quarta-feira, 12 de outubro de 2016

EPOPÉIA DE CHE - PARTE 1


Por Bloglimpinhoecheiroso


Ernesto Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário, importante cidade industrial da Argentina, em uma família classe média alta. Seu pai, o arquiteto e engenheiro civil Ernesto Guevara Lynch, era um militante político, tendo participado de vários comitês e organizações de ajuda aos países democráticos. A mãe, Cella de la Serna, era igualmente ativista, tendo sido presa diversas vezes por sua militância política.

Aos 2 anos, Che Guevara sentiu os primeiros sintomas de asma que o atormentaria ao longo da vida. Para minimizar os efeitos da doença, a família foi para Alta Gracia, perto da Cordilheira dos Andes, à procura de um clima mais saudável. Mais tarde, Ernestito, como era chamado pelos parentes, começou a praticar esportes como natação, futebol, ciclismo e rugby.

Che foi dispensado do serviço militar argentino por incapacidade em virtude da asma.

Quando Guevara tinha 12 anos, sua família mudou-se para Córdoba, segunda maior cidade da Argentina, e foi viver próxima de uma favela. O menino brincava diariamente com as crianças pobres do lugar, uma atitude pouco comum para um filho de classe média alta. Nessa época, ele começou a pegar gosto pela leitura, pois seus pais tinham cerca de 3 mil livros em casa. Che tomou contato com a poesia, filosofia, história e arqueologia, dentre outros assuntos. Com isso, abriu novos horizontes e quis conhecer novos lugares.

A primeira viagem foi uma travessia do território argentino de bicicleta promovida por uma empresa local. Em cada cidade que parava, comprava vários livros e, desde essa época, começou a escrever um diário, hábito que manteve por toda a vida.

Em 1944, quando tinha 17 anos, a família Guevara transferiu-se para a capital Buenos Aires, centro cultural e político da Argentina. Ele havia decidido fazer Medicina, mas continuava atraído por viagens e aventuras. 

Em dezembro de 1949, ainda não tendo terminado o curso, começou uma longa viagem de motocicleta em direção ao Chile com seu amigo Alberto Granados. Nessa viagem, Guevara começa a ver a América Latina como uma única entidade econômica e cultural. Granados, recém-formado em Medicina, ficou na Venezuela trabalhando num sanatório para leprosos e Che voltou para a Argentina para completar seu curso.

Em março de 1953, ele se formou em Medicina com especialização em alergia, mas percebeu que ainda não estava preparado para se tornar um médico. 

Em um de seus diários, Che relatou: “Quando comecei meus estudos de Medicina, a maioria de meus ideais revolucionários ainda não existia. Como grande parte das pessoas, eu estava em busca de sucesso [...]. Mas, quando comecei a viajar por toda a América, entrei em contato com a pobreza, a fome e a doença [...]. Vi a degradação e a repressão. Então comecei a entender que havia outra coisa tão importante quanto ser famoso, que era ajudar essa gente.”

Em janeiro de 1954, chegou à Guatemala para mergulhar em um universo político conturbado. Foi lá que Guevara conheceu a peruana Hilda Gadea Acosta, com quem se casou mais tarde. Ela daria importante contribuição a sua formação política.

Na Guatemala, o exército invasor norte-americano operava a partir de Honduras, sob o comando da CIA – serviço secreto dos Estados Unidos – e com a aprovação do presidente Dwight Eisenhower. Guevara ficou impressionado com a facilidade com que um governo popular era esmagado. “A última democracia revolucionária da América Latina – a de Jacobo Arbens – caiu como resultado da fria e premeditada agressão conduzida pelos EUA [...]. Quando a invasão norte-americana começou, tentei juntar um grupo de jovens como eu para contra-atacar. Na Guatemala era necessário lutar e quase ninguém lutou. Era necessário resistir e quase ninguém resistiu”, escreveu Guevara.

As exortações de resistência feitas por Guevara foram suficientes para colocar seu nome na lista negra dos golpistas. Avisado pelo embaixador argentino de que sua vida e de sua esposa estavam em perigo, eles se refugiam na embaixada.

As experiências na Guatemala foram importantes para a construção de sua consciência política. Foi lá que Che se autodefine como revolucionário e se convenceu da necessidade da luta armada, de tomar a iniciativa contra o imperialismo.

Recusou a oferta de um salvo-conduto para voltar para a Argentina. Resolveu ir para o México, porque se tratava de um país mais hospitaleiro para os refugiados políticos. Chegando lá com um amigo guatemalteco, os dois viraram fotógrafos de rua para sobreviver. Depois de algum tempo, Guevara foi trabalhar no setor de alergia do Hospital Geral da Cidade do México, ao mesmo tempo que lecionava na Universidade Autônoma do México.

Em julho de 1955, Raul apresenta a Guevara seu irmão mais velho: Fidel Castro. Foi amizade à primeira vista.

Che escreveu como se deu o primeiro encontro: “Encontrei Fidel em uma dessas noites frias da Cidade do México. Lembro que nossa primeira discussão foi sobre política internacional. Algumas horas mais tarde, bem de madrugada, já tinha me decidido que participaria da expedição do Movimento 26 de Julho, que em breve pretendia iniciar uma revolução em Cuba.

Em 25 de novembro de 1956, o barco Granma (vovó, em inglês) levantou âncora do porto de Tuxpan, levando a bordo, em seus 17,5 metros de extensão, 82 homens que mudariam a história de Cuba e do mundo. A viagem foi conturbada. Vários homens marearam durante o percurso e Guevara sofreu forte crise de asma.

Depois de sete dias no mar, o exército revolucionário desembarcou, mas não no local previsto onde estariam os suprimentos. Estavam a 16 quilômetros ao Sul, nos mangues da praia Colorado. 

O Granma encalhou na areia e logo foi descoberto pela Guarda Costeira. Os rebeldes precisaram nadar até a praia, perdendo vários equipamentos importantes, e tiveram que andar horas pelo terreno pantanoso até encontrar terra firme.


(CONTINUA)



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O PAÍS DO PASSADO


por  Mino Carta 

O governo acaba de lançar uma campanha publicitária à sombra do lema “Vamos tirar o Brasil do vermelho”. Campanha maciça e longa, para a alegria da mídia nativa.

O slogan seria da lavra do secretário-executivo dos Programas de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, e sutilmente teria duplo sentido: de um lado indicaria a determinação de executar um plano de ajuste fiscal feroz, do outro afirmaria o propósito de liquidar de vez a esquerda vermelha.

Lembrei-me do tempo em que se acreditava na presença, atrás de cada esquina, de devoradores de criancinhas.

Neste Brasil primário dos dias de hoje, pretensamente atuais e assim mesmo tão vetustos, multiplicam-se os cidadãos altamente habilitados a acreditar em lorotas, sobretudo entre os moradores dos chamados bairros nobres, que de nobre nada têm.

O resultado das eleições municipais prova, também e felizmente, a existência de alguns, honrosos núcleos de resistência aos vencedores do golpe mais reacionário da história do País.

Salta aos olhos, porém, a impossibilidade de maiores ameaças à tranquilidade da casa-grande, quando tantos, inúmeros, relegados à senzala votam no senhor da chibata...

No meu livro O Brasil, lançado em 2013, me ponho ousadamente a contar como o primogênito do senhor da casa-grande se torna herdeiro do pai conforme as leis medievais, enquanto o irmão rejeitado e revoltado, Caim da situação, passa a se dizer de esquerda, para arrepiar a família, amigos e apaniguados.

Falta-lhe a crença entre o fígado e a alma, falta-lhe, sobretudo, a convicção da urgência de acabar com a senzala.

No meu entendimento, é o que explica muito do fracasso da esquerda brasileira, sem contar o comportamento de alguns, saídos da senzala, e ainda assim dispostos a concessões e compromissos, quando não candidatos e inquilinos da mansão nobiliar.

Há figuras de excelente fé em certos redutos que o governo define como vermelhos, mas são exceções, fenômenos escassos. De todo modo, resistentes e autênticos são aqueles que não traíram as palavras de ordem iniciais, bem ao contrário de inúmeros traidores. Aludo a resistentes como, por exemplo, os irmãos Gomes no Ceará, ou Marcelo Freixo, no Rio. Exemplos, insisto, porque há outros, velhos combatentes sempre alertas.

Sobra a percepção inexorável: houvesse uma esquerda forte, vermelho-carmesim, os cidadãos em boa saúde mental de um país infeliz, embora destinado à felicidade, surgido para ser potência e agora de volta à condição de colônia, estariam a celebrar outro desfecho de uma eleição que sela a vitória do golpe e garante a continuidade do plano celerado que até hoje o guia.

O big-bang está na eleição de Lula à Presidência, clamor tão ensurdecedor a ponto de não ser ouvido, mas daí se difundiu para alcançar o diapasão mais elevado a partir da segunda eleição de Dilma Rousseff.

Agora vibra nos nossos ouvidos, mas para o partido de Lula é tarde.

Se sair do vermelho significa acabar de uma vez por todas com maiores riscos para o sossego da casa-grande, suponho que o momento seja favorável ao atraso ardorosamente buscado pela reação nativa, mesmo porque os ventos vindos do norte neoliberal por ora sopram a favor.

Já se significa sair da crise econômica, aqueles cidadãos acima citados fiquem precavidos. Sair do vermelho, para o governo Temer e quantos o sustentam, é simplesmente vender o Brasil. Como será provado.

Confirma-se a normalidade da demência.

E eis que me cai nas mãos a gravura acima, obra de um retratista da casa-grande, um certo Debret, realista e, portanto, impiedoso. E perfeito até hoje.

À mesa, toscos, vulgares donos da casa, caricaturas de uma aristocracia de fancaria.

Compostos, dignos, os escravos.



sábado, 8 de outubro de 2016

MUITO MAIS VELHOS



Existem coisas que nos tornam mais velhos.

A primeira transa, por exemplo. Ou a primeira desilusão amorosa.

Ou a primeira perda de um ente querido.

São coisas inerentes à nossa existência e que nos fazem mais experientes, mais otimistas ou pessimistas, mais esperançosos ou céticos, nos fazem enfim, mais “velhos”.

Há coisas que nos fazem mais felizes e outras, mas sombrios, para o resto de nossas vidas.

Nesse contexto é impossível não concluir que esse golpe mesquinho e perverso de que fomos vítimas e testemunhas, nos tornou, a todos os vertebrados, mais velhos.

Nunca mais poderemos ver certas instituições como já vimos antes.

Nunca mais acreditaremos no sistema como a mesma ingenuidade que já tivemos.

Nunca mais veremos a polícia federal como aliada do bem contra o mal.

Ou o Judiciário como a ordem neutra e apartidária pronta para estabelecer a justiça;

O golpe, esse golpe covarde, além de nos deixar mais velhos nos deixou menos crentes.

Como acreditar que a justiça sempre vence, que o bem supera a vilania e que os bandidos sempre perdem no final, depois de assistir a mais torpe perseguição pública que esse país já promoveu, atingir todos os seus objetivos?

Estamos todos menos crianças.

E mais sofridos pois é impossível perder tudo isso sem muita dor.

De tal forma que, mesmo se amanhã, um milagre de junções improváveis de forças, recolocasse tudo no seu devido lugar, Dilma na presidência e os cães nas casinhas, ainda assim, não seríamos mais os mesmos.

E na verdade, nunca mais seremos os mesmos.

Como depois da primeira transa ou da primeira desilusão amorosa.

Para aqueles que não se deixam alienar o ano de 2016 durou um século.

As futuras gerações entenderão os acontecimentos, pois esse é o papel da história, mas jamais entenderão a nossa velhice precoce, pois isso a gente sente, não se explica.

Sim, estamos todos, mais amargos e muito mais velhos.



Prof. Péricles



quinta-feira, 6 de outubro de 2016

OMM SETI E A SAUDADE DO EGITO PERDIDO

Múmia de Seti I
Dorothy revela onde estão os Jardins




Em 1907 a pequena Dorothy, de apenas 3 anos de idade, sofreu uma terrível queda num lance de escadas. Tão terrível que o médico temeu por sua vida. A criança sobreviveu, mas, a partir desse dia passou a ter sonhos recorrentes e perturbadores sobre um grande prédio com colunas e jardins

Alguns meses depois, já com quatro anos, visitou com os pais o museu britânico, em Londres (Dorothy e seus pais moravam em Blackheath, na Inglaterra). Ao chegar à seção egípcia começou a beijar freneticamente os pés das estátuas e por fim parou em frente à vitrine de uma múmia. Após minutos, constrangidos, os pais tentaram retirá-la do lugar, mas Dorothy se agarrou ao móvel expositor e gritou “Deixe-me aqui com minha gente! ”.

Dorothy Louise Eady tornou-se uma das mais populares egiptólogas do mundo.

Durante toda a vida afirmou já ter vivido na Era Faraônica na cidade de Abidos.

Aos 29 anos casou-se com Abdel Maquib e passou a morar no Egito. Tiveram apenas um filho a quem deu o nome de Seti, passando a ser conhecida como “Omm Seti” (a mãe de Seti) como era hábito no Egito antigo.

Era comum, nessa época, levantar durante a madrugada e escrever em hieróglifos, que, segundo ela, eram ditados por um espírito chamado Hor-Rá.

Em 70 páginas escritas em hieróglifos, Hor-Rá relata que ela foi Bentreshyt, uma mulher que faleceu muito jovem quando se preparava para ser sacerdotisa no templo do Faraó Seti I.

Após 20 anos de trabalhos egiptólogos, finalmente conheceu a cidade de Abidos.

Ao chegar foi diretamente para o Templo de Seti, onde passou toda a noite acendendo incensos e rezando para as divindades egípcias.

Acabou abandonada pelo marido e pelo próprio filho que julgavam não ter espaço na vida de Dorothy,

Normalmente os arqueólogos, profissionais extremamente ligados a fatos e comprovações científicas, não dariam importância para a extravagante história de Eady. O problema é que ela deu inúmeras informações baseada nas suas “memórias” que simplesmente se mostraram corretas. Por exemplo:

Todos os arqueólogos procuravam o jardim do templo de Seti I e ela disse apenas “Lembro-me de que o antigo jardim estava aqui”. Eles cavaram onde ela apontou, e o jardim estava de fato lá.

Além disso afirmou que embaixo do Templo de Seti I em Abidos existiria uma câmara mortuária secreta, apontando a mesma com exatidão.

Dorothy ainda afirmou que a tumba de Nefertiti teria sido edificada próxima a de Tutankhamon fato, até então, desconhecido.

Mundialmente reconhecida por suas afirmações de uma vida entre os Egípcios antigos na corte de Seti I, Omm Seti escreveu vários artigos e livros detalhando com cores vivas o dia a dia desse povo extraordinário. Como se vestiam, falavam, as cores de suas ruas etc.

Morreu em 1981, aos 77 anos, com sua “memória de vida passada” cada vez mais detalhista.

E você, acredita que Dorothy Louise Eady é uma comprovação acerca das múltiplas existências e encarnações?

Que os deuses do Nilo orientem tua resposta.






Prof. Péricles

terça-feira, 4 de outubro de 2016

DIRETAS JÁ, OUTRA VEZ



Por Val Carvalho



Passados 32 anos dos grandes comícios das Diretas Já!, a maior mobilização popular que o país já viu, essa bandeira volta a empolgar a resistência democrática nas ruas do país. Por que, depois de tanto tempo, essa bandeira continua mobilizando o povo?

As esquerdas brasileiras, historicamente, não conseguiram elevar a consciência democrática do povo para além da defesa de eleições diretas para presidente. De fato, a eleição de presidentes nacionalistas ou de esquerda foi o caminho concreto que o povo trilhou para conquistar seus direitos

Nesse processo histórico, podemos mencionar a eleição de Vargas em 1950, a de JK em 1955 e a eleição do vice Goulart junto com o demagogo direitista Jânio Quadros, em 1960.

O golpe da implantação do parlamentarismo, depois da renúncia de Jânio em agosto de 1961, foi derrotado em janeiro de 1963 num plebiscito onde o povo votou majoritariamente pela volta do presidencialismo. Em novo plebiscito realizado em 1993, o povo voltou a apoiar amplamente o presidencialismo contra o parlamentarismo – o regime dos sonhos de uma direita sem votos.

Em 1984, após vinte anos de ditadura militar, o povo sai nas ruas com o movimento pelas Diretas-Já, e que levou à derrota do regime um ano mais tarde. Mas nas primeiras eleições diretas para presidente, em 1989, a base popular elege um “coronel” de Alagoas no lugar de Lula. Faltou-lhes para isso a conexão histórica com as lutas do passado e necessária experiência democrática para usar o voto direto como arma de classe.

O povo teve que passar pela experiência desastrosa de Collor, do impeachment deste, e dos governos excludentes de FHC para poder ver em Lula a retomada de sua luta histórica. A partir da eleição de Lula em 2002, não mais o abandonou, e reelegeu Lula e Dilma por mais três mandatos.

Mas, se os treze anos de governo petista foram plenos de conquistas sociais, não o foram de educação política das massas, o que as deixou a mercê das manipulações do monopólio midiático da direita.

Desse modo, o novo golpe das elites reacionárias enfrentou um governo sem defesas e um povo com baixo nível de organização.

Em decorrência disso, ao enfrentar o golpe e lutar contra a extinção de seus direitos, esse povo não vê outro caminho senão trilhar novamente a luta pela conquista de eleições direitas para presidente.

É a luta que corresponde ao nível de consciência política das amplas massas e a única maneira de se avaliar a correção de uma palavra de ordem.





Val Carvalho é articulista do Correio do Brasil.

domingo, 2 de outubro de 2016

JOGO OBSCENO


A democracia foi a maior invenção da aristocracia para iludir os pobres e excluídos.

Criada e mantida para dar a impressão que todos, pobres e ricos, têm igual peso no jogo político do estado.

Um regime reverenciado como o que mais prima pela liberdade e igualdade entre as pessoas e onde a vontade da maioria sempre prevalece.

Doce engano.

O voto, por exemplo, não é em si um instrumento de democracia enquanto não houver igualdade de acesso ao conhecimento entre os que votam. O mal informado vota contra seus próprios interesses e isso desfaz o seu poder igualitário.

As decisões das urnas sempre são respeitadas quando os poderosos ganham.

No Brasil, em especial, sempre que um resultado ameaça fazer fugir das mãos da Casa Grande às decisões é atacado e vilipendiado até a exaustão.

Getúlio Vargas nunca foi de esquerda, mas bastou se aproximar das lideranças sindicais e trabalhistas para ser perseguido de tal forma que foi levado ao suicídio.

Jango, jamais foi comunista, mas foi de tal forma estigmatizado que até hoje sobrevive a ideia de que era um perigoso agente de Moscou. E o crime de Jango? Apoiar a realização de reformas básicas que eram modernizantes, mas, de forma alguma revolucionárias.

Os governos do PT, Lula e Dilma, foram favoráveis ao capital. Poucas vezes os capitalistas brasileiros ganharam tanto dinheiro. Por outro lado, não avançaram em nenhuma reforma estrutural popular como promover a reforma agrária, por exemplo. Mesmo assim, foram considerados ameaças a partir do momento que acumularam vitórias eleitorais e simpatia popular com seus programas sociais.

A democracia é uma grande mentira desde o nascimento quando homens como Péricles promoveram reformas que facilitaram apenas à nova aristocracia que surgia em Atenas e não aos mais pobres da polis.

Ou quando levaram ao poder no século XVIII a burguesia francesa mantendo os pobres distantes do poder ao mesmo tempo que prometiam igualdade, liberdade e fraternidade.

Liberdade sim, mas liberdade burguesa.

Você jamais vencerá um inimigo agindo como amador em terreno que ele é profissional.

As classes trabalhadoras do Brasil dificilmente chegarão algum dia ao poder de fato jogando esse jogo obsceno da “democracia brasileira”.



Prof. Péricles







sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O VICE TRAIDOR E O TRIUNFO DA VERDADE


Contam que, certa vez, um sheik caiu em desgraça e perdeu o poder para seu vice traidor. Para piorar ele foi a julgamento acusado de traição contra seu próprio povo e se condenado a pena era a execução por enforcamento, mas, se absolvido recuperaria o poder.

O sheik defendeu-se acusando o vice traidor (que era realmente o culpado) e o julgamento foi feito em cima de ambas as acusações, o sheik acusava o vice traidor e o vice traído acusava o Sheik.

O julgamento de cartas marcadas ia se desdobrando cada vez pior para o sheik já que não havia provas contra ele, mas muita convicção, quando o juiz (cadi, entre os árabes) que estava mancomunado com o vice traidor, quis dar uma de justo e entrar para a história como imparcial.

Disse o juiz que Alá todo poderoso era infinitamente justo e por isso, ele iria colocar os nomes do sheik e do vice em tirinhas de papel diferentes e o próprio sheik iria “sortear” o nome do criminoso.

E assim foi feito, o nome de cada um foi escrito em papéis separados pelo próprio juiz corrupto, que depois de devidamente dobrados foram levados ao sheik, numa bandeija, no banco dos réus para que ele mesmo escolhesse o papel que apontaria o nome do culpado. Alá seria clemente e justo e moveria a sua mão.

Intimamente os golpistas sorriam, pois, o juiz escrevera o nome do sheik em ambos os papéis e, portanto, independentemente de sua escolha o nome sorteado seria o dele.

A plateia em suspense assistia a tudo convocada como  testemunha sem nem desconfiar do truque do juiz. Mas o sheik sim, sabia que qualquer das tirinhas que escolhesse, teria o seu nome.

Então o sheik levou a mão até um dos papelotes e o escolheu, mas, num gesto inesperado, o engoliu.

Maior sururu na plateia.

E disse o sheik ao público, “fiz a minha escolha e a única maneira de saber o nome que ele continha é abrir o papelote que sobrou.

Obviamente, o papelote lá estava escrito o nome do sheik de onde se deduziu que a folha que apontava o culpado e fora engolida por ele era o nome do vice traidor.

O sheik recuperou o poder e o vice traidor foi enforcado.

Às vezes a única forma de derrotar os espertos é sendo mais esperto que eles e partindo também para os truques, deixando a forma polida de lado.

Está faltando esperteza da esquerda nesse golpismo medíocre da direita.

Lula deveria fazer algo parecido quando acusado por um cadi inescrupuloso capaz de escrever seu nome como culpado, mesmo sem provas, nos dois papéis e deixar de investigar o nome dos outros, mesmo sendo estes, várias vezes delatados.




Prof. Péricles

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

OS GOLPES DE CLASSE NO BRASIL


Por Leonardo Boff

Entre o golpe de 1964 e o golpe de 2016 há uma conaturalidade estrutural. Ambos são golpe de classe, dos donos do dinheiro e do poder: o primeiro usa os militares, o outro o parlamento. 

Os meios são diferentes mas o resultado é o mesmo: um golpe com a ruptura democrática e violação da soberania popular.

Vejamos o golpe de 1964. René Armand Dreifuss em sua monumental tese na Universidade de Glasglow: “1964: a conquista do Estado, ação política, poder e golpe de classe” (Vozes 1981), um livro de 814 páginas das quais 326 são de documentos originais, deixou claro: “o que houve no Brasil não foi um golpe militar, mas um golpe de classe com uso da força militar”(p.397).

O assalto ao poder de Estado foi tramado pelo general Golbery de Couto e Silva utilizando-se de quatro instituições que difundiam a ideia do golpe: o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), o Grupo de Levantamento de Conjuntura (GLC) e a Escola Superior de Guerra (ESG). O objetivo manifesto era: “readequar e reformular o Estado” para que fosse funcional aos interesses do capital nacional e transnacional. Eis o caráter de classe do golpe.

O assalto ao Estado se deu em 1964 e severamente em 1968 com repressão, tortura e assassinatos. O regime de Segurança Nacional passou a ser o Regime de Segurança do Capital.

Para o golpe de 2016 temos uma minuciosa investigação do sociólogo e ex-presidente do IPEA Jessé Souza “A radiografia do golpe” (Leya 2016). Semelhante ao golpe de 1964, Jessé desvela os mecanismos que permitiram a elite do dinheiro a ser a “mandante” do golpe, realizado em seu nome pelo parlamento. Portanto, trata-se de um golpe de classe e parlamentar.

Jessé enfatiza além disso “que todos os golpes, inclusive o atual, são uma fraude bem perpetrada dos donos do dinheiro, que são os reais ‘donos do poder”. Quem compõe essa elite? “A elite do dinheiro é antes de tudo a elite financeira, que comanda os grandes bancos e fundos de investimento e que lidera outras fracções de endinheirados como a do agronegócio, da indústria (FIESP) e do comércio, secundada pelos meios de divulgação que distorcem e fraudam sistematicamente a realidade social como se fosse “terra arrasada e país falido” , escondendo os interesses corporativos por trás da fraude golpista.

O motor de todo o processo, reafirma Jessé, é a voracidade da elite do dinheiro de se apropriar da riqueza coletiva sem peias, com outros sócios como a mídia ultra-conservadora, o complexo jurídico-policial do Estado e parcela do STF (pense-se em Gilmar Mendes).

O processo de impeachment foi parar no Senado. Este promoveu a destituição da Presidente Dilma por crime de responsabilidade fiscal. Os principais juristas e economistas, além de notáveis testemunhas nas oitivas e os relatórios oficiais de várias instituições, negaram rotundamente a existência de irresponsabilidade. 

A maioria dos senadores nem se deu ao respeito de ouvir as oitivas de especialistas altamente qualificados pois já haviam tomado previamente a decisão de depôr a presidenta.

O áudio vazado entre Romero Jucá, ministro do planejamento e o ex-diretor das Transpetro Sergio Machado, revela a tramóia: “botar o Michel num grande acordo nacional com o Supremo e com tudo; aí pára tudo…e estanca a sangria da Lava Jato.” Um dos motivos do golpe era também livrar do braço da justiça os 49 senadores, sobre 81, indiciados ou metidos em corrupção. Desta forma, com exceção dos valorosos defensores de Dilma, esse tipo de políticos, sem moral, decidiram depor uma mulher honesta e inocente.

Condenar sem crime é golpe. Golpe de classe e parlamentar. Golpe significa violar a constituição e trair a soberania popular por força da qual Dilma Rousseff se elegeu com 54 milhões de votos.

Ontem em 1964 e hoje em 2016, seja por via militar seja por via parlamentar, funciona a mesma lógica: as elites econômico-financeiras e a casta política conservadora praticam a rapinagem de grande parte da renda nacional (Jessé aponta 71.440 pessoas, apenas 0,05% da população) contra a vida e o bem-estar da maioria do povo, submetido à pobreza. Boa parte do Congresso é cúmplice deste golpe. Nele majoritariamente vigora a mesma intencionalidade estrutural de garantir o status quo que favorece seus privilégios e seus ganhos.

O projeto do PMDB “Uma ponte para o futuro” de um deslavado neoliberalismo de enrubescer, revela o propósito do golpe: reduzir o Estado, arrochar salários, liquidar com a política de valorização do salário, cortar gastos com os programas sociais, privatizar empresas estatais, especialmente o Pré-Sal, desvincular despesas obrigatórias da saúde e da educação, reduzir ao mínimo tudo o que tem a ver com a cultura, direitos humanos, mulheres e minorias. 

O ministério é constituído por brancos e em grande parte acusados de corrupção. Não há mulheres nem negros e representantes das minorias.

Temos a ver com um espantoso retrocesso politico-social, agravando a desigualdade, nossa perversa chaga social, e esvaziando as conquistas sociais de 13 anos dos governos Lula-Dilma,

Há resistência e oposição multitudinária nas ruas, de fortes grupos sociais e de intelectuais que não aceitam um presidente conspirador e sem credibilidade. A solução seria eleições gerais e mediante a soberania popular se escolheria um novo presidente que de fato representasse o país.



Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio Darci Boff, teólogo, escritor e professor universitário expoente da Teologia da Libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos.



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O JOGO POLÍTICO E UMA GOLEADA HUMILHANTE


No eterno jogo entre direita e esquerda, em partida recente a esquerda está perdendo e feio.

E o pior é que não é uma derrota simples e suportável. É uma goleada humilhante.

Vínhamos de uma vitória de 4 a 0 com duas eleições de Lula e duas de Dilma e a direita estava raivosa e mal-amada.

Começamos perdendo de 1 a 0 por um gol inevitável e fruto de nossa própria história social escravagista e de golpismos de todos as horas: o predomínio do conservadorismo e desinformação de nosso povo. 

Embora fosse um gol inevitável ele se deu com requintes de crueldade já que a direita usou e abusou do fascismo e seus dribles de movimentos falsos, para seduzor os reacionários.

O segundo gol foi devido a estupidez de nossa defesa que não leu corretamente a jogada: O Mensalão. Não tivemos qualquer protagonismo ao permitir que pessoas como Zé Dirceu fossem presas, sem provas. Era o sinal que a direita precisava para sua tática usada no segundo tempo, do “domínio do fato”.

Os 3 a 0 vieram com a Lava a Jato, graças a falta de compreensão do lance, do nosso treinador.

Uma operação policial partidarizada que nunca, mas nunca mesmo, foi imparcial, foi vista, pela pobre equipe técnica do nosso time, como algo sério e que vinha realmente para combater a corrupção. Mas a Lava a Jato nunca combateu nem pretendeu combater a corrupção. Foi feita apenas para atingir o PT, Lula e a presidenta, e pasmem, continua sendo defendida por elementos da esquerda que dessa forma já deixaram de ser ingênuos para serem retardados mesmo.

A Lava a Jato que de tão despótica criou figuras abjetas como o “Japonês da Federal” jogou livre e sem marcação do ministro da defesa que permitiu uma soberba execrável de subordinados inebriados pelo poder de atuação que nunca tiveram antes.

Enquanto nosso treinador jamais lançou mão do banco de reservas (os movimentos sociais), o treinador deles (a imprensa) sobrava em esperteza e blefes vitoriosos. A goleada humilhante era agora, inevitável.

O quarto gol foi o deplorável impeachment de uma presidente sem nenhuma prova de cometimento de qualquer ato ilícito. Lembra do “domínio do fato” lá atrás ?

O quinto gol foi a ridícula encenação para justificar uma denúncia-crime contra Lula, numa tabelinha perfeita entre o Juiz que coordena a Lava a Jato e a histeria coletiva do anti-lula.

Vamos reconhecer, todos os gols foram tramados em jogadas ensaiadas.

Infelizmente, estamos no apagar das luzes da partida e ainda vamos tomar o sexto gol com a prisão e/ou ilegibilidade de Luís Inácio.

Não tivemos uma só vitória pessoal. Nenhuma concessão. Assistimos o adversário passear em campo e terminaremos a partida sendo íntegros e verdadeiros, mas tapados e derrotados sem fazer nenhum gol de honra.

A esquerda jogou o jogo conforme as regras da democracia e acreditou na reciprocidade. Puro engano. Para a Direita a única regra que vale é assumir o poder no final do jogo.

Dizem que a Ditadura Militar brasileira não terminou ao fim do governo Castelo Branco e se cristalizou em torturas e atentados aos direitos humanos devido a apatia e falta de resistência ao golpe. Não houve Campanha da Legalidade 2, o Presidente renunciou e foi embora e nem foi preciso acionar a Operação Brother San. Segundo alguns analistas os golpistas não acharam isso bacana, ao contrário, viram os democratas como uns bunda-mole facilmente derrotados e por isso um inimigo que não merecia respeito.

Se isso for verdade o golpe atual tende a parir um novo período negro em nossa história, não militar, mas, elitista e fascista.

Resta chorar a goleada e esperar uma revanche... que ela não demore 21 anos pois golpistas costumam se agarrar ao poder e são, ao contrário da esquerda, competentes para mantê-lo.



Prof. Péricles





domingo, 25 de setembro de 2016

O ISLAMISMO É PACÍFICO?

Por Mario Guerreiro


“Burkini” é uma nova palavra composta de burka e biquíni. Foi empregada para denominar o traje de banho de mar das muçulmanas. Na realidade, o nome burka aqui é inadequado, porque ela cobre todo o rosto, só deixando buraquinhos para os olhos. No burkini, as mulheres se cobrem da cabeça aos pés, deixando o rosto de fora.

Nas Olimpíadas de 2016, ocorreu um jogo de vôlei feminino entre as seleções da Alemanha e do Egito. Um fotógrafo captou um momento bastante insólito: uma disputa na rede entre uma alemã usando um biquíni – como sói ocorrer em todas as seleções ocidentais – e uma egípcia usando uma roupa semelhante ao burkini.

Essa foto circulou pela Internet com um título adequado: CONFLITO DE CIVILIZAÇÕES (em alusão ao excelente livro de Samuel Huntington, do mesmo nome).

Os muçulmanos nunca levaram em consideração o famoso dito da Antiguidade: “Entre os romanos, comporte-se como um romano, entre os gregos como um grego, e entre os persas como um persa”. Por isto mesmo, as muçulmanas iam à praia em Cannes (França) do mesmíssimo modo como iriam no Marrocos, na Líbia e demais países muçulmanos.

Mas, recentemente, o prefeito de Cannes baixou uma lei proibindo o uso do burkini nas praias. A comunidade muçulmana fez veementes protestos, como aqueles feitos no Brasil quando o Presidente Jânio Quadros proibiu a briga de galos e o biquíni.

No entanto, em suas alegações a favor da proibição, o Prefeito de Cannes considerou a coisa mais como um gesto simbólico: alegou que aquele traje era na realidade um ultraje, uma clara provocação dos costumes ocidentais, exatamente como seria uma provocação aos costumes muçulmanos uma mulher ocidental ir à praia de biquíni num país muçulmano.

Acho que se uma ocidental imprevidente resolvesse ir de biquíni à praia num país muçulmano, na melhor das hipóteses ela seria imediatamente presa e levaria umas dez chibatadas. E na pior, seria apedrejada pelos próprios banhistas muçulmanos.

O Prefeito de Cannes agiu de modo semelhante ao Primeiro-Ministro da Dinamarca. Quando a comunidade islâmica reivindicou a construção de uma mesquita na Dinamarca, respondeu: “Podem construir, contanto que vocês aceitem a construção de um templo cristão num país muçulmano”.

O que está em jogo aqui em ambos os casos é a regra da reciprocidade: um grego na Pérsia deve se comportar como um persa, e um persa na Grécia deve se comportar como um grego.

No entanto, os muçulmanos desconhecem essa regra da boa convivência. Se um ocidental vai para um país muçulmano, geralmente ele se comporta, no espaço público, como um muçulmano. No espaço privado, ele pode beber uísque e/ou cerveja, mas no espaço público é proibido.

Os muçulmanos não querem obedecer às leis nem os costumes dos países ocidentais, mas sim a lei da Shariah, baseada no Corão. Em Londres, por exemplo, os bairros de maioria muçulmana são regidos pelas leis da Shariah em aberto menosprezo pelas leis do Reino Unido. E o que é mais espantoso: os britânicos permitem tal aberração jurídica!

Os muçulmanos fazem marchas pregando a violência e a intolerância religiosa, com slogans do tipo: MORTE A TODOS OS INIMIGOS DO ISLAMISMO (entenda-se: todos os não-muçulmanos, especialmente judeus e cristãos). Mas os britânicos não os prendem por incitação ao crime!

Apesar de todos os atentados sangrentos praticados em nome de Allah, apesar de todos os atritos entre muçulmanos e ocidentais, Obama e Hillary continuam repetindo seu surrado refrão: “O Islamismo é uma religião pacífica”. Imagine só se não fosse…

Tal afirmação coloca-nos diante de um dilema destrutivo: Ambos, Obama e Hilary, nunca leram O Corão ou são refinados hipócritas. Eis algumas evidências desta religião intolerante e beligerante:

“Tu podes escravizar com finalidades de trabalho ou sexo”. Corão, 4.3. 4.24,33.50, 70, 29-30.3. [creio que isto é aplicável somente aos não-muçulmanos].

“Tu podes bater na sua mulher”. Corão, 4.34. [Lá não existe Lei Maria da Penha]

“Mates judeus e cristãos, se eles não se converterem, nem pagarem a jizya”. Corão,9.29. ( A jizya é uma taxa cobrada de não-muçulmanos) [ou seja: conversão, pagamento da jyzia ou morte dos infiéis].

“Crucifique e faça amputações nos não-muçulmanos”. Corão, 8.12, 47.4. [ Estão portanto justificadas pelo Corão, as práticas do Daesh e/ou Estado Islâmico].

“Matarás não-muçulmanos e receberás 72 virgens no Jardim de Allah”. 9.111. [Jardim de Allah é o nome do Jardim do Édem muçulmano].

“Tu deves matar qualquer um que renunciar ao islamismo. Corão. 2.217, 4. 89. [Lembremos que o Ayatolá Khomeini lançou uma Fatwa (condenação à morte) ao escritor Salmon Rushdie, um ex-muçulmano, autor de Versos Satânicos. O Ayatolah podia excomungá-lo, mas pediu aos fiéis sua morte!].

“Tu degolarás não-muçulmanos”. Corão, 8.12, 47.4. [Como vimos, O Daesh cumpre à risca O Corão].

“Tu matarás e morrerás por Allah”. Corão, 9.5 [Os unabombers são, portanto, mártires do Islã e têm direito a 72 virgens no Jardim de Allah].

“Tu praticarás atos de terrorismo contra não-muçulmanos”. Corão, 8.12. 8.60.

“Minta, se for para favorecer o Islã”. Corão,3.54, 9.3. [Com isto, O Corão antecipou a máxima sintetizadora do maquiavelismo: “Os fins justificam os meios”].

Lendo com atenção as passagens corânicas acima, podemos inferir que há ao menos dois tipos de muçulmano: o Muçulmano de família que, a exemplo do “católico de família”, é muçulmano, porque seus pais e avós eram muçulmanos, mas não segue à risca os mandamentos do Corão e o muçulmano fundamentalista, que segue à risca os mandamentos do Corão e que, por isto mesmo, mata, rouba e mente em nome de Allah. O primeiro tipo de muçulmano pode ser pacífico, mas o segundo não pode ser, para que ele não contradiga o Corão.

Estima-se que existem um bilhão e duzentos mil muçulmanos no mundo. Destes, apenas 20% são terroristas, ou seja: duzentos e quarenta milhões de terroristas dispostos a matar e morrer por Allah. Este é um número maior do que o da população do Brasil!

Comparando agora a moral implícita na religião cristã e na religião islâmica, podemos dizer, em termos kantianos, que esta última não é universalizável, ou seja: não se aplica a todo ser humano, sem exceções, mas sim unicamente aos seguidores de Maomé.

Desse modo, ela se assemelha ao código de honra da máfia: a Ommertà, em que um mafioso pode matar, roubar e enganar todos os não-mafiosos, mas não um membro da famiglia do Capo.



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

SETEMBRO AMARELO


Geralmente as tragédias são alarmantes e agitadas. Nos comovemos com imagens de guerras onde inocentes morrem em batalhas estúpidas e ataques terroristas como o de Paris.. Ou cenas de tragédias naturais como o recente terremoto no centro da península Itálica.

O interessante é que a maior de todas as tragédias é silenciosa e quase imperceptível.

A maior de todas as tragédias humanas absolutos é o suicídio, fenômeno social que pode acontecer, às vezes, na casa ao lado, sem que nada se perceba.

Segundo estatísticas da OMS (Organização Mundial da Saúde), órgão da ONU, ocorrem cerca de 1 milhão de suicídio por ano no mundo constituindo-se, em números absolutos, na maior de todas as tragédias. Isso representa um crescimento de 60% nos últimos 40 anos.

Só para efeito de comparação, na guerra da Síria que já dura quatro anos morreram, até agora, cerca de 250 mil pessoas.

E o número é avassalador se pensarmos que, em média, para cada um suicídio ocorram 20 tentativas que não resultam em óbito, mas que, por vezes, deixam sequelas permanentes.

No Brasil, estima-se que cerca de 32 pessoas por dia cometam suicídio, sendo de 3 a 4 pessoas no Rio Grande do Sul.

Aliás, o estado do Rio Grande do Sul é onde, proporcionalmente, mais ocorrem suicídios e Porto Alegre é a triste campeã entre todas as capitais brasileiras, destacando-se ainda, cidades como Venâncio Aires, Lajeado, Santa Rosa, Vacaria, São Borja, Candelária, Uruguaiana, Passo Fundo e Sapiranga.

São números desconhecidos pela maioria da população.

O enforcamento ainda é a forma mais usual, mas é grande o número de suicídios por arma de fogo e, entre as mulheres, envenenamento e quedas de grande altura.

Alguns lugares tornaram-se míticos, como a Ponte Golden Gate, m San Francisco, nos Estados Unidos, ou o Bosque do silêncio no Japão.

Por aqui destaca-se a morte sobre os trilhos do Trensurb.

Os homens se matam mais que as mulheres numa proporção de 3 suicídios masculinos por um feminino, mas, entre a população jovem, de 15 a 29 anos, cresceu muito o suicídio entre as meninas levando a proporção de 3 para 2.

Aliás, entre os jovens, o suicídio é a segunda maior causa de mortes, sendo entre a população feminina nessa faixa etária, a primeira.

A relação econômica é plausível pois 75% dessas mortes ocorrem em países pobres, sendo que apenas 20 países no mundo, possuem algum tipo de política de prevenção.

Nesse ritmo temos que aceitar a projeção sinistra de 1,5 milhão de suicídios/ano a partir de 2020.

As causas são múltiplas e geralmente relacionadas entre si.

A maioria das vítimas tinham algum tipo de transtorno mental (depressão e bipolaridade) e há indícios de esquizofrenia e paranoia entre seus agentes.

Outros fatores, entretanto, agravam o problema.

Uso abusivo de drogas, incluindo o álcool, sentimento de rejeição, dificuldade para processar as decepções, bullings e isolamento, entre eles.

Objetivando chamar a atenção das populações para o fenômeno, a OMS criou em 2014 o “Setembro Amarelo” e desde então esse mês tem sido um marco de reflexão e planejamento de ações sobre o assunto, sendo o dia 10 de setembro o dia mundial de prevenção ao suicídio.

E nós podemos e devemos participar desse esforço mundial.

Nossa sociedade industrial força uma vida acelerada das pessoas como se elas fossem, continuamente, peças de uma mecanismo maior e autômato. Vive-se com pressa de tudo. Fala-se muito e ouve-se pouco.

Ouvir o outro é o exercício primeiro de uma postura mais humana e fraterna. Substituir a avalanche de argumentos lógicos por uma estratégia de ouvinte realmente interessado em aliviar a dor alheia.

Reza a lenda que quem muito fala que vai se matar não se mata. Mas isso é apenas lenda. O potencial suicida, segundo relatos médicos, busca ajuda de formas, muitas vezes, imperceptíveis em busca de um ombro amigo.

O desinteresse ou não ser levado a sério reforça a sensação de despertencimento do potencial suicida.

Ouvir os outros pode salvar vidas e combater a solidão, respeitando os sentimentos de cada um, uma obrigação de todos.



Prof. Péricles




quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O BRASIL E O PERIGOSO JOGO DA HISTÓRIA

Por Mauro Santayana


Embora muita gente não o veja assim, o afastamento definitivo de Dilma Roussef da Presidência da República, em votação do Senado, por 61 a 20 votos, no final de agosto, é apenas mais uma etapa de um processo e de um embate muito mais sofisticado e complexo, em que está em jogo o controle do país nos próximos anos.

Desde que chegou ao poder, em 2003, o PT conseguiu a extraordinária proeza de fazer tudo errado, fazendo, ao mesmo tempo, paradoxalmente, quase tudo certo.

Livrou o país da dependência externa, pagando a dívida com o FMI, e acumulando 370 bilhões de dólares em reservas internacionais, que transformaram nosso país, de uma nação que passava o penico quando por aqui chegavam missões do Fundo Monetário Internacional, no que é, hoje - procurem por mayor treasuries holders no Google - o quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos.

E o fez, ao contrário do que dizem críticos mendazes, sem aumentar a dívida pública.

A Bruta, em 2002, era de 80% e hoje não chega a 70%. A Líquida era, em 2002, de aproximadamente 60% e hoje está por volta de 35%.

Mas isso não veio ao caso.

Ajudou a criar milhões de empregos, fez milhões de casas populares, criou o Pronatec, o Ciências Sem Fronteiras e o FIES, fez dezenas de universidades e escolas técnicas federais e promoveu extraordinários avanços sociais.

Mas isso não veio ao caso.

Voltou a produzir e a construir, depois de décadas de estagnação e inatividade, navios, ferrovias - vide aí a Norte-Sul, que já chegou a Anápolis - gigantescas usinas hidrelétricas (Belo Monte é a terceira maior do mundo) plataformas e refinarias de petróleo, mísseis ar-ar e de saturação, tanques, belonaves, submarinos, rifles de assalto, multiplicou o valor do salário mínimo e da renda per capita em dólares.

Mas isso não veio ao caso.

Porque o Partido dos Trabalhadores foi extraordinariamente incompetente em explicar, para a opinião pública, o que fez ou o que estava fazendo.

Se tinha um projeto para o país, e que medidas faziam, coordenadamente, na economia, nas relações exteriores, na infraestrutura e na defesa, parte desse projeto.

Em vez de "bandeiras" nacionais, como a do fortalecimento do país no embate geopolítico com outras nações, que poderiam ter "amarrado" e explicado a criação do BRICS, os investimentos da Petrobras no pré-sal, a política para a África e a América Latina do BNDES, o rearmamento das Forças Armadas, os investimentos em educação e cultura, em um mesmo discurso, o PT limitou-se a investir em conceitos superficiais e taticamente frágeis, como, indiretamente, o do mero crescimento econômico, fachada para as obras do PAC.

Na comunicação, o PT confiou mais na empatia do que na informação. Mais na intuição, do que no planejamento.

Chamou, para estabelecer sua linha de comunicação, "marqueteiros" sem nenhuma afinidade com as causas defendidas pelo partido, e sem maior motivação do que a de acumular fortunas, que se dedicaram a produzir mensagens açucaradas, estabelecidas segundo uma estratégia eventual, superficial, voltadas não para um esforço permanente de fortalecimento institucional da legenda e de seu suposto projeto de nação, mas apenas para alcançar resultados eleitorais sazonais.

O Partido dos Trabalhadores teve mais de uma década para explicar, didaticamente, à população, as vantagens da Democracia, seus defeitos e qualidades, e sua relação de custo-benefício para os povos e as nações.

Não o fez.

Teve o mesmo tempo para estabelecer, institucionalmente, uma linha de comunicação, que explicasse, primeiro, a que tinha vindo, e os avanços e conquistas que estava obtendo para o país.

Como, por exemplo, a multiplicação do PIB em mais de quatro vezes, em dólar, desde o governo FHC - trágicos oito anos em que, segundo o Banco Mundial, o PIB e a renda per capita em dólares andaram para trás - que foram simplesmente ignorados.

Poderia ter divulgado, também, os 79 bilhões de dólares de Investimento Estrangeiro Direto dos últimos 12 meses, ou o aumento do superavit no comércio exterior, ou o fato de o real ter sido a moeda que mais se valorizou este ano no mundo, ou o crescimento da valorização do Bovespa desde o início de 2016, como exemplos de que o diabo não estava tão feio quanto parecia.

Mas também não o fez.

Sequer em seu discurso de defesa ao Senado - que deveria ter sido usado também para fazer uma análise do legado do PT para o país - Dilma Roussef tocou nestes números, para negar a situação de descalabro nacional imputada de forma permanente ao Partido dos Trabalhadores pela oposição, os internautas de direita e parte da mídia mais manipuladora e venal.

O partido e suas lideranças foram reiteradamente advertidos de que ocorreria no Brasil o que aconteceu no Paraguai com Lugo - a presença aqui da mesma embaixadora norte-americana do golpe paraguaio era claramente indicativa disso.

De nada adiantou.

De que era preciso estabelecer uma defesa competente do governo e de seu projeto de país na internet - cujos principais portais foram desde 2013 praticamente abandonados à direita e à extrema-direita enquanto a esquerda, sem energia para se mobilizar, se recolhia ao monólogo, à vitimização e à lamentação vazia em grupos fechados e páginas do Facebook.

De nada adiantou.

Não se deu combate às excrescências que sobraram do governo Fernando Henrique, justamente no campo da corrupção, com a investigação de uma infinidade de escândalos anteriores, que poderia ter levado à cadeia bandidos antigos como os envolvidos agora, por indicação também de outros partidos, nos problemas da Petrobras.

E erros táticos imperdoáveis - não é possível que personagens como Dilma e Lindbergh continuem defendendo a Operação Lava-Jato, de público, em pleno julgamento do impeachment, quando essa operação parcial e seletiva foi justamente o principal fator na derrubada da Presidente da República.

Sob o mote de um republicanismo "inclusivo", mas cego, criou-se um vasto ofidário, mostrando, mais uma vez, que o inferno - o próprio, não o dos outros - pode estar cheio de boas intenções.

Desse processo, nasceram uma nova classe média e uma plutocracia egoístas, conservadoras e "meritocráticas", paridas no bojo da expansão econômica e do "aperfeiçoamento" administrativo, rapidamente entregues, devido à incompetência estratégica à qual nos referimos antes, de mão beijada, para adoção institucional pela direita.

Como consequência disso, há, hoje, uma batalha jurídica que está sendo travada, principalmente, no âmbito do Congresso Nacional, voltada para a aprovação de leis fascistas - disfarçadas, como sempre ocorre, historicamente, sob a bandeira da anti-corrupção, que, com a desculpa de combater a impunidade - em um país em que dezenas de milhares de presos, em alguns estados, a maioria deles, se encontra detido em condições animalescas sem julgamento ou acesso a advogado - pretende alterar a legislação e o código penal para restringir o direito à ampla defesa consubstanciado na Constituição, no sentido de se permitir a admissibilidade de provas ilícitas, de se restringir a possibilidade de se recorrer em liberdade, e de conspurcar os sagrados e civilizados princípios de que o ônus da prova cabe a quem está acusando e de que todo ser humano será considerado inocente até que seja efetiva e inequivocamente provada a sua culpa.

Batalha voltada, também, para expandir o poder corporativo dessa mesma plutocracia e seus muitos privilégios.

Enquanto isso, aguerrida, organizada, fartamente financiada por fontes brasileiras e do exterior, a direita - "apolítica", "apartidiária", fascista, violenta, hipócrita - deu, desde o início do processo de derrubada do PT do governo, um "show" de mobilização.

Colocou milhões de pessoas nas ruas.

E estabeleceu seu domínio sobre os espaços de comentários dos grandes portais e redes sociais - a imensa maioria das notícias já eram, desde 2013 pelo menos, contra o governo do PT, em um verdadeiro massacre midiático promovido pelos grandes órgãos de comunicação privados - estabelecendo uma espécie de discurso único que, embora baseado em premissas e paradigmas absolutamente falsos, se impôs como sagrada verdade para boa parte da população.

Entre as principais lições dos últimos anos, vai ficar a de que a História é um perigoso jogo que não permite a presença de amadores.





Texto original de Mauro Santayana, também reproduzido no Blog do meu amigo, Prof. Carlos.



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O HOMEM TROCADO


Por Luis Fernando Verissimo


O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.

- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.

- Eu estava com medo desta operação...

- Por quê? Não havia risco nenhum.

- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...

E conta que os enganos começaram com seu nascimento.

Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.

- E o meu nome? Outro engano.

- Seu nome não é Lírio?

- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...

Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.

- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.

- O senhor não faz chamadas interurbanas?

- Eu não tenho telefone!

Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.

- Por quê?

- Ela me enganava.

Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:

- O senhor está desenganado.

Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.

- Se você diz que a operação foi bem...

A enfermeira parou de sorrir.

- Apendicite? - perguntou, hesitante.

- É. A operação era para tirar o apêndice.

- Não era para trocar de sexo?



Luis Fernando Veríssimo, filho do imortal Érico Veríssimo, é escritor e cronista de Porto Alegre.

sábado, 17 de setembro de 2016

A RECEITA


Em tempos de sucessos televisivos gastronômicos, apresentamos a receita do momento, sucesso no Paraguai e agora no Brasil em nova versão.

É uma receita tradicional que vem e volta e já fez muito sucesso em outros momentos no Brasil, como em 1954 e 1964.

Apesar de suas fragilidades tem agradado ao gosto da Classe média, principalmente aquela que se acha dona de paladar superior.

A receita chama-se “Golpismo à Brasileira” e é relativamente fácil de fazer graças a fome aparentemente insaciável dos midiotas da nação.

INGREDIENTES:

Autoritarismo;

Mídia comprometida;

Polícia Federal tendenciosa;

Judiciário corrupto;

Judiciário covarde (não confundir com Judiciário corrupto);

Igrejas e pastores estelionatários;

Congresso de Bandidos;

Entreguismo da nação e

Corrupção.


MODO DE FAZER

Unte a forma com bastante autoritarismo, que pode ser encontrado em todos os níveis, consciente, inconsciente, público ou privado.

Coloque o golpe em banho maria.

Após a quarta eleição perdida, coloque o golpe na forma previamente untada com o autoritarismo.

Atenção: A mídia comprometida é um ingrediente fundamental que você deve colocar na base, no meio e por cima do golpe, por isso, você precisará de muita mídia comprometida pois ela estará presente em todas as outras fases do golpismo.

Junte Polícia Federal tendenciosa e Judiciário Corrupto na mesma forma. Você sabe se eles já estão maduros para a receita conforme o desejo de protagonismo que a mídia (não esqueça de misturar) pode oferecer. 

Guarde a parte nobre do judiciário corrupto, o Supremo covarde para ser destacado mais adiante, quando o golpe já estiver semi-consolidado.

Para enfeitar seu golpismo com cores aberrantes e ridículas, polvilhe tudo com conceitos, entrevistas e dogmas das Igrejas salvacionistas e seus Pastores estelionatários. Você poderá achar que está exagerando e que seu golpe vai perder a credibilidade, mas, fique tranquilo, ninguém nota o estelionato e milhões de consumidores adoram engolir dogmas e falso moralismo.

Quando a fervura estiver borbulhando, leve seu golpismo ao Congresso de Bandidos e deixe em fogo alto. O Congresso de Bandidos se encarregará de dar aroma e aspecto de popularidade ao seu prato.

Não esqueça de ir mexendo a mistura e colocando Mídia Comprometida o tempo todo.

As porções de corrupção e entreguismo aos interesses externos devem ser generosas, não seja econômico.

Enfeite tudo com o Judiciário Covarde que você separou para coroar seu golpe.

Tome cuidado para não misturar democracia, pois isso pode azedar seu golpe.

Pronto, seu golpismo à brasileira está pronto.

Você será extremamente elogiado pelos midiotas, mas não permita que eles comam demais pois sabemos bem que o golpe é feito mesmo para as elites nacionais e os interesses estrangeiros. Midiotas são ideais para elogiar sua receita e bater palmas, mas não permita abusos, pois podem acreditar que fazem parte do banquete.

Essa receita é infalível para matar a tal democracia e afastar os mais pobres da mesa, mas não se preocupe, o golpe não é feito para eles e sim para paladares acostumados ao poder.

Pobres devem roer os ossos na senzala e sem muitas reclamações.



Prof. Péricles









quinta-feira, 15 de setembro de 2016

OS TAMBORINS ESTÃO ESQUENTANDO

Por João Pedro Stedile


Fora, Temer!

No dia 31 de agosto consolidou-se o golpe judicial/midiático também no Congresso Nacional.

A burguesia concluiu a primeira etapa da conspiração, que vem desde outubro de 2014, para empossar, de qualquer maneira, um governo totalmente subserviente e capaz de jogar todo o peso da crise econômica sobre os ombros da classe trabalhadora.

Agora, está em curso a etapa de acelerar a implementação de medidas neoliberais, que só interessam ao capital financeiro e ao grande capital, aumentando a exploração do trabalho, diminuindo salários, aumentando o desemprego e aplicando um programa de privatizações e ajustes fiscais que envergonham até o FMI.

Todos os dias são anunciadas medidas estapafúrdias que rasgam a CLT, a Constituição e os direitos sociais conquistados a duras penas, por décadas de lutas sociais.

Porém, o gostinho da vitória parlamentar durou pouco. O golpe não conseguiu legitimar-se, nem na opinião pública, nem para o povo e desmoralizou-se até a nível internacional.

O presidente impostor foi humilhado na reunião do G-20, em que os demais governantes nem sequer o chamaram por presidente. E ele teve que aproveitar a viagem para ir comprar sapatos num Shopping Center qualquer. Tadinho!

Do ponto de vista jurídico, a farsa caiu quando os senadores não tiveram coragem de imputar a perda de direitos para a presidenta Dilma, revelando assim que não houve crime. E pior, três dias depois, os mesmos senadores aprovaram projeto que legaliza as pedaladas fiscais. Ora, não era crime?

Mas a mais dura resposta veio das ruas. No domingo 4 de setembro, menos de uma semana depois do golpe, mais de cem mil jovens paulistas foram às ruas protestar, levantando as bandeiras de FORA, TEMER, DIRETAS JÁ e NENHUM DIREITO A MENOS. Sem o estímulo de nenhuma rádio ou televisão, totalmente servis aos golpistas.

Depois, no dia 7 de setembro, repetiram-se centenas de manifestações em todo o Brasil, com milhares de brasileiros/as, em torno do “Grito dos Excluídos”, com as mesmas bandeiras.

E culminou com a classe média dando uma sonora vaia de cinco minutos na abertura das Paralimpíadas no Maracanã.

O que será desse governo, ninguém sabe. Do lado da burguesia eles também tem dúvidas. O governo golpista não consegue dar unidade política às forças conservadoras. Seu plano neoliberal não vai tirar o país da crise econômica e política; ao contrario vai agravá-la, trazendo consequências graves para toda população. Os sinais de corrupção de seus membros contradizem com o discurso e os interesses da chamada “Republica de Curitiba”. Por isso o Advogado Geral da União foi demitido sumariamente.

Até quando a mídia e o poder judiciário vão esconder as delações dos empresários, das propinas ilegais que envolvem ilustres ministros e inclusive o presidente impostor?

O governo golpista poderá vir a ser um governo em crise permanente, que só vai desgastar os partidos que o sustentam, como foram os últimos anos do caótico governo Sarney (1985-89). Ou então a burguesia poderá trocá-lo pela via indireta a partir de janeiro de 2017 e colocar algum impostor de maior habilidade e confiança do poder econômico.

De nosso lado, da classe trabalhadora, o tempo de vida útil desse governo deveria ser o mínimo possível. Mas na política, os fatos e a correlação de forças não dependem da vontade e desejos. Depende de força acumulada de cada lado.

E o tempo de sua permanência vai depender de nossa capacidade de mobilizar a classe trabalhadora para assumir essas bandeiras. Até agora ela ficou parada, assistindo apenas, como se o jogo político, não fosse com seu time.

As próximas semanas…O governo golpista acelerou sua ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora. Os anúncios quase diários da perda de direitos, da reforma da previdência, da política de subordinação ao capital estrangeiro, com privatizações e venda de terras, da entrega do pré-sal, do gasoduto, da BR distribuidora, e outras riquezas nacionais, estão despertando uma parcela cada vez maior da população e da classe trabalhadora.

Diante disso, várias categorias no campo e na cidade aumentaram suas mobilizações e lutas nacionais, como vem acontecendo com os trabalhadores rurais, os camponeses, os bancários, os metalúrgicos, os professores, os trabalhadores do correio e os servidores públicos.

E num processo de maior articulação dessas lutas setoriais, as centrais sindicais conclamaram a uma paralisação nacional para o próximo dia 22 de setembro. Haverá um esforço não só do movimento sindical, mas de todos os movimentos da FRENTE BRASIL POPULAR E DA FRENTE POVO SEM MEDO, para que essa paralisação seja, de fato, vitoriosa e paralise as atividades da produção, de transporte, do serviço público, do comércio e das escolas.

E como alertam os sindicalistas, isso tudo será um ensaio geral para a deflagração de uma GREVE GERAL contra o governo golpista.

Ao mesmo tempo, em São Paulo, e em um número cada vez maior de cidades, se multiplicam as manifestações, em geral aos domingos, às vezes até auto-convocadas, quase espontâneas, majoritariamente pela juventude e por movimentos das mulheres, clamando cada vez mais alto a necessidade do FORA, TEMER; de DIRETAS JÁ, como uma proposta generosa de que a ordem democrática somente voltará, se o povo tiver o direito de escolher seus representantes nas urnas; por NENHUM DIREITO A MENOS, ou seja contra as medidas do plano neoliberal em curso.

Como vêem, os tamborins estão esquentando, e a luta será cada vez mais intensa…

Vamos à luta, companheiros e companheiras.



João Pedro Stedile é líder do MST, economista graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e pós-graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

TUDO É POSSÍVEL NA ELEIÇÃO NORTE-AMERICANA

Por José Inácio Werneck


Na reta final da eleição presidencial americana, que se realiza sempre na terça-feira seguinte à primeira segunda-feira de novembro, há três possibilidades: vitória apertada de Hillary Clinton, vitória apertada de Donald Trump e vitória por enxurrada de Hillary Clinton.

A única hipótese que não acontecerá é a de uma vitória por enxurrada (que os americanos chamam de “landslide”, ou avalanche) de Donald Trump.

E isto tem muito a ver com sua personalidade. Donald Trump, um desonesto homem de negócios que, entre outras coisas, fraudou investidores e se recusa a revelar seu Imposto de Renda, tem se apresentado como um homem intolerante, racista, anti-imigrantes e xenófobo.

Por causa disto, seu apelo está fortemente concentrado na população masculina branca, sobretudo a de menor poder aquisitivo e menor índice de educação.

Isto parece contraditório: como pode um bilionário defensor da classe privilegiada encontrar apoio entre pessoas de menor poder aquisitivo?

A explicação está em que este é o eleitorado (também eleitorado de menor nível educacional) “blue collar”, que se sente mais prejudicado pela presença de imigrantes de outras raças, como latinos e asiáticos, na disputa por empregos em fábricas, indústrias e manufaturas em geral. O salário médio desta população está há muito tempo estagnado.

A economia americana mudou radicalmente nas últimas décadas, com indústrias de larga tradição, a exemplo da siderúrgica e da automobilística, perdendo terreno para competidores estrangeiros.

Restam e são cada vez mais importantes, as atividades de colarinho branco em tecnologia de ponta, informática e investimentos, que exigem alto poder de especialização e instrução. Este eleitorado não é favorável a Trump.

Outra camada de apoio a Trump é encontrada entre conservadores brancos religiosos, que vêm nele um obstáculo ou ao menos um freio na crescente secularização do país e na admissão de direitos humanos como casamentos de homossexuais e acesso a abortos.

Tais características poderiam indicar que a base eleitoral de Trump é pequena e ele está fadado a uma contundente derrota.

Em seu favor, porém, Trump conta com a falta de confiança que o público americano em geral, aí incluídos eleitores democratas, deposita em Hillary Clinton, desde suas atividades em negócios imobiliários ao tempo em que seu marido era governador de Arkansas até seu mais recente desempenho como Secretária de Estado, quando usou uma conta pessoal para e-mails secretos, em vez de usar o sistema governamental, e supostamente favoreceu governos e empreendimentos que investiram na Fundação Clinton.

Ela tampouco ganhou a admiração do público feminino ao acobertar os desmandos sexuais de Bill Clinton, inclusive no famoso caso de Monica Lewinsky, para não prejudicar suas próprias ambições políticas.

Não é exagero dizer que esta eleição reúne os dois piores candidatos possíveis.

Há um número de imponderáveis em ação, como os dois candidatos “pequenos”: o libertário Gary Johnson e o verde Jill Stein.

É bom lembrar que Al Gore, além de ter sua eleição roubada pelos juízes republicanos na Suprema Corte, foi também prejudicado na disputa no ano 2000 pela presença do candidato verde Ralph Nader.

É muito mais provável que democratas desgostosos com Hillary Clinton optem por candidatos como Gary Johnson e Jill Stein do que republicanos o façam.

É também muito mais provável que democratas desgostosos com Hillary Clinton resolvam ficar em casa no dia da eleição do que republicanos o façam.

A maioria do povo americano – como ficou claro na eleição de 2000 quando Al Gore ganhou a disputa “popular” embora tenha perdido a de “votos eleitorais” de acordo com a Suprema Corte – prefere os democratas.

Os democratas tem mais estados “fiéis”, num total de 242 votos em geral “garantidos” no Colégio Eleitoral, contra apenas 102 dos republicanos.

Por isto, é possível que Hillary Clinton derrote Donald Trump por enxurrada.

Mas a percepção negativa que o público em geral tem dela pode nestas últimas semanas levar a uma vitória apertada para Donald Trump.



José Inácio Werneck, jornalista e escritor, é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

FORA TEMER E O CORAÇÃO PARTIDO

Era um burburinho terrível. Ele suado com a camisa “Fora Temer” amarrotada velha de guerra.


A caminhada seguia firme na direção do centro da cidade para se unir a outras caminhadas na esquina democrática da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros.


Nova ação. Novo capítulo no movimento que promete não parar até atingir seus objetivos. Gente determinada e guerreira.


Foi então que seus olhos cruzaram.


Oh céus! Ele era capaz de jurar que ouviu até uma trilha sonora quando enxergou seus olhos.


Ela estava dentro do ônibus e o olhava... sim, era para ele que aqueles olhos azulados miravam.


Ele sentiu aquela pressão no peito que desde garoto o acometia diante do olhar de mulher bonita de olhos azulados.


Procurou alguma definição filosófica para interpretar o que sentia naquele instante, mas a única coisa que lhe veio à cabeça foi “uau”!


Ela era a mulher de sua vida, com certeza. E se não fosse deveria ser.


Por alguns instantes abandonou a luta política e esqueceu os companheiros que continuaram caminhando e cantando enquanto ele ouvia a canção.


Ficou estático, apenas olhando aquelas duas safiras azuladas por detrás daquele vidro do busão.


Era o seu momento mágico. A sua visão do Olimpo.


Fora Temer. Fora Porto Alegre. Fora tudo.


Foi então que ela ergueu um pouco mais a cabeça e lhe sorriu... Minha Nossa Senhora Protetora dos Embasbacados... o sorriso lhe arrancou um arrepio na espinha e uma coceira na orelha direita, outro sinal de apaixonite que tinha desde criança.


Ela continuou sorrindo e... começou a se erguer, sim, ela estava se erguendo para lhe olhar melhor... talvez.... e então...


Ela esticou sua própria camisa onde ele pode ler “Tchau Querida”!


Pelos deuses! O mundo lhe caiu sobre a cabeça e congelou.


O ônibus lentamente começou a se mover e ele ainda viu seu quase amor erguer a mão lhe apontando apenas o dedo médio.


Sim, uma desilusão amorosa dói companheiro!


Viu o ônibus se afastar e levar a sua deusa-demoníaca enquanto ouvia ao longe a voz dos amigos lhe chamavam à realidade.


Juntou sua dignidade caída na calçada e disse para si mesmo “é isso, a luta continua, oras se continua”.


As desilusões que esperem melhor momento.


As safiras azuladas devem ser falsas e o busão tomara que estrague.


E saiu gritando com a força da indignação: “Fora Temer”, “Não Vai ter golpe, vai ter luta”.




Prof. Péricles

domingo, 11 de setembro de 2016

MATAR E MORRER POR ALÁ


Por Rui Martins



Elas são adolescentes, boas alunas no colégio, mas de repente caem na rede dos islamitas do EI, que pretendem ter criado um Califado ou Estado Islamita.

O aliciamento de jovens ingênuas é feito segundo a mesma tática das seitas, a diferença está no objetivo – geralmente as seitas propõem meditação, espiritualidade ou ações humanitárias, enquanto os islamitas, vindos do ramo sunita-salafista muçulmano propõe às jovens alistadas nas suas fileiras um casamento com um namorado (chamado príncipe), encontrado nas redes sociais, tão logo cheguem na Síria ou Iraque, e a participação em atentados ou se tornar mártir ou mulher-bomba kamikaze.

Le Ciel Attendra (O Céu Esperará), filme ficção francês inspirado numa situação real, de Marie Castille Mention-Schaar, é um dos primeiros sobre o desvio de adolescentes, baseado numa série de encontros com jovens alistadas no exército do Estado Islâmico e com mães e pais desesperados ao constatarem a fuga de suas filhas rumo à Síria.

O filme focaliza duas adolescentes: Sonia, presa pela polícia francesa antes de atravessar a fronteira na rota para a Turquia, de onde iria para a Síria com mais duas amigas, doutrinadas principalmente pelo Facebook por rapazes islamitas de boa conversa, aliciadores de jovens.

Essas jovens ao chegarem na Síria serão casadas à força com soldados de Daesch (nada a ver com seus príncipes prometidos), ou transformadas em bombas-humanas ou torturadas e degoladas no caso de resistência ou de começarem a chorar pedindo para voltar.

A outra é Melanie, que burlando a vigilância da mãe, mentindo e simulando, conseguiu embarcar para Istambul e de lá para a Síria e Iraque, desaparecendo sem deixar traços.

Não sendo documentário, o filme reconstitui o quadro das mães desnorteadas, que não se perdoam por terem se deixado enganar por suas filhas, nunca tendo sequer desconfiado da conversão de suas filhas para o islamismo extremista. Sonia trancava-se no quarto para vestir a burca e tinha levado seu violoncelo ao porão, pois os extremistas islamitas, como os talibãs, são contra todo tipo de música.

Embora o filme não trate do alistamento de rapazes, existe igualmente um grande número deles convertidos e partindo para a Síria em busca de aventuras. Alguns se transformam em pouco tempo em temíveis assassinos, vídeos divulgados pela televisão mostrou como responsáveis pelos reféns degolados, outros enviam fotos via Internet portando uma Kalachnikov ou em cenas de combate.

Entre garotas e rapazes convertidos e transformados em combatentes, somando-se os da Bélgica, onde a influência de imãs salafistas é maior, com França, Alemanha, mesmo Portugal, e Inglaterra, o número é de milhares, um certo número deles já mortos.

A França criou recentemente um Centro de Prevenção para orientar os pais, porém é difícil o controle dos jovens fanatizados por Internet.

Na busca de sua identidade e do absoluto, os adolescentes acreditam nas mentiras que lhes são contadas, nas versões de complôs mostrando o mundo nas mãos dos inimigos de Alá.

A versão mais comum é de que vivemos o fim do mundo e que esses jovens poderão salvar suas famílias tornando-se combatentes.

As doutrinas apocalípticas sempre conseguem seguidores, mesmo entre os cristãos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O NOSSO CANTINHO



Nada é mais íntimo do que o “nosso cantinho”. Aquele santo esconderijo dos problemas e das rotinas do dia a dia, onde jogamos o tênis em qualquer lugar, dormimos no sofá e fazemos xixi com a porta aberta.

Na minha época ansiávamos em ter grana e idade suficientes, ou só idade mesmo, para poder sair da casa dos país em busca do “nosso cantinho”.

Pode ser o mais humilde, simples, feio, mas que seja nosso. 

Altar secreto para receber colegas, amigos e principalmente, amigas.

Ah, o nosso cantinho! Onde somos genuinamente nós mesmos e onde tudo a nossa volta, a decoração ou a bagunça, revela um pouco de nossa personalidade.

Lula, no Palácio da Alvorada, sentia-se no “seu cantinho”.

Dava para perceber pelo sorriso franco e pela agilidade com que movia-se entre as antessalas e corredores do poder.

Tinha aquela desenvoltura de quem está em casa. De quem está no seu refúgio.

Aquela desenvoltura que só mesmo a democracia pode estabelecer através de milhões de votos feito procurações autorizando o direito de habitação ao vencedor de uma eleição presidencial.

FHC não demonstrava a mesma desenvoltura embora fosse um morador legítimo do Palácio, talvez porque não ficasse à vontade no papel que exerceu, ou como exerceu. Talvez sentisse que outros, morassem em andares acima e que esses outros mandassem mais na casa do que ele próprio.

Dilma, sentia-se bem, mas manteve aquele jeito de quem está apenas de passagem e tem mais com o que se preocupar do que com a decoração da casa. Dilma não era recatada e do lar, era da guerra de movimento e sentia-se melhor circulando entre as trincheiras.

Mas, definitivamente, o Palácio da Alvorada jamais será o “cantinho” de Michel Temer.

Talvez por não ter as milhões de procurações que legitimam o poder, sinta-se um grileiro, um posseiro que expulsou o legítimo proprietário.

Temer mostra-se desconfortável.

Imagino à noite indo buscar um copo d’agua na cozinha, tateando no escuro, não sabendo bem onde fica a chave de luz e dando topada com a canela em tudo que é móvel.

Ele não é dali. Ele não deveria estar ali, e sabe disso.

Sabe que jamais poderá jogar o tênis em qualquer lugar, ou fazer xixi de porta aberta pois, assim como é ilegítima sua hospedagem, é também, muito provavelmente, temporária.

E, o “nosso cantinho” nunca é temporário, quando legítimo.





Prof. Péricles

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DO LUTO À LUTA


Por Maria Fernanda Arruda

Inevitável a tristeza e a dor pela traição cometida, pela certeza de que as instituições políticas e os políticos apodreceram e exalam o odor de catacumbas.

Que sejam sete dias de luto fechado, ou o tempo que o ânimo de cada um solicite. Mas, passemos do luto para dias de luta.

Em 1964 as elites brasileiras foram orientadas a caricaturar um golpe de força, fantasiando-o de “revolução”, de tal sorte que as instituições políticas usassem a máscara que cobriria as feições medonhas da ditadura.

Hoje, atoladas no formalismo jurídico, que precisa o quanto antes ser substituído pela verdade, as mesmas elites, já senhoras do Congresso Nacional, assumem a mentira militante, senhoras dos meios de comunicação há muito tempo.

Em 2018 teremos eleições, e a vontade do povo terá que ser lavrada em ata e cumprida; ou então os canalhas, canalhas, canalhas farão cair as suas máscaras.

Não há tempo a perder: à luta, camaradas! Formemos os nossos batalhões. E que se ponha em primeiro lugar a palavra da presidenta, pois ela será a Estrela Guia.

O Brasil paga o preço de 20 anos de Ditadura, de aviltamento do ensino, de despolitização de gerações. Uma tarefa miserável, que os meios de comunicação aprofundaram. O Brasil paga ainda o preço das terríveis injustiças sociais, que os governos trabalhistas de Lula e Dilma atenuaram muito, mas que não puderam solucionar em tão pouco tempo enfrentando toda a oposição das elites.

O resultado está agora exposto aos olhos de todos nós: o Congresso Nacional, fazendo-se o abrigo da canalhice, foi eleito por nós. Esse o problema que nos desafiará a analisar, a encontrar a sua solução. 

O que deve ser a Democracia no Brasil? Ela deve e precisa seguir os cânones construídos séculos atrás? A nossa Democracia deve necessariamente repousar no Estado composto de três poderes independentes? Como compatibilizar o Capital e a Liberdade dos Povos?

O novo mundo político precisa nascer democrático, isso é, precisa ser construído pelo povo. E a nós, o que competirá fazer? Dar-lhe condições para sua conscientização, uma tarefa imensa e um desafio estarrecedor. Não com heroísmos quixotescos, mas a modéstia que nossas competências permitam. Primeira proposta para um ponto de partida: a reforma política.

Todos precisamos ser apóstolos competentes e eficientes, anunciando uma boa-nova, descoberta com e por todos. A perseguição patológica dos canalhas se faz a grande força que colocará Dilma como líder condutora.

Temos necessidade de governantes, não de negociadores de “governabilidade”. E ai fica muito claro que a responsabilidade por erros passados e pela sua correção, com a eliminação das causas, não seja atribuída a Lula, a Dilma, ao PT, a alguns outros partidos políticos, mas seja assumida por nós.

Ensinar ao povo que todo poder vem de sua vontade e que só poderá ser exercido em seu nome é desafio imenso, a ser assumido humildemente, dia após dia, de mãos dadas por todos os que foram privilegiados pela possibilidade de ter consciência e agir guiados por ela.

Precisamos ser milhões e milhões, o mais rapidamente possível.



Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

TEMER E A VINGANÇA DE HEFESTO



Hefesto era filho de Zeus e de Hera.


Nasceu muito feio, com problemas nas pernas e aparência de anão.


Hera, sua mãe, ficou muito envergonhada de ter um filho deficiente e o jogou no mar, recém-nascido.


Mas foi recolhido e salvo pela dôce ninfa do mar Tétis, mãe do herói Aquiles, que o criou com todo amor.


Hefesto se tornaria deus do fogo, da metalurgia e dos vulcões (Vulcano, em latim).


Tempos mais tarde foi reconhecido como filho de Hera, e a deusa, arrependida, fez de tudo para que o filho feioso voltasse para o Olimpo, seu verdadeiro lar.


Ele não quis voltar imediatamente, mas sabia que seria impossível resistir à pressão dos deuses (inclusive de Dionísio que o embebedou de vinho para convencê-lo).


Mas, antes de dar o braço a torcer resolveu fazer uma pequena vingança contra sua mãe.


Construiu, então, um lindo trono de ouro e mandou entregá-lo à mamãe. Hera, exultante de felicidade, sentou no trono, mas nele, havia milhares de fios transparentes que a seguraram de uma forma que nenhum deus conseguiu soltar.


Chamado com urgência, Hefesto foi ao Olimpo e, antes de libertar sua mãe, aproveitando sua imobilização, usou todo o tempo do mundo para dizer tudo o que tinha trancado na garganta, assim, magoando e humilhando a deusa desnaturada.


O vice-presidente que traiu a parceira política que deveria proteger dentro do correto numa aliança política, finalmente está sentado no trono que, agora sabemos, sempre desejou.


Mas, já deve ter descoberto que milhares de fios invisíveis o prenderão à sua culpa e que, muitos, irão querer amassa-lo com verdades que talvez, ele preferisse não ouvir.


Ele já disse que não aceitaria ser chamado de golpista, mas, já está tendo que ouvir os gritos das ruas que, aos milhares, e de forma crescente, assim o definem.


Já retumbam em seus ouvidos críticas de parceiros de traição, como no PSDB, onde Aécio Neves já reclama de maior diálogo para as reformas que pretende impor ao país.


Estarrecido, já ouve a reação dos trabalhadores e suas centrais sindicais contra a terceirização do trabalho que prometeu fazer aos empresários, cúmplices do golpe.


Terá que ver escrito com tintas cada vez mais fortes o jargão que já toma o país de norte a sul “Fora Temer”.


Michel Temer descobrirá que está preso a fios invisíveis de forma que não poderá, nem mesmo, tapar os ouvidos ou fechar os olhos com as mãos, como aconteceu com Hera, que teve que ouvir todas as verdades que seu filho tinha a dizer.


E esse será apenas um dos castigos reservado aos traidores que terá que provar.



Prof. Péricles

sábado, 3 de setembro de 2016

VITÓRIA DE PIRRO


Quando a direção do PC do B escolheu a região do Araguaia para implantar a guerrilha rural como forma de luta contra a Ditadura Militar, o fez por questões estratégicas, evidentemente. Além de possuir uma geografia onde predominava a selva, cenário ideal para uma guerrilha, também contava o fato de ser uma das regiões mais pobres do Brasil e onde os habitantes eram terrivelmente explorados, sendo expulsos de suas terras por grileiros e capangas.

Além da revolta a Guerrilha levou a politização.

Por isso, depois que o movimento foi definitivamente vencido e extirpado pela força das baionetas (entre 1972 e 1973) um fenômeno aconteceu.

Primeiro se abateu sobre a região e as pessoas um silêncio de pavor. As forças militares e paramilitares implantaram tamanho medo entre os caboclos que ninguém, por um bom tempo, ousava falar na guerrilha e nos guerrilheiros mortos.

Depois, com o passar do tempo, o pavor foi dando lugar a uma enorme revolta. Uma revolta diferente, esquematizada e consolidada pela luta e pela derrota, que serviu como mestra.

Como consequência, formou-se no Araguaia um bolsão de lutas e e revindicações sociais que fazem da região um dos focos de maior resistência à exploração em nosso país.

Lá surgiram sindicatos e organizações como a dos presos e torturados pelo exército durante a guerrilha (uma das táticas dos militares foi prender as pessoas em quantidades e tortura-las para não ajudar a guerrilha). Também se criaram instrumentos de resistência e estruturação do MST.

Isso parece indicar que o povo marginalizado e explorado, quando aprende coisas participação e resistência, nunca mais aceita a exploração anterior.

A vitória dos militares, teve um alto custo e se revelou uma vitória de Pirro.

O rei Pirro, do Épiro, obteve uma vitória militar sobre os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C. Ao receber as notícias da batalha e perceber o grande número de perdas humanas teria dito que "outra vitória como esta e estaremos perdidos".

Os golpistas de hoje acreditam que, depondo Dilma e fabricando fatos contra a pessoa de Lula através de casuísmos jurídicos apagarão da memória do país os feitos sociais positivos dos governos de ambos.

Pensam eles que será possível retornar ao patamar anterior em que o povo elegia presidentes em cima de planos falaciosos e enganadores.

Acreditam que nosso povo mais humilde esquecerá os benefícios de programas sociais como o “Bolsa Família” ou “Mais Médicos”, mas estão enganados.

Nossa gente mais distante da educação formal, mas formado na educação da vida não tardará a perceber a diferença entre um governo nacionalista e social de um governo supra nacionalista, privatista e neoliberal.

Por isso, embora aparentemente estejam hoje ganhando, o tempo mostrará que uma coisa é conquistar o poder com o apoio das forças mais poderosas do país, outra é manter esse poder e que algumas vitórias trazem amarguras maiores do que as derrotas.

Mostrará também que nosso povo mudou, e nunca mais será o mesmo.

Quanto a Dilma, sugere-se frase de Fidel Castro diante do tribunal que o julgou após o atentado ao Quartel de Moncada em 1953: “não me importo com seus juízos, a história me julgará”.



Prof. Péricles