Diante de um considerável público, uma mulher acusada de adúltera e prática de prostituição é levada até ele. O pregador é questionado sobre ser correta ou incorreta a aplicação da pena de morte por apedrejamento.
Todos conhecem o final da história.
Sem se abalar Jesus concorda com a execução, desde que tivesse coragem de atirar a primeira pedra aquele que jamais tivesse errado.
Segundo os evangelistas, um a um, os “ávidos por justiça” foram jogando suas pedras ao chão e se retirando cabisbaixos.
Por fim Jesus libera a mulher e pede que ela se cuide.
Essa belíssima história (segundo alguns acrescentada aos evangelhos apenas no século IV ou V) apresenta inúmeros pontos para reflexão.
O principal deles é de que existe uma relação direta entre a aplicação da justiça e a condição moral de quem a exige, seja indivíduo ou coletivo.
Aplicando essa moral aos tempos modernos, especialmente à questão política do Brasil seremos obrigados a concluir que poucos poderiam atirar a primeira pedra.
Todos costumam lamentar as consequências, mas poucos sejam pessoas ou instituições podem jogar a primeira pedra nos artífices do golpe militar, por exemplo.
O STF foi do “lavo as mãos” à cumplicidade.
A mídia, em ampla maioria, não só não usou seu enorme poder para defender a democracia como ainda apoiou e, de certa forma, exigiu que o golpe fosse dado, além de calar sobre o arbítrio e a violência que se seguiu.
O cidadão comum preferiu fazer de conta que o problema não era dele, pois que, ao cidadão “de bem” bastaria cumprir suas obrigações e tocar sua vida adiante.
Algo muito parecido ocorre com a questão da corrupção, atualmente.
Falsos escandalizados (como falsos eram os que utilizavam os serviços das prostitutas no privado e depois defendiam suas execuções em público) clamam contra a corrupção como se ela tivesse aparecido só agora, como uma grande novidade.
Acusam políticos, partidos, autoridades, o clima e o carnaval, a chuva, e negam sua contribuição para o caos, como se fossem alheios as causas.
Clamam por justiça como se não fizessem parte do jogo.
De forma hipócrita, boa parte de nossa população e a mídia “esquece” que a corrupção é tão antiga quanto o próprio Brasil.
Portugal era conhecido no século XVI como o Estado mais corrupto da Europa e esse mesmo Estado colonizou o Brasil fiel às suas próprias condições éticas.
A construção de Salvador, primeira capital do Brasil, inaugurada em 1549, custou mais que o dobro do que o Rei tinha calculado inicialmente, culpa do superfaturamento, desvio de verbas e outras diabruras.
D. Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil e poderosa voz política nos nossos primeiros anos, veio pra cá porque o Papa simplesmente não sabia mais como controlar seus atos corruptos.
Duarte da Costa segundo governador-geral do Brasil foi preso ao colocar os pés em terra na volta para Portugal, acusado de inúmeros ilícitos aqui na colônia.
Corrompemos os índios para roubar suas terras, os africanos para que vendessem seus iguais como escravos, e muitos imigrantes trazidos para a atividade agrícola como meeiros, mas submetidos a uma situação de quase escravidão.
Negociamos nas sombras para destruir um país, o Paraguai, e repartir seus despojos, no século XIX, da mesma forma que corrompemos o presidente da Bolívia para se apoderar do Acre no início do século XX.
O voto de cabresto, os currais eleitorais, o voto de mortos, foram usados à exaustão por décadas.
Recebemos dinheiro ilícito do contribuinte norte-americano para construir Volta Redonda e deixamos ricos os militares da ditadura paraguaia para construir Itaipu se apoderando de uma energia barata e sacaneando a Argentina.
O brasileiro médio se indigna quando alguém tenta corromper sua filha, mas, tenta corromper as filhas dos outros o tempo todo.
Vota em corrupto e depois faz caras e bocas como se o congresso fosse eleito por alienígenas.
Se diz malandro e acredita no “jeitinho brasileiro” quando isso lhe interessa.
Não, de forma alguma se está a defender a corrupção.
Todo ato corrupto é violento de alguma forma e injusto por natureza.
Jamais se fará do ilícito um ato lícito.
Se diz malandro e acredita no “jeitinho brasileiro” quando isso lhe interessa.
Não, de forma alguma se está a defender a corrupção.
Todo ato corrupto é violento de alguma forma e injusto por natureza.
Jamais se fará do ilícito um ato lícito.
Toda corrupção deve ser castigada, mas toda corrupção, mesmo, não só a do outro.
Para começar deveríamos questionar é, quem afinal, pode realmente jogar a primeira pedra?
O combate à corrupção, da mesma maneira que o mestre propôs ao combate à prostituição de seu tempo, se dá pela transformação íntima de cada um e da superação de suas fraquezas, muito mais do que pela repressão e o dedo em riste que aponta para o outro.
Antes de qualquer coisa devemos combater a nossa própria corrupção.
Prof. Péricles
Para começar deveríamos questionar é, quem afinal, pode realmente jogar a primeira pedra?
O combate à corrupção, da mesma maneira que o mestre propôs ao combate à prostituição de seu tempo, se dá pela transformação íntima de cada um e da superação de suas fraquezas, muito mais do que pela repressão e o dedo em riste que aponta para o outro.
Antes de qualquer coisa devemos combater a nossa própria corrupção.
Prof. Péricles