quinta-feira, 1 de março de 2012

O NAZISMO NO PODER

Na gelada manhã de 30 de janeiro de 1933 (79 anos) chegaria ao fim a tragédia da República de Weimar, a tragédia de 14 frustrados anos em que os alemães buscaram infrutiferamente pôr em funcionamento uma democracia.

Mais ou menos às 10h30, os membros do ministério proposto em negociações entre nazistas e reacionários da velha escola, mais forças conservadoras e de centro, parcelas sociais-democratas, além dos grandes empresários, atravessam o jardim do palácio e se apresentam no gabinete presidencial.

O presidente da República, o velho marechal Paul Von Hindenburg, 86 anos, confia a chancelaria a Adolf Hitler, 43 anos, ‘führer’ do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NationalsozialistischeDeutsche Arbeiterpartei- NSDAP), mais conhecido como Partido Nazista, e o encarrega de formar o novo governo.

A nomeação surpreendente de Hitler seguiu-se às tratativas entre os dirigentes conservadores, notadamente o ex-chanceler Franz von Papen, e os simpatizantes nazistas, representados pelo doutor Hjalmar Schacht, um reputado economista, responsável pelo reordenamento espetacular da economia alemã após a crise monetária de vertiginosa inflação de 1923, o «ano desumano».

Os conservadores e o grande empresariado queriam se servir de Hitler para deter a ameaça comunista. Não acreditavam que os nazistas representassem um perigo real para a democracia alemã. No entanto, eles sabiam bem quem era Hitler e sua ideologia, desde a publicação do Mein Kampf, a ‘Bíblia nazista’, oito anos antes.

O Partido Nazi estava perdendo velocidade eleitoral. No pleito de julho de 1932 haviam conquistado 230 cadeiras no Reichstag de um total de 608 e 37,3 % dos votos populares. Já nas eleições legislativas de novembro do mesmo ano obtiveram 33,1% dos sufrágios, perdendo 2 milhões de votos e 34 lugares no Parlamento. Os comunistas ganharam 750 mil votos e os sociais-democratas perderam a mesma quantidade. Com esse resultado os comunistas passaram de 89 para 100 cadeiras e os socialistas caíram de 133 para 121 deputados. Os dois somados – 221 – superavam largamente as 196 cadeiras nazistas. A perda de 2 milhões de votos nazistas sobre um total de 17 milhões, em quatro meses, significava um duro revés.

O governo formado por Hitler foi aberto amplamente aos representantes da direita clássica. Não contava com mais do que três nazistas, Hitler entre eles. Von Papen é, ele próprio, o vice-chanceler.

Por falta da maioria absoluta no Reichstag, Hitler parecia longe de poder governar a seu talante. Ninguém, a não ser os nazistas, levava a sério os discursos antissemitas e racistas. Muitos alemães pensavam, ao contrário, que ele poderia recuperar o país atormentado pela crise econômica.

Com uma rapídez fulminante e por meios totalmente ilegais, vai consolidar a ditadura a despeito da fraca representação de seu partido no governo e no Reichstag.

No dia seguinte a sua investidura na chancelaria, Hitler dissolve o Reichstag e prepara novas eleições para 5 de março de 1933. Ao mesmo tempo, traça aquilo que seu chefe de propaganda, Josef Goebbels, chamava de «as grandes linhas da luta armada contra o terror vermelho».

As tropas de assalto de seu partido, as SA (Sturmabteilung) aterrorizam a oposição, à guisa de campanha eleitoral. Cometem pelo menos 51 assassinatos.

Um dos principais acólitos de Hitler, Hermann Goering, ocupando o cargo chave de Ministro do Interior da Prússia, manipula a polícia, demite funcionários hostis, coloca os nazistas nos postos essenciais.

Hitler faz rondar o «espectro da revolução bolchevique», mas como esta tarda a eclodir, decide inventá-la. Já em 24 de fevereiro, uma batida na sede do Partido Comunista permite a Goering anunciar a apreensão de documentos prenunciando a revolução. Esses documentos jamais foram publicados.

Como toda essa agitação não parecia bastar para reunir a maioria dos sufrágios aos nazistas, decidem, logo em seguida, em 27 de fevereiro, pôr fogo no Reichstag, lançando a culpa aos comunistas do Comintern.

As classes conservadoras julgavam ter encontrado o homem que as ajudaria a alcançar suas metas : erguer uma Alemanha autoritária que pusesse termo à « insensatez democrática » ; esmagasse os comunistas e o poder dos sindicatos ; arrancasse as algemas de Versalhes; reconstruísse um grande exército; reconquistasse para o país o seu lugar ao sol.





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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ORIENTE MÉDIO – ACOMPANHANDO AS NOTÍCIAS

Para aqueles que procuram compreender melhor o mais complexo entrevero político de nossos tempos (a questão do Oriente Médio), o entendimento de alguns conceitos é fundamental para acompanhar a linguagem das notícias e dos livros que se publicam sobre o assunto. Então, aí vão algumas coisas que você deve saber antes de entrar nesse “labirinto”:

- SEMITA: Povo antiguíssimo que habitava o planalto da Turquia e que a milhares de anos ao migrar para áreas mais amenas deram origem a três povos: os hebreus, os Assírios e os Fenícios. Os dois últimos já desapareceram, mas os hebreus são os modernos judeus. Quando os livros dizem que os nazistas eram anti-semitas estão dizendo que eram anti-judeus.

- SIONISTA: nome que se dá ao movimento nascido na Áustria no final do século XIX que buscava estabelecer um espaço nacional, uma área geográfica onde se estabeleceria o estado Judeu, ou Israel.

- PALESTINA: genericamente designa toda uma região do Oriente Médio, em vários aspectos sagrada para as três maiores religiões do mundo – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Mais especificamente designa a pátria do povo palestino, muçulmanos de turbante quadriculado. O estado Palestino criado pela ONU em 1948 é composto de duas regiões não contínuas, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

- GUERRA DOS SEIS DIAS: Conflito ocorrido em 1967 que estabeleceu uma vitória militar completa de Israel/Estados Unidos. No final do conflito a Palestina não existia mais como nação independente já que foi totalmente anexada por Israel. Além da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, Israel tomou a Península do Sinai, do Egito e as Colinas de Golan, da Síria.

- INTIFADA: ou “revolta das pedras”. Designação dada a uma resistência civil dos palestinos contra Israel nas áreas ocupadas.

- OLP: Organização para a Libertação da Palestina, grupo criado na década de 60 onde se destacou a liderança de Yasser Arafat. A OLP defendia a luta armada contra o invasor e ações de impacto, como seqüestros de aviões, por exemplo, para chamar a atenção do ocidente para a sua luta. Na década de 90 a OLP acabou, transformando-se em ANP. Atualmente lideranças políticas palestinas falam em recriar a OLP agora com outras funções.

- ANP: Criada por Yasser Arafat nos anos 90 com o intuito de substituir as ações armadas e de terror contra Israel pela diplomacia, reconhecendo o estado judeu e negociando o reconhecimento por parte deste.
- HAMAS e FATAH: grupos políticos e ativistas dos palestinos. São rivais e, de certa forma, inimigos. O Hamas não é reconhecido por Israel e governa (depois de eleito em eleições livres) a Faixa de Gaza. O Fatah consegue dialogar diplomaticamente com Israel e governa (também foi eleito) a Cisjordânia.

- LIKUD: Partido político radical de Israel. Defensor da manutenção do controle da questão palestina mantendo-se o uso da força. O diálogo que se pretende avançar em busca da paz com os palestinos sempre é mais difícil (ou impossível) quando esse grupo, como agora, está no poder.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A CULPA SEMPRE É DO POBRE

Roma foi o maior império da antiguidade. Unificou seu poder das ilhas da Bretanha às fronteiras da Índia, do Egito ao norte da África às terras próximas da Escandinávia. Este vasto Império explorou a exaustão o trabalho escravo. Havia escravos em Roma para todos os serviços e atividades, desde lecionar (sim, professores sempre foram escravos) até lutar e morrer para a diversão da platéia nos estádios. Desde que Roma caiu sob as patas dos cavalos dos “bárbaros” os historiadores consideraram o seguinte: a causa da queda do gigante foi... dos escravos. Sim, foi o excesso de escravos nas atividades remuneradas que fez crescer o desemprego entre a população livre, a inflação, etc., que por fim fez ruir o maior império do ocidente. Não foi a ganância, a vaidade, a exploração. Foram os escravos. Sugados até o bagaço ainda carregam para a eternidade a culpa do fim do mundo romano.

Na Idade Média, os grandes latifundiários compunham a nobreza. Junto com o clero, concentravam toda a riqueza da época: a posse da terra. Os pobres, os miseráveis, trabalhavam para os donos de terra de sol a sol, sem salário, sem sindicato, sem elogios, nem hora extra. Eram os servos. Uma espécie de escravo que não era escravo só porque não era um mero instrumento que pudesse ser comprado ou vendido, mas que no mais, vivia igual ou pior que o escravo romano do passado. Quando esse mundo pré-determinado pelo nascimento entrou em decadência, com pestes mortais, fome e guerras infindáveis, os analistas consideraram que a culpa foi... dos servos. Seu crescimento populacional sem ser acompanhado por mais terras para feudalizar, e a busca desses infelizes de uma vida melhor através do comércio provocaram a ruptura do mundo feudal.

Hoje, o capitalismo que até uma década atrás se pavoneava como o modelo social perfeito, vencedor de todas as disputas e cujos defensores chegaram a alardear o fim da história, esse capitalismo, como o conhecemos, agoniza. Potências econômicas no divã, não sabem o que fazer para conter a decadência de suas moedas, de seus valores, de suas economias de papel. No sufoco, buscam culpados e os culpados são... os pobres.

Sim, são as políticas públicas, os investimentos públicos em saúde, previdência, educação, transporte, em síntese, os gastos públicos renomeados de déficit público os culpados. Os pobres, claro, só podiam ser eles. A culpa não é do gasto excessivo em guerras. Nem são das falcatruas criadas nas instituições especulativas internacionais. Nem da especulação gananciosa e sem freios que nada cria além de uma neurótica rede de mentiras. Não. A culpa é do remédio gratuito. Do valor da aposentadoria. Do aposentado ainda com saúde para trabalhar. Das leis trabalhistas. A culpa é dos pobres.

Quando o presidente Obama injeta aquela avalanche de dinheiro “na economia” ele está investindo que dinheiro? O do contribuinte, e sabemos bem que a contribuição maior é a do pobre. Pra onde deveria ir? Para os investimentos públicos, lógico, pois nesse país, nem saúde pública gratuita existe. Mas pra onde realmente irá? Para os cofres bancários “salvar o sistema financeiro nacional”, ou seja, salvar os coitadinhos dos bancos que faliram vendendo imóveis que não existiam, publicando saldos de lucros mentirosos para vender suas ações na bolsa, na ciranda imoral das falcatruas.

Essa associação do “sistema financeiro” com “nacionalismo” foi o argumento usado para convencer os povos da necessidade da Primeira Guerra Mundial. Essa associação é indevida e mentirosa pois povo e banco não são, nunca foram e jamais serão a mesma coisa e jamais habitarão o mesmo barco.

O discurso do momento, repetido por todos os governantes, que faz eco em todos os meios de comunicação é esse: a culpa da crise é o déficit público, os gastos públicos.

Por favor, não caia nessa, mentira.
A culpa não é dos pobres.

Prof. Péricles

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

TRÊS JORNALISTAS

Em tempos de polêmica sobre a mídia, apresentamos a seguir três histórias de jornalistas que ajudaram, por bem ou por mal, a escrever a história do Brasil.

01) Morre o Jornalista, Cai Um Imperador.

Líbero Badaró, nasceu na Itália e mudou-se para o Brasil em 1826. Médico formado pelas Universidades de Turim e Pávia, mas era de escrever que gostava mais. No Brasil se radicou em São Paulo, fundou o jornal “O Observador Constitucional” tornando-se seu diretor e redator chefe. Liberalista, defendia causas populares e progressistas para sua época. Tornou-se crítico voraz do primeiro imperador do Brasil. Noticiou e comentou com entusiasmo os acontecimentos da Revolução de 1830 em Paris, defendendo que D. Pedro I era figura política autoritária, idêntica ao deposto Carlos X.

As 22 hs. do dia 20 de novembro de 1830, quando voltava pra casa na rua de São Sepé (hoje rua Líbero Badaró) foi cercado por quatro elementos e fuzilado com um tiro fatal de bacamarte. Segundo testemunhas antes de morrer teria dito “morro defendendo a liberdade”.

A morte do jornalista italiano causou uma comoção em São Paulo, onde 5 mil pessoas compareceram ao enterro, e no restante do país.
D. Pedro I foi responsabilizado pela morte (apenas uma pessoa foi presa, porém logo libertada) e esse foi um forte componente na crise política que derrubou o imperador que abdicou em 07 de abril de 1831.

02) O Atentado que Feriu o País.

Carlos Lacerda fundou o jornal “Tribuna da Imprensa” em 1949. Esse talentoso jornalista e orador foi vereador, deputado e Governador da Guanabara. Mas, seu sonho mesmo, era ser presidente. O problema é que para ser presidente ele deveria enfrentar uma eleição nacional e vencê-la, e isso, parecia não agradar Lacerda, um golpista nato, que tentou impedir a posse de JK, foi pivô da crise que levou Getúlio Vargas ao suicídio, apoiou Jânio Quadros e depois tentou derrubá-lo, e, finalmente, foi um dos articuladores do golpe militar de 1964, embora tenha sido rejeitado posteriormente pelo regime. É mole, ou quer mais?

No dia 5 de agosto de 1954, quando retornava para casa na Rua Toneleros, acompanhado do amigo major-aviador Rubens Florentino Vaz, Carlos Lacerda sofreu um atentado a tiros. Como saldo do atentado o Major morreu e Lacerda ficou ferido, com um tiro no pé. O raciocínio da época foi o seguinte: Lacerda, líder da UDN (partido de oposição ao presidente Getúlio Vargas) e jornalista tagarela que diariamente atacava o presidente em seu jornal “Tribuna da Imprensa” e assim, encarnara o anti-getulismo, sofrera um atentado à bala. Quem seria o mentor? Quem? Ula-la, ele mesmo, o próprio presidente seria o maior interessado em calar a boca do desafeto. O próprio Lacerda jogou lenha na fogueira e uma semana após o atentado já pedia, em seu jornal, a deposição do presidente da república.

Resultado? Na madrugada de 24 de agosto, ou seja, apenas 19 dias depois do tiroteio, o presidente Getúlio Dorneles Vargas se suicidava nas dependências do Palácio do Catete. Um tiro no peito que iria ter profundas conseqüências na história do Brasil.

03) O Jornalista do Suicídio Impossível

Em 1975 o regime militar mantinha-se em pé em terreno movediço. O governo Médice, período de maior terror do regime, havia acabado em 1974 e o novo General na presidência, Gen. Geisel, anunciava a abertura política, lenta e gradual de retorno à democracia. Isso exigia estratégia e atenção permanente para acomodar as “peças” no tabuleiro político, tanto os que pressionavam para o retorno à normalidade, como não desagradar a ala dura do regime que defendia mais tempo de ditadura. Geisel se equilibrava numa corda bamba e por isso seu governo é denominado de “pendular”, pois recheado de idas e vindas, entre o arbítrio e a abertura. Um fato que sacudiria a corda bamba foi a morte de um jornalista.

O jornalista Vladimir Herzog tinha então, 38 anos. Pai de sois filhos e diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, não era militante de nenhum partido político ou de qualquer organização de luta contra a ditadura.

No dia 24 de outubro de 1975, Herzog despediu-se da família com um “já volto e compareceu ao DOI-CODI de São Paulo para prestar depoimento sobre sua suposta proximidade com o PCB. No dia seguinte, 25 de outubro, em nota oficial desse órgão da repressão era anunciada a morte do Jornalista Vladimir Herzog por suicídio através de enforcamento na cela em que estava detido.

Para comprovar o fato, foram divulgadas na imprensa, fotos de Vladimir como supostamente havia sido encontrado pelos carcereiros. Para espanto de todos a foto mostrava Vladimir com a corda atada ao pescoço e a uma das grades, numa posição abaixo da própria altura. Para morrer por asfixia, o suicida teria que fazer muita força, sentado, abaixando a cabeça até o chão e não erguendo-a até a asfixia fazer seu trabalho. Considerando-se o instinto de sobrevivência, a patética foto mostrava a impossibilidade do enforcamento.

Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, novas fotos saídas dos abismos do terror, mostravam Vladimir Herzog nu, com a cabeça entre as mãos em evidente estado de perturbação própria dos torturados. O processo movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a morte de Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado.


Prof. Péricles

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MAZDA X ARIMÃ


A história dos persas como civilização, inicia-se realmente quando Ciro, o grande, líder dos Persas, derrota seus vizinhos, primos e eternos rivais, os Medas ou Medos. Isso ocorreu no século VII a.C.

Após a vitória, Ciro não esmagou o adversário vencido, como era de se esperar, mas ofereceu a este, um plano de fartura. Ciro pretendia a união dos dois povos, persas e medas, formando um só povo, sob seu comando.

A maioria dos Medos aceitou a proposta de bom grado. Uma parcela, que não aceitou, foi então, convidada por Ciro a migrar em busca de outros ares, e essa, aliás, é a origem de um importante povo da atualidade sem pátria, os Curdos.

Inteligente, hábil, único não hebreu nomeado como “enviado de Deus” no antigo testamento (ele libertou os hebreus escravizados na Babilônia e os levou de volta à Palestina), Ciro deu origem ao que poderíamos chamar de o primeiro
Império da antiguidade, onde os inimigos derrotados em guerras expansionistas não eram massacrados (e suas edificações destruídas), mas mantidos relativamente livres, na condição de Província (Satrápias), acessa ao imperador dos Persas.

Claro que, além da união política proposta, estava também a obrigatoriedade de pagar tributos anuais ao governo de Persépolis (capital do Império), e para isso eram designados sátrapas, fiscais do governo central (olhos e ouvidos do rei) para impedir sonegações e prever rebeliões.

Os imperadores persas esmeraram-se na construção de estradas que unissem as diferentes Satrápias à capital do Império e entre si. Criaram também, o primeiro serviço regular de correios do mundo.

Esse povo conhece também, uma interessante religião estruturada por seu profeta-mor Zaratrusta ou Zoroastro. Nessa religião existiam dois deuses: Mazda (deus do bem, da luz e da ordem) e Arimã (deus do mal, das trevas, do caos).
Esses deuses estavam em eterna luta pelo controle do universo, e os homens, que após a morte seriam julgados e levados para o reino divino em que mais estivessem identificados, com suas ações determinavam qual deles era preponderante.

O primeiro grande império da humanidade teve duração, relativamente curta. Após conquistarem o oriente próximo, os reinos da mesopotâmia e o Egito, ao norte da África, seus interesses comerciais os levaram a cobiçar o porto de Atenas que dominava as rotas do Mar Egeu e à guerra contra os gregos (Guerras Médicas), em que foram vencidos, em duas campanhas.

A partir das derrotas nas Guerras Médicas (vem de Medas, como os persas eram chamados pelos gregos) o império entrou em decadência e acabaria sendo totalmente conquistado por Alexandre, o grande, na formação de outro império meteórico, o Império Macedônico, no século IV a.C..

O Irã é, e está, onde se originou a Pérsia. Até 1933 o nome oficial do país era Pérsia.

O povo iraniano, incorretamente identificado até pela mídia como árabe, é, portanto, persa e não árabe. A chegada do islamismo à região ocorreu no século VII da nossa era, durante o Jihad muçulmano, a expansão da fé após a morte de Maomé.

Até 1979 foi governado por um monarca denominado de Xá (o último foi o Xá Rezza Pahlev) e muito próximo do ocidente.
Nesse ano de 1979 ocorreu a chamada “Revolução Xiita” do Aiatolá Komeine, que do seu exílio, em Paris, comandou a revolta liderada por estudantes que derrubou o governo do Xá.

Desde então o país adotou os preceitos de um governo fundamentalista cuja autoridade máxima é exercida por um Conselho de Aiatolás (autoridade religiosa máxima entre os xiitas) e o Corão fundamenta a Constituição.

O governo iraniano é acusado de violentar direitos humanos reconhecidos internacionalmente, apedrejar mulheres consideradas infiéis e intolerância contra os homossexuais.

O Presidente Ahmedinejah, por sua vez, faz aumentar a polêmica, com declarações nada amenas. Em discurso na ONU teria afirmado que o Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial não existiu e foi forjado pela propaganda sionista. Em outra oportunidade afirmou que no Irã não existem homossexuais, já que o país não os admite, entre outras afirmações.

Atualmente o Irã (ou Pérsia) está no centro de grande polêmica internacional que ameaça degringolar para uma guerra de efeitos imprevisíveis.

Possui um programa nuclear voltado, segundo seus governantes, para objetivos pacíficos.

Acusado por Israel e Estados Unidos de que seu programa busca construir armas nucleares e atacar Israel o governo de Ahmedinejah rebate e afirma que só louco atacaria Israel com armamento nuclear já que Israel possui, não uma, mas centenas de armas nucleares.

Apesar de não ter condições bélicas de derrotar as forças norte-americanas e israelenses, o Irã possui reconhecida capacidade de atacar o estado judeu, bloquear o Estreito de Ormuz por algum tempo e de exportar a guerra a toda a região do Oriente Médio.

Dias aflitivos vivem os que torcem pela paz Aflição que, infelizmente, os Estados Unidos pré-eleitoral e Israel do Likud, parecem não ter interesse em extinguir.

Observando-se o cenário atual parece que o velho Zaratrusta diria que Arimã está derrotando Mazda, de goleada.

Prof. Péricles

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SALVAR VIDAS OU O CAPITAL?

Frei Betto

O melhor Papai-Noel do mundo: 523 instituições financeiras europeias receberam quatro dias antes do Natal: 489 bilhões de euros (o equivalente a R$ 1,23 trilhão), emprestados pelo BCE (Banco Central Europeu) a juros de 1% ao ano!

Curiosa a lógica que rege o sistema capitalista: nunca há recursos para salvar vidas, erradicar a fome, reduzir a degradação ambiental, produzir medicamentos e distribuí-los gratuitamente. Em se tratando da saúde dos bancos, o dinheiro aparece num passe de mágica!

Há, contudo, um aspecto preocupante em tamanha generosidade: se tantas instituições financeiras entraram na fila do bolsa-BCE, é sinal de que não andam bem das pernas…

Quais os fundamentos dessa lógica que considera mais importante salvar o Mercado que vidas humanas? Um deles é este mito de nossa cultura: o sacrifício de Isaac por Abraão (Gênesis 22, 1-19).

No relato bíblico, Abraão deve provar a sua fé sacrificando a Javé seu único filho, Isaac. No exato momento em que, no alto da montanha, prepara a faca para matar o filho, o anjo intervém e impede Abraão de consumar o ato. A prova de fé fora dada pela disposição de matar. Em recompensa, Javé cobre Abraão de bênçãos e multiplica-lhe a descendência como as estrelas do céu e as areias do mar.

Essa leitura, pela ótica do poder, aponta a morte como caminho para a vida. Toda grande causa - como a fé em Javé - exige pequenos sacrifícios que acentuem a magnitude dos ideais abraçados. Assim, a morte provocada, fruto do desinteresse do Mercado por vidas humanas, passa a integrar a lógica do poder, como o sacrifício "necessário” do filho Isaac pelo pai Abraão, em obediência à vontade soberana de Deus.

Abraão era o intermediário entre o filho e Deus, assim como o FMI e o BCE fazem a ponte entre os bancos e os ideais de prosperidade capitalista dos governos europeus - que, para escapar da crise, devem promover sacrifícios.

Essa mesma lógica informa o inconsciente do patrão que sonega o salário de seus empregados sob pretexto de capitalizar e multiplicar a prosperidade geral, e criar mais empregos. Também leva o governo a acusar as greves de responsáveis pelo caos econômico, mesmo sabendo que resultam dos baixos salários pagos aos que tanto trabalham sem ao menos a recompensa de uma vida digna.

O deus da razão do Mercado merece, como prova de fidelidade, o sacrifício de todo um povo. Todos os ideais estão prenhes de promessas de vida: a prosperidade dos bancos credores, a capitalização das empresas ou o ajuste fiscal do governo. Salva-se o abstrato em detrimento do concreto, a vida humana.

O espantoso dessa lógica é admitir, como mediação, a morte anunciada. Mata-se cruelmente através do corte de subsídios a programas sociais; da desregulamentação das relações trabalhistas; do incentivo ao desemprego; dos ajustes fiscais draconianos; da recusa de conceder aos aposentados a qualidade de uma velhice decente.

A lógica cotidiana do assassinato é sutil e esmerada. Aqueles que têm admitem como natural a despossessão dos que não têm. Qualquer ameaça à lógica cumulativa do sistema é uma ofensa ao deus da liberdade ocidental ou da livre iniciativa. Exige-se o sacrifício como prova de fidelidade. Não importa que Isaac seja filho único. Abraão deve provar sua fidelidade a Javé. E não há maior prova do que a disposição de matar a vida mais querida.

A lógica da vida encara o relato bíblico pelos olhos de Isaac. Este não sabia que seria assassinado, tanto que indagou ao pai onde se encontrava o cordeiro destinado ao sacrifício. Abraão cumpriu todas as condições para matar o filho. Subjugou-o, amarrou-o, colocou-o sobre a lenha preparada para a fogueira e empunhou a faca para degolá-lo.

No entanto, inspirado pelo anjo, Abraão recuou. Não aceitou a lógica da morte. Subverteu o preceito que obrigava os pais a sacrificarem seus primogênitos. Rejeitou as razões do poder. À lei que exigia a morte, Abraão respondeu com a vida e pôs em risco a sua própria, o que o forçou a mudar de território.

Se não mudarmos de território – sobretudo no modo de encarar a realidade -, como Abraão, continuaremos a prestar culto e adoração a Mamom. Continuaremos empenhados em salvar o capital, não vidas, e muito menos a saúde do planeta.


[Frei Betto é escritor, autor de "Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Vozes), entre outros livros.