sábado, 17 de dezembro de 2016

AFINAL, O QUE É O AUTISMO?


Por Gladstone Barbosa Alves



Autismo é uma diferença neurológica. Pessoas autistas podem apresentar comportamentos “atípicos” em três áreas e formas distintas: interação social, comunicação e interesses restritos ou comportamentos repetitivos.

Autistas se diferenciam de não autistas na maneira como experimentam o mundo e na maneira como aprendem e se desenvolvem a partir dessas experiências. Assim, o autismo pode resultar em diferenças mensuráveis na percepção, atenção, memória, inteligência, etc.

O desenvolvimento de uma criança autista difere do que é considerado padrão para não autistas.

O autismo também pode resultar na presença de habilidades pouco frequentes na população em geral. No entanto, o padrão de habilidades especiais e dificuldades que é característico do indivíduo autista pode conduzí-lo a diversos problemas, uma vez que suas necessidades e comportamentos atípicos distinguem-se do que a sociedade considera “normal” ou esperado.

O autismo não é uma doença, nem pode ser reduzido a um conjunto de comportamentos. 

A organização neurológica e o perfil cognitivo de um autista não é mais nem menos válido do que a organização neurológica e perfil cognitivo de um não autista. De fato, ambos são capazes de se desenvolver, aprender e alcançar objetivos, embora possivelmente o farão de formas distintas e recorrendo a tipos diferentes de auxílio ao longo do caminho.

Comparado a não autistas, um autista pode apresentar maior avanço ou facilidades em algumas áreas e maior atraso ou dificuldades em outras. Por exemplo, um não autista pode precisar de um nível significativo de apoio para desenvolver habilidades ou absorver conteúdos com os quais um autista encontra grande facilidade, e ter facilidade com conteúdos que o autista terá dificuldade para absorver.

Quando um indivíduo não autista consegue se desenvolver, com base na oferta dos recursos apropriados às suas necessidades típicas, nós não dizemos (para descrever a ele e à sua situação) que “o tratamento foi um sucesso” ou que ele se “recuperou” ou ainda que o seu não-autismo tornou-se “menos severo”. Do mesmo modo, ao descrever o desenvolvimento de um autista, devemos evitar o uso de expressões que sejam desinformadoras e prejudiciais a esse indivíduo.

Autistas são conscientes do que ocorre em seus entornos, ainda que nem sempre sejam capazes de demonstrar ou responder de forma típica. 

Em certas situações, o indivíduo pode até mesmo não conseguir, em absoluto, comunicar o que está sentindo ou pensando. No entanto, isso não reflete incapacidade ou indisposição para se comunicar.

Autistas querem se comunicar e podem fazer isso sempre que forem oferecidos contextos nos quais essa comunicação é de fato possível e existe disposição dos interlocutores para reagir a ela (assim como em qualquer outra situação, comunicação com um autista não é um monólogo de um ou de outro). Isso não difere das necessidades típicas de não autistas, exceto pelo fato de que a esses são oferecidos os contextos adequados em frequência muito maior.

Autistas tendem a ser distinguidos entre si de acordo com a “intensidade” aparente com que suas características se apresentam. No entanto, é importante notar como essas apresentações podem variar, para um mesmo indivíduo, às vezes ao longo de curtos períodos de tempo, influenciadas pelos diferentes contextos a que o autista é submetido ao longo de um dia, semana ou mês.

A intensidade com que uma característica autística se evidencia em uma criança não está relacionada à sua inteligência ou às suas potenciais realizações como pessoa adulta. No entanto, o preconceito que a sociedade direciona à essas características pode fazer com que indivíduos em que essas características são mais evidentes sejam (incorretamente) considerados incapazes de aprender, se comunicar e de tomar decisões sobre suas próprias vidas.



Gladstone Barbosa Alves, mestre em Engenharia Elétrica pela UFMG, é pai de um casal de crianças autistas e ele mesmo diagnosticado com autismo. É vice-presidente do Instituto Superação, uma organização sem fins lucrativos baseada em Belo Horizonte que trabalha com a promoção de políticas públicas voltados para indivíduos autistas.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

OS DEUSES AINDA VIVEM


A mitologia não é uma coleção de obras ficcionais, por mais bela que pareça.

A mitologia fala do próprio homem, enquanto espécie capaz de refletir sobre si mesmo e sobre o mundo que o cerca.

Quando os gregos narravam as aventuras de seus deuses e heróis, interpretavam ao próprio homem, sua história, seus medos, afetos, características.

Quem de nós não tem um pouco dos ciúmes de Hera? Ou dos desejos de Afrodite e mesmo, da ambição pelo poder de Zeus?

Quem de nós já não pretendeu entender a aparente insignificância da vida e o que vem depois da morte? Ou por que o amor sorri para alguns mas nega seu sorriso para outros?

Os deuses gregos, seus heróis, semideuses, ninfas, sereias e criaturas imaginárias de mil cabeças, mil amores, nada mais são do que a própria representação do homem, seus medos e esperanças.

Por isso, passada a perplexidade do primeiro contato e o riso irônico dos mais apressados, a mitologia clássica nos traz uma profunda admiração por sua forma de entender o mundo numa época em que a tecnologia apenas engatinhava no uso da metalurgia, a comunicação se dava na velocidade dos passos e o comércio não ia além dos espaços mais próximos.

Para os gregos o homem era a síntese do que havia de mais extraordinário e brilhante. O homem é deus pois os deuses são homens, em suas qualidades e defeitos.

Na dinâmica histórica, a mitologia clássica foi substituída por outras mitologias.

Só que, enquanto a mitologia clássica buscava entender a humanidade e sua essência principalmente em seus desejos de liberdade e de expressão, as demais mitologias que vieram substitui-la buscaram dominar esses desejos e justificar essa dominação e o predomínio de alguns homens sobre os demais homens, não na relação do merecimento pela bravura, mas, pela dominação econômica a partir da hegemonia dos privilegiados sobre as massas.

A mitologia judaico-cristã trouxe o mito do pecado, consequentemente do castigo (o inferno) e da eleição aos céus daqueles que fossem mais obedientes a um Deus único, que na verdade só era compreendido pela classe sacerdotal (a Igreja) e que, maleável nos Concílios que criaram o cristianismo e elegeu evangelhos aboliu a rebeldia privilegiando a vontade dos poderosos.

Um homem criativo, livre e capaz representado na mitologia clássica foi rotulado de pecador e restrito à mitologia pagã, execrada e destruída pelos novos mitos do Papa e sua hierarquia de bispos e anjos, e de um governo aliado a ela.

Já a mitologia da Revolução industrial, manteve o mito do homem perverso e danado que deve ser salvo pela obediência, e acrescentou o mito do trabalho como única forma de dignificar sua caminhada até o céu e a aceitação da miséria da maioria e da propriedade privada de alguns como qualidades inerentes aos eleitos.

A flauta de Pã foi substituída pelo apito da fábrica e a arte natural do ser humano transformada em mais uma mercadoria a ser embalada e vendida conforme são todos os outros valores também transformados em mercadoria.

Nesse sentido vivenciamos tempos de sub-mitologias em que, muito mais do que criações temos substituições. Tempos em que, por exemplo, o Oráculo de Delfos foi substituído pelas verdades televisivas, incontestáveis a um grande número de pessoas que repassaram à mídia o exercício tão estimulado pelos gregos de... pensar.

A mitologia moderna supervaloriza o poder tecnológico e da rapidez da informação, a competitividade entre os seres e o mito do homem realizado a partir das aquisições materiais que provém seu conforto e seu supérfluo.

É o mito do homem bem-sucedido e vitorioso, num mundo tão fictício como o dos titãs, em que todos teriam as mesmas condições de serem bem-sucedidos e vitoriosos, bastando para isso o talento do trabalho.

Porém, apesar dessas “virtudes” predominarem no imaginário do homem moderno, os valores preconizados pela mitologia clássica não foram totalmente destruídos, ao contrário, persistem vivendo em algum lugar da sua psique.

Paulatinamente o homem moderno foi descobrindo que a mitologia do consumo não o faz mais feliz, nem mais livre ou sonhador. A mitologia do consumo, na verdade, o faz mais obeso, deprimido, solitário e mentiroso para consigo mesmo.

O homem moderno sonha em se dar bem, mas algo nele ainda sonha em ser feliz e suspeita que a felicidade e se dar bem não sejam exatamente a mesma coisa e a mitologia clássica, sua ninfas, deuses e heróis ainda pulsa em algum lugar de sua alma.

Assim é que, apesar do desamor dos mitos atuais e da entrega de seu destino ao poder do supérfluo ainda existe dentro de cada um o desejo de ser livre, de ser criativo e de criar a própria arte, como um sopro da flauta de Pã.

Talvez fosse esse o destino histórico das ideias socializantes do marxismo e humanizantes do anarquismo, que se apresentaram como oposição ao individualismo do capital, mas foram abortadas pelo poder tacanho da cobiça humana de déspotas como Stalin, Hitler e presidentes Iankes.

Mas Zeus, Dionísio, Afrodite e todos os deuses e criaturas mitológicas ainda estão lá, dentro de cada um de nós, pois eles não morrem, simplesmente porque os mitos somos nós.

E isso, talvez seja apenas o que nos reste de esperança num mundo melhor e num homem verdadeiramente feliz, numa sociedade mais justa.

Em algum lugar do nosso tempo, que não se mede nas horas, Afrodite ainda seduz, Apolo fascina, Dionísio embriaga e Posseidon repousa seu olhar sobre a imensidão dos oceanos.


Prof. Péricles

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

POR UM DÓLAR FURADO


Por Mauro Santayana


No final da década de 1980, embarcando em um vôo da Lufthansa - não havia lugar nos aviões da Varig naquele dia - do Rio de Janeiro para a Alemanha, tive o dissabor de ser revistado, no tubo que levava à aeronave (tecnicamente já território alemão, assim como o próprio avião) por policiais germânicos, que examinavam criteriosa e ostensivamente os passageiros brasileiros ou latino-americanos, e deixavam passar os outros, principalmente quando se tratava de europeus ou de pessoas de sua própria nacionalidade.

Indignado com a cara de pau dos sujeitos, e, principalmente com a do governo da Alemanha Ocidental, desembarquei em Frankfurt e telefonei imediatamente para o então Ministro da Justiça, Fernando Lyra, a quem conhecia, e com quem convivia, desde a luta pela redemocratização, a quem sugeri que fizéssemos o mesmo, colocando uma equipe de agentes da Polícia Federal revistando os passageiros que embarcassem no Rio e em São Paulo em aviões da Varig com destino à Alemanha, e que o fizessem apenas com os alemães, deixando passar, incólumes, os brasileiros e os de outras nacionalidades.

Em menos de uma semana, quando voltei ao Brasil, os corpulentos gringos haviam desaparecido, com certeza chamados de volta a seu país, o que nos deu direito de fazer o mesmo, dispensando a equipe da Polícia Federal de continuar revistando os passageiros alemães dos aviões da Varig.

A sutileza, na diplomacia, às vezes dispensa a papelada e os comunicados oficiais. Tivemos a oportunidade de lembrar a eles, nesse episódio, dois velhos ditados que os alemães atribuem à sua própria lavra: "das billige ist immer das teuerste", a de que o barato acaba saindo sempre mais caro, e "taten sagen mehr als worte", o de que as ações valem mais que as palavras.

Esta longa introdução vem ao caso, a propósito da absurda, para não dizer, imbecil, retomada da decisão de se isentar, unilateralmente, de vistos, países ditos "desenvolvidos", na sequência da também estúpida isenção “temporária” - que já sabíamos que não seria temporária - desses vistos por ocasião da Olimpíada de 2016, pelo governo Dilma - contra a qual nos posicionamos à época - sem a exigência de reciprocidade.

Em reunião no Palácio do Planalto, com a presença de quatro ministérios, o governo atual já teria aprovado a prorrogação da medida, com a isenção de vistos para australianos, japoneses, canadenses e, claro, norte-americanos; e, burramente - em uma decisão que não esconde o patético viés ideológico - resolvido deixar de fora a China por causa do "risco migratório", embora nossas fronteiras sejam uma peneira por onde entra e sai, a seu bel prazer, gente do mundo inteiro, especialmente chineses que podem ser vistos em qualquer esquina, dos caixas dos restaurantes de quilo aos shoppings populares de artigos contrabandeados.

Assim, continuaremos com os imigrantes, que na maioria são gente honrada e trabalhadora, mas que não gastam à tripa forra, e deixaremos de receber os riquíssimos turistas chineses, que, além de deter quase a metade das reservas internacionais do mundo, gastaram, no exterior, no ano passado, mais que os turistas norte-americanos, japoneses, australianos e canadenses, somados.

Vê-se bem que os ministros que aprovaram a medida nunca tiveram as filhas adolescentes - nesse caso, brancas e de classe média, o que não pode atribuir ao racismo esse problema - barradas em aeroportos norte-americanos e enviadas para abrigos, como ocorreu recentemente com Anna Stéfane Radeck, de 16 anos, ou com Liliana Matte, de 17, que ficaram dias presas no aeroporto de Miami, embora estivessem ambas com autorização de viagem dos pais e todos os documentos necessários.

Ou, quem sabe, nunca ouviram falar do adolescente Roger Thomé Trindade, de 15 anos, morto por espancamento, em um parque de Miami, também há poucos dias, por um grupo de adolescentes norte-americanos, aparentemente pelo simples fato de ser brasileiro.

Ou do jovem Roberto Curti, assassinado pela polícia australiana, com sucessivos tiros de taser, em 2012.

Ou da senhora Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos, barrada no aeroporto de Barajas, na Espanha, e mantida detida em suas instalações durante dias, porque não tinha uma "carta de apresentação" embora estivesse em companhia da neta, residente naquele país, que foi um dos quase 3.000 compatriotas impedidos de entrar na Espanha, também em 2012, número que quase foi alcançado no ano passado.

Ou do compositor e músico Guinga, um dos maiores violonistas brasileiros, que perdeu dois dentes em Madrid, também no aeroporto de Barajas, ao ser agredido por um policial da imigração espanhola.

Qual seria a opinião desses cidadãos, ou dessas famílias, caso fossem consultadas, sobre a concessão unilateral de vistos, pelo Brasil, sem nenhuma espécie de reciprocidade, para estrangeiros?

O Ministro do Turismo pode alegar que a Espanha não será beneficiada pela medida, já que não se exige visto de espanhóis, por reciprocidade, assim como de outros países da União Europeia.

Mas com que moral poderemos responder à altura, exigindo de turistas espanhóis, também com base no princípio da reciprocidade, os mesmos documentos e as mesmas regras que a Espanha e outros países exigem dos nossos cidadãos, como a comprovação de dinheiro, carta de apresentação e reserva antecipada de hotéis, se, no caso dos Estados Unidos e de países satélites anglo-saxões, como a Austrália, será permitida a entrada em nossas fronteiras sem que nos permitam fazer o mesmo nas suas como se eles estivessem entrando e saindo de sua própria casa, sem nos dar nenhum respeito ou satisfação?

O que vamos fazer quando um piloto de avião comercial dos EUA, como ocorreu com um comandante da American Airlines em 2004, levantar o dedo em riste, ao segurar seu número de identificação, para agentes da Polícia Federal, na hora de tirar uma foto obrigatória, em reciprocidade a exigências semelhantes a cidadãos brasileiros em aeroportos dos EUA?

Abaixar as calças e mostrar o traseiro, para "insultar", segundo os curiosos hábitos norteamericanos, quem estiver nos ofendendo?

Mesmo que fôssemos o país mais miserável do mundo, e estivéssemos devendo bilhões aos Estados Unidos - quando o que ocorre é exatamente o contrário - se trataria de inaceitável abdicação da soberania nacional, em troca de algumas centenas de milhares de dólares a mais no faturamento do mercado turístico, em um mundo em que países como a China, a Rússia, e a Índia, nossos sócios no BRICS, defendem com unha e dentes, de forma altaneira e independente, as suas posições, no campo econômico e no geopolítico, sendo impensável que adotassem semelhante medida no trato com o Japão ou com os Estados Unidos.

O sr. Michel Temer precisa tomar cuidado para não passar à história como uma espécie de Carlos Menem, outro presidente latino-americano descendente de árabes, que perdeu todo o senso de ridículo no afã de se submeter, pública e despudoradamente, aos Estados Unidos.

No seu governo, ficou famosa a frase de seu Ministro das Relações Exteriores, Guido di Tella, que - para histórica vergonha da terra de Rosas, de Guevara e de Perón - disse que a Argentina estava a ponto de estabelecer "relações carnais" com os Estados Unidos, sem que ninguém precisasse recorrer ao Kama-Sutra para adivinhar em que posição estava aceitando, entusiasticamente, se colocar, naquela ocasião, o país andino.

Até mesmo nos governos militares, radicalmente anti-comunistas, o Brasil sempre procurou preservar um mínimo de dignidade e de autonomia no seu relacionamento com nosso vizinho do norte do hemisfério, estabelecendo a política do "pragmatismo responsável" e desafiando com firmeza, sempre que necessário, a vontade de Washington.

Não foi outro o caso, por exemplo, do reconhecimento do governo marxista de Angola, do MPLA; da aproximação com os países árabes, principalmente o Iraque de Saddam Hussein; e da assinatura do tratado nuclear com a Alemanha.

Decidida pelo governo, a medida depende, agora, da aprovação de mudanças no Estatuto do Estrangeiro, que terão que ser feitas pelo Congresso, que deverá, se houver dignidade e hombridade suficientes, votar pela sua rejeição, com a ajuda de órgãos conhecidos pelo seu patriotismo, como a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

Um pouco menos de pressa na abjeta reverência aos gringos e um mínimo de dignidade e de vergonha na cara, são como uma boa canja de galinha ou uma suculenta sopa de rabo de canguru, que pode ser encontrada em certos restaurantes de Melbourne, nunca fizeram mal a ninguém, principalmente quando se trata, aos olhos do mundo, de nossas relações com outras nações.



domingo, 11 de dezembro de 2016

OS DEZ MANDAMENTOS DOS COXINHAS


Então, depois de lançar as pragas contra os programas sociais e os governos populares, o Golpista, ao som de batidas de panela, viajou até sua Canaã (Estados Unidos) e ao retornar trazia as sagradas tábuas da Lei que divulgou a seu povo.


1º “Não terás outros deuses diante do Patinho de Borracha e outros líderes além do Grande Juiz imparcial que sorri ao lado de delatados. ”


2º “Não farás para ti imagem diferente daquela divulgada pela Veja ou Isto É. Não te encurvarás diante da verdade se ela não estiver de acordo com a ideia de que a culpa é do PT”.


3º “Não tomarás o nome da Globo em vão; porque a Globo não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão. ”


4º “Lembra-te do dia do domingo, para o santificar. É quando verás o Faustão e o Fantástico para saber o que deve ser dito a partir da segunda-feira. ”


5º “Honra a teu patrão e os senhores da Casa Grande, para que se prolonguem os teus dias na senzala. ”


6º “Não matarás os posts mentirosos divulgados na rede. Eles devem crescer e se multiplicar. ”


7º “Não adulterarás de forma que seja descoberto. Somos representantes da moral e essas coisas só se admite se for bem escondidinho”


8º “Não furtarás de outros fiéis que não seja da tua Igreja pois todos devem ter sua reserva de mercado. ”


9º “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo se for coxinha, mas, se te convocarem a testemunhar contra a esquerda, a verdade não vem ao caso”.


10º “Não cobiçarás a casa do teu próximo que mora em Miami. Cada filho do senhor tem seu espaço e o teu é de capacho. Quem almeja igualdade com seu senhor é comunista e será maldito. ”



E assim, o povo coxinha seguiu sua peregrinação na história conforme os santos desígnios do STF, da mídia golpista e da nova Gestapo.



Amém.


Prof. Péricles





sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FRASES DE UM ANO AMARGO - 02


Por Ayrton Centeno, Jornalista



Completamos agora, a coleção de frases que o jornalista nos apresenta como as de maior destaque do terrível ano de 2016.


16) “Não temos justiça, temos Gilmar Mendes, Celso de Mello e coisas assim.” (Jornalista Mino Carta, descrevendo o Judiciário no Brasil)



17) "Estamos em tempos excepcionais”. (Juiz Sérgio Moro, procurando justificar o excesso de prisões na Lava-Jato)



18) “Eu estou protegendo você, seu filho da puta!” (Ciro Gomes advertindo integrante de grupo que fazia alarido pedindo o golpe. Referia-se ao fato de que se sabe como começa um golpe mas não como e quando ele termina)



19) “Globo é a praga principal do Brasil". (Jornalista norte-americano Glenn Greenwald, vencedor do Prêmio Pulitzer, no twitter)



20) “É um bufão reacionário contra o direito do trabalho, um escravocrata”. (Ex-ministro Miguel Rossetto sobre Gilmar Mendes, depois que o ministro do STF criticou a “hiperproteção do trabalhador” no Brasil e acusou o Tribunal Superior do Trabalho (TST) de “má vontade” com o patronato)



21) “O PSDB é a UDN atual. (...). É um partido elitista, dependente e colonialista”. (Fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, Luis Carlos Bresser Pereira)



22) “Querem me excluir do PMDB porque não sou ladrão”. (Senador Roberto Requião, do PMDB, no twitter)



23) “Deve-se aos grupos de mídia não apenas a deposição de uma presidente eleita, como o agravamento inédito da crise, a apologia do ódio e a subversão das notícias”. (Jornalista Luis Nassif)



24) “Ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável”. (Presidente do Senado, Renan Calheiros, falando sobre Dilma em conversa gravada com Sérgio Machado)



25) “É um governo reacionário, retrógrado e gagá”. (Ex-ministro de FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, discorrendo sobre a gestão Temer)



26) “Hitler massacrou três milhões de judeus. Agora há aqui três milhões de viciados. Eu gostaria de massacrá-los todos”. (Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, o mesmo que chamou Obama e o Papa Francisco de “filhos da puta”)



27) "Nós precisamos do aquecimento global!" (Donald Trump, presidente eleito dos EUA, argumentando que o conceito de aquecimento global foi criado “por e para os chineses” para que a indústria manufatureira americana não seja competitiva)



28) “Quem não tem (dinheiro) não faz universidade”. (Nelson Marquezelli, deputado do PTB, defendendo a “PEC da Morte” e seus cortes na educação. Seus filhos, como acrescentou, vão fazer universidade porque podem pagá-la).



29) “Vocês estão aqui representando o Estado, e eu convido vocês a olhar a mão de vocês. A mão de vocês está suja com o sangue de Lucas. Não só do Lucas como de todos os adolescentes que são vítimas disso”. (Estudante Ana Júlia Ribeiro, 15 anos, discursando na Assembléia Legislativa/PR defendendo as ocupações de escolas e acusando os deputados pela morte de um colega e pela tragédia da educação brasileira).



30) “São os comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam". (Papa Francisco)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O LODO, O POVO E A RUA



Por Saul Leblon


No Brasil dos anos 80, como agora depois do golpe, a discussão sobre o país e o seu desenvolvimento estava interditada.

A crise da dívida externa reprimia o debate nacional, servindo de escudo ao monólogo midiático que invocava o arrocho como fatalidade.

O Brasil era uma conta que não fechava.

Entre a ditadura agonizante e a ganância dos credores - que queriam raspar o tacho antes de entregar a rapadura - a economia esfarelava.

Soa familiar?

Embora os termos da equação sejam distintos, o jogral de hoje é semelhante, com consequências correlatas.

O dinheiro organizado ordena a danação.

Um sinônimo para dinheiro organizado é banco. Ou pátria rentista.

Ramificações locais e planetária decorrentes da supremacia que a riqueza financeira exerce no nosso tempo, dão a ela o poder inexcedível de coagir e chantagear.

Nos anos 80, era preciso espremer a nação para pagar os credores.

A referência era o FMI e suas cartas de intenção.

A PEC 55 é a carta de intenção dos dias que correm.

Nela se detalha a determinação de pagar os rentistas da dívida pública às custas do resto da nação.

Institutos de pesquisas, universidades, jornalistas e partidos adestrados nessa missão cuidavam lá, como cuidam agora, de reproduzir diariamente a sentença que reduzia todas as demais prioridades de um Estado ao valor zero.

Exceto uma: garantir os juros aos bancos e credores.

Um sistema político esgotado acoplado a uma bomba de sucção financeira implacável garroteava o pescoço brasileiro.

Dessa mistura ácida nasceu a ‘década perdida’ que engordou credores e murchou a sociedade, tornando-o ainda mais desigual para sua gente.

O golpe promete ir além.

O que se anuncia agora é a necessidade de duas décadas perdidas.

O prazo foi inscrito na PEC 55 para debulhar a Carta Cidadã, atropelar o pacto social de 1988, triturar a CLT, extirpar direitos e conquistas como estorvo e assegurar a salvaguarda dos mercados e rentistas.

Há uma diferença importante nas semelhanças da mecânica.

Nos anos 80 havia um encadeamento de rupturas internacionais que soprava na mesma direção do sufoco interno.

Foi preciso um gigantesco esforço de mobilização de rua para afrontar o duplo torniquete.

A soberania das nações e o Estado do Bem Estar Social perdiam espaço na vida dos povos.

Em 1978, Deng Xiaoping abriria a China à interação com o mercado capitalista.

Era uma ruptura geopolítica.

A gigantesca demografia chinesa que reúne 20% da humanidade credenciava-se como o principal polo de atração de capitais e compressão de custos trabalhistas e industriais em todo o planeta.

A guinada redefiniria a geografia das cadeias industriais, globalizando-as, bem como os fluxos do investimento, de tecnologia e do comércio mundial.

Quebrava-se o circuito que fazia da produção, do consumo, do emprego, dos preços, do lucro e dos salários uma equação pactuada e gerida no escopo da soberania nacional.

Um ano depois, em 1979, Margareth Thatcher adicionaria salmoura a esse lombo chicoteado.

Recém eleita, a ‘Dama de Ferro’ forjava seu epíteto em guerra implacável contra os sindicatos para consolidar o modelo do Estado mínimo neoliberal, com desregulação trabalhistas e financeira.

Do outro lado do Atlântico, Paul Volcker assumia a presidência do Fed , o BC dos EUA.

Em meses, enquanto Thatcher criava o manual anti-trabalhista e Deng inaugurava uma oficina de baixo custo, Volcker daria um cavalo de pau altista nas taxas de juros norte-americanas.

A espiral ascendente garantiria para os EUA a oceânica oferta de petrodólares acumulados pelo choques de 1973 e 79 e quebraria um a um os países endividados, entre eles o Brasil.

Em 1980, com a chegada de Reagan à Casa Branca, a geringonça neoliberal reforçou a fuselagem e decolou para rapinar e mastigar a ordem velha ao seu redor.

Desprovido de um arcabouço político para resistir, o Brasil foi atropelado e pisoteado.

Entre os anos 70 e 90, o país desembolsou cerca de US$ 280 bilhões em juros e amortizações aos credores externos.

Pior, nos anos 90, sob o comando tucano, fez uma interpretação pueril da avalanche em marcha da globalização neoliberal.

Ancorado na teoria do ‘desenvolvimento dependente’, trazida pelo sociólogo ao poder, dobrou-se complacente às exigências do FMI.

Não renegociou com soberania o gargalo da dívida e ainda abdicou de proteger e renovar a industrialização brasileira.

O populismo do câmbio forte (paridade Real/dólar) permitia importar da oficina asiática a manufatura que aqui morria.

À corrosão financeira sobrepôs-se, assim, uma ferrugem estrutural até hoje não revertida, cuja devastação silenciosa na estrutura da sociedade explica, por exemplo, o fenômeno Trump nos EUA e a ressurgência da ultra direita na Europa.

Desindustrialização é também desinvestimento, desemprego, declínio de polo irradiador de produtividade e inovação, míngua de excedente econômico para expandir infraestrutura, direitos sociais e cidadania.

O martírio imposto agora ao país em nome do ajuste fiscal reproduz em outra chave a mesma lógica dos anos 80, ordenada por interesses correlatos, com um upgrade de sucateamento industrial que pode selar o obsoletismo nacional nesse esfera.

A revogação do conteúdo nacional no pré-sal, com a renúncia ao derradeiro impulso tecnológico capaz de engatar a economia à quarta revolução industrial (a da precisão e integração digital de cadeias e processos ) desenha esse crepúsculo sem volta.

Uma dissonância importante ocorre agora no plano externo.

Como nos anos 80, assiste-se também a uma ruptura no horizonte internacional, mas com sinal invertido, o que expõe a natureza anacrônica da restauração neoliberal brasileira.

Trump não é um Roosevelt de topete.

Mas tudo o que ele simboliza, atrai e ameaça desenha uma rota de colisão com a restauração neoliberal tardia abraçada pelo golpe.

Trump é a resposta do extremismo conservador ao esgotamento do establishment neoliberal, em meio ao vácuo de alternativas num campo progressista colonizado pela religião dos livres mercados.

O anseio por igualdade, emprego, futuro, direitos, segurança, identidade é um enredo à procura de um projeto .

Trump ocupa o nada entre o velho e o novo. Seu protecionismo (quer taxar em 45% a manufatura chinesa), a promessa de investir US$ 1 trilhão em obras --e a consequente alta dos juros que isso encerra, estraçalham a ilusão golpista de reditar , em uma encruzilhada de mecânica parecida com a dos 80, mas de natureza distinta, a panaceia privatizante e dependente dos 90.

O risco de se insistir no mesmo projeto em uma ordem global de natureza distinta adverte também o campo progressista.

Amortecido na última década pelo superciclo de commodities e juros baixos, o conflito social reemerge agora enrijecido, em uma disputa ainda mais politizada, com uma direita ascendente, pelo comando do desenvolvimento e a destinação dos recursos fiscais.

A luta pelas Diretas e pela Constituinte nos anos 80 logrou à sociedade brasileira um espaço de legitimidade para crescer e expandir direitos, a contrapelo da ascensão neoliberal, que estendeu seu fôlego até quase o final do ciclo de governos do PT –com um saldo de ganhos e perdas sabido.

Ir para a rua hoje, ocupar praças, escolas, locais de trabalho tem a mesma importância que a luta pelas Diretas e pela Carta Cidadã teve em 1984 e 1988.

Trata-se de quebrar a rigidez das circunstâncias econômicas com o peso dos interesses históricos da maioria da população.

A ferramenta organizativa capaz de fazer isso hoje no Brasil chama-se frente ampla.

A rua é o seu canteiro de obras. É nela que o lodo golpista pode ser drenado para dar passagem a um novo ciclo de desenvolvimento.







segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

OS DONOS DA MORAL


A moral é mutável e temporal.

Muita coisa que hoje é imoral um dia já foi moralmente correto, e vice e versa.

O que direciona esse frágil conceito de moral é, basicamente, a economia e não, como imagina a maioria, a religião.

Aquilo que se considera a moral imutável e perfeita, na verdade é apenas o espelho de seu tempo, de sua economia e das relações sociais.

É assim que o casamento sem compromissos legais que, considerado correto nas sociedades helênicas, tornou-se uma imoralidade nas sociedades cristãs já que, a hereditariedade dos bens, nas sociedades cristãs fortaleceu a própria dominação do privado em relação ao coletivo.

Mais ou menos como a homossexualidade que, na antiguidade clássica era aceitável e até estimulada, tornou-se pecado mortal nas sociedades judaicas-cristãs.

Por ser temporal a moral também possui características geográficas, isso é, dentro do mesmo tempo, em lugares diferentes, os conceitos do que seja ou não moral podem variar radicalmente.

O aborto, a pena de morte e a eutanásia, atualmente considerados crimes em alguns lugares são legalmente permitidos em outros.

Diante desse rápido raciocínio, e sem maiores aprofundamentos, salta aos olhos uma realidade prática: o que é ou não moral é extremamente relativo e subjetivo.

Entretanto existem pessoas que se consideram luminares da moralidade.

Essas pessoas não aceitam de forma lógica a possibilidade de enxergar questões polêmicas um pouco além das suas próprias convicções.

Se o problema fosse apenas esse não haveria maiores danos pois tratar-se-ia apenas de questões pessoais, de dificuldade de alguns para aceitar o contraditório e a opinião alheia, mas a questão é muito mais grave que isso.

Na verdade, pessoas assim acabam provocando e alimentando prejuízos sociais muito maiores ao se arvorarem donos da moral (e dos bons costumes), senhores da verdade e bastiões do comportamento alheio.

São os reacionários que se julgam vigilantes do que seja correto.

Fazem oposição irracional ao que seja oposto às suas próprias ideias, adulam conceitos que discriminam e, acabam tornando-se agentes do ódio e da intolerância.

Os donos da verdade e da moral tornam-se carrascos insensíveis daqueles que não vivem ou enxergam a vida como eles mesmos enxergam.

Foram essas pessoas que ainda ontem isolavam leprosos em verdadeiros infernos de horror condenando os enfermos à morte pela solidão.

Foram pessoas assim que jogaram gays, lésbicas e deficientes físicos nos campos de concentração nazistas.

Déspotas do comportamento dos outros, são esses os críticos dos muçulmanos que apedrejam as mulheres do islã, mas que, há pouco tempo aplaudiam a morte pela fogueira da Inquisição das mulheres do mundo cristão.

Carimbadores de rótulos, censores das mães solteiras e das “mulheres sem marido”.

Os donos da verdade e da moral se acreditam vetores da vontade divina e isso amplia o rastro de ódio por onde passam porque juntam fanatismo ao conservadorismo.

Dedo em riste são ávidos em condenar sem olhar para si mesmos. Muitos apedrejam prostitutas, as mesmas que buscam avidamente no anonimato da noite. Ou que instigam seus filhos a “comerem todas” mas querem matar a tiros os namorados cabeludos que consideram indignos de suas filhas.

Não é de se admirar, portanto, que as marchas da “Família com deus pela Liberdade” estejam de volta às ruas brasileiras, se bem que, na verdade, jamais tenham se afastado delas.

Nem que um golpe de corruptos tenha tido sucesso em derrubar uma presidente honesta que representava trabalhadores, que Trump seja eleito e que o Brasil tenha se transformado numa fauna de patinhos de borracha e batidas insanas de panelas.

Ou que hajam eleitores de representantes da intransigência no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos.

Isso é uma velha e conhecida história que apenas se repete e perpetua.

E dessa forma, mais uma vez se evidencia que, aos defensores de valores humanistas como a liberdade e a tolerância, reste como única opção a união em defesa desses valores que são universais e não esmaecem com o tempo nem se alteram pela geografia.

Ao contrário dos que buscam tolher o comportamento, os que prezam a democracia, a inclusão e o direito à diferença praticam a solidariedade e o perdão, lições que os mestres do amor jamais cansaram de ensinar.

Contra os donos da moral, os conservadores e reacionários as mais poderosas armas serão sempre a educação, o exemplo, a força do voto e a razão.

E, se parar para pensar, talvez se conclua que a única coisa realmente imoral, seja a arrogância dos hipócritas.




Prof. Péricles

sábado, 3 de dezembro de 2016

FRASES DE UM ANO AMARGO - 01

Por Ayrton Centeno


O jornalista destaca as 30 frases mais significativas de 2016 e o Blog as reproduz aqui em duas partes. Como toda lista sempre há espaço para polêmicas e o leitor poderá usa-la como inspiração para a sua própria lista.

O que não falta é material, num ano em que se disse tanta estupidez e talvez, só a ironia para salvar nossa saúde mental.

1) “Nunca vi um Supremo tão merda”. (Ex-senador do PSDB, Sérgio Machado, em conversa gravada com o então ministro Romero Jucá)

2) “Com uma base militar na Venezuela, Putin estará a um passo de atacar o Brasil. Estão rindo? Pois eu estou falando sério” (Advogada Janaína Paschoal, autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff no twitter, prevendo um ataque russo. Antes pediu a Temer para “libertar a Venezuela de Maduro”)

3) “Eu nunca cuidei dos pobres. Eu não sou São Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que eu tentei carregar um pobre no meu carro eu vomitei por causa do cheiro”. (Rafael Greca, do PMN, candidato eleito prefeito de Curitiba, num momento Justo Veríssimo)

4) “Muito obrigado, Presidente! Eu quero visitá-lo logo na Argentina”. (Temer falando com um hermano radialista pensando que era o presidente Maurício Macri)

5) “Gostosa”. (Ministro Geddel Vieira Lima respondendo à pergunta no twitter sobre qual era a sensação de assumir o poder sem voto popular)

6) "Tenho muita alegria de ser golpista ao lado de ministros como Carmen Lucia, como Antonio Dias Toffoli, e todos aqueles que declararam que o impeachment é constitucional". (Senadora Ana Amélia, do PP gaúcho considerando que estaria blindada ao invocar o STF mas sem saber que a corte referendou o golpe de 1964)

7) “Será que o jornal americano também está na folha dos companheiros?” (Colunista de Época, Guilherme Fiúza, desconfiando que The New York Times, que denunciou o golpe no Brasil, fora comprado pelo PT)

8) “O dever das pessoas de bem é boicotar Aquarius”. (Blogueiro de Veja, Reinaldo Azevedo, atacando o filme brasileiro cujo elenco denunciou o golpe em Cannes. Sua frase foi usada pelo diretor Kléber Mendonça justamente para promover Aquarius)

9) "Meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com sua gestão". (Deputada Raquel Muniz, do PSD, ao votar pelo impeachment de Dilma, elogiando o marido prefeito no interior mineiro. No dia seguinte, o marido foi preso sob acusação de corrupção)

10) “Para mim, que gente assim sejam as próximas vítimas, que sejam eles a sangrar e deixar suas famílias enterradas”. (Radialista Alexandre Fetter, da rádio Atlântida, do grupo RBS, sugerindo que, por criticarem abusos policiais, jornalistas ou formadores de opinião e seus familiares deveriam ser alvos dos criminosos)

11) “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”. (Novamente Sérgio Machado conversando com Jucá sobre os políticos com o rabo preso na Operação Lava-Jato)

12) “Os caras (ministros do Supremo) dizem 'ó, só tem condições de sem ela (Dilma). Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca”. (Romero Jucá na mesma conversa sobre tirar Dilma para travar a Lava-Jato)

13) “Essa porra desse governo nem começou, não sabe se comunicar e já faz a reforma sem consultar ninguém”. (Apresentador Faustão, da Globo, criticando o governo que sua emissora – e ele próprio – ajudaram a inventar)

14) “Tinham prova, pegaram o avião, viram a cocaína, mas não tinham convicção, aí liberaram”. (Lula, cutucando o MPF e a PF ao trazer à cena o estranhíssimo caso do helicóptero da família do senador Zezé Perrela (PTB/MG), apreendido com meia tonelada de pasta de cocaína. Os donos saíram ilesos do flagrante...)

15) “Não houve massacre. Houve legítima defesa”. (Desembargador Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça paulista, ao pedir, como relator, a absolvição dos 73 policiais responsáveis pelo massacre do Carandiru, em São Paulo. Na chacina, morreram 111 presos, dos quais 90,4% com tiros na cabeça e pescoço, indício clássico de execução).



Ayrton Centeno, Jornalista



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

NINFAS, SONHOS E DESÂNIMOS



Tentando fugir dessa panela de pressão em que se transformou o Brasil, com golpes e golpistas, provocações fascistas e pedidos de retorno da Ditadura Militar, ele foi procurar sossego numa área verdejante na periferia de cidade.


Sentado num toco de árvore, jogando pedrinhas nas águas do rio, dele se aproximou, de repente, uma ninfa.


Ninfas para os gregos antigos, eram espécies de espíritos da natureza. Seres que habitavam florestas e campos, montes e vales, costas marinhas e rios, enfim, preenchiam os espaços naturais.


Nada de ter medo que as ninfas eram de boas... normalmente.


Aliás uma das traduções da palavra “ninfa” era noiva e isso, tanto pode acalmar os ânimos como trazer desespero.


A ninfa que surgiu em sua frente era uma Dríade, espírito que habita as florestas.


Chegou fumando uma erva estranha e gingando as cadeiras cheia de male molejo.


Trajava apenas uns trapos de seda que mal cobriam seu corpo escultural.


Como todo homem decidido e guapo, ele ficou parado de boca aberta e pensando em sexo...


Abrindo seus lábios tentadores e rubizados ela disse “que houve, está fugindo da bronca? ”


Bronca? Balbuciou abobalhado...


Sim, do “Fora Temer”, da PEC 241 ou 55, dos juízes parciais e suas equipes amestradas?


Por alguns instantes os pensamentos sobre sexo esvaneceram e ele tomado de repentina melancolia respondeu: “pois é... as vezes dá vontade de fugir”.


A Dríade franziu o cenho e colocando um dedo a frente dos lábios murmurou “na na ni na não... nada disso, o desânimo é para os fracos, a luta continua companheiro”.


O pobre já estava pronto para replicar quando materializa-se diante dele, um novo vulto, uma Náiade, ninfa das águas doces.


Deixe o pobre homem em paz sua Dríade provocadora, falou a recém-chegada. Não vê que ele está mais pra urubu do que pra louro?


E as duas, começaram uma discussão que encheu a floresta de gritos estridentes e xingamentos.


Ninfas são assim, competitivas e ciumentas.


Algum tempo depois as duas lembraram do homem que as olhava, ainda sentado no toco da árvore com uma cara de “dãããããã”... e aproveitando o súbito silêncio ele perguntou “e sexo não rola”.


- Não disse a dupla em uníssono. Só depois que o Temer cair... trate de participar do bom combate.


E sumiram tão misteriosamente como apareceram deixando no ar o cheiro de erva estranha.


E o pobre homem ficou lá pensando que já não existem ninfas como antigamente, se valia à pena antecipar o pagamento de IPTU e que não é bom comer demais à noite para não sonhar com ninfas, sexo e “fora Temer”.



Prof. Péricles





segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O HOMEM QUE VOTOU NO TRUMP



Por João Marcos Aurore Romão



Quem é este homem que votou no Donald Trump?


Sim eu o vejo na Rússia, na Hungria, na Alemanha, na Polônia, na Argentina, nos EUA, no Brasil, e para onde eu olhar, é um homem, em geral precarizado no mundo do trabalho, que perdeu todos os direitos que possuía ao perder o trabalho seguro que tinha.


Este homem que rumina toda tarde diante da televisão, com uma cerveja ao lado, destila no saco um ódio, a todos os vizinhos, mexicanos, muçulmanos, negros, estrangeiros, mulheres, gays, que ele imagina, terem ocupado o seu lugar e serem as causas de sua desgraça e perda, do poder que tinha em um mundo em ordem, num passado distante.


Este é o homem que sai nas ruas da Alemanha contra refugiados.


Este é o homem que na Rússia sai na rua para espancar gays.


Este é o homem que nos EUA destila o ódio contra todo o resto do mundo que não mais reconhece a sua supremacia imperial americana.


Este é o homem que aplaude os esquadrões da morte no Brasil e nas Filipinas.


Este homem frustrado e ressentido descobriu o voto.


Descobriu o mesmo voto que os lutadores pelos direitos civis descobriram na década de sessenta.


O voto agora mudou de mão.


O voto voltou de volta para as mãos dos homens, que tinham a supremacia da voz antes dos movimentos de libertações dos diferentes do mundo.


Me preparava para ir ver o mar.


No ponto de ônibus da minha esquina está impossível chegar.


O tiroteio discriminatório recomeçou.


Creio, que mesmo sem tiroteios, como um homem negro, também não sairia de casa hoje na Flórida, nem em um bairro pobre da Saxônia.


Este homem ressentido e cheio de ódio, acaba de ser fortalecido em cada esquina do mundo.


Os dois caveirões que vejo pela fresta de minha janela, só confirmam este poder da morte do vizinho, que acaba de ser elevado ao poder mundial.


Vale xingar a mãe e cuspir na cara.



João Marcos Aurore Romão, jornalista, sociólogo e ativista pela Anistia, pelos direitos humanos e do movimento negro década de 70. Coordenador da Rede Rádio Mamaterra Brasil Alemanha. Coordenador da iniciativa Sos Racismo Brasil.

sábado, 26 de novembro de 2016

HASTA SIEMPRE COMANDANTE


Não se preocupe comandante, estaremos contigo como sempre estivemos.


E não somos poucos. Somos milhões e milhões.


Estamos juntos, como sempre tivemos antes.


Quando você nasceu, comandante, em agosto de 1926, nós estávamos lá, mas você só percebeu realmente, a nossa presença, quando estudante, quando voltou seu olhar muito além dos livros, para enxergar seu povo sofrido e humilhado com os olhos marejados de liberdade.


Estávamos ao seu lado quando convidou os primeiros companheiros para a luta. E quando convidou os últimos também.


Quando atacou o Quartel de Moncada em julho de 1953, comandante, num ato estrategicamente falho, mas pleno de amor à causa da liberdade, estávamos lá, ombro a ombro, também fomos feridos e fomos juntos para o cárcere miserável da prisão militar.


Assistimos à execução sumária de muitos revolucionários e ao seu julgamento, comandante, de cabeça erguida diante da arrogância dos poderosos.


Não conseguimos conter a emoção quando ao se defender afirmou diante dos juízes “a história me absolverá”.


Fomos juntos ao exílio e ao encontro de outros gladiadores.


Estivemos juntos no olhar de Ernesto, de Raul, de Camilo e no olhar de todos aqueles que se alistaram ao esforço quase suicida de voltar à Ilha e enfrentar um exército bem treinado e armado pelos Estados Unidos.


Estávamos na mesma fileira, nas matas de Sierra Maestra, em cada disparo e grito de dor.


Também passamos fome e tivemos medo.


Mesmo opacos, estávamos também nos porões da ditadura de Batista, onde tantos combatentes heroicos capturados, foram mortos sob tortura, mas, pode ter certeza, ainda os acalentamos em seus últimos suspiros.


Sim comandante, entramos triunfantes em Havana naquele janeiro de 1959. Assim como lutamos juntos quando reacionários financiados pela CIA tentaram recuperar o poder na Baia dos Porcos.


Nossos olhares brilharam quando você anunciou o mergulho de Cuba na experiência da igualdade, proclamando a Ilha um estado socialista.


Lembramos bem o ódio nas faces dos que perderam milhões na exploração do trabalho alheio e na cara de ódio dos ianques que consideravam ter perdido seu quintal.


Foram tantas dores, rimos juntos, choramos juntos. Nossas esperanças se misturaram e criaram vida ao longo desses 57 anos.


Por isso, comandante, nesse 26 de novembro, com sua morte anunciada, não sinta medo do grande mergulho na eternidade. Continuaremos juntos outra vez, e como sempre.


Nós somos milhões Fidel Castro. Somos milhões de sonhos de igualdade e de fraternidade.


Somos milhões de mulheres e de homens, de velhos e de crianças. Nós somos milhões de sonhos que foram sonhados juntos, em coletividade, nos calabouços, nas florestas, que da Ilha de Cuba se espalharam pelo mundo.


Muitos outros milhões já sonharam o mesmo sonho e outros milhões ainda esperam seu Fidel.


Seu comandante um passo além da prudência, mais próximo da loucura da ação do que da segurança da teoria.


Somos milhões que não morreram nas praias, nem morreram de fome, que não foram abandonados ao frio e que sorriem ao ouvir suas palavras "Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana".


Descanse guerreiro da utopia alcançada.


Descanse nos braços de tantos que junto contigo criaram a nação livre, que mesmo boicotada pelo mundo, isolada das outras nações, odiada por milhões que nem a conhecem, persiste na busca de um mundo menos egoísta.


Um mundo de menos capital e mais humanidade. De menos privilégios e mais saúde para todos. Onde a propriedade privada de alguns seja substituída pelo bem-estar de milhões.


Nada será escrito em tua lápide pois guerreiros não são presos às catacumbas.


Teu corpo será cinzas que se espalharão pelo solo liberto de Cuba, que tanto amastes.


Tuas cinzas retornarão à Sierra Maestra e alcançarão teus companheiros.


Deixemos ao vento a tarefa de murmurar teu nome, eternamente.


E continuaremos juntos. Você e sua obstinação pela defesa dos desvalidos e nós, os sonhos de liberdade que são sonhados no mundo.


Revolucionários como Ernesto, como Camilo e tantos outros, te esperam na curva do tempo para continuarem a luta, agora, transformados em ondas de um oceano de esperanças.


Hasta siempre Comandante!




Prof. Péricles



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

RESPEITO E TAPA NOS BEIÇOS

Criança peralta quando pega fazendo traquinagem costuma ficar sem jeito. Carinha de anjo, mãos para trás, faz aquele jeito único que a gente entende como “envergonhada” e acaba achando bonitinho embora mantendo uma faixada de austeridade.


Carregamos isso pela vida e costumamos sentir aquele mal-estar envergonhado quando percebemos que estamos no lugar errado ou cometendo gafes.


A esquerda brasileira sempre se sentiu muito bem no papel de oposição. Afinal, nesses pouco mais de 500 anos de história o país sempre foi governado pelas elites e para as elites.


Seu maior representante, o Partido Comunista Brasileiro, em seus 94 anos de existência esteve mais de 60 anos na clandestinidade.


Sim, teve o período final do governo Vargas e a aproximação dos sindicatos com Jango em seu curto governo como presidente de fato da república, mas, sabemos bem como esses períodos históricos terminaram... tentativas de golpes, simulação de atentados e golpes que impossibilitaram os avanços populares que se pretendia.


Nos 14 anos de governo PT a grande novidade foi essa, apesar de não se caracterizar objetivamente como esquerda tradicional e seus anseios históricos, o PT, definitivamente, significava a coisa mais à esquerda que já chegou ao poder no Brasil um dia.


Talvez o maior problema dos governos petistas tenha sido justamente a falta de prática em ser situação. Apesar de Lula dizer que é muito bom ser presidente esses governos nunca se sentiram realmente à vontade no poder.


Jamais se viu uma preocupação em responder com a mesma força as agressões sofridas pela mídia, por exemplo.


Se reproduz, de certa forma, o imaginário que considera o “doutor” digno de todo o respeito, mas pobre...


A falta de uma resposta à altura não foi apenas uma opção de elegância dos governantes de esquerda, foi falta de uma política voltada à divulgação para o que se estava fazendo e a quem isso incomodava.


Até hoje ainda se trata a maior emissora golpista do país com uma generosa dose de relação democrática e respeito de apenas uma mão.


Os abusos verbais e simbólicos cometidos por aqueles que jamais fariam isso com os senhores da Casa Grande, nunca receberam por parte das forças dirigentes a resposta devida.


Nunca se exigiu respeito.


Lula foi e é tratado até hoje como um zé ninguém, as vezes até como um marginal, e nem a expressão “ex-presidente” é utilizada quando falam do seu nome.


Respeito é uma coisa que se exige entre os poderes. Não é favor de ninguém, nem pauta a ser trabalhada por qualquer jornalista de plantão.


No Rio Grande do Sul, de forma popular, se diz que respeito e tapa nos beiços coloca tudo nos eixos.


Faltou respeito e nunca teve tapa nos beiços por parte dos governos do PT.


Sobraram luvas de pelica e faltou Brizola nas reações da esquerda brasileira.


De certa forma os governos do PT, de esquerda ou centro-esquerda, agiram, durante toda a crise, como crianças pegas no lugar que não deveriam estar, e, sem jeito, baixaram os olhos e pediram desculpas.



Prof. Péricles

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

TRUMP PODE APERTAR O BOTÃO DO APOCALIPSE

Por Cristina Pereda, para o El País da Espanha


Cerca de 42% dos estadunidenses afirma que sentiram “medo” após a vitória de Donald Trump nas eleições, com relação ao que poderia acontecer durante o seu mandato, segundo pesquisa do instituto Gallup.


Efetivamente, a partir do dia 21 de janeiro, Trump terá acesso a uma enorme lista de poderes presidenciais, que incluem os códigos nucleares e até a possibilidade de derrubar as grandes reformas de seu antecessor, Barack Obama – e o empresário assegurou que eliminará umas 20 medidas adotadas pelo atual mandatário.

O sistema constitucional estadunidense está baseado na separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário. A presidência de Trump supõe então um desafio sem precedentes a esse equilíbrio, por estar acompanhada das maiorias republicanas na Câmara de Representantes e no Senado, um caminho livre para nomear juízes conservadores no Tribunal Supremo e expandir os poderes presidenciais herdados desde as medidas adotadas neste sentido pela administração de George W. Bush depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

A seguir, repassamos o que poderá e o que não poderá fazer o presidente eleito Trump quando após a sua chegada à Casa Branca:


Pode apertar o “botão da bomba atômica”?


O “botão da bomba atômica” é, na verdade, um cartão com os códigos para ativar o lançamento das armas. O presidente dos Estados Unidos está sempre acompanhado de algum alto comandante das Forças Armadas, que leva uma maleta com toda a informação necessária para tomar uma decisão. Esse militar viaja com o mandatário no Air Force One, no veículo presidencial e se hospeda no mesmo hotel ou residência quando não está na Casa Branca, e também é protegido pelo Serviço Secreto. A maleta inclui um manual com todas as opções de ataque, um mecanismo para verificar a identidade do mesmo, caso ele decida ativar o lançamento, e os bunkers onde se pode protegê-lo.

Os Estados Unidos possuem cerca de 900 ogivas nucleares, que são entre 10 e 20 vezes mais poderosas que as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, e que estão prontas para serem ativadas. Segundo Bruce G. Blair, especialista em segurança nacional da Universidade de Princeton, “basta uma ligação telefônica para que o comandante-chefe tenha um poder ilimitado para ativar as armas nucleares a qualquer momento”. Blair assegura que o presidente não precisa de conselhos ou da aprovação do Senado, nem será questionado pelo Tribunal Supremo por qualquer decisão. O processo, entretanto, passa por uma série de mecanismos, nos quais estão envolvidos os líderes do Pentágono, encarregados de alertar o presidente sobre qualquer ameaça e preparar depois a resposta que ele – no caso Trump – considere adequada.

Pode construir um muro na fronteira?


Trump contemporizou a respeito da promessa de construir um muro na fronteira com o México. Desde a vitória nas eleições, ele passou a admitir que, em algumas zonas, será “somente uma cerca”. Para isso, necessita que o Congresso aprove o orçamento multimilionário necessário para se completar a construção. O presidente também necessitaria do apoio legislativo para alterar a política de segurança na fronteira, por exemplo, incrementando o número de agentes destinados às zonas, porque careceria de um aumento das verbas destinadas a este objetivo.

Pode deportar três milhões de imigrantes indocumentados?


A política de deportações depende do Departamento de Segurança Nacional e o presidente tem a prerrogativa de decidir como esta se aplica. Assim como Obama ordenou que se desse prioridade à deportação de indocumentados com antecedentes penais – como agora promete Trump –, o presidente eleito pode estrear no cargo pedindo que se aplique a ordem de deportação de qualquer indocumentado. O republicano também poderia anular o decreto pelo qual Obama concedeu uma licença temporária de residência e emprego a jovens sem documentos que estudaram nos Estados Unidos. Somente necessitaria aprovar uma ordem executiva que rescinda a normativa atual.


Pode desfazer a reforma da saúde de Obama?


O fato de que a lei conhecida como Obamacare (o sistema de saúde público de Obama) tenha sido aprovada pelas duas casas legislativas deveria significar que, para derrubá-la completamente, os republicanos necessitam de uma supermaioria no Senado, ao menos 60 votos – e alcançaram 51 após as últimas eleições. Isso dificulta a tarefa de eliminá-la, mas os republicanos podem sim fazer desaparecer alguns aspectos específicos do plano, como as ajudas para pessoas que vivem abaixo do limite da pobreza, ou os subsídios que ajudaram milhões de estadunidenses de classe média a adquirir apólices do novo seguro de saúde.


Pode reinstituir o uso de métodos de tortura em interrogatórios?


Trump prometeu durante a campanha que “aprovaria uma lei para permitir novamente o uso de técnicas de afogamento simulado” e até mesmo “coisas muito piores”. A administração de Obama assinou um tratado que proíbe a tortura e outros castigos degradantes, considerados ilegais pela legislação estadunidense e internacional. Em 2009, o atual presidente assinou uma ordem executiva que abolia o uso de métodos considerados abusivos e que foram usados durante o governo de George W. Bush. Trump pode impulsar um decreto similar assim que assumir o poder, determinando exatamente o contrário.


Pode ampliar Guantánamo?


Obama ordenou fechar a prisão localizada na base militar estadunidense em Cuba, que ainda mantém 60 pessoas presas em seu interior. Trump não só indicou que pretende reverter essa decisão como prometeu “enchê-la de caras maus”. Neste caso, conta com o apoio das mesmas maiorias no Congresso que se opuseram à iniciativa do mandatário democrata.

Pode lançar ataques com drones sem autorização do Congresso?


Trump terá em suas mãos o programa de luta antiterrorista que, por iniciativa do presidente Obama, aumentou a quantidade de ataques com drones em territórios estrangeiros, incluindo os que têm como objetivo a cidadãos estadunidenses. O republicano poderá utilizar as mesmas prerrogativas legais para decidir em favor dos ataques sem precisar da aprovação do Congresso (alegando que atua em favor da segurança nacional do país), e até ir além, já que pode se apoiar em mecanismos internos do Executivo, não em normativas impulsadas pelo Poder Legislativo.



Tradução: Victor Farinelli



sábado, 19 de novembro de 2016

NÃO PASSARÃO


Uma das mais extraordinárias batalhas da Primeira Guerra Mundial foi a “Batalha de Verdun” quando a França resistiu à invasão alemã (que acabaria acontecendo na Segunda Guerra Mundial) entre os meses de fevereiro a dezembro de 1916. Nessa batalha decisiva para o destino da França na Guerra e da própria guerra, morreram quase 1 milhão de pessoas (976 mil baixas).

Sabendo que o futuro de seu país se decidia ali, e, num momento em que tudo parecia perdido, o general francês Robert Nivelle pronunciou a frase “on ne passe pas” traduzida como “não passarão”.

Essa expressão de resistência se tornaria lema da esquerda na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) quando fascistas do General Franco e forças democráticas se engalfinharam numa guerra desigual, visto que os fascistas de Franco foram alimentados, armados e fortalecidos pelos nazistas e sua força aérea. Num momento em que Madri estava sendo cercada pelas tropas do terror fascista, Dolores Ibárruri Gomez, líder do Partido Comunista Espanhol a adotou na versão “no pasarán”.

“No Pasarán” também foi adotado como lema pelos revolucionários Sandinistas em sua guerra contra a ditadura de Anastásio Somoza na Nicarágua, quando o ditador protegido pelos aliados norte-americanos acabou vencido pelas forças populares.

Dessa forma “Não Passarão” adquiriu cores de heroísmo e de resistência democrática contra as forças fascistas e imperialistas no mundo.

Atualmente, no Brasil, um golpe orquestrado pela direita fascista brasileira imediatamente após sua derrota nas urnas, ameaça ser plenamente vencedor.

A presidenta eleita democraticamente por mais de 54 milhões de votos foi derrubada através de um impeachment ilegítimo, visto não conter fato de ilícito praticado pela autoridade.

Um vice-presidente sem apoio popular governa o país e, numa pressa que delata os verdadeiros interesses em derrubar a presidenta, anuncia medidas de âmbito neoliberal assim como políticas que afastam o país das decisões do BRIC e do MERCOSUL para recoloca-lo, servil, na órbita dos interesses do império norte-americano.

Os investimentos estatais ameaçam serem comprometidos por vinte anos, assim como é grande a ameaça aos direitos históricos dos trabalhadores brasileiros.

O próprio patrimônio público está em xeque diante da fome privatista e entreguista voltada até contra a Petrobras e o pré-sal.

E, se tudo isso não bastasse, grupos fascistas sentem-se tão à vontade que ousam invadir o Congresso Nacional exigindo a volta da Ditadura Militar.

Diante de tudo isso sente-se, cada vez mais, falta do “não passarão”.

Onde está o grito de resistência das organizações sociais?

Em que canto dorme distraída a força dos sindicatos dos trabalhadores brasileiros?

Por que estão inertes as forças mais populares beneficiadas diretamente pelas políticas de urgência contra a fome extrema e a desigualdade?

Está faltando a garra tradicional das militâncias populares e, especialmente, está faltando o grito de guerra e resistência “não passarão” no combate às arbitrariedades cometidas e aos, até aqui, impunes ataques à ordem constitucional tão arduamente conquistada depois da Ditadura Militar.

Está faltando povo nas ruas do Brasil.

Assim como as forças democráticas da espanha anunciavam que Madri seria a tumba do fascismo, devemos anunciar que as ruas brasileiras serão o túmulo das idéias racistas, fascistas e homofóbicas em nosso país.

Diante do avanço da direita, das forças neopetencostais militantes e fanatizadas, dos heróis da intolerância e do flagrante abuso de autoridade, falta o “Não Passarão”! 



Prof. Péricles





sexta-feira, 18 de novembro de 2016

TECNOLOGIA


Por Luis Fernando Veríssimo



Para começar, ele nos olha nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade.

Com ele é olho no olho ou tela no olho.

Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer.

A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa.

Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável.

Ele responde. Repreende. Corrige. 

Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior, muito pior.

Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir.

Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!”

Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe.

Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando.

A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só agüentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento.

E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.

Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça.

Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante.

Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele.

Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo.

Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele.

Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela agüentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.





Luis Fernando Verissimo, jornalista e escritor gaúcho.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

GIRO À DIREITA NO BRASIL


Por Tereza Cruvinel


O prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, resumiu sua vitória como um sonoro “não” da cidade tida como mais progressista do Brasil às bandeiras do aborto, da legalização das drogas e do ensino sobre diversidade sexual nas escolas. Ele de fato as combateu, mas não foram estas as bandeiras centrais de seu adversário Marcelo Freixo, do PSOL, no segundo turno.

O que sua vitória simboliza é a conclusão da guinada do Brasil à direita, num giro sem precedentes depois da redemocratização, e que no primeiro turno teve na vitória de João Dória em São Paulo seu sinal mais eloquente.

Não só dos caminhos que a esquerda seguir para se recuperar do tombo dependerá a duração deste ciclo, em que o Brasil será um país bem diferente.

A vitória de Crivella é ainda mais expressiva do giro conservador porque não expressa apenas a força de uma direita ideológica, amiga do mercado e hostil ao Estado, chegada a privatizações e à ortodoxia fiscal. Crivella é a expressão da força crescente das religiões evangélicas para além dos templos. É expressão do conservantismo moral que demoniza a diversidade do comportamento humano em diferentes aspectos, estigmatizando como pecadores e aliados do capeta os que não comungam de seus mandamentos.

“Chora capeta”, foi como o pastor Silas Malafaia festejou a vitória de Crivella. Capeta são todos os outros, todos os derrotados, e especialmente, nas palavras dele, os “esquerdopatas”.

A Igreja Universal controla a segunda maior rede de televisão e as outras ramificações dominam quase todos os canais abertos a partir de certa hora da noite. É só zapear e lá estão os pastores das seitas que alugam horários nas outras emissoras para suas pregações.

Fortalecida pela vitória de Crivella, a direita moralista retomará os projetos que vinha tocando no Congresso, que incluem o fim da autorização do aborto em casos excepcionais, a rejeição de medidas contra a homofobia e de propostas de políticas alternativas sobre drogas. E ainda o avanço do projeto “escola sem partido”, que já teve uma primeira acolhida na reforma do segundo grau do governo Temer, ao tornar opcionais matérias que levam à formação crítica dos alunos, como filosofia e sociologia.

Mas a direita, assim como a esquerda, tem matizes diversos e todas eles colorem o novo mapa ideológico do Brasil.

No segundo turno, para ficar só em capitais importantes, ela venceu em Porto Alegre com Marchezan Júnior, filho de um líder do PDS na ditadura militar; com um “out sider” adepto da antipolítica em Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PHS; com a eleição em Curitiba de Rafael Greca, aquele que declarou tem tido vômitos após carregar um pobre em seu carro. No primeiro turno, além da vitória de Doria na capital paulista, o mais votado foi ACM Neto em Salvador.

Onde foi que isso começou? Foi com a destruição moral do PT pela Lava Jato ou pela crise econômica que, originária do final do boom das commodities, foi inteiramente debitada a erros de gestão do governo Dilma? Ou foram as duas coisas?

Se apenas o PT tivesse sido surrado nas urnas como foi, o eleitorado estaria apenas usando o voto como castigo contra quem considera culpado. Mas toda a esquerda saiu derrotada, inclusive sua maior promessa neste pleito, Marcelo Freixo no Rio. A Rede mostrou que a nada veio, o PDT cresceu um pouquinho, o PCdoB foi castigado por sua aliança histórica com o PT. O PSB já atravessou o rubicão.

O vento da direita não é apenas brasileiro, é continental, se não global. Ele sopra em toda a vizinhança onde os governos de centro-esquerda, no tempo das vacas gordas, acharam que bastava garantir o consumo e a renda para fidelizar o apoio das classes populares. Não ousou fazer reformas no sistema político e tributário, não ousou regular a mídia (exceto na Argentina) nem disciplinar os capitais nômades. E, sobretudo, desprezou a necessidade de educar politicamente o povo, que na primeira adversidade lhes voltou as costas.

Quanto tempo vai durar? Vai depender de como o PT conseguirá se reinventar, de como ele e os outros partidos de esquerda vão se relacionar com vistas ao futuro. Está claro que sem alguma unidade será mais difícil vencer o cerco. Mas a duração do retrocesso dependerá, sobretudo, de quais serão os impactos destas administrações conservadoras sobre a vida real dos brasileiros.

No governo do pais, está cada dia mais claro que a gestão Temer trará sacrifícios e não bonança.

A dureza não será passageira, está prometida para 20 anos. O congelamento do gasto público diz que ninguém deve esperar do governo federal “bondades” como as dos governos petistas, que teriam custado caro. Mas as prefeituras estão bem mais perto dos cidadãos, que a elas se apegam mais na solução dos problemas imediatos.

Estão todas falidas e esperando algum socorro do governo federal, que não virá. Até onde a vista alcança, serão administrações de poucos resultados ou então serão irresponsáveis, o que levará a um descalabro ainda maior.

É sobre estes resultados, e avaliando corretamente as razões da derrota, que a esquerda deve se preparar para o novo tempo.