sábado, 9 de abril de 2016

A CARA DO GOLPE


  
Os fatos ou períodos históricos costumam ter uma “cara” que fica registrada no imaginário popular.

Por exemplo, impossível falar sobre o apartheid sem lembrar a cara de Mandela.

No Brasil, é impossível falar sobre a Era Vargas sem lembrar a cara do dito cujo.

Desde a Revolução de 30 até seu suicídio em 1954 a presença marcante é a cara do velho caudilho de São Borja, muitas vezes com seu charuto. Tudo bem, às vezes acompanhada da cara sorridente e otimista de JK ou os olhos esbugalhados de Jânio Quadros, mas aí já estamos no pós-Vargas.

Já a Ditadura Militar tem a cara de Médici.

Sei, muitos lembram de Castelo Branco e sua cabeça colada aos ombros quase sem pescoço, mas a cara mais marcante e sinistra é mesmo a de Médici, e para alguns de boa memória, fazendo balõezinhos com uma bola de futebol.

Na transição da ditadura militar para a redemocratização misturam-se caras como de Figueiredo e de Tancredo, ou mesmo de Sarney, o primeiro presidente civil já que Tancredo fez a sacanagem de morrer antes de assumir.

Já a crise criada no Brasil após as eleições de 2014 andava meio que “sem cara”.

São tantos os arquitetos do golpe que não aparecem... Como seria a cara de uma rede de televisão? Seu logotipo ou a cara de Willian Bonner?

Seria a cara do “japonês da federal” a cara do golpe? Ou o beiço de buldogue com caxumba do Gilmar Mendes?

Talvez o aspecto sinistro de mordomo de Drácula de Michel Temer?

Maior dúvida... Mais eis que, de repente, surge a mais fiel cara do golpe.

E não poderia deixar de ser esquisita como o seu tempo. Mas, faça-se justiça, uma cara cheia e rica em simbolismos do momento.

Janaína Conceição Paschoal é advogada e professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Sendo coautora da ação que deu início ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi apelida de “Musa do Impeachment”.
Alguns lembram dela como a defensora de Mayara Petruso, a estudante que iniciou uma onda preconceituosa e violenta contra os nordestinos no Twitter logo após a vitória de Dilma nas eleições.

Mas, através de um vídeo que se tornou febre na internet, ao fazer a defesa do impedimento da presidenta, a moça mostrou para todos a cara do golpe. 

Os olhos esbugalhados, os cabelos revoltos em todas as direções retratam como ninguém o ódio fascista.

O andar, não para os lados, mas para frente e para trás, carregando uma bandeira nacional e esganiçando palavras às vezes incompreensíveis realçam a pirotecnia para convencer na falta de argumentos.

Chega lembra Hitler em seus discursos atraindo o olhar com movimentos histéricos na tentativa de, impressionando os sentidos, fazer esquecer a falta de lógica.

As ameaças proferidas com acentuação crescente parecem reviver Mussolini e suas ameaças de por fogo na Itália com seu blefe de uma hipotética “Marcha sobre Roma”.

O uso de expressões agressivas e figuradas no lugar de nomes, designando a presidente de “cobra” lembram as ordens esotéricas secretas tão ao gosto do führer.

A reação das pessoas ao vídeo vai do espanto ao sorriso.

Janaina vai do ridículo ao assustador.

Alguns, dizem não levar a sério seu surto que chega a ser definido como “engraçado”. Mas, é bom lembrar que quando Hitler apareceu no cenário político alemão com seus discursos teatrais, também foi definido como “coitado e possuído” ou de “engraçado”, porém, o “engraçado” poria fogo na Europa sendo o principal artífice da maior guerra que o mundo já viu.

Claro que a moça não tem tanto “talento”, mas, o que ela representa é bem conhecido.

É a cara do fascismo, e o fascismo, todos sabem ou deveriam saber... é muito feio.




Prof. Péricles

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