domingo, 15 de abril de 2012

O PAPA E O MARXISMO

O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da revolução cultural chinesa.

Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição. Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia.

Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.

Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.

Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes. Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).

O marxismo é um método de análise da realidade. E, mais do que nunca, útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.

Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização.

A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia.

A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso.

A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.

Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de "partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano". A isso Marx chamou de socialismo.

O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital – um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867."Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério", disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. "Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20".

O autor do novo O Capital, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de "sociais-éticos" os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de "selvagem" e "pecado", e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política."As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo", afirma o arcebispo.

O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de "querido homônimo", falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.


Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
[Escritor, autor do romance Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros -

quinta-feira, 12 de abril de 2012

CONSERVADORES NUNCA MUDAM

Quando se é jovem, mulher bonita é mulher gostosa. Não há como separar beleza da atração ao sexo, então, nosso (nós homens) conceito de beleza está atrelado às possibilidades de prazer que o alvo de nossa admiração promete.

Quando amadurecemos, mulher bonita é muito mais que isso. É mulher serena, sábia e piedosa para com nossas inconstâncias.

Aprendemos com o tempo a separar sexo de beleza, sabedoria de fanfarronice, serenidade de apatia.

Quando somos jovens, liberdade é tudo aquilo que nos permite extrapolar nossa energia. É todos ser, ambiente e situação que nos permite liberar. Qualquer ato, o resmungo da mãe, a advertência da professora, o não da namorada, qualquer coisa que nos limite é visto como inibidor do sagrado direito à liberdade.

O tempo nos ensina, que a liberdade implica no respeito à liberdade alheia e que liberdade não é libertinagem e ainda que éramos libertinos e não libertos.

Quando jovens a crítica é sempre pessoal, burra (da parte do crítico) e injusta.

Quando “crescemos” aprendemos a tirar da crítica tudo o que ela pode conter para nossa melhora, para nosso auto-julgamento.

O tempo é o senhor da razão, diziam nossas avós. E pra variar, elas estavam certas.

O amadurecimento é capaz de transformas água em estalactite, montanha em planície e idéias em projetos.

Por isso é importante amadurecer. Por isso não é feio nem sinal de fraqueza mudar uma opinião ou rever um conceito.

Não é o que acontece com os conservadores.

Os conservadores são pessoas que se embrutecem dentro de suas certezas.

Os Conservadores não são, necessariamente, mais velhos, pois muitos jovens são mais conservadores do que o Papa.

Apegados às suas certezas possuem a falsa sensação de ter a verdade absoluta sobre os fatos e se os fatos se alteram tornam-se cegos à mudança temendo perder o controle que julgavam ter sobre os mesmo.

Olham as coisas apenas do mesmo ângulo, ou seja, de um único ponto de vista.

Revolução, apenas a palavra já provoca ojerizas.

Esquerdista é comunista. Jovem fora do padrão é maconheiro, e maconheiro é bandido.
Elite é elite, classe média é fechada e povo é uma invenção dos comunistas.

Esses professorezinhos de história, esses padrecos envolvidos em causas sociais, esses são os culpados pela corrupção, pelas dificuldades, por tudo que lhe foge da zona de conforto.


Nunca tiveram nem jamais terão uma propriedade rural, mas defendem o latifúndio e odeiam o MST mais do que os próprios coronéis. São eles, e não os latifundiários, os maiores inimigos da reforma agrária.

Nunca votaram, nem em seus piores pesadelos em qualquer partido de esquerda, mas, muitas vezes, para dar ares de veracidade aos seus argumentos afirmam que “eu já votei no PT” ou “eu fui simpatizante do socialismo” coisa que, ele sabe, jamais poderá ser comprovada.

O conservador teme estar errado. Ele não quer ouvir argumentos porque se for convencido de um erro isso representaria que a vida inteira ele esteve errado sobre algo e isso é impossível.

Os conservadores fazem parte de nossa paisagem política. Compõem o eleitorado que disputamos. Os conservadores não podem ser diminuídos, subestimados ou esquecidos.

Na verdade, o melhor que se faz é ter vivo que foram eles que apoiaram Jânio e a vassoura moralista. Foram os conservadores que organizaram a Marcha com Deus pela Liberdade e foram eles que clamaram, exigiram, imploraram pelo golpe militar de 1964.

Esquecê-los? Jamais.

Buscar sempre o debate..

Assim como na ficção o vampiro teme o crucifixo, os conservadores temem um bom argumento que lhes abale as carcomidas estruturas de convicções e preconceitos que construíram para se justificar a vida toda.



Prof. Péricles

terça-feira, 10 de abril de 2012

ENRUSTIDOS

Se ainda houvesse necessidade, o caso do Senador e da Cachoeira seria uma saborosa lição.

Paladino do bem, campeão da moral, carrasco dos corruptos sempre mostrado pela mídia com o dedo em riste exigindo demissões, cpis e compostura, o senador foi envolvido numa investigação da Polícia Federal, autorizada pela justiça, que trás de forma clara e sem dúvidas, provas de seu envolvimento até a raiz dos cabelos, em inescrupulosas negociatas.

Se ainda fosse preciso, seria o momento da sociedade brasileira, aquela parcela bem intencionada que sonho com uma vida melhor para os brasileiros, mas que é facilmente levada pelas ondas da emoção plantadas pela mídia e pelos setores mais conservadores, entender, que não existem heróis acima do bem e do mal, nesse jogo sujo que, infelizmente, faz parte da rotina política de nosso país.

Não existem mágicos, não existem santos.

O Senador é mais um exemplo da coisa mais podre do jogo do poder, aquele corrupto até a alma que usa o discurso da anticorrupção para iludir os outros.

Ele não é o primeiro. Houve muitos outros.

Houve um candidato despreparado, mas que foi eleito presidente, sem propostas e sem planos, apenas defendendo acabar com a corrupção, varrer a corrupção do Brasil, tornando-se a vassoura seu símbolo.

Teve aquele outro, mais despreparado ainda que foi eleito pela mídia com um discurso vazio e sem sentido, mas prometendo “caçar os marajás”.

E ele não será o último, pois o discurso moralista sempre é fácil e sempre seduz os incautos. Ele não será o último enquanto partidos sem propostas e sem conteúdo continuarem se apossando da “corrupção dos outros” enquanto escamoteia a sua própria.

A corrupção no Brasil e no mundo é intrínseca ao exercício da administração da coisa pública que envolve muito dinheiro, interesses, burocracia e pessoas.

Existe, claro, formas de combatê-la, de maneira honesta e sem partidarização.

Uma delas, talvez a mais urgente, é acabar definitivamente com qualquer forma de contribuição nas campanhas eleitorais.

É nesse momento, quando pessoas físicas e empresas contribuem, que nascem os acordos futuros, as negociatas. Ou você acha que a contribuição se dá por amor ou ideal?

Deveríamos criar no Brasil uma legislação parecida com a do Reino Unido, onde verba de campanha é pública e dividida de igual maneira entre os partidos. Qualquer outro centavo, além disso, é crime eleitoral.

Com atos realistas e objetivos só dessa forma poderemos combater essa moléstia moral e financeira.

O resto é discurso vazio. Falso moralismo. Hipocrisia.

Como o enrustido homofóbico que agride os homossexuais, continuarão existindo os enrustidos moralistas que agridem nossa inteligência.



Prof. Péricles

domingo, 8 de abril de 2012

AVALIAÇÃO DO GOVERNO DILMA

A presidenta Dilma Rousseff bateu um novo recorde desde o início do seu mandato e ampliou a sua popularidade mesmo depois da divulgação de um crescimento modesto do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011 e em meio a turbulências de uma crise política em sua base de apoio no Congresso.


Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira (4), a aprovação pessoal da presidenta (aqueles que acham o jeito Dilma de governar "ótimo" ou "bom") subiu cinco pontos percentuais desde dezembro, de 72% para 77%. É o maior índice registrado desde março do ano passado, quando a primeira pesquisa sobre seu governo foi divulgada.


A presidenta tem usado como trunfo em sua relação com o Congresso as altas taxas de popularidade alcançadas desde o início de seu governo.


A avaliação de sua gestão, contudo, manteve-se a mesma na comparação com dezembro, estacionada em 56%. O índice tinha sido o melhor para um primeiro ano de governo desde que a pesquisa da Confederação Nacional da Indústria começou a ser feita, em 1995.


Comparativamente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tinha avaliação "ótima" ou "boa" de 34% no início de seu segundo ano de mandato, em 2004. Na época, o governo estava abalado pelo seu primeiro escândalo de corrupção, após a revelação do caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil.


Ainda assim, é maior o número de entrevistados que considera o governo Dilma pior do que o governo Lula (23%). A gestão Dilma é considerada superior por 15%.


LEMBRANÇAS

A pesquisa aponta que os assuntos mais espinhosos, e que poderiam abalar a avaliação positiva do governo, foram pouco lembrados pelos entrevistados. É o caso do crescimento do PIB de 2,7% em 2011, citado por apenas 1%. A crise política, que levou à troca da liderança do governo no Senado, foi citado por 4%.


De acordo com o levantamento, os assuntos mais lembrados espontaneamente pelos entrevistados sobre o governo foram os "programas sociais voltados para mulheres" e as "viagens da presidente Dilma".


A pouco mais de dois meses da Conferência Rio +20 e com a votação do novo código florestal voltando à pauta do Congresso, a pesquisa apontou que as ações e políticas para o meio ambiente foram aquelas que apresentaram maior crescimento na aprovação em relação a dezembro, saltando de 48% para 53%.


As áreas com pior avaliação são, de acordo com a pesquisa, impostos (65% de desaprovação), saúde (63%) e segurança pública (61%).


A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de março. No levantamento, foram ouvidas 2.002 pessoas em 142 municípios.


De: http://www1.folha.uol.com.br
Folha.com - Breno Costa
04/04/2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A GRUTA DA LOBA

Os próprios romanos contavam como tinha sido fundada a cidade.

Segundo eles, Marte, o deus da Guerra apaixonara-se e engravidara uma vestal (sacerdotisa de Vesta). Como castigo foi determinado por Júpiter que o fruto desse pecado (as Vestais juravam castidade) deveria ser morto ao nascer. Na verdade, não nasceu um baby, mas dois, gêmeos, a quem foram dados os nomes de Rômulo e Remo.

Abandonados em um cesto nas águas do Rio Tibre, eles foram salvos por uma loba (de verdade, de quatro patas e tudo), que os amamentou e os viu crescer. Adultos, Remo desapareceu misteriosamente durante uma tempestade (levado por seu pai? Morto por seu irmão?) enquuanto Rômulo acabaria fundando uma pequena aldeia, que um dia, conquistaria o mundo, Roma, oito séculos antes de Cristo.

Segundo os historiadores Dionísio e Plutarco, os romanos apontavam uma gruta, próxima ao monte Palatino (uma das sete colinas de Roma) na qual os irmãos foram aleitados pela loba. Ainda segundo esses historiadores clássicos, os romanos transformaram a gruta numa espécie de templo onde todos os anos, no mês de fevereiro realizavam ritual em homenagem a Luperco (entidade da natureza e dos ventos, tipo Pã, entre os gregos) que garantia colheita farta e ajudava a mulherada a arranjar marido e ter filhos.

No início do século XX o arqueólogo italiano Rodolfo Lanciani, pesquisando textos antigos, concluiu que a gruta da Loba mãe se localizaria realmente próxima ao Palatino e sob as ruínas do palácio construído por Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Cavou, escavou, procurou feito doido, mas nada encontrou.

Entretanto, há dois anos, arqueólogos passaram a explorar o local com sondas subterrâneas. Em julho, um dos aparelhos detectou um espaço vazio, a 16 metros de profundidade. Era uma câmara circular, com 7 metros de altura e 6,5 de diâmetro, coberta por uma cúpula. Uma filmadora controlada a distância revelou os deslumbrantes mosaicos que cobrem o teto e as paredes, feitos de mármore e conchas. Estudos indicam que essa é mesmo a gruta reverenciada pelos antigos romanos como o local onde vivia a loba que salvou Rômulo e Remo.

Como se vê, Roma ainda é capaz de surpreender o mundo.

Resta agora às meninas interessadas em arranjar marido e ter bons filhos conhecer a cidade eterna, e claro, em breve, dar uma passadinha na gruta da Loba para pedir uma ajudinha de Luperco.


Prof. Péricles

terça-feira, 3 de abril de 2012

CULPA DO LULA

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.

- É nisso que deu oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.

- A nova classe média nos descaracterizou?

- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...

- Buuu para o Lula, então?

- Buuu para o Lula!

- E buuu para o Fernando Henrique.

- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!

- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?

- Sim. Não. Quer dizer...

- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

- Por quê?

- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

- Acho, mas...

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.


Luis Fernando Verissimo
“O Estado de S.Paulo”