sacos havia sido insuportável.

Seu nome tornou-se sinônimo de intolerância. Quase todos os processos que liderou tornaram-se nulos e o estado arcou com numerosos ressarcimentos.

Infelizmente para muitos que morreram antes ou prejudicaram definitivamente suas carreiras, nenhuma reparação seria realmente justa.

MacCarthy, para acalmar a consciência ou o ego ferido, entregou-se ao beber compulsivo que o levaria rapidamente a morte.

Na atualidade brasileira um autêntico MacCarthismo e caça as bruxas incentivada pelo brilho da ribalta promovido por câmeras platinadas está em curso.

Em vez do anti-comunismo o anti-petismo.

Não há comissões no Congresso, mas tribunais de exceção que escondem provas e criam fatos, que gravam e divulgam gravações.

Ao invés do respeito às urnas uma campanha difamatória acompanhada por uma onda de ódio.

Nesse contexto, a história de Joseph Raymond McCarthy deveria ser recitada nos lares de muitos juristas, policiais e cidadãos que se acham mais do que mera fagulha na fogueira das vaidades da política brasileira.



Prof. Péricles







segunda-feira, 11 de abril de 2016

É GOLPE



Por Tarso Cabral Violin


A última vez que passamos por um golpe foi em 1964, quando grandes empresários, os militares, a OAB, o governo estadunidense e demais setores oligárquicos da sociedade brasileira, com o apoio de uma classe média manipulável pelos jornais da época, implementaram a destituição do presidente João Goulart - Jango e a ditadura militar que durou até 1985.

Para Paulo Bonavides golpe "significa simplesmente a tomada do poder por meios ilegais", "seus protagonistas tanto podem ser um governo como uma assembleia, bem assim autoridades já alojadas no poder", "sempre a expensas da Constituição e se apresenta qual uma técnica específica de apoderar-se do governo, independente das causas e dos fins políticos que a motivam", onde se aliam "traição e medo" e "os autores do golpe com frequência se envergonham" (p. 454 e 455).

O jurista conclui dizendo que "o golpe é a prevalência do interesse egoístico de um grupo ou a satisfação de uma sede pessoal de poder" (p. 459).

Norberto Bobbio alerta que "o golpe de Estado é um ato realizado por órgãos do próprio Estado", mas deixa claro que esse golpe nem sempre é um golpe realizado por militares. O autor também cita Malaparte no sentido de que o primeiro objetivo para coroar de êxito o golpe de Estado é ocupar, controlar e neutralizar os centros de poder tecnológico do Estado, como as redes de telecomunicações, rádios e TVs, centrais elétricas e de transporte, o que "permitirá o controle dos órgãos do poder político" (Dicionário de Política, 12ª ed. Brasília: UNB, 2004, vol. I, p. 545-547).

Não há crime de responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff (PT) e, portanto, não há fundamento jurídico para o Impeachment da nossa Chefe do Poder Executivo Federal.

Assim, caso o Congresso Nacional decida pelo Impeachment, sem interferência do Supremo Tribunal Federal, o Brasil sofrerá mais um golpe, como já ocorreu em 1889, 1937 e 1964.

1. Será a tomada do poder de forma traiçoeira e com o discurso do medo, pelo vice-presidente Michel Temer de forma ilegal e inconstitucional, com apoio do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), do PSDB, da OAB, da FIESP, da Rede Globo, da Revista Veja, da Folha de S. Paulo, do O Estado de S. Paulo, assim como outros setores da elite econômica e midiática de nosso país, e de governos de outros países e multinacionais contrários aos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, de 2003-2010), e de Dilma Rousseff (PT, de 2011 até os dias atuais). ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE BONAVIDES.

2. Os protagonistas do golpe seriam os senadores e deputados federais. ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE BONAVIDES.

3. Já antes de ocorrer o golpe os apoiadores do Impeachment, que na verdade é golpe, já estão envergonhados e desesperados com a pecha de golpistas que levarão para toda suas vidas pessoais, políticas e profissionais. ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE BONAVIDES.

4. O golpe está sendo arquitetado dentro dos jornais, rádios e TVs, chamados de "centro nervosos técnicos" ou "centros de poder tecnológico do Estado" por Malaparte. Matérias "jornalísticas" tendenciosas, propagandas pagas de movimentos golpistas, chamamento para manifestações pró-golpe e silêncio prévio e desconstrução posterior quanto às manifestações contra o golpe, falta de opiniões técnicas contrárias ao golpe na programação, etc. Há golpismo inclusive em meios de transporte (liberação do metrô em São Paulo para as manifestações contra o governo, greves de caminhoneiros determinadas pelos patrões, etc.). ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE MALAPARTE.

5. Pelo caráter elitista do golpe, prevalência dos interesses da velha mídia, dos industriários, grandes empresários e agronegócio, já com menções de projetos anti-trabalhadores, há a prevalência clara dos interesses egoísticos da classe dominante e da sede pessoal de poder de Michel Temer e todos os que o rodeiam sedentos por cargos e poder. ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE BONAVIDES.

6. A desnecessidade de que um golpe seja militar para fins do controle dos órgãos do poder político. ATENDIDO O REQUISITO DE GOLPE DE BOBBIO.

Ainda acredito que os deputados federais ou senadores podem barrar o Impeachment, que na verdade é golpe. Caso nossos parlamentares pratiquem o golpe, ainda é possível que o STF anule essa decisão contrária à Constituição. De qualquer forma, caso o golpe realmente ocorra, com Michel Temer presidente e, em suas ausências, Eduardo Cunha presidente, para todo o sempre as pessoas e instituições envolvidas no movimento golpista serão cobradas e responsabilizadas por mais esse momento triste de nossa história.

E nada que as urnas, em 2018, não possam recolocar nos trilhos a Democracia brasileira.




sábado, 9 de abril de 2016

A CARA DO GOLPE


  
Os fatos ou períodos históricos costumam ter uma “cara” que fica registrada no imaginário popular.

Por exemplo, impossível falar sobre o apartheid sem lembrar a cara de Mandela.

No Brasil, é impossível falar sobre a Era Vargas sem lembrar a cara do dito cujo.

Desde a Revolução de 30 até seu suicídio em 1954 a presença marcante é a cara do velho caudilho de São Borja, muitas vezes com seu charuto. Tudo bem, às vezes acompanhada da cara sorridente e otimista de JK ou os olhos esbugalhados de Jânio Quadros, mas aí já estamos no pós-Vargas.

Já a Ditadura Militar tem a cara de Médici.

Sei, muitos lembram de Castelo Branco e sua cabeça colada aos ombros quase sem pescoço, mas a cara mais marcante e sinistra é mesmo a de Médici, e para alguns de boa memória, fazendo balõezinhos com uma bola de futebol.

Na transição da ditadura militar para a redemocratização misturam-se caras como de Figueiredo e de Tancredo, ou mesmo de Sarney, o primeiro presidente civil já que Tancredo fez a sacanagem de morrer antes de assumir.

Já a crise criada no Brasil após as eleições de 2014 andava meio que “sem cara”.

São tantos os arquitetos do golpe que não aparecem... Como seria a cara de uma rede de televisão? Seu logotipo ou a cara de Willian Bonner?

Seria a cara do “japonês da federal” a cara do golpe? Ou o beiço de buldogue com caxumba do Gilmar Mendes?

Talvez o aspecto sinistro de mordomo de Drácula de Michel Temer?

Maior dúvida... Mais eis que, de repente, surge a mais fiel cara do golpe.

E não poderia deixar de ser esquisita como o seu tempo. Mas, faça-se justiça, uma cara cheia e rica em simbolismos do momento.

Janaína Conceição Paschoal é advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Sendo coautora da ação que deu início ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi apelida de “Musa do Impeachment”.
Alguns lembram dela como a defensora de Mayara Petruso, a estudante que iniciou uma onda preconceituosa e violenta contra os nordestinos no Twitter logo após a vitória de Dilma nas eleições.

Mas, através de um vídeo que se tornou febre na internet, ao fazer a defesa do impedimento da presidenta, a moça mostrou para todos a cara do golpe. 

Os olhos esbugalhados, os cabelos revoltos em todas as direções retratam como ninguém o ódio fascista.

O andar, não para os lados, mas para frente e para trás, carregando uma bandeira nacional e esganiçando palavras às vezes incompreensíveis realçam a pirotecnia para convencer na falta de argumentos.

Chega lembra Hitler em seus discursos atraindo o olhar com movimentos histéricos na tentativa de, impressionando os sentidos, fazer esquecer a falta de lógica.

As ameaças proferidas com acentuação crescente parecem reviver Mussolini e suas ameaças de por fogo na Itália com seu blefe de uma hipotética “Marcha sobre Roma”.

O uso de expressões agressivas e figuradas no lugar de nomes, designando a presidente de “cobra” lembram as ordens esotéricas secretas tão ao gosto do führer.

A reação das pessoas ao vídeo vai do espanto ao sorriso.

Janaina vai do ridículo ao assustador.

Alguns, dizem não levar a sério seu surto que chega a ser definido como “engraçado”. Mas, é bom lembrar que quando Hitler apareceu no cenário político alemão com seus discursos teatrais, também foi definido como “coitado e possuído” ou de “engraçado”, porém, o “engraçado” poria fogo na Europa sendo o principal artífice da maior guerra que o mundo já viu.

Claro que a moça não tem tanto “talento”, mas, o que ela representa é bem conhecido.

É a cara do fascismo, e o fascismo, todos sabem ou deveriam saber... é muito feio.




Prof. Péricles